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quinta-feira, 31 de março de 2011

Apego ao Cargo. O Poder Neurótico.


Luiz Carlos D. Formiga

http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/artigo427.html

Carlos Aveline nos fez pensar. Reproduzo trechos em itálico.(1)

"Criar estruturas coletivas saudáveis não é fácil".

Como organizar uma estrutura de poder que seja coerente com a busca espiritual?

O caminho espiritual envolve situações coletivas em que surge a questão do poder, da organização, dos relacionamentos interpessoais e das decisões em grupo".

Como evitar que trabalho e vida pessoal se misturem. Como fazer para não escutar que você está trabalhando tanto que quase não vê os filhos e os netos?

"É necessário usar ciência e a arte de formar cidadãos conscientes, saudáveis e equilibrados nos seus atos pessoais e sociais".

Como fazer frente a ilusão do poder pessoal sobre outros?

"Existem pessoas que buscam o poder coercitivo, que é um mecanismo doentio, sob o ponto de vista psicológico".

Somos pessoa fortemente competitiva? (2)

"A ânsia de poder neste caso não se origina da força, mas da fraqueza. Ela é expressão da incapacidade do eu individual para ficar sozinho e viver. É um esforço desesperado para conseguir força simulada quando se tem falta de força autêntica. O oposto do poder neurótico e manipulador não é a ausência de poder e de liderança, mas o poder solidário, a estrutura que se organiza para facilitar a ajuda mútua".

Dentre as habilidades valorizadas pelas maiores empresas destacam-se a capacidade do trabalho em equipe e motivação para objetivos e metas.(3)

Os destruidores do trabalho em equipe não são encontrados quando há espiritualidade. Na espiritualidade o ideal é a individualidade ética, capaz do diálogo, com consciência crítica, livre, criativa e responsável. A pessoa está liberta do poder e é “pobre de espírito”. A incredulidade zombou dessa máxima. Doutores não entenderam a mensagem porque pensavam que tinham grande saber e eram infalíveis.(4, 5)

Espiritualidade nos faz lembrar de Caetano, que se doutorou em Direito Civil e Eclesiástico. Secretário do Papa Júlio II, voltou a terra natal, após a morte do Papa e dedicou-se exclusivamente ao serviço hospitalar. Com a Inquisição, em Nápoles, viu o povo rebelar-se. A revolução ceifaria inúmeras vidas. Rogou a Deus que aceitasse sua vida em troca da Paz. Adoeceu e faleceu ao mesmo tempo em que os ânimos se acalmaram. A opinião foi unânime, a paz se instalou através de sua intervenção. Coincidência ou não, o gesto é digno de admiração.(3)

Como Caetano, especialistas em relações interpessoais ditam regras. O grupo de futebol de São Caetano ficou atento. Palmeiras e Botafogo, não. Eles foram parar na segunda divisão.

A primeira regra é acreditar que se pode ser líder (campeão). A perseverança persegue o objetivo porque tem uma missão grandiosa. Jesus lecionou no sentido do atemporal e ilimitado.

A liderança bem sucedida está nas mãos daqueles que assumem a postura de um parceiro e está sempre voltada para a formação de novos líderes. A autoridade é um crédito de competência que se dá a quem merece por direito. Ninguém "se torna" autoridade; a pessoa "é tornada" autoridade.

Jesus constituiu um grupo de trabalho e a unidade se deu em torno do objetivo comum. Cada individualidade foi estimulada no seu potencial. Apesar de sua grandeza espiritual ele nunca se colocou superior ao grupo.

"Poder possui duplo sentido. Um é a posse de poder sobre alguém. O outro é a posse de poder para fazer algo, o que nada tem a ver com dominação, mas maestria no sentido de capacidade. Aí, poder significa potência. Dominação e potencia são excludentes, uma vez que o primeiro é a perversão do segundo".

Uma casa espírita deve pensar na "sociologia da solidariedade". "Um modo solidário de produzir, trabalhar e viver em sociedade. Esse modo solidário de produção começa a ser possível quando os indivíduos definem como meta exigir mais de si mesmos do que dos outros, e decidem controlar mais a si mesmos que ao mundo externo".

São inadequadas as estruturas de poder que repousam na idealização cega de uma pessoa ou aquelas baseadas na desconfiança e na competição. O exercício da sinceridade solidária é saudável. A dose certa de ceticismo evita a cegueira, embora dose excessiva possa asfixiar.

"Três coisas incorporam grande quantidade de valor a tudo o que é relativo ao caminho espiritual: conhecimento, trabalho e intenção solidária. Essa combinação ilumina o conceito de democracia e são indispensáveis para colocar uma instituição espiritualista em movimento".

Inteligentes e procurando amar (6) uns aos outros, os membros da equipe de Jesus eram identificados. Até para os de fora isso era tarefa fácil: "Nisto todos os reconhecerão".

"Os níveis de trabalho acumulado e de experiência são diferentes entre pessoas, por isso a democracia espiritual não significa que todos têm igual peso, necessariamente. Se a democracia impedisse o processo de liderança dos mais experientes, o grupo se nivelaria por baixo e teria apenas a força do mais fraco dos seus elos".

Algumas pessoas, embora ocupem um cargo por muitos anos, nunca chegam a ser lideres. Liderança é transparente, aberta a questionamentos e só pode existir e manter-se pela constante renovação do seu reconhecimento por parte dos membros do grupo.

"Com o passar do tempo, a liderança se torna cada vez mais interior e se refere menos aos procedimentos externos, salvo em certos momentos decisivos".

A força de uma instituição está na clareza e na nobreza de suas metas; na eficiência dos seus métodos; na intensidade do seu trabalho e na confiança recíproca dos seus associados.

Líderes não procuram apegar-se aos cargos. Na casa espírita, o modelo é Jesus.(7)

Referências.

1.Aveline, C.C. Quatro Idéias Para Uma Teoria do Poder Solidário. Sociedade de Estudos Filosóficos. 4pp. Abril de 2003. Brasília.

2.http://www.ajornada.hpg.ig.com.br/colunistas/formiga/lcdf-0008.htm

3.http://www.ajornada.hpg.ig.com.br/colunistas/formiga/lcdf-0017.htm

4.http://www.ajornada.hpg.ig.com.br/colunistas/formiga/lcdf-0012.htm

5.http://www.ajornada.hpg.ig.com.br/colunistas/formiga/lcdf-0025.htm

6.http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/ciencia-com-amor.html

7.http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/por-que-considero-inteligente.html

quarta-feira, 30 de março de 2011

BEZERRA DE MENEZES ADVERTE SOBRE OS "ENXERTOS" PERNICIOSOS



O Espiritismo trouxe, para a Humanidade, uma nova ordem religiosa que precisa ser preservada. Nela, Jesus desponta como excelso e generoso condutor de corações, e o Evangelho brilha como o Sol na sua grandeza mágica. Desde a sua origem, cresce assustadoramente, pelo que nos influencia a moral do Cristo, e ninguém poderá impedir a sua marcha ascendente. Ao mesmo tempo em que a nova revelação surgiu acompanhada da perseverança e firmeza dos bons líderes, tem sido alvo de adversários imprudentes, tentando obstruir o seu curso natural, mas sem obterem êxito, obviamente. Além desses, espalham-se, hoje, em profusão, os inovadores que tentam "atualizar" Kardec. O Espiritismo não responde pelos que, presunçosamente, querem ir além do que o Espírito Verdade nos revelou como resposta sábia dos Céus às interrogações da criatura aflita na Terra, conduzindo-a ao encontro de Deus. Portanto, constitui dever de todos nós preservá-lo da presunção dos reformadores e das propostas ligeiras dos que o ignoram.
Bezerra de Menezes tem demonstrado preocupação com a manutenção da singeleza dos postulados espíritas, senão, vejamos: "Neste momento, contabilizamos glórias da Ciência, da Tecnologia, do pensamento, da arte, da beleza, mas não podemos ignorar as devastadoras estatísticas da perversidade que se deriva dos transtornos comportamentais"...) as criaturas humanas ainda não encontraram o ponto de realização plenificadora. Isto porque Jesus tem sido motivo de excogitações imediatistas no campeonato das projeções pessoais, na religião, na política e nos interesses mesquinhos. (...) "(1)
Se abraçamos o Espiritismo por ideal cristão, não lhe podemos negar fidelidade. O legado da tolerância não se consubstancia na omissão da advertência verbal diante às enxertias conceituais e práticas anômalas, que alguns companheiros intentam impor no seio do movimento espírita.
Para os mais estouvados, a pureza doutrinária é a defesa intransigente dos postulados espíritas, sem maior observância das normas evangélicas; para outros não menos afoitos, é a rígida igualdade de tipos de comportamentos, sem a devida consideração aos níveis diferenciados de evolução em que estagiam as pessoas.
Sabemos que o excesso de rigor na defesa doutrinária pode levar a graves erros, se enredarmos pelas trilhas de extremismos injustificáveis, posto que redundarão em divisão inaceitável, em face dos impositivos da fraternidade.
É óbvio que não podemos converter defesa da pureza kardeciana em cristalizada padronização de práticas que podem obstar a criatividade espontânea diante da liberdade de ação.
Inobstante repelir as atitudes extremas, não podemos abrir mão da vigilância exigida pela pureza dos postulados espíritas e não hesitemos, quando a situação se impuser, no alerta sobre a fidelidade que devemos a Kardec e a Jesus.
É importante não esquecermos que nas pequeninas concessões vamos descaracterizando o projeto da Terceira Revelação.
"É necessário preservar o Espiritismo conforme o herdamos do eminente Codificador, mantendo-lhe a claridade dos postulados, a limpidez dos seus conteúdos, não permitindo que se lhe instale adenda perniciosa, que somente irá confundir os incautos e os menos conhecedores das suas diretrizes" (2) É inegável que existem inúmeras práticas não compatíveis com o projeto doutrinário que urge sejam combatidas à exaustão, nas bases da dignidade cristã, sem quaisquer laivos de fanatismo, tendente a impossibilitar discussão sadia em torno de questões controversas.
Apresentando certa apreensão quanto ao Movimento Espírita, nosso 'Kardec Brasileiro' recorda: "a Boa Nova (...) produz júbilo interno e não algazarra exterior (...) Não é lícito que nos transformemos em pessoas insensatas no trato com as questões espirituais. Preservar, portanto, a pulcritude e a seriedade da Doutrina no Movimento Espírita é dever que nos compete a todos e particularmente ao Conselho Federativo Nacional através das Entidades Federadas"(3) (grifamos)
Sobre os que ainda se fixam, demasiadamente, nas questões fenomênicas, Bezerra lembra: "(...) a mediunidade deve ser exercida santamente, cristãmente, com responsabilidade e critérios de elevação para não se transformar em instrumento de perturbação e desídia" (4). O exercício da mediunidade deve ser reservado (o exercício) às pessoas que conheçam Espiritismo, posto ser extremamente perigosa a participação de pessoas ignorantes em trabalhos mediúnicos. Na desatenção desse tópico, após mais de um século de mediunidade à luz da Doutrina Espírita, temo-la, ainda, atualmente ridicularizada. Os intelectuais, materialistas e ateistas, desprezam-na até hoje.
Em nome do Espiritismo, há aqueles que propõem apometrias, desobsessão por corrente mento-eletromagnética (5), aplicações de luzes coloridas para higienizar auras humanas e curar azia, cálculo renal, coceiras, dores de dente, gripes, soluços em crianças, verminoses, fieiras e quejandos. Se não bastasse, recomenda-se até carvãoterapia (?!) para neutralizar "maus-olhados". É só colocar um pedaço de tora de carvão debaixo da cama e estaremos imunes do grande flagelo da humanidade - o "olho comprido".
Em recente entrevista ao Jornal Alavanca, de abril/maio-2000, Divaldo Franco adverte sobre as "terapias alternativas - "curanderismos" e a fascinação na prática mediúnica, apontando-os como fatores que têm desestabilizado o projeto da unidade doutrinária".(6)
É por essas e outras que a Revista Veja (7), registra que os médicos da ala conservadora da psiquiatria consideram os médiuns como dotados de neuroses, psicoses, desvios de personalidade, esquizofrenias. Se pararmos para refletir, daremos uma certa razão para esses psicoterapeutas. Muitos adeptos do Espiritismo desconhecem Allan Kardec, Emmanuel, André Luiz, Joanna de Ângellis, Bezerra de Menezes, e outros consagrados expoentes da difusão doutrinária e, lastimavelmente, estão aguilhoados nas práticas que comprometem todo o projeto doutrinário.
"(...) Mantende o espírito de paz, preservando os objetivos abraçados e, caso seja necessário selar vosso compromisso com testemunho, não titubeeis". (8) O exercício dos códigos evangélicos nos impõe a obrigatória fraternidade e compreensão aos adeptos dessas estranhas práticas, o que não quer dizer que devamos nos omitir quanto à oportuna advertência para que a Casa Espírita não se transforme em academia de ilusões.


Jorge Hessen
E-Mail: jorgehessen@gmail.com
Site: http://jorgehessen.net
FONTES:
(1)Bezerra de Menezes. (Mensagem psicofônica recebida pelo médium Divaldo Pereira Franco, em 9 de novembro de 2003, no encerramento da Reunião do Conselho Federativo Nacional, na sede da Federação Espírita Brasileira, em Brasília. Publicada em Reformador/Dezembro/2003)
(2)Idem
(3)Idem
(4)Idem
(5)estranha prática de "choques" anímicos para "afastar" maus espíritos
(6)Jornal Alavanca - abril/maio-2000
(7)Revista Veja. SP,abril-l999
(8)C.f Bezerra de Menezes. Mensagem psicofônica In:Reformador/dezembro/2003

segunda-feira, 28 de março de 2011

ADULAÇÕES ELOGIOSAS SÃO PEÇONHAS NA FORMA VERBAL



O que uma pessoa tende a valorizar mais: satisfação sexual, dinheiro, comida, álcool, amigos ou elogios? “Pesquisadores avaliaram os desejos e gostos de alguns estudantes universitários sobre uma série de desejos e gostos e os resultados, para surpresa dos estudiosos, indicaram que os voluntários dão mais valor a um elogio ou uma avaliação positiva do que comer sua comida preferida, satisfazer-se sexualmente, beber, receber o salário do mês e até encontrar um melhor amigo.”(1)

Portanto, embora surpresos, os pesquisadores confirmaram que o desejo de se “sentir valorizado”, através de elogios, triunfa sobre qualquer outra situação prazerosa. Cremos que estamos observando gerações em que uma parcela gigantesca de cidadãos é constituída de adultos condescendentes, imaturos para os obstáculos, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e dotados de uma alucinante certeza de que o mundo lhes deve algo, por isso, exigem ser adulados.

Não há dúvida de que a ausência de palavras e frases motivadoras, cada vez mais incomuns nos ambientes domésticos, prejudica a relação parental. Raramente observam-se muitos homens estimulando com palavras edificantes suas mulheres e vice-versa, não se constata regularmente chefes estimulando com sinceridade o trabalho de seus subordinados, não é muito comum pais e filhos estimulando-se com palavras afetuosas.

Óbvio que o bom profissional, inobstante não almeje, valoriza uma palavra e estímulo , o bom filho gosta de ser reconhecido, o bom pai ou a boa mãe exultam de ser avaliados positivamente, o bom amigo, a boa dona de casa, a mulher que se cuida, o homem que se dedica, enfim, vivemos numa sociedade em que um precisa do outro; é impossível um homem viver sozinho, e as palavras motivadoras (que não pode resvalar para elogios) são a oxigenação de ânimo na vida de qualquer pessoa.

Desde que adentramos nos portais dos ensinos kardecianos, aprendemos que o elogio (ainda que bem intencionado) nos amolece e ilude. E nada existe de mais frágil que uma criatura iludida a seu próprio respeito. É verdade , os Benfeitores nos advertem a fim de que não percamos nossa independência construtiva a troco de considerações humanas (bajulações), posto que a armadilha que pune o animal criminoso é igual à que surpreende o canário negligente.

Até mesmo nos momentos de agruras de alguém, “nas horas difíceis, em que vemos um companheiro despenhar-se nas sombras interiores, não olvidemos que, para auxiliá-lo, é tão desaconselhável a condenação, quanto o elogio.” (2) Sussurra a prudência cristã que nunca cederíamos campo à vaidade se não vivêssemos reclamando o deletério coquetel da lisonja ao nosso egocentrismo doentio.

Invariavelmente ficamos submissos às injunções sociais quando buscamos aprovação (bajulações) dos outros, “quando permanecemos na posição de permanentes escravos e pedintes do aplauso hipócrita e do verniz, da lisonja, condicionando-nos a viver sem usufruir de liberdade de consciência, submetendo-nos a ser manipulados pelos juízos e opiniões alheias.”(3)

O elogio nos arremesa à presunção, a afetação nos remete à vaidade. Nesse insofreável desejo de chamar a atenção alheia, queremos ser

aplaudidos e reverenciados perante os outros. Atualmente adota-se assustadoramente o hábito dos dirigentes incautos de elogiar e exaltar oradores em público. Essas pompas e grandiloquências, observadas à volta de alguns oradores famosos, é bem a repetição dos faustos do cristianismo sem o Cristo.

A rigor, se alguém vem a público dizer que um orador é "maravilhoso", "fantástico", "brilhante", "inesquecível", "insubstituível" e outras bajulices, logicamente está elogiando e jamais estimulando ou motivando tal “homenageado”.

Por essas razões, importa vigiarmos as próprias manifestações, não nos julgando

indispensáveis e preferindo a autocrítica ao auto-elogio, recordando que o exemplo da humildade é a maior força para a nossa transformação moral. “Toda presunção evidencia afastamento do Evangelho.” (4)

É imprescindível não elogiar (adular) as pessoas que estejam agindo de conformidade com as nossas conveniências, para não lhes criar empecilhos à caminhada enobrecedora, embora nos constitua dever prestar-lhes assistência e carinho para que mais se agigante nas boas obras. O elogio (adulação) é peçonha em forma verbal. Por essa razão, não esqueçamos que “ainda quando provenha de círculos bem-intencionados, urge recusar o tóxico da lisonja, pois no rastro do orgulho, segue a ruína.” (5)

Jorge Hessen

http://jorgehessen.net

Referências bibliográficas:

(1)‘Disponível no site http://super.abril.com.br/blogs/cienciamaluca/o-que-a-gente-valoriza-mais-sexo-dinheiro-comida-alcool-amigos-ou-elogios acessado em 24/03/2011

(2) Xavier, Francisco Cândido. Fonte Viva, ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2000, Cap 37

(3) Xavier, Francisco Cândido. Saudação do Natal – Mensagem “Trilogia da vida”, ditado pelo espírito Cornélio Pires , SP: Editora CEU, 1996

(4) Vieira, Waldo. Conduta Espírita, ditado pelo espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed FEB, 1972, Cap 18

(5) Idem cap 20

domingo, 27 de março de 2011

ESQUIZOFRENIA ANTE O TRATAMENTO ESPIRITUAL


A esquizofrenia apresenta um conjunto de sintomas bastante diversificado e complexo, sendo, por vezes, de difícil compreensão. Pode surgir e desaparecer em ciclos de recidivas e remissões. Hoje, é encarada, não como uma doença única, mas, como um grupo de patologias, atingindo todas as classes sociais e grupos humanos. Geralmente, o diagnóstico tem mostrado níveis de confiabilidade, relativamente baixos ou inconsistentes. Explicando, aqui, a esquizofrenia não é a dupla pessoalidade, pois é muito mais ampla que isso e não há motivos de incluir, nela, os Transtornos de Personalidade Múltipla.
Em 2004, no Japão, o termo japonês para esquizofrenia foi alterado de Seishin-Bunretsu-Byo (doença da mente dividida) para Togo-shitcho-sho (desordem de integração). Em 2006, ativistas no Reino Unido, sob o jargão de Campanha para a Abolição do Rótulo de Esquizofrenia, defenderam semelhante rejeição do diagnóstico de esquizofrenia e uma abordagem diferente para a compreensão e tratamento dos sintomas associados a ela.
Coube ao suíço Eugen Bleuer, em 1911, a criação do termo "esquizofrenia" significando uma dissidência entre pensamento, emoção e comportamento (esquizo significa cisão e frenia quer dizer mente). É uma doença crônica que atinge, aproximadamente, 60 milhões de pessoas do planeta (1% da população mundial), sendo distribuída de forma igual pelos dois sexos. A diagnose da doença tem sido criticada como desprovida de validade científica ou confiabilidade, e, em geral, a validade dos diagnósticos psiquiátricos tem sido objeto de críticas mais amplas. Uma alternativa sugere que os problemas com o diagnóstico seriam mais bem atendidos se de dimensões individuais fossem, ao longo das quais todos variam, de tal forma, que haveria um espectro contínuo, em vez de um corte distinto entre normal e doente. Geralmente, o esquizofrênico não é violento ou perigoso. Fora da crise, é uma pessoa como qualquer outra. Porém, alguns poucos, quando em crise, tornam-se agressivos, verbal ou fisicamente, pois os delírios ou as alucinações podem fazer com que se sintam ameaçados.
Não há sintomas determinantes que possibilitem um diagnóstico preciso, de imediato. Tanto pode começar, repentinamente, e eclodir numa crise exuberante, como começar, lentamente, sem apresentar mudanças extraordinárias, e somente depois de anos surgir uma crise característica. Os sintomas podem ser confundidos com "crises existenciais", "revoltas contra o sistema", "alienação egoísta", uso de drogas, etc. O delírio de identidade (achar que é outra pessoa) é a marca típica de um doente. É, com frequência, relacionada com o mendigo que deambula pelas ruas, que fala sozinho, com a mulher que aparece na TV, dizendo ter outros álteres, e com o "louco" que aparece nas telenovelas e nos filmes. Foi, durante muitos anos, sinônimo de exclusão social, e o diagnóstico de esquizofrenia significava internação em hospitais psiquiátricos (manicômios) ou asilos, como destino "certo", onde os pacientes ficavam durante vários anos.
Manifesta-se, habitualmente, na parte final da adolescência ou no início da vida adulta. Afirma-se que os primeiros sinais e sintomas de esquizofrenia são traiçoeiros. Os primeiros "sinais" de sossego/calma e afastamento, visíveis num adolescente, normalmente, passam despercebidos, como não sendo sinais de alerta, pois, considera-se o fato de que "é, apenas, uma fase" por que passam os jovens. É importante, porém, que se diga o quanto é difícil interpretar esses comportamentos, associando-os à idade. A sintomatologia esquizofrênica se apresenta demasiada abrangente, sendo uma síndrome com grande componente fisiológico, com a presença marcante das alucinações e dos delírios. O comportamento, frequentemente, fica condicionado às ideias delirantes paranoides e às alucinações auditivo-verbais que os doentes, geralmente, apresentam.
Pouco se sabe sobre essa doença e, ante o desafio terapêutico, o máximo que se consegue é obter controle dos sintomas com os antipsicóticos. Faz, apenas, um pouco mais de 10 anos que a Organização Mundial de Saúde editou critérios objetivos e claros para a realização do diagnóstico da esquizofrenia. As causas do processo patogênico são um mosaico: a única coisa evidente é a constituição pluricausal da doença. Isso inclui mudanças na química cerebral [a atividade dopaminérgica é muito elevada nos indivíduos esquizofrênicos], fatores genéticos e mesmo alterações estruturais.
Na atualidade, alguns neurotransmissores vêm sendo colocados na implicação da fisiopatologia dessa doença, tais como a serotonina e a noradrenalina. Do ponto de vista fisiológico, e apesar das grandes descobertas já realizadas até aqui, no campo dos mecanismos etiopatogênicos, é preciso considerar que o arsenal, ainda, não se esgotou. Isso porque, afora as contribuições psicossociais, há que se levar em consideração o Espírito imortal, agente causal fundamental. Segundo Jung, "A investigação da esquizofrenia constitui uma das tarefas mais importantes da psiquiatria futura. O problema encerra dois aspectos: um fisiológico e um psicológico... "(1)
É importante frisar que a Esquizofrenia tem cura. Até bem pouco tempo, pensava-se que era incurável e que se convertia, obrigatoriamente, em uma doença crônica e para toda a vida. Atualmente, entretanto, sabe-se que uma porcentagem de pessoas que sofre desse transtorno pode recuperar-se por completo e levar uma vida normal, como qualquer outra. Algumas, com quadros mais graves, apesar de dependerem de medicação, chegam a melhorar até o ponto de poderem desempenhar bem seu ofício, casar e constituir família. O matemático norte-americano, John Nash, que, em sua juventude, sofria de esquizofrenia, conseguiu reverter sua situação clínica e ganhar o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas, em 1994.
Percebe-se, atualmente, certo conflito entre a ala conservadora da Psiquiatria e o Espiritismo, que tomou vulto entre nós, em virtude do crescimento do movimento espírita brasileiro. Na proporção em que o conceito de matéria se pulverizou nas mãos dos físicos, e atingiu o plano da física quântica, verificou-se uma nova revolução copernicana, no que tange à concepção do homem integral. Hoje, há grande número de psiquiatras espíritas que estabelece o diálogo entre corpo e espírito.
A propósito, as doenças são do corpo ou da alma? Encontramos, em "O Livro dos Espíritos", parte II, capítulo VII, que "a matéria é apenas o invólucro do Espírito. Unindo-se ao corpo, o Espírito conserva os atributos de natureza espiritual; que o exercício das faculdades do Espírito depende dos órgãos que lhes servem de instrumento." (2) Traz o Espírito certas pré-disposições ao renascer. O princípio das faculdades está no Espírito e não nos órgãos. Na visão espírita, "esquizofrênicos"são Espíritos sujeitos a uma punição. Sofrem por habitarem corpos, cujos órgãos comprometidos os impedem de se manifestarem plenamente.
As enfermidades fisiopsíquicas são efeitos e não causas: Tanto as distonias mentais quanto as doenças orgânicas expressam os resultados de ações desequilibradas do Espírito, cuja conduta negativa prejudica, primeiramente, o próprio autor, abrindo zonas mórbidas em seu psiquismo, refletindo-se no seu perispírito e registrando-se no corpo físico em reencarnações posteriores. "A mente transmite ao carro físico, a que se ajusta durante a encarnação, todos os seus estados felizes ou infelizes, equilibrando ou conturbando o ciclo de causa e efeito..."(3) Portanto, é uma patologia que guarda a sua origem profunda no Espírito que delinquiu. É mister levar em conta a influência negativa, através da obsessão, o que contribui para o agravamento do quadro e para o surgimento de outras disfunções características do transtorno. Por isso mesmo, é preciso vê-la como sendo um processo misto de natureza espiritual, fisiológica, obsessiva e com influências psicossociais.
A divisão da mente, a diluição da memória, o afastamento da realidade parecem denunciar uma espécie de nostalgia psíquica que determina a inadaptação do espírito à realidade atual. Podem ocorrer casos típicos de auto-obsessão nas modalidades variáveis da Esquizofrenia. Os casos se agravam com a participação de entidades obsessoras, geralmente atraídas pelo estado dos pacientes. Este é motivo relevante para a prática da desobsessão.
Psiquiatria e Espiritismo podem ajudar-se, mutuamente, ao que parece, em futuro bem próximo. Não há razão para que a Psiquiatria condene os processos espíritas no tratamento dos casos de obsessão e auto-obsessão. É muito importante ampliar o entendimento das causas originais da esquizofrenia e considerar imprescindível o tratamento espiritual [desobsessão, passe, água fluidificada, oração] oferecido pela Doutrina Espírita, com base nos ensinamentos do Cristo, que, um dia, inevitavelmente, constará nas propostas científicas para o tratamento de todas as doenças humanas.

Jorge Hessen
http://jorgehessen.net

FONTES:
(1)Jung, Carl Gustav. Psicogênese das Doenças Mentais, RJ: Editora Vozes, 1999
(2)Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed. FEB , 1999, parte II, capítulo VII
(3)Xavier, Francisco Cândido e Vieira Waldo. Evolução em Dois Mundos, Ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed. FEB 2003

SER CHIQUE SEMPRE -



Glória Kallil

Nunca o termo "chique" foi tão usado para qualificar pessoas como nos dias de hoje.


A verdade é que ninguém é chique por decreto. E algumas boas coisas da vida, