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quinta-feira, 21 de maio de 2020

Infodemia: a pandemia de desinformação


Todos os dias em nossos smartphones, computadores e TVs, temos uma verdadeira chuva de informações, e nem sempre é possível conferir a veracidade delas. Se acharmos que ela faz sentido para nós e pode ajudar o próximo, tratamos de encaminhar imediatamente para nossas redes de contato e, assim, a informação se dissemina (em uma velocidade absurda), seja ela verdadeira ou não. Realmente, não pensamos nas consequências disso, afinal, é só uma mensagem sobre um assunto polêmico ou que vai alimentar ainda mais uma discussão interessante, não é mesmo? Não é bem assim.

O termo “infodemia” significa epidemia de informações falsas. As pesquisadoras Emma Spiro e Kate Starbird, da Universidade de Washington (Seattle/EUA), estão investigando como a desinformação está se espalhando durante a pandemia da Covid-19 e como os conhecimentos científicos influenciam as percepções públicas.

O coronavírus, por exemplo, já foi tratado como arma biológica produzida em laboratório, já foi uma conspiração dos mais ricos do planeta para alterar os valores de compra e venda de ações, já veio do morcego, do pangolim, já foi culpa dos chineses, dos italianos, já foi letal e agora não é mais — até atribuíram ao Papa Francisco a culpa pela disseminação desse vírus quando ele deu um tapa na mão de uma asiática. Brincadeiras à parte, tudo isso aconteceu em apenas dois meses, e isso nos revela um vírus não apenas como o causador de uma doença, mas como uma verdadeira arma de guerra de informações.

Essas incertezas nos trazem ainda mais angústia e ansiedade. No caso do coronavírus, as situações apresentadas no início da pandemia, por exemplo, levaram a desencontros de atitudes e ações entre os diferentes líderes mundiais. Até agora, não sabemos exatamente qual o grau de perigo em abandonar a quarentena para reacender a economia. Estamos entre a cruz e a espada.

Então, como podemos minimizar essa situação?

Primeiramente, refletir criticamente sobre a informação e, sempre que possível, checar a sua veracidade. Você também pode avaliar qual o grau de contribuição que aquela informação terá na vida das pessoas que você pretende compartilhar, ou seja, será que elas já sabem aquilo? É algo novo e que realmente trará algum benefício? Por fim, ter bom senso! Afinal, o que mais precisamos nesse momento são união e solidariedade.


Rodrigo Silva é biólogo, doutor em Ciências e coordenador do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental do Centro Universitário Internacional Uninter

Deus é um imenso “inexistir”? (Jorge Hessen)

Deus é um imenso “inexistir”? (Jorge Hessen)
Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com
Brasília/DF

Ora, quando refletimos sobre Deus e pensamos nele como “existente”, e ainda quando cremos que ele “existe”, nossa ideia dele não aumenta nem diminui. Científica e filosoficamente, Deus é impossível! Deus é um absurdo! No surto da Reductio ad absurdum, o bispo Anselmo afirmava que “Deus é aquilo maior do que o qual nada pode ser pensado ou o que é tal que não pode ser pensado algo maior.”[1]
Cada filósofo, cada cientista tem uma visão diferente sobre a possibilidade da “existência” de um “Deus”. Albert Einstein afirmava crer na visão de Deus de acordo com o definido pelo filósofo Baruch Spinoza, na qual tudo e todos fazem parte da composição do Criador. O genial cientista refutava a possibilidade de um Deus individual ou antropomórfico e se definia como agnóstico, ou seja, reconhecia a possibilidade da “existência” de um Deus – por mais difícil que fosse descobrir se isso é verdade ou não. [2]
Carl Sagan negava ser ateu, porque para ele um ateu é alguém que tem evidências persuasivas de que não existe um Deus Judaico-Católico-Islâmico. Sagan dizia que não era tão sábio, mas ao mesmo tempo não considerava que havia algo próximo a uma evidência adequada para a “existência” de um Deus. O astrofísico americano Neil Degrasse Tyson, o mais ativo divulgador da ciência depois de Carl Sagan, também afirma que não enxerga evidências que corroborem a existência de Deus.[3]
Stephen Hawking se definia como ateu. Acreditava que o universo era governado pela supremacia das leis da ciência. Para ele, existia uma diferença fundamental entre a religião, que é baseada na autoridade, e a ciência, que é baseada na observação e na razão. A ciência é suprema porque ela funciona, afirmava Hawking.[4]
Deus “É” imaterial, portanto incriado, porém criou a existência ou essência de tudo, logo, Deus não pode ser a própria criação, ou seja,  não pode “existir”. Deus criou não só um Universo, mas infinitos universos. Nos fenômenos materiais, tudo o que pode ser verificado, o cientista procura encontrar os porquês do existente como possibilidade de ser raciocinado e medido, entretanto, Deus “É” não existente como possibilidade de ser verificado e mensurado.
É impossível  provar a “existência” de Deus, isso apenas porque sua inexistência é perfeitamente possível. Vale ressaltar aqui que nossa reflexão não é provar a impossibilidade de Deus “existir”, mas apenas a impossibilidade de se demonstrar Sua possível “existência”, até mesmo porque Ele é o Criador da “existência”. Deus “existente” é coisa limitada; o Deus “existente” é um ente restrito; o Deus “existente” é uma concepção da fé da criatura;  o Deus “existente” é uma finitude; o Deus “existente” é adstrito ao pensamento do crente.  Em verdade, Deus tem que SER, e não pode “existir”, até porque tudo o que “existe” é o que d’Ele procede, pois Deus simplesmente “É”. Se Deus “existisse”, teria criado a si mesmo.
A compreensão de Deus alcançada por uma pessoa é aquela possível em face do seu conhecimento e do conhecimento do seu grupo social. No entendimento do Espiritismo, Deus não se relaciona ao mágico, ao místico, ao divinal, ao sacro, ao infinito, ao absoluto. Deus não é matéria, nem energia: é imaterial. Para Kardec, não é permitido ao homem sondar a natureza íntima de Deus. Se o homem não pode penetrar na essência de Deus, sendo a existência divina dada como premissa, o homem pode chegar pelo raciocínio ao conhecimento dos seus atributos necessários; porque, vendo o que ele não pode ser sem deixar de ser Deus, deduz-se daí o que ele deve ser.
Sem o conhecimento dos predicados de Deus, seria impossível compreendermos a obra da criação. Deus é a inteligência suprema e soberana. Se a imaginássemos limitada num ponto qualquer, poderíamos conceber outro ser mais inteligente, e assim por diante até ao infinito. [5]
Deus é eterno, isto é, não teve começo e não terá fim. Se tivesse tido princípio, teria saído do nada. Ora, não sendo coisa alguma, o nada não pode produzir nada. Deus é imutável. Se ele estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo não teriam nenhuma estabilidade. Deus é imaterial, de outro modo, não seria imutável, pois estaria sujeito às transformações da matéria. Deus é todo-poderoso. Se ele não possuísse o poder supremo, poderíamos imaginar um ser mais poderoso e assim por diante, até encontrarmos o ser que nenhum outro pudesse ultrapassar em potência, e então esse outro é que seria Deus. [6]
Deus é soberanamente justo e bom. Deus não poderia ser ao mesmo tempo bom e mau, porque, não possuindo qualquer dessas duas qualidades no grau supremo, ele não seria Deus. Consequentemente, Ele não poderia deixar de ser ou infinitamente bom ou infinitamente mau; se fosse infinitamente mal, não faria nada de bom; a soberana bondade resulta na soberana justiça.
Deus é infinitamente perfeito. É impossível concebermos Deus sem o infinito das perfeições. Para que nenhum ser possa ultrapassá-lo, faz-se preciso que ele seja infinito em tudo. Deus é único. Não poderia existir outro Deus, salvo sob a condição de ser igualmente infinito em todas as coisas, visto que, se houvesse entre eles a mais ligeira diferença, um seria inferior ao outro, subordinado ao seu poder, e então não seria Deus.
Em resumo, Deus não pode ser Deus senão sob a condição de não ser ultrapassado em nada por nenhum outro ser, pois o ser que o superasse no que quer que fosse, ainda que apenas na grossura de um cabelo, é que seria o verdadeiro Deus.  Portanto, Deus é a inteligência suprema e soberana, é único, eterno, imutável, imaterial, todo-poderoso, soberanamente justo e bom, infinito em todas as suas perfeições, e não pode ser de outra forma. Tal é a sustentação sobre a qual repousa o edifício universal. [7]
Em filosofia, em psicologia, em moral, em religião, só há de verdadeiro o que não se afaste — nem que seja um til — das qualidades essenciais da divindade. A religião perfeita será aquela que não contenha entre seus artigos de fé nenhum que esteja em oposição com aquelas qualidades, em que todos os seus dogmas suportem a prova desse controle, sem sofrer nenhum dano. [8].

