.

domingo, 28 de março de 2010

AYAHUASCA? - ESTADO ALTERADO DA CONSCIÊNCIA? LOUCURA? OBSESSÃO?



Parentes e o advogado de Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, suspeito de ter matado o cartunista Glauco e o filho Raoni, afirmam que o homicida fazia tratamento psicológico, psiquiátrico e antidrogas, e que seu quadro de esquizogrenia teria agravado após ter tido contato com a igreja do santo Daime. Há dois anos, Carlos Eduardo começou a frequentar a seita. E isso coincide com o tempo em que seu estado de saúde piorou. Alguns afirmaram que não se deveria permitir que o jovem ingerisse a bebida enteógena. Para alguns estudiosos, ingerir bebida enteógena (1) sacramental, conhecida como chá de Ayahuasca (santo Daime), pode agravar ou gerar um estado psicótico ou problemas psicológicos.
O chá de Ayahuasca é consumido por comunidades indígenas da Amazônia há, pelo menos, 300 anos e para alguns não chega a ser um alucinógeno, porém, provoca um estado alterado de consciência e, por isso, não é combatido nem condenado pelas autoridades. Seguidores dessas seitas afirmam que o uso do Daime nos cultos não deve ser encarado como uma droga, mas, sim, como um elemento “religioso” importante. Porém , sabemos que muitas substâncias “inofensivas”, além de serem tóxicas, também, são viciativas, ou seja, causam dependência, que pode ser física, psicológica e, por via de extensão, “espiritual”. Para tais praticantes, beber o chá não traz problemas à saúde física e mental, se for administrado corretamente. E se não for administrado corretamente? Estamos convencidos de que essa relação é emblemática. Quem ingere chá de Ayahuasca tem alteração de consciência. Pode ocorrer certo descontrole, dor e perturbação evidentes; sintomas que são percebidos, inclusive, em nível de sensações perispirituais. Se o objetivo (o tal caráter “religioso”) for manter contato com o “mundo espiritual”, é importante alertar que, para se obter um intercâmbio com o mundo dos espíritos, é, absolutamente, dispensável a ingestão de quaisquer substâncias modificadoras da consciência. Portanto, é, totalmente, desnecessária a utilização do chá do santo Daime para esse fim; nem mesmo pode-se dizer que facilite o transe mediúnico; muito pelo contrário, pode ser, inclusive, prejudicial, dependendo do caso. O transe mediúnico é favorecido pela educação dos sentimentos e não por meios artificiais, pois é um fenômeno, absolutamente, natural. Há alguns anos, pesquisadores da USP, de Ribeirão Preto, tentam conhecer melhor os efeitos do chá usado no Santo Daime e como ele atua no cérebro. Após a ingestão do chá, a substância vai para o estômago, entra na corrente sanguínea e segue para o cérebro, onde se espalha. O lado mais ativado é o hemisfério direito, que controla as emoções, como: satisfação, insatisfação, equilíbrio, desequilíbrio e euforia. Os estudos mostram que o chá leva, em média, meia hora para fazer efeito. Em uma hora, as pessoas começam a apresentar alterações de comportamento: primeiro, um estado de relaxamento; depois, muita euforia e, logo em seguida, alteração de percepções. É quando começam as visões distorcidas do cérebro. A Doutrina Espírita esclarece que “os órgãos têm uma influência muito grande sobre a manifestação das faculdades [espirituais]; porém, não as produzem; eis a diferença. Um bom músico com um instrumento ruim não fará boa música, mas isso não o impedirá de ser um bom músico.” (2) O Espírito age sobre a matéria e a matéria reage sobre o Espírito numa certa medida, e o Espírito pode se encontrar, momentaneamente, impressionado pela alteração dos órgãos pelos quais se manifesta e recebe suas impressões materiais”. (3) Cada caso é um caso, mas, sabe-se que certas substâncias, que alteram a consciência, trazem conseqüências para o corpo físico, para o perispírito e para a mente. Para o corpo físico, são inúmeros os malefícios, desde a dependência física e sintomas que podem levar a quadros de intoxicação aguda, até a morte (há caso registrado em Goiás). Para o perispírito, a consequência é a impregnação energética-mórbida nesse corpo. E pior, o psicossoma, que é o modelo organizador biológico, leva, com ele, toda a lesão, inclusive, para outra encarnação.
“A loucura tem, como causa principal, uma predisposição orgânica do cérebro, que o torna, mais ou menos, acessível a algumas impressões. Se houver predisposição para a loucura, ela assume um caráter de preocupação principal, transformando-se em idéia fixa, podendo tanto ser a dos Espíritos, em quem com eles se ocupou, como poderá ser a de Deus, dos anjos, do diabo, da fortuna, do poder, de uma arte, de uma ciência, da maternidade ou a de um sistema político-social.” (4) No trágico caso “Cadu/Glauco/Raoni”, tudo nos leva a crer que o homicida é um esquizofrênico. Sua doença mental apresenta um conjunto de sintomas bastante diversificado e complexo, sendo, por vezes, de difícil compreensão. Essa psicopatologia pode surgir e desaparecer em ciclos de recidivas e remissões. Hoje, é encarada, não como uma doença única, mas, como um grupo de enfermidades, atingindo todas as classes sociais e grupos humanos. Geralmente, o diagnóstico tem mostrado níveis de confiabilidade, relativamente, baixos ou inconsistentes. Lembrando, aqui, que a esquizofrenia não é a dupla pessoalidade, pois é muito mais ampla que isso, e não há motivos de incluir, nela, os Transtornos de Personalidade Múltipla. É uma doença gravíssima que atinge, aproximadamente, 60 milhões de pessoas do planeta (1% da população mundial), sendo distribuída, de forma igual, pelos dois sexos. A sua diagnose tem sido criticada como desprovida de validade científica ou confiabilidade, e, em geral, a validade dos diagnósticos psiquiátricos tem sido objeto de críticas. Os sintomas podem ser confundidos com "crises existenciais", "revoltas contra o sistema", "alienação egoísta", uso de drogas, etc.
O delírio de identidade (achar que é outra pessoa - o Carlos Eduardo acreditava ser “Jesus”) é a marca típica de um esquizofrênico. Foi, durante muitos anos, sinônimo de exclusão social, e o diagnóstico de esquizofrenia significava internação em hospitais psiquiátricos (manicômios) ou asilos, como destino "certo", onde os pacientes ficavam durante vários anos. A Organização Mundial de Saúde editou critérios objetivos e claros para a realização do diagnóstico da esquizofrenia. As causas do processo patogênico são um mosaico: a única coisa evidente é a constituição pluricausal da doença. Isso inclui mudanças na química cerebral [a atividade dopaminérgica é muito elevada nos indivíduos esquizofrênicos], fatores genéticos e, mesmo, alterações estruturais. É importante frisar que a Esquizofrenia tem cura. Até bem pouco tempo, pensava-se que era incurável e que se convertia, obrigatoriamente, em uma doença crônica e para toda a vida. Atualmente, entretanto, sabe-se que uma porcentagem de pessoas que sofre desse transtorno pode recuperar-se por completo e levar uma vida normal, como qualquer outra. Não podemos desconsiderar, ante o fato (“Cadu/Glauco/Raoni”) narrado no texto, o processo obsessivo, consoante esclarecem os ditames doutrinários. André Luiz, Espírito, comenta que “muitos dos nossos irmãos desencarnados, ainda presos a sentimentos de ódio e ira, cercam suas vítimas encarnadas, formando perturbações que podemos classificar como "infecções fluídicas" e que determinam o colapso cerebral com arrasadora loucura”. (5)
Jorge hessen http://jorgehessen.net jorgehessen@gmail.com Fontes: (1) estado xamânico ou de êxtase induzida pela ingestão de substâncias alteradoras da consciência. É um neologismo que vem do inglês: entheogen ou entheogenic proposto por estudiosos desde 1973. (2) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, questão 372 (3) Idem questão 375
(4) Idem – Introdução , item 15, A Loucura e o Espiritismo (5) Xavier, Francisco Cândido. Evolução Em Dois Mundos, ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000

quarta-feira, 24 de março de 2010

TODA DOENÇA SEMPRE SERÁ REFLEXO DO ESTADO MENTAL DO DOENTE





Em caso raro, ocorrido no Japão, falha no sistema imunológico do bebê fez as células cancerígenas da mãe, de 28 anos, serem transferidas para a criança ainda no útero. Os pesquisadores detectaram que células de leucemia tinham atravessado a placenta da gestante e afetado a saúde de seu bebê. Por esse motivo, equipe do Instituto de Pesquisa do Câncer, da Universidade de Londres, trabalhando em conjunto com médicos japoneses, tem se esforçado para apresentar mais provas, a fim de demonstrar que o câncer pode ser transmitido durante a gestação.

Um mês após o nascimento do bebê, a mãe foi diagnosticada em estágio avançado de leucemia e faleceu. Quando o bebê completou 11 meses de idade, foi levado ao hospital com a face direita do rosto inchada. Exames mostraram que a criança tinha um tumor em seu maxilar e o câncer já havia se espalhado para os pulmões. Os médicos japoneses suspeitaram de uma ligação com a leucemia que levou sua mãe a óbito. Foram examinados os genes das células cancerosas no bebê e encontraram uma mutação, ou seja, um "apagamento" em uma região do DNA que controla a expressão do lócus principal de histocompatibilidade (1), que é responsável pela imunidade do indivíduo. Essa falha, para os médicos, impediu que o sistema imunológico do bebê reconhecesse que as células de câncer eram "invasores" e, por isso, elas não foram destruídas.

As conclusões foram publicadas em um artigo da revista Proceedings of the National Academy of Sciences, no qual os pesquisadores explicam como usaram a genética para demonstrar que as células do câncer vieram da mãe. O que há de mais instigante no câncer é que, em tese, ele é parte do nosso próprio corpo - uma parte que resolveu se "rebelar" contra o resto. As células cancerosas se tornam "traiçoeiras" ao sofrerem mutações em seu DNA. Várias das mutações que levam a um câncer são bem conhecidas e estão relacionadas a danos em genes responsáveis pela capacidade das células de controlar sua multiplicação.

No que se refere ao bebê em questão, considerando os mecanismos da reencarnação, transmitindo-se, ou não, células malignas materna, durante a gestação, indiferentemente, a doença se instalaria, ou não, pois toda patologia sempre será reflexo do estado mental do doente. No caso analisado, se há cumplicidade entre a mãe e o bebê, obviamente, o roteiro da existência seguirá consoante a Lei de Ação e Reação. Ora, se o bebê não trouxesse uma pendência do passado fincada ao câncer, por exemplo, não ocorreria a transmissão de célula cancerosa da mãe para a criança na vida intra-uterina, porém, ainda que eventualmente ocorresse essa transmissão, as células doentes não se desenvolveriam no corpo do rebento, pis não teria campo para isso. É a Justiça da Lei de Deus! Até porque, das patologias humanas, o câncer é o mais, fortemente, enraizado aos erros morais do passado (recente ou remoto).

O conhecimento espírita nos auxilia a transformar a carga mental da culpa, incrustada no perispírito, e nos possibilita maior serenidade ante os desafios da doença. Isso influenciará no sistema imunológico. Os reflexos dos sentimentos e pensamentos negativos que alimentamos se voltam sobre nós mesmos, depois de transformados em ondas mentais, tumultuando nossas funções orgânicas.

Todavia, será crível que a carga mental positiva, por meio de um estado psicológico ou emocional, tem a capacidade de curar doenças? Para alguns, o fato de as pessoas com câncer estarem otimistas ou pessimistas, em relação à cura, não influencia, diretamente, nas chances de sobrevivência à doença. Evidentemente, discordamos desses argumentos, uma vez que diversas provas registram que, no caso de doenças graves, a mente pode influenciar no resultado de recuperação.

Em que pese considerarmos a importância dos médicos e o valioso contributo da ciência, quando não apoiados na mudança de comportamento mental do doente, somente o bom relacionamento médico-paciente é limitado e insuficiente para atacar as causas da doença e a angústia dela decorrente. O paciente, ao chegar ao hospital, traz consigo, além da doença, sua trajetória de vida atual e passada. O seu estado emotivo é resultante de alguns vetores como a estrutura da personalidade, interpretação e vivência dos acontecimentos, considerando aspectos do imaginário e do real, além de outras variáveis de causas patogênicas.

Os espíritas sabem que a matéria mental é criação de energia que se exterioriza do Espírito e se difunde por um fluxo de partículas e ondas, como qualquer outra forma de propagação de energia existente no Universo. Pensar é um processo de projeção de matéria mental e essa matéria é o instrumento sutil da vontade, atuando nas formações da matéria física, gerando as motivações de prazer ou desgosto, alegria ou dor, otimismo ou desespero, saúde ou doenças, que não se reduzem, efetivamente, a abstrações, por representarem turbilhões de forças em que a alma cria os seus próprios estados de mentação indutiva, atraindo, para si mesma, os agentes [por enquanto imponderáveis], de luz ou sombra, vitória ou derrota, infortúnio ou felicidade, conforme conceitua o Espiritismo.

Nesse aspecto, o estado mental, fruto das experiências de vida passada e presente, deixa de ter uma dimensão intangível para se consubstanciar na condição de matéria em movimento. Muitos pacientes, diante do diagnóstico da doença, transformam a dor em esperança e despertam, neles, a vontade de lutar por uma vida melhor. Outros, porém, desistem e se entregam, admitindo que estão sob uma sentença de morte. Cada caso é um caso e, a cada um, a vida responde segundo seus merecimentos.

Do exposto, urge que busquemos, acima de tudo, os hábitos salutares da oração, da meditação e do trabalho, procurando enriquecer-nos de esperança e de alegria, para nunca desanimarmos diante dos desafios de qualquer doença, ainda que sob o guante de nossos delitos do passado "esquecido". Lembremos, sempre, que o Evangelho do Senhor nos esclarece que o pensamento puro e operante é a força que nos arroja das trevas para a luz, do ódio ao amor, da dor à alegria.

Para todos os males e quaisquer doenças, centremos nossos pensamentos em Jesus, pois nosso remédio é, e será sempre, o Cristo. Ajustemo-nos ao Evangelho Redentor, pois o Mestre dos mestres é a meta de nossa renovação.

Jorge Hessen
E-Mail: jorgehessen@gmail.com

Site: http://jorgehessen.net
Blog: http://jorgehessenestudandoespiritismo.blogspot.com


FONTES:
1- Compatibilidade de tecidos; grau de similitude de seus caracteres antigênicos, de que depende a não-rejeição de enxertos e transplantes de órgãos.

segunda-feira, 22 de março de 2010

REENCARNAÇÃO OU RESSURREIÇÃO

REENCARNAÇÃO OU RESSURREIÇÃO

Roberto Cury

“A alma do homem é como a Água; vem do céu e sobe para o céu, para depois voltar à Terra, em eterno ir e vir.” Goethe.

Grande parte das religiões e dos religiosos não aceita a reencarnação como um dos requisitos da Justiça de Deus.

Exacerbados radicalismos são opostos contra ela. Daí, colocarem a ressurreição como promessa da recomposição do corpo e do espírito quando do Juízo Final, por vários segmentos religiosos. Esses mesmos segmentos entram em contradição com seus dogmas quando falam da ressurreição de Jesus em carne e espírito, pois, com afirmação da recomposição da carne do Rabi da Galiléia, negam que Jesus é Deus. Porque Deus é Espírito e nunca teve ou terá necessidade de corpo material, indispensável aos homens na fase evolutiva.

Realmente, reencarnação e ressurreição são temas delicados que merecem um tratamento cuidadoso não apenas quanto à forma, mas, principalmente, em relação aos argumentos utilizados, porque ninguém tem o direito de desrespeitar o livre arbítrio de quem quer que seja.

Outrossim, é necessário, senão indispensável mesmo, que ambos lados estejam desvestidos de preconceitos, que analisem, sem paixões, cada dito e cada fato apresentados para que, ao final, as partes tenham o seu próprio juízo, aferindo com justeza, corrigindo os equívocos e acertando seus detalhes argumentativos.

Apesar da contestação de muitos religiosos, outros entendem que reencarnação e ressurreição se confundem pois, no dizer dos dicionaristas, ambas significam vida nova”. Entretanto, não podem ser confundidas, nem tampouco uma anular a outra.

O Pastor Presbiteriano Nehemias Marien, formado pela Faculdade de Teologia da Igreja Presbiteriana em Campinas, e em Jornalismo e Comunicação pela Universidade de Bloomington – EUA; Mestre em Ciências Bíblicas pela Escola Bíblica de Jerusalém e pela Universidade de Nottingham – Inglaterra, desde 1972, no programa “Show Sem Limites”, apresentado por J. Silvestre, e, também, no seu livro “Transcendência e Espiritualidade”, tem declarado: “Até o ano de 553, no segundo Concílio de Constantinopla, a reencarnação fazia parte da Igreja. Depois, por discussões mais administrativas e menos teológicas, foi banida do cânone oficial e hoje a Doutrina Espírita, para a maioria dos pressupostos evangélicos, permanece no índex, interditada àqueles que não concordam com ela. No estudo da Bíblia, as evidências da reencarnação são clamorosas e eu admito ser o Espiritismo a mais caudalosa vertente do Cristianismo. Você encontra tanto no Antigo como no Novo Testamento, evidências claras da reencarnação, isto é, do prosseguir da vida. A morte nunca teve a última palavra.”

Algumas pessoas enganam-se quando acham que a Bíblia trata da reencarnação apenas nas passagens quando Jesus disse a Nicodemos “que é necessário nascer de novo” e, depois da Transfiguração, quando os Apóstolos perguntaram sobre Elias, o Divino Mestre respondeu: pois que Elias já veio e eles não o conheceram, antes fizeram dele quanto quiseram”. Então os apóstolos compreenderam que Ele lhes falara de João Batista.

Eis outras passagens: “Tu reduzes o homem ao pó, e dizes: tornai, filhos dos homens, pois mil anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem que se foi” (Salmo 90: 3 e 4). “Porventura não tornarás a vivificar-nos?” (Salmo 85:6); Andarei na presença do Senhor, na Terra dos viventes”. (Salmo 116:9). “Porque somos de ontem e nada sabemos”. (Jó 8:9). “Agora eu era uma boa criança por natureza, e uma boa alma caiu no meu lugar. Sendo eu bom,eu caí num corpo puro”. (Sabedoria 8: 19 e 20). “Os vossos mortos e também o meu cadáver viverão e ressuscitarão” (Isaías 26:19). “Na quarta geração tornarão para aqui”. (Gênese, 15:15 e 16). “Viverão com seus filhos e voltarão”. (Zacarias 10:9). “Eis que abrirei as vossas sepulturas , vos tirarei de dentro delas, vos trarei à terra de Israel”. (Ezequiel 37:12). “Javé é quem faz morrer e viver, quem faz descer à sepultura e de lá retornar”. (I Samuel 2:6).

É preciso compreender que o espírito existe desde sua criação e que só vem a Terra ou a outro planeta quando reúne as condições encarnatórias. Por isso, a preexistência não tem como ser combatida. Rebeca, grávida, está aflita com a rivalidade que percebe entre os dois espíritos cujos corpos estavam sendo gestados no seu ventre. Consultou Jeová que respondeu: ”Duas nações há no teu ventre e dois povos se dividirão de tuas entranhas: um povo será mais forte do que o outro e o mais velho servirá ao mais moço” Gênese 25: 22 a 26. (o mais velho dos gêmeos é quem nasce primeiro).

Modo geral, os defensores da ressurreição em contraposição com a reencarnação, entendem que o ressurgimento se dá no mesmo corpo que um dia morreu, e isto no Juízo Final que não deixa de ser o mesmo que Final dos Tempos, enquanto pela reencarnação a volta do espírito, à vida física, acontece em novo corpo, sucessivamente até que atinja o seu melhor grau evolutivo. E aí a grande diferença. E aí a necessidade do bom senso. E aí só o raciocínio claro e isento pode concluir qual tema é mais consentâneo com a Divina Justiça, ou se ambos foram contemplados nas Imutáveis Leis.

Há muitos milênios, escrituras, Avatares e sábios hindus trataram da reencarnação. Eis o que diz o Bhagavad Gita (livro sagrado dos hindus): “Assim como a alma passa, neste corpo, pela infância, juventude e a fase adulta, de igual maneira ela toma outro corpo. O sábio não estranha tal coisa. (2.13)

Tal como uma pessoa despe a roupa velha e veste outra nova, a alma encarnada saca os corpos gastos e veste outros que sejam novos. (2.22).

Krishna Avatar, 5000 anos A.C. ensinou a verdade da reencarnação.

O Professor católico José Reis Chaves, que, diante das descobertas no estudo de O Livro dos Espíritos, tornou-se espírita, no livro “A Reencarnação Segundo a Bíblia e a Ciência”, diz: “Muitos acham que ressurreição e reencarnação são duas questões incompatíveis, o que é um grande equívoco. Para sintetizar de vez o assunto, devemos atentar para o fato de que a ressurreição bíblica é na chamada fase escatológica do homem ou no final dos tempos – final dos tempos, e não do mundo –, enquanto que a reencarnação sempre aconteceu, acontece e acontecerá, antes da mencionada fase o homem, como numa espécie de ressurreição provisória, em preparação à ressurreição, propriamente dita, ressurreição essa que não é só bíblica, mas universal, pois consta também das escrituras sagradas de outras grandes religiões”.

Para o Professor José Reis, a reencarnação seria a fase intermediária da evolução espiritual do homem; ou seja, enquanto o homem não chega à perfeição há de ir e voltar entre os dois mundos físico e espiritual, servindo-se da reencarnação e que, só ao final dos tempos, que não é o final do mundo, acontecerá a ressurreição bíblica, pois o ser humano não mais necessitará de um corpo físico e sim só do corpo astral, a que dão o nome de fase da glorificação. Tanto que conclui: “Mas o que é ressurreição? É a libertação do espírito da matéria, isto é do corpo mortal. Por isso ela é também a libertação da morte”.

De uma clareza meridiana, essa explanação do Professor Reis já seria suficiente para por fim a qualquer celeuma. Mas, como a humanidade, ainda tão díspar, contestadora eu diria, coloca oposições as mais complicadas exatamente visando defender os seus dogmas, pois quase todos se acreditam donos da verdade, quando até Jesus negou ser proprietário dela, ao responder a Pilatos que “a Verdade é Deus que está nos céus”.

Sonia Jobim, em notável artigo na revista Visão Espírita, ano 2, nº 24, páginas 18 a 21, ensina que: Não há discrepâncias nem diferenças. A reencarnação e a ressurreição do espírito são verdades, dentro de parâmetros estabelecidos. São etapas de um mesmo ciclo evolutivo. São elas: 1 – Criação do Espírito: o espírito em sua “forma” original é uma energia, criada por Deus. Nessa “forma” ele está num estágio embrionário, onde não está desenvolvido, nem o Bem nem o Mal. Suas potencialidades estão apenas latentes. 2 – Reencarnação: etapa em que o espírito “toma” forma material (física) necessária a uma vida planetária (na Terra ou outro orbe). O objetivo é desenvolver todas as suas potencialidades. 3 – Ressurreição: etapa final do espírito, quando completado seu aprendizado retoma sua forma original, que é pura energia, não reencarnando mais. O espírito restabelece o íntimo contato com seu criador e está pronto a empreender missões mais elevadas da Criação. (Todos os grifos são da autora e a transcrição é literal até na pontuação).

Quando Chico Xavier e Waldo Vieira estiveram nos Estados Unidos, Chico recebeu mensagem psicografada em inglês do espírito Ernest O’Brien que afirmou: “ A reencarnação é o retorno da alma à Terra, repetidas vezes, no corpo humano. Somente essa doutrina explica as aparentes injustiças da vida. É a verdade eterna”.

Os espíritos Jésus Gonçalves e Jair Presente, respectivamente, cantaram a reencarnação:

Jésus Gonçalves Jair Presente

Uma lei que nunca erra: E acentuou: - meus amigos,

Reencarnação, lei bendita... Bendita é a reencarnação,

Cada ser retorna à Terra A lei que nos guia e nos eleva,

Na lição que necessita. Aos cimos da evolução!...

Assim, quando o espírito tiver adquirido o pleno conhecimento do Universo e atingido o ápice da moralidade, não mais necessitará de encarnar-se, encontrando-se pronto para a Ressurreição anunciada na Bíblia. Mas essa Ressurreição dar-se-á apenas quanto ao espírito que transcende as dimensões além da matéria. Onde reina o espírito, não cabe a matéria.

Ou, ainda, em palavras mais simples, o corpo material pertence aos mundos materiais, pois é dali que o espírito retira os elementos para compor a sua forma física.

O corpo, o bendito corpo, serve e muto bem, apenas para propiciar ao espírito suas vivências materiais. Ao desencarnar, o espírito volita para esferas do além imaterial, deixando no mundo material os despojos dali retirados ao nascer.

As sábias palavras de Emmanuel encerram este articulado: Façamos o melhor ao nosso alcance, refletindo o Cristo em nossa própria consciência e, nessa diretriz salvadora, estejamos convictos de que para nós a Divina Ressurreição começará desde hoje”.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Fidelidade e Liberdade


Inicio estas reflexões com algumas frases ditas por estudiosos de diferentes áreas, que são bastante elucidativas a respeito do tema que me proponho apresentar: fidelidade e liberdade.

Paulo Freire, um educador de fama internacional, disse certa vez que: “ Me entende quem não me segue”. Ao propor uma educação libertadora, sendo coerente, ele não queria fieis sem liberdade.

Jose Marti, um grande educador e poeta cubano disse:“ Hay que ser culto para ser libre”. Ele não queria fieis sem liberdade.

Aléxis Leontiev, um renomado psicólogo russo, afirma, com humildade, que sua importante Teoria sobre o Psiquismo Humano é apenas um “ensaio”, que deve ser aprofundado constantemente. Ele não queria fieis sem liberdade.

Karl Marx, o grande filósofo, disse em uma das suas obras: “ Quanto a mim, não sou marxista”. Talvez ele previra o que seus seguidores fanáticos fariam com sua obra. Ele não queria fieis sem liberdade.

Jesus Cristo, o Mestre dos mestres, disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. Penso que com estas palavras Ele não pretendeu fundar nenhuma Religião. Ele apenas deu o exemplo para os homens no sentido de como deveriam agir, se escolhessem o caminho do Amor: “amar a Deus acima das coisas e ao próximo como a si mesmo”, carregar cada um a sua cruz, dar a vida pelos injustiçados, se preciso for - como Ele deu. E disse também que: “quem perder a vida por amor ao Pai estará ganhando a verdadeira vida”. E disse ainda, pouco antes de morrer “ não vos deixarei órfãos. Estarei com vocês até o fim dos tempos”. E foi, realmente, visto na Terra ressuscitado. Ele mostrou com palavras e atos que nada seria fácil para quem, livremente, decidisse seguir seu exemplo. E que não tivéssemos medo, pois nosso espírito é imortal. E é só olharmos a história para constatarmos essa dificuldade de dizer e fazer o que Cristo disse e fez. Muitos homens sofreram e morreram e continuam a sofrer e morrer pela causa da justiça, da fraternidade, da igualdade de condições de vida para todas as pessoas. Mas nos conforta sabermos que eles continuam entre nós. Hoje temos muitas pesquisas confirmando a imortalidade do espírito. A Fé vem encontrando a confirmação na Ciência como temos verificado nos últimos tempos ao estudarmos o Espiritismo. Jesus exerceu fidelidade ao Pai e liberdade para dizer sim ao seu projeto. Assim, ao nos fazer livres, Deus nos mostrou que não queria fieis sem liberdade.

Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, disse:“ Se a ciência negar o que estou afirmando, fiquem com a ciência”. Não aceitem nenhuma idéia sem passá-la pelo crivo da razão e da experimentação. Façam pesquisa, estudem sempre”. Tenham uma fé alicerçada na razão. Ele não queria fieis sem liberdade.

Assim, para mim, fidelidade não é dizer ou fazer o que alguém disse ou fez - no seu tempo ou nas condições em que viveu. Fidelidade é conhecer bem a personalidade desse alguém, seu senso ético e moral e dizer e fazer o que ele diria e faria se estivesse aqui no nosso tempo. É desse modo que me julgo fiel aos grandes mestres citados acima. Caso contrário, eu seria um robô que apenas repete palavras ou comandos do seu dono, sem liberdade de decidir nada e, consequentemente, não sendo responsável por nada. Isso equivale a não ser Humano e sim uma Máquina. Acredito na frase “somos livres para plantar, mas não para colher”. Isso quer dizer liberdade com responsabilidade, consciência dos efeitos de nossas palavras e ações.

Maurílio Nogueira da Silva

Prof. da UFJF – E. mail: nmaurilio@yahoo.com.br


quinta-feira, 11 de março de 2010

Teoria da Evolução ou do Des-envolvimento?


Maurilio Nogueira da Silva

Tese básica: Não existe evolução do simples para o complexo a não ser quando a complexidade já existe em germe ou potencialmente no que parece simples.

Penso que quando falamos em evolução, temos uma visão linear e queremos dizer que algo simples se transforma em algo complexo por acréscimo de elementos. Mas será que é assim mesmo? Não será a evolução do simples para o complexo um equívoco de observação ou uma observação superficial que não reflete a realidade? Não será verdade que todos os seres desenvolvem, cada um, as potencialidades que já trazem em si? É o que pretendo refletir nesse pequeno texto.

Quando supomos que algo simples evolui para o complexo, estamos sendo simplórios ou ingênuos em nossas observações. Estamos vendo apenas a periferia dos fenômenos. Na verdade o simples não evolui a não ser que ele traga em germe ou na origem o complexo, de forma oculta à nossa observação imediata. E nesse caso não se trata de evolução, mas sim um des-envolvimento onde o que parece simples vai deixando que venha à tona o complexo que já estava dentro dele, como potencialidade, como possibilidade, esperando condições favoráveis para ser atualizado, plasmado ou concretizado. Sendo assim, os elementos simples da natureza não evoluem para além de suas potencialidades, mas se des-envolvem, ou seja, tiram o véu que os faz parecer simples e vão revelando sua complexidade ou sua perfeição.

Pensando assim parece-me lógico tratar o termo evolução com o sentido de des-envolvimento, à luz do que já afirmara o filósofo Aristóteles, que viveu antes de Cristo, com sua teoria de “potência e ato”. Segundo ele, tudo se desenvolve, atualizando as potências que traz dentro de si.

Nesse caso, o animal não evoluiu para um ser humano, como pregam os evolucionistas em suas conclusões apressadas. O homem já estava nele desde o início, em germe ou potencialmente, apresentando, nos seus primórdios, aparência ou características de um animal antes de chegar à figura humana como se conhece hoje. E que continua passando por mudanças em sua aparência em função das alterações no seu modo de viver.

Segundo esse raciocínio, parece-me fazer sentido admitir que Deus criou tudo que existe, em germe ou potencialmente, dando a cada criatura a propriedade de se atualizar ou des-envolver as potencialidades que lhe são próprias. Há assim as potencialidades do reino mineral, as do reino vegetal, as do reino animal e as do homem. Cada criatura está desenvolvida quando chegou a atualizar suas potencialidades. Não é correto, portanto, insistir na idéia de evolução nem estabelecer comparações sobre quem é mais perfeito ou mais belo na obra da criação, embora tenhamos enraizada a idéia de que o homem é o ser mais desenvolvido e mais perfeito. O que se pode admitir que ele é o ser mais complexo da criação. É só olharmos melhor as criaturas para percebemos o desenvolvimento e a beleza própria de cada uma. Exemplificando os minerais ou os seres inanimados não podem evoluir para serem vegetais por não trazer em si a potencialidade ou possibilidade de serem criaturas animadas ou que têm vida. Assim também os vegetais não podem evoluir para serem animais, por não trazerem a potencialidade de terem um cérebro animal e, finalmente, os animais não podem evoluir para serem humanos por não trazerem em si as potencialidades de desenvolverem a consciência, que é o elemento mais complexo dos seres vivos.

A consciência - que é o diferencial básico entre o animal e o homem - segundo grandes estudiosos, não vem da evolução material dos seres vivos, como advogam os materialistas naturalistas, mas das atividades que os homens desenvolvem coletivamente na sociedade. Esta afirmação pode ser encontrada nas idéias filosóficas de Karl Marx ( na Tese I de Karl Marx sobre Feuerbach, onde ele critica o materialismo naturalista ou vulgar), Friederich Engels no livro Dialética da Natureza, onde ele afirma que o pensamento não vem da matéria, mas das atividades do homem ao atuar sobre a matéria) e, mais tarde no psicólogo russo Aléxis Leontiev ( no livro “O Desenvolvimento do Psiquismo”, onde ele afirma que a Consciência não vem do cérebro, mas das atividades sócio-históricas do indivíduo). Todos estes estudiosos negam, portanto, a tese dos materialistas vulgares para os quais o pensamento, a consciência, enfim, os fenômenos psíquicos ou espirituais teriam origem na matéria.

Concluindo, defendo a tese vai na direção contrária à teoria da evolução baseada no materialismo naturalista ou vulgar e aponta na direção de uma teoria do des-envolvimento, que parte de um materialismo-dialético e, a meu juízo, concorda com o espiritualismo, admitindo que o Homem é criado por Deus em espírito ou à semelhança de Deus, mas percorreu um longo caminho des-envolvendo ou passando por diversos corpos materiais até chegar ao que hoje ele é.




Bibliografia:

. ARISTOTELES, Vida e Obra. Coleção os Pensadores, SP Ed. Abril Cultural, l978

. ENGELS, Friederich. Dialética da Natureza, RJ, Paz e Terra, l979

. LEONTIEV, Aléxis. O Desenvolvimento do Psiquismo. Lisboa, Ed. Horizonte Universitário, l978.

. MARX, Karl, A Ideologia Alemã e outros Escritos

. SILVA, Maurilio N. A Produção Sócio-Histórica da Consciência do Indivíduo ( Tese de Mestrado

defendida na UNICAMP, em l986.

Reflexões sobre o processo de criação de um Homem Novo

( Resposta a uma mensagem de um amigo interlocutor)

Prezado amigo,

Li agora seu artigo do site. Concordamos em muitos pontos, conforme nossa boa conversa recente em sua casa. Não estou com muito tempo para me ater às discordâncias. Preferi fazer as reflexões sintéticas abaixo.

Antes eu pensava, com meus conhecimentos então rasteiros de marxismo ( e também de cristianismo) que mudando-se a estrutura da sociedade à partir de sua base econômico-política - criando-se o socialismo e depois o comunismo - teríamos um homem novo. Depois dei um passo nessa idéia - ao analisar as experiências socialistas - e passei a admitir que apesar dos seus avanços em muitos pontos, elas não produziram o homem novo desejado, talvez por querer criá-lo sem a mediação de Deus que fala mais fundo ao coração do homem. Aí pensei que as lutas econômicas e políticas deveriam ser travadas de mãos dadas com o cristianismo, como tentou fazer a Teologia da Libertação, infelizmente abortada. Hoje, dando mais um passo na análise, conhecendo melhor o marxismo e o cristianismo, continuo pensando que uma sociedade nova é necessária e urgente, mas ela não se cria a partir de idéias ou modelos pré-estabelecidos, mas a partir da ação concreta de homens ou sujeitos moralmente novos, à exemplo do que nos mostrou com palavras e ações, nosso Mestre Jesus. Portanto, penso que a transformação moral não vem depois, nem é concomitante com as transformações econômicas e políticas, mas vem antes de tudo. Cristo lançou a pedra fundamental. A partir daí é só seguirmos seu exemplo. Sei que esse caminho é muito difícil ou quase impossível pelo peso de um imenso passado de erros que a humanidade veio cometendo. Mas estou certo de que temos que iniciar por uma reforma moral, criando sujeitos novos para se chegar a uma sociedade também nova. Sei que isso exige muitos sacrifícios, tolerância a críticas e uma paciência de agricultor, que planta árvores para que seus netos ou bisnetos colham os frutos. Espero que Deus nos dê essa paciência e nos ajude a plantar essa árvore de colheita demorada. Sei que não a verei produzir, mas vou me contentando em colher alguns frutos que costumam dar mais cedo no meio da plantação principal. É costume se entremear entre as fileiras do milho algumas plantas que dão mais cedo, como o feijão, a abóbora. a melancia e outras que vão nos nutrindo e nos animando na caminhada. É o que penso hoje, mas prossigo meus estudos como eterno aprendiz, consciente de que a verdade é uma construção permanente e que Deus não nega sua iluminação, sua graça e sua misericórdia aos que se empenham em fazer o bem. Resumidamente, é isso o que penso hoje.

Maurilio.

e.mail nmaurilio@yahoo.com.br

Minha visão atual sobre Deus, Religião, o Mundo e o Homem



Maurílio Nogueira da Silva

Há algum tempo, não tenho uma religião e nem acho que deva ter. O que tenho é espiritualidade, um sentimento religioso do mundo e fé em um Ser superior ao homem, que nossa razão não dá conta de conhecer, mas que acredito estar em toda parte, dentro de cada homem e em todo o mundo, mesmo quando muitos insistam e negá-Lo. Aprendi a dialogar com os diversos caminhos que sustentam esta fé, procurando perceber sua essência comum e suas particularidades. Ultimamente, venho estudando o Espiritismo, que eu não conhecia e com o qual estou aprendendo muito.

Desde algumas décadas sou bastante influenciado pelo meu mestre Rubem Alves, que não gosta da idéia de um “deus engarrafado”, ou que traz o rótulo de uma religião. Diz ele: “ Deus é Amor. Ninguém jamais viu Deus. Se nos amarmos uns aos outros, Deus fará morada em nossos corpos e nossas almas. Então não teremos mais medo, porque o perfeito amor lança fora o medo (1ª. Carta de João)”.Em outro lugar, ele diz “Meu Deus é a Beleza”. E assim os homens vão percebendo ou sentindo Deus em sua vida.

Também há bastante anos sou estudioso do teólogo Leonardo Boff , e concordo quando ele diz que “a tarefa de cada um de nós é fazer seu caminho, de tal forma que melhore e aprofunde o caminho recebido, distorça o torto e o legue aos futuros caminhantes enriquecidos com sua marca pessoal”.

Através destes mestres, passei a compreender Nietzsche, que, ao contrário do que muitos dizem, não matou Deus. Um deus que pode ser morto por um pobre homem mortal não é Deus, mas algo criado pelo homem. Portanto, Nietzsche não matou Deus, porque Deus é imortal. O que ele teve foi a coragem de gritar bem alto que o deus das religiões estava morto. Segundo Leonardo Boff, Nietzsche prenunciara a morte do deus fabricado pelo homem. Um deus que tem que morrer mesmo, porque é o deus das nossas cabeças, o deus inventado, o deus da metafísica, o deus que não é vivo.''' (obra citada, editora Sextante, pág 84). Penso que Nietzsche estava certo e suas palavras servem para os dias atuais. É só ver as notícias sobre o que fazem muitos religiosos na defesa do seu deus.

Também julgo de grande importância ter tido a oportunidade de estudar o pensador alemão, Karl Marx, um grande filósofo incompreendido ou mal compreendido pelas religiões. Ele disse que “a religião é um ópio do povo” e tinha lá suas razões. O que não se pode é pegar esta afirmativa isolada da sua obra. Marx é o criador de uma filosofia denominada “materialismo dialético”, que é uma crítica tanto ao materialismo tradicional ou vulgar quanto ao idealismo, como visões de mundo. Marx concluiu que o materialismo tradicional é vulgar, pobre, reducionista e que o idealismo metafísico é também uma filosofia especulativa que não dá conta da realidade. Isso está resumido em sua Tese I contra o filósofo Feuerbach. Ele disse também que “entre o materialismo vulgar e o idealismo, há mais mérito no idealismo, pois este reconhece o lado ativo do ser humano”. Em outra passagem, ele disse, ainda, que “a natureza não se aventurou a criar o homem”, que este é resultado de múltiplas determinações. E, apesar de Marx ter dito essas palavras, há ainda muitos que o têm como um pregador do materialismo tradicional ou vulgar ou como um defensor do ateísmo e da tese do segundo a qual o homem é determinado apenas pelo fator econômico. Isso é o que pensavam e pensam os filósofos e economistas burgueses, que ele sabiamente criticou. Para Marx, a base econômica, a natureza ou a matéria é o meio concreto através do qual os homens produzem e ______

*Mestre em Educação, UNICAMP, l986. Estudioso de filosofia, marxismo, psicologia, espiritualidade e áreas afins.

Professor da UFJF - E. Mail: nmaurilio@yahoo.com.br

reproduzem suas condições de existência, mas ela não atua isolada de outros fatores igualmente importantes. Fazendo uma analogia, podemos dizer que o leito do rio ou o encanamento é o meio através do qual água chega até nós. Mas a água não se origina desse leito ou do cano. Ela vem de

uma nascente que a gente não vê, mas não pode negar que ela exista, pois seria ilógico. Igualmente, o homem não se origina da matéria, como pensam os materialistas tradicionais. Seu corpo físico é uma das suas maneiras através da qual ele existe neste mundo, mas ele não se reduz a um corpo, que aliás muda constantemente. Ele tem também um espírito. Utilizando outra analogia, o homem é como um computador: feito de hardware e software, ou parte física e parte virtual, que atuam como um todo inseparável feito de corpo e espírito, sendo que o corpo não cria o espírito. Daí, entendemos que a natureza não cria o homem, mas apenas lhe dá um corpo como um alicerce material de sua existência. Numa analogia bem atual, podemos dizer que o corpo físico do homem é a carcaça do telefone celular e o chip é o espírito que armazena as informações que darão a identidade ao aparelho. Sem o chip o telefone não funciona. Sem o espírito o homem não é um ser humano. E esse chip ou espírito está no indivíduo potencialmente, mas vai se des-envolvendo nas relações com os homens e com o mundo, Desde cedo, a criança ele vai atualizando seu potencial humano, através da mediação dos seres humanos com os quais convive.

Trago também as influências de um grande pensador, o educador Paulo Freire, que era um marxista-cristão, embora muitos achem isso impossível. Ele me marcou muito pelo que disse e pelo seu exemplo de vida, defendendo a justiça e pregando sempre o diálogo e a relação amorosa entre os homens. Muito me honra ter sido seu aluno na UNICAMP na década de 80.

Desse modo, ao trazer em minha formação esses e outros grandes pensadores, religiosos e não religiosos, minha conclusão foi não ter uma religião. Mas creio, firmemente, no Deus-Amor que, através dos homens, atua no mundo. Estou certo de que essa crença não é obstáculo ao avanço científico, através do qual se busca compreender o homem e o mundo. Na minha visão, o papel da ciência não deve ser o de se opor à fé em Deus, mas ajudar a revelar sua presença no mundo, que pode ser um lugar cada vez melhor, se assim os homens o quiserem. O amor, por si mesmo, não faz nada, mas tudo o que fazemos fica melhor se feito com amor. Para mim isso é ter Deus dentro de si e reconhecer que Ele está em toda parte nos inspirando e iluminando nossos caminhos.

Estou convencido de que a realidade que nos cerca transcende o imediato, o que podemos captar diretamente com nossos órgãos dos sentidos e com os instrumentos de observação produzidos pela ciência, por mais que ela avance. Temos que ter um olhar do artista, do escultor, que antevê sua obra num pedaço de madeira antes de trazê-la para sua existência concreta. Ele vê o produto, antecipadamente, na matéria bruta sobre a qual atuará. Para mim, isso é transcendência. Isso é ter um sentimento espiritualista e religioso do mundo. E eu tenho isso.

Sendo assim, penso que o destino do homem e do mundo é fruto das ações dos homens de boa vontade, que vivem o que Deus quer e também dos homens que vivem na contramão de Deus. Por isso, o mundo não é um “paraíso”, mas também não é um “inferno”. Há muita gente a serviço do mal e do desamor, mas também há muita gente vivendo o amor. Temos o livre arbítrio para decidirmos de que lado ficar e arcar com as conseqüências de nossas escolhas.

Minha prática de vida se nutre da utopia de um mundo mais justo, mais humano e mais feliz, que possa ir se des-envolvendo, se humanizando, superando as lutas de classes e grupos, a exploração do homem pelo homem, os preconceitos de qualquer espécie, proporcionando igualdade de oportunidades para todos os homens e mulheres, com respeito às suas diferenças. Onde haja respeito à natureza, aos recursos que ela nos disponibiliza, respeito a todos os seres vivos. Acho tudo isso possível, contanto que os homens se desenvolvam e queiram um mundo assim. Aprendi que utopia não é o impossível, mas é o possível que ainda não existe.

Em síntese, essa é a minha maneira atual de conceber Deus, o Mundo e o Homem, que não se adequa a nenhuma religião, mas que não é, de modo nenhum, uma postura anti-religiosa, materialista vulgar ou atéia.

Para concluir, transcrevo abaixo uma bela oração poética de Rubem Alves (escrita no seu livro “Perguntaram-me se acredito em Deus”, págs.153-4):

      “Pai, mãe de olhos mansos,

      Sei que estás, invisível, em todas as coisas,

      Que teu nome me seja doce, alegria do meu mundo.

      Traze-me as coisas boas em que tens prazer: o jardim, as fontes, as crianças,

      o pão e o vinho, os gestos ternos, as mãos desarmadas, os corpos abraçados...

      Sei que desejas dar-me o meu desejo mais fundo. Desejo que esqueci..

      Mas tu não esqueces nunca.

      Realiza, pois, o teu desejo para que eu possa rir.

      Que teu desejo se realize em nosso mundo da mesma forma que ele pulsa em ti.

      Concede-nos contentamento nas alegrias de hoje: o pão, a água, o sono...

      Que sejamos livres da ansiedade.

      Que nossos olhos sejam tão mansos para com os outros como os teus

      o são para conosco.

      Porque, se formos ferozes, não podemos acolher a tua bondade.

      Ajuda-nos para que não sejamos enganados pelos desejos maus,

      E livra-nos daquele que carrega a morte dentro dos próprios olhos.

      Amém”

Algumas Leituras de Religião, Filosofia, Psicologia e outras que tenho feito:

ALVES, Rubem. O que é Religião. SP. Brasiliense, Primeiros Passos, l981.

._________. O Enigma da Religião, RJ. Vozes, l981.

._________. Perguntam-me se acredito em Deus. SP. Ed. Planeta, 2007

. BETTO, Frei. Catecismo Popular. SP. Atica, l994

. __________. Oração na Ação. RJ. Civilização Brasileira, l978.

. __________. Fidel e a Religião. São Paulo, Circulo do Livro S.A. l985.

. BOFF, Leonardo. O Despertar da Águia: o dia-bólico e o sim-bólico na construção da

realidade. Petrópolis, Vozes, l999.

.________. Vida para além da morte. Petrópolis, Vozes, l973

. _______. O destino do homem e do mundo. Petrópolis, Vozes, l973.

._______. A Teologia da Libertação. Balanços e Perspectivas, SP. Ática, l999.

._______. Tempo de Transcendência: o Ser Humano Como um Processo

Infinito. RJ. Sextante, 2000.

._______. O Senhor é meu pastor. RJ. Sextante, 2004.

. _______. Ecologia, Mundialização e Espiritualidade. RJ. Ed. Record, 2008.

._______. Homem: satã ou anjo bom? Rio de Janeiro, Ed. Record, 2008.

. BRANDÃO, Carlos. R. Os deuses do Povo, SP. Brasiliense, l980

. CAPRA, Fritjof. O Tao da Física: um paralelo entre a Física Moderna e o

Misticismo Oriental. São Paulo, Ed. Cultrix, l983.

.CLARET, Martin. A Essência das Religiões, SP. Ed. Martins Claret, 2001

.________. A Essência de Deus, SP. Ed. Martins Claret, 2001

. FARIA. Osmard A. O que é parapsicologia. SP. Brasiliense, l984

. FREIRE, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. Rio de Janeiro, Ed. Zahar,

l978.

. FROMM, Erich. Conceito marxista do Homem. RJ, Zahar, l975.

.__________. Análise do Homem, RJ. Zahar, l978

.__________. Ter ou Ser ? RJ. Zahar Editores, l979.

. _________. O dogma de Cristo. RJ. Zahar, l978

. INC ONTRI, Dora. Deus e deus. Ed. Comenius, SP, 2007

. JACINTHO Roque. O que é Espiritismo. SP. Brasiliense, l982

. KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. SP. IDE ed., 2008

.__________. A gênese, RJ, FEB, 2007.

. La Religion. – Estudios de investigadores cubanos sobre a la tematica religiosa. La

Habana, 1993.

. LUXEMBURGO, Rosa. O Comunismo dos primeiros Cristãos. RJ Achiamé, l980.

. MARX, Karl. Textos Filosóficos. SP, Martins, Fontes, l975.

. _______, A Ideologia Alemã e Outros Escritos, RJ, Ed. Zahar RJ, l965.

. MAY, Rollo, O Homem à Procura de Si Mesmo. Petrópolis, Vozes, l972.

. MARQUES, A.(Médico Antroposófico) Repensar a Ciência. Juiz de Fora, Ed. Eletrônica

Helvética, l996.

. MUNIZ, Ferreira e Eugênio Almeida. Marxistas e Cristãos: ontem e hoje. Rev.

Princípios, no. 29, julho de l993, Ed. Anita Garibaldi, SP, l993.

. NIETZCHE, Friederich. Assim falava Zaratrustra. São Paulo. Hemus, l977.

. _________. O Anti-Cristo. RJ. Livraria/Ed. Guimarães, 1978.

. NOBRE, Marlene, A Alma da Matéria. FE Edit, São Paulo, 2005

. SILVA, Maurílio Nogueira. A Produção Sócio-Histórica Consciência individual

(Dissertação de Mestrado, UNICAMP, em l986).


. __________. Método dialético-marxista de conhecimento e de transformação da

realidade. Texto apresentado no Congresso de Pedagogia/2001, em Havana-Cuba,

revisado em 2008.

. SPONG, John Shelby. Um novo cristianismo para um novo mundo – a fé além dos

dogmas. Campinas, Verus, 2006.

. TOLEDO. Roberto Pompeu. Crer em Deus, Hoje. In: VEJA, 2 de abril de 2007.

. VYGOTSKY, L.S. A Formação Social da Mente- o Desenvolvimento dos Processos

Psicológicos Superiores. São Paulo, Martins Fontes, l984.

. VALE, Maria do Carmo C. (Médica Antroposófica) Relação entre Cura e Religião à luz

da Antroposofia, JF, 2002.



Revistas:


GALILEU - O prazer de Conhecer – Revista de assuntos científicos da atualidade

VIVER – Mente e Cérebro - Revista de Psicologia, Psicanálise e Neurociência

FILOSOFIA ESPECIAL – Psicanálise e Filosofia – diversos números

SUPERINTERESSANTE – A História Secreta da Igreja Católica

PLANETA, Morrer e voltar da morte, junho 2008

DOUTRINA ESPIRITA - diversos números

TUDO que eu quero. A Fé e a Cura, outubro de 2002

ULTIMATO – Revista Presbiteriana - diversos números

VIDA & RELIGIAO – Ateísmo e outros assuntos, no. 5, 2008

ÉPOCA - A superação pela Fé, n. 554, 2009.

DESPERTAI – Revista Evangélica – diversos números

FATO E RAZAO – Revista do Movimento Familiar Cristão, no. 51, 2002

REVISTA RETORNANDO AO CAMINHO – Judaísmo Cristão Messiânico. 1 e 2, 2008

SUGESTÕES PARA BEM VIVER

Para vivermos bem, com equilíbrio psicofísico, que leva à saúde, à alegria e à felicidade, temos que estar atentos à nossa Consciência e às Atividades que fazemos no dia a dia.

- Não valorizar mais as coisas materiais do que a dimensão espiritual, entendida aqui como o mundo das idéias, dos sentimentos, das emoções, das artes, de tudo que nos leva à valorizar nossa interioridade ou nosso eu mais profundo.

- Não maltratar o corpo com excessos ou carências de qualquer natureza, seja na alimentação, seja

nas atividades físicas de trabalho, seja no lazer.

- Não fazer ao próximo aquilo que não gostaria que ele fizesse a nós; colocarmos-nos sempre

no lugar do próximo antes de nos dirigirmos a ele.

- Não explorar a ninguém, seja de que maneira for, percebendo-o como um semelhante e irmão.

- Não fazer ninguém de escada ou trampolim para nossa subida ou sucesso.

- Não pretender ser superior a ninguém, pois todos têm o seu valor no teatro da vida.

- Buscar o equilíbrio na vida familiar, no trabalho e no lazer, procurando resolver tudo através

do diálogo.

- Cuidar do mundo que nos cerca: dos recursos da natureza, dos seres vivos em geral, pois fazemos

parte do todo.

- Olhar com alegria as belezas do mundo, sem deixar de ver também as imperfeições e as tristezas.

- Não confundir prazer com alegria. Nem todo prazer leva à alegria.

- Ajudar a construir uma sociedade pautada na justiça, no respeito, na solidariedade, na

fraternidade, na paz e no amor.

- Utilizar-se do progresso da ciência, da tecnologia, da comunicação sem jamais

escravizar-se a ele.

- Entender que nossas idéias e nossos pensamentos não podem ser estáticos ou fixos, porque a

vida é dinâmica. Estar dispostos a aprender sempre.

- Partir dos grandes mestres em todas as áreas do conhecimentos, mas compreender que eles

podem se superados pela dinâmica da vida.

- Estar sempre dispostos a ver o mundo e o homem cada vez com mais profundidade e em

mudança constante.

- Não ler apenas as palavras de nenhum livro, mas procurar captar o contexto em que foram

escritas e o que elas carregam de mais profundo em seus significados.

- Não confundir conhecimento escolar ou acadêmico com cultura ou sabedoria. Ouvir os menos

letrados.

- Não desqualificar nossos interlocutores, julgando-os menos inteligentes ou menos capazes.

- Não abrir mão de ter sonhos, utopias, mas também não recusar a atuar na realidade.

- Não querer mudar o que não tem jeito, recusar em mudar o que tem jeito e não utilizar a

inteligência para distinguir o mutável do imutável.

- Saber que para além de nossa consciência imediata há um poderoso inconsciente que, muitas vezes, determina nossos pensamentos, sentimentos, palavras e atitudes e, por isso, não nos acharmos tão senhores de nós mesmos e de nossa vida. E por isso, sermos humildes e conscientes de nossas limitações.


Maurilio Nogueira da Silva,

Pedagogo, PG em Psicologia Educacional, Prof. da UFJF

E. mail: nmaurilio@yahoo.com.br