Referências bibliográficas:

[1]           ANSELMO. Proslogion. Universidade da Beira Interior, Covilhã, 2008.
[2]           Disponível em https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2016/01/5-reflexoes-de-cientistas-sobre-ateismo-e-agnosticismo.html  acesso em 17 de maio de 2020      
[3]           Disponível  em https://veja.abril.com.br/ciencia/nao-vejo-evidencias-que-corroborem-a-existencia-de-deus/    acesso 18/05/2020
[4]           Disponível em https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2016/01/5-reflexoes-de-cientistas-sobre-ateismo-e-agnosticismo.html  acesso em 17 de maio de 2020      
[5]           KARDEC ,Allan. A Gênese,SP: Ed. Portal Luz Espírita,  2018, item 8 cap. II (versão digital da 1ª edição traduzido por  Louis Neilmoris )
[6]           Idem
[7]           Idem
[8]           Idem

Deus é um imenso “inexistir”? (Jorge Hessen)


Deus é um imenso “inexistir”? (Jorge Hessen)

Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com
Brasília/DF

Ora, quando refletimos sobre Deus e pensamos nele como “existente”, e ainda quando cremos que ele “existe”, nossa ideia dele não aumenta nem diminui. Científica e filosoficamente, Deus é impossível! Deus é um absurdo! No surto da Reductio ad absurdum, o bispo Anselmo afirmava que “Deus é aquilo maior do que o qual nada pode ser pensado ou o que é tal que não pode ser pensado algo maior.”[1]
Cada filósofo, cada cientista tem uma visão diferente sobre a possibilidade da “existência” de um “Deus”. Albert Einstein afirmava crer na visão de Deus de acordo com o definido pelo filósofo Baruch Spinoza, na qual tudo e todos fazem parte da composição do Criador. O genial cientista refutava a possibilidade de um Deus individual ou antropomórfico e se definia como agnóstico, ou seja, reconhecia a possibilidade da “existência” de um Deus – por mais difícil que fosse descobrir se isso é verdade ou não. [2]
Carl Sagan negava ser ateu, porque para ele um ateu é alguém que tem evidências persuasivas de que não existe um Deus Judaico-Católico-Islâmico. Sagan dizia que não era tão sábio, mas ao mesmo tempo não considerava que havia algo próximo a uma evidência adequada para a “existência” de um Deus. O astrofísico americano Neil Degrasse Tyson, o mais ativo divulgador da ciência depois de Carl Sagan, também afirma que não enxerga evidências que corroborem a existência de Deus.[3]
Stephen Hawking se definia como ateu. Acreditava que o universo era governado pela supremacia das leis da ciência. Para ele, existia uma diferença fundamental entre a religião, que é baseada na autoridade, e a ciência, que é baseada na observação e na razão. A ciência é suprema porque ela funciona, afirmava Hawking.[4]
Deus “É” imaterial, portanto incriado, porém criou a existência ou essência de tudo, logo, Deus não pode ser a própria criação, ou seja,  não pode “existir”. Deus criou não só um Universo, mas infinitos universos. Nos fenômenos materiais, tudo o que pode ser verificado, o cientista procura encontrar os porquês do existente como possibilidade de ser raciocinado e medido, entretanto, Deus “É” não existente como possibilidade de ser verificado e mensurado.
É impossível  provar a “existência” de Deus, isso apenas porque sua inexistência é perfeitamente possível. Vale ressaltar aqui que nossa reflexão não é provar a impossibilidade de Deus “existir”, mas apenas a impossibilidade de se demonstrar Sua possível “existência”, até mesmo porque Ele é o Criador da “existência”. Deus “existente” é coisa limitada; o Deus “existente” é um ente restrito; o Deus “existente” é uma concepção da fé da criatura;  o Deus “existente” é uma finitude; o Deus “existente” é adstrito ao pensamento do crente.  Em verdade, Deus tem que SER, e não pode “existir”, até porque tudo o que “existe” é o que d’Ele procede, pois Deus simplesmente “É”. Se Deus “existisse”, teria criado a si mesmo.
A compreensão de Deus alcançada por uma pessoa é aquela possível em face do seu conhecimento e do conhecimento do seu grupo social. No entendimento do Espiritismo, Deus não se relaciona ao mágico, ao místico, ao divinal, ao sacro, ao infinito, ao absoluto. Deus não é matéria, nem energia: é imaterial. Para Kardec, não é permitido ao homem sondar a natureza íntima de Deus. Se o homem não pode penetrar na essência de Deus, sendo a existência divina dada como premissa, o homem pode chegar pelo raciocínio ao conhecimento dos seus atributos necessários; porque, vendo o que ele não pode ser sem deixar de ser Deus, deduz-se daí o que ele deve ser.
Sem o conhecimento dos predicados de Deus, seria impossível compreendermos a obra da criação. Deus é a inteligência suprema e soberana. Se a imaginássemos limitada num ponto qualquer, poderíamos conceber outro ser mais inteligente, e assim por diante até ao infinito. [5]
Deus é eterno, isto é, não teve começo e não terá fim. Se tivesse tido princípio, teria saído do nada. Ora, não sendo coisa alguma, o nada não pode produzir nada. Deus é imutável. Se ele estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo não teriam nenhuma estabilidade. Deus é imaterial, de outro modo, não seria imutável, pois estaria sujeito às transformações da matéria. Deus é todo-poderoso. Se ele não possuísse o poder supremo, poderíamos imaginar um ser mais poderoso e assim por diante, até encontrarmos o ser que nenhum outro pudesse ultrapassar em potência, e então esse outro é que seria Deus. [6]
Deus é soberanamente justo e bom. Deus não poderia ser ao mesmo tempo bom e mau, porque, não possuindo qualquer dessas duas qualidades no grau supremo, ele não seria Deus. Consequentemente, Ele não poderia deixar de ser ou infinitamente bom ou infinitamente mau; se fosse infinitamente mal, não faria nada de bom; a soberana bondade resulta na soberana justiça.
Deus é infinitamente perfeito. É impossível concebermos Deus sem o infinito das perfeições. Para que nenhum ser possa ultrapassá-lo, faz-se preciso que ele seja infinito em tudo. Deus é único. Não poderia existir outro Deus, salvo sob a condição de ser igualmente infinito em todas as coisas, visto que, se houvesse entre eles a mais ligeira diferença, um seria inferior ao outro, subordinado ao seu poder, e então não seria Deus.
Em resumo, Deus não pode ser Deus senão sob a condição de não ser ultrapassado em nada por nenhum outro ser, pois o ser que o superasse no que quer que fosse, ainda que apenas na grossura de um cabelo, é que seria o verdadeiro Deus.  Portanto, Deus é a inteligência suprema e soberana, é único, eterno, imutável, imaterial, todo-poderoso, soberanamente justo e bom, infinito em todas as suas perfeições, e não pode ser de outra forma. Tal é a sustentação sobre a qual repousa o edifício universal. [7]
Em filosofia, em psicologia, em moral, em religião, só há de verdadeiro o que não se afaste — nem que seja um til — das qualidades essenciais da divindade. A religião perfeita será aquela que não contenha entre seus artigos de fé nenhum que esteja em oposição com aquelas qualidades, em que todos os seus dogmas suportem a prova desse controle, sem sofrer nenhum dano. [8].

Referências bibliográficas:

[1]           ANSELMO. Proslogion. Universidade da Beira Interior, Covilhã, 2008.
[2]           Disponível em https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2016/01/5-reflexoes-de-cientistas-sobre-ateismo-e-agnosticismo.html  acesso em 17 de maio de 2020      
[3]           Disponível  em https://veja.abril.com.br/ciencia/nao-vejo-evidencias-que-corroborem-a-existencia-de-deus/    acesso 18/05/2020
[4]           Disponível em https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2016/01/5-reflexoes-de-cientistas-sobre-ateismo-e-agnosticismo.html  acesso em 17 de maio de 2020      
[5]           KARDEC ,Allan. A Gênese,SP: Ed. Portal Luz Espírita,  2018, item 8 cap. II (versão digital da 1ª edição traduzido por  Louis Neilmoris )
[6]           Idem
[7]           Idem
[8]           Idem

terça-feira, 19 de maio de 2020

Por que ler os clássicos espíritas?




Vladimir Alexei
Belo Horizonte das Minas Gerais,
19 de maio de 2020.



O escritor Ítalo Calvino, considerado um dos mais importantes escritores italianos do Século XX, em sua obra “Por que ler os clássicos” (1991), disse que, “um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”.

Por que ler os clássicos espíritas? Porque são obras que têm algo a mais para nos ensinar, seja pelo contexto histórico, científico ou social em que foram concebidas. No caso espírita, existe um outro tempero: a percepção e o intercâmbio com o mundo dos espíritos. A presença existe também nos demais trabalhos, porém, na grande maioria é algo que se manifesta de forma inconsciente, o que pode explicar um pouco trabalhos densos, carregados de negativismos ou até recheados de esperanças.

Com o isolamento social, segundo reportagem do Jornal “Nexo”1, a busca por clássicos aumentou consideravelmente. No Twitter, “subiu” uma hashtag #TolstoyTogether, que conta com mais de três mil pessoas do mundo todo numa leitura coletiva da obra “Guerra e Paz”, um dos maiores clássicos da literatura russa, e mundial.

“Nós lemos clássicos porque identificamos nesses livros os mesmos dilemas que a gente vive”, disse Isabella Lubrano ao “Nexo”. Aplica-se também aos trabalhos de Leon Denis, Gabriel Delanne, Ernesto Bozzano, Willian Crookes, dentre muitos outros que se curvaram às evidências espirituais e conseguiram, ipsis litteris, encaixar o que os espíritos revelaram àquilo que Thomas Kuhn em sua “A estrutura das revoluções científicas” (1962) chamou de “regras aceitas”.

As revoluções provocadas pelos clássicos espíritas embasaram crentes e converteram descrentes ao estudo aprofundado dos ensinamentos espíritas. Quando falamos “aprofundado”, dizemos no sentido de examinar a fundo, como também holisticamente.

Cabe a alguns traduzir os clássicos para torna-los “palatáveis” ao público em geral, daí se vê o quanto carecemos de divulgação dos clássicos porque poucos são os que se aventuram por essa “mata fechada”. A outros, os clássicos revigoram o sentido científico doutrinário. O que pouco se percebe, ou pouco se difunde, é que o sentido científico é o “meio” e não o “fim em si” do processo de aprendizado.

Conhecer os clássicos é quase um processo disciplinar para educar o pensamento a construir um raciocínio mais razoável, lógico, tão necessário em tempos de pandemia. Por analogia, poderíamos dizer que os clássicos são a argamassa da “Casa sobre a rocha” trazida por Jesus em seu estupendo Evangelho! São obras sempre atuais!



1 https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/05/16/A-busca-por-livros-cl%C3%A1ssicos.-E-dicas-para-venc%C3%AA-los


sexta-feira, 8 de maio de 2020

Histórias do Movimento Espírita – primeiro ciclo


Vladimir Alexei


Vladimir Alexei
Belo Horizonte das Minas Gerais,
08 de maio de 2020.

Concluiremos, na próxima semana, o primeiro ciclo de episódios de uma atividade de divulgação da Doutrina Espírita, por meio da Rede Amigo Espírita, canal de divulgação do Espiritismo na internet, intitulada “histórias do movimento espírita”. Trata-se de um piloto.

Todo esforço empreendido foi direcionado para que se levasse a um público, em sua grande maioria neófitos, histórias que conhecemos no movimento de divulgação do espiritismo. Tudo feito com muita simplicidade e amadorismo, com problemas de ajustes nos programas de transmissão, falhas de conexão e tudo mais. A intenção foi e continua sendo boa!

Principiamos com o período anterior a Allan Kardec, das “mesas girantes”, e em paralelo narramos alguns eventos no Brasil, registrados pelos pesquisadores Eduardo Carvalho Monteiro e Luciano Klein Filho, a quem endereçamos nossa gratidão pelo hercúleo trabalho de preservação da memória do movimento espírita, junto com outros dedicados companheiros que enriqueceram o movimento espírita com histórias de superação e esforços inaudíveis.

Abordou-se, nos episódios, um pouco do movimento de divulgação do Espiritismo fora do Brasil e o início das atividades de divulgação no Brasil com figuras como Casimir Lieutaud, Luís Olímpio Teles de Menezes, dentre outros.

Coincidências com o 18 de abril, fizeram-nos abordar a respeito da “vida e obra de Allan Kardec”, quando utilizamos o belo trabalho de André Moreil, cuja sensibilidade ao falar sobre a vida do Rivail e o trabalho de Kardec – como uma construção de personalidade dedicada a trabalho específico, por vezes enfadonho, de lidar com técnicas e métodos –, permitiu compreendermos o quão oportuno e planejado foi a chegada da Terceira Revelação à humanidade.

Em seguida, tivemos a honra em receber o César Perri, ex-presidente da Federação Espírita Brasileira, que, com simplicidade e mais de 50 anos de divulgação do Espiritismo, dedicou de seu tempo para proporcionar-nos agradáveis e importantes reflexões em torno dos trabalhos de Allan Kardec e seus continuadores, como Gabriel Delanne. César nos conclamou ao entendimento de que sem Kardec não se faz Espiritismo.


Outra honra foi receber o Paulo Neto, dedicado e pujante pesquisador doutrinário. Paulo Neto possui um site (www.paulosnetos.net) com mais de quatrocentos artigos, e-books autorais, dentre outros trabalhos. Uma das maiores virtudes das pesquisas do Paulo é a de nos fazer refletir a respeito do nosso aprendizado doutrinário. Será que conhecemos o Espiritismo realmente? Com essas reflexões, o aprendiz dedicado revê seus posicionamentos. Já aquele que “professa” o espiritismo encontra resistência em aceitas tais ideias, por chocarem com seus entendimentos. E isso é muito rico para a construção do nosso entendimento sobre determinados temas. Só não aprende, quem não quer!

Na próxima semana, 12/05, teremos a honra em receber Jáder Sampaio, um estudioso da Doutrina Espírita, intelectual, pesquisador envolvido em projetos relevantes como a coleção “Espiritismo na Universidade” e a Liga de Pesquisadores Espíritas, além de tradutor das obras espiritualistas do naturalista Alfred Russel Wallace.

E por que trazemos convidados? Porque são voluntários com larga experiência e contribuições relevantes para o aprendizado doutrinário e a divulgação do espiritismo, algo que não conseguiríamos fazer nem se ficássemos todos os dias falando pela internet. É o “ganho de escala”! E ganhamos todos, principalmente os espíritas e simpatizantes que desejam conhecer um pouco mais sobre as histórias do movimento espírita para melhor estudar o Espiritismo.

Mas por que o programa está em “ciclos” e não é contínuo? Essa talvez seja a pergunta-chave. Quando iniciamos esse movimento, no período da quarentena, para realizar uma hora de programa, tentando utilizar uma linguagem simples e principalmente acolhedora e para isso precisávamos nos dedicar muitas horas, até dias na preparação. Ainda na quarentena tivemos que reprogramar nossa agenda porque começou a conflitar com a agenda acadêmico/profissional, cuja cobrança por produção intensificou, já que alguns periódicos científicos não estão avaliando trabalhos nesse período, ao contrário do que imaginávamos.

O que fazer então? Encerrar o primeiro ciclo. Para isso teremos dia 12/05 com o Jáder Sampaio, e talvez um outro encontro, sem data definida, quando faremos uma síntese do que abordamos nos primeiros episódios para que fique didático a construção dessa fase e essa proposta.

O retorno do programa, se houver, quando houver, se valer a pena, se tivermos a participação de mais pessoas para trazer suas experiências (só eu falando fica cansativo para quem nos acompanha), acontecerá em data e período ainda a definir.

Avaliámos o piloto e chegamos a conclusão que, além da experiência adquirida, os amigos que já nos acompanham na internet de outros programas como "Evangelho na Red"e, também da Rede Amigo Espírita, é possível e há espaço para um programa onde o estudo seja a tônica das reflexões. A divulgação de outros trabalhos, como os clássicos do Espiritismo, além de autores basilares e entrevistas, também é relevante para o aprendizado de todos os envolvidos.

Quem se interessar em “zapiar” os episódios, seguem alguns links. Até uma próxima, se Deus quiser!









quarta-feira, 6 de maio de 2020

O bem-estar coletivo é mais importante do que o comportamento individual (Jorge Hessen)

O bem-estar coletivo é mais importante do que o comportamento individual (Jorge Hessen)

Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com
Brasília




Há estudiosos que atestam que o SARS-CoV-2 se originou através de processos naturais. Os vírus não são organismos vivos, portanto,  não se pode matá-los com antibióticos, apenas se pode desintegrar sua estrutura com os diversos métodos higiênicos. O SARS-CoV-2 se expande com muita rapidez entre os humanos, por isso o isolamento social tem sido a solução admissível. Apesar de a longa quarentena ocasionar múltiplos efeitos colaterais, com agravos na economia e nos recursos financeiros para países, empresas e pessoas, até agora, esta é a principal medida exequível adotada por quase todos os países do planeta.
Obviamente, as estratégias de confinamento não afiançam que a pandemia não ocorra em algum lugar, porém desacelera seu processo de expansão, ocasionando uma incidência menos drástica e mais gradual, permitindo que as instituições de saúde garantam o atendimento médico.
Para o psicólogo e sociólogo Jocelyn Raude, especialista em doenças infecciosas emergentes e professor da Escola de Altos Estudos de Saúde Pública de Rennes, na França, o individualismo e o "otimismo irrealista" em relação aos riscos de contágio dificultaram o confinamento social para a prevenção ao coronavírus em países ocidentais. É verdade, por displicência, tanto na Europa quanto nos EUA, onde as sociedades são bastante individualistas, causou devastadores efeitos diante da Covid-19. Em países da Ásia, o bem-estar coletivo é mais importante do que o comportamento individual. Por exemplo, o uso de máscaras é habitual para proteger os outros quando alguém está contaminado. Isso é algo pouco frequente no Ocidente, enquanto na Ásia é praticamente corriqueiro.
No Brasil, algumas vezes ocorreram as displicências  das doenças emergentes, decorrentes das diferentes epidemias dos últimos anos. Atualmente, já bastante afetado pelo novo coronavírus, o comportamento dos brasileiros está mudando ante o crescente número de contaminações e óbitos no país.
Em que pese a estatística, a despeito de tudo e de poucos desajuizados, há os brasileiros "destemidos irrealistas" que não levam a sério a devastadora pandemia, batizando-a de “gripezinha”. (Pasmem!) Uma “gripezinha” que já matou no Brasil mais de 7 mil pessoas em menos de 90 dias.  Uma “gripezinha” que em menos de 90 dias matou quase 60 mil pessoas nos Estados Unidos, portanto, mais do que os 58 mil soldados americanos que morreram no Vietnã durante os 9 anos da guerra.
Para nós, espíritas, o fato de não se temer a morte não significa que não damos valor à vida física, tanto que Kardec, na RE de 1865, cita categoricamente que devemos seguir as medidas sanitárias, ou seja, o espírita segue as diretrizes e as normas das autoridades públicas, visando prolongar a vida, não por apego, mas por desejo de progredir e ponto!
É mais do que óbvio que o conhecimento espírita propicia uma força moral capaz de nos preservar de muitas doenças, porquanto essa força moral repercute no corpo físico, inclusive no sistema imunológico. Há diversos estudos que correlacionam o binômio fé/saúde, que não se limita, é claro, apenas na crença espírita.
Urge aqui refletir na questão solidária em que o bem-estar coletivo é mais importante do que o comportamento individual. A solidarização é o “sentimento de identificação com os problemas de outrem, o que leva as pessoas a se ajudarem mutuamente” (1). Mas, ainda vivemos num ambiente social de ilusões, de sonhos frustrados, de mentes cansadas, numa sociedade de manchas morais, de “mentes vazias” e atoladas nas futilidades modernas, isoladas nas teias do “ego” glacial. Vivemos completamente mergulhados na vida egocêntrica.
A pandemia que hoje aflige a Humanidade é resultante do orgulho, do egoísmo e da ausência de solidariedade. A eterna preocupação com o próprio bem-estar é a grande fonte geradora de doenças, delírios e paixões desajustantes.
O Espiritismo ensina aos homens a grande solidariedade que deve uni-los como irmãos. Deste modo, “quando o homem praticar a lei de Deus, terá uma ordem social fundada na justiça e na solidariedade” (2). A recomendação do Cristo “que vos ameis uns aos outros como eu vos amei”(3) assegura-nos o regime da verdadeira solidariedade e garante a confiança e o entendimento recíproco entre os homens.
Em época de pandemia ou não, a solidariedade na vida social é como o ar para uma aeronave, pois o avião, com toda tecnologia, não voa se não tiver o ar.
A prática desse sentimento vivifica e fecunda os germens que nele existem em estado latente nos corações humanos. A Terra, local de provação e de exílio, será pacificada por esse fogo sagrado e verá exercido na sua superfície a caridade, a humildade, a paciência, o devotamento, a abnegação, a resignação e o sacrifício, virtudes todas filhas do amor e da solidariedade.

Referências bibliográficas:
[1]       Cf. Dicionário Caldas Aulete
[2]       KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000, pergunta 799
[3]       Jo 15.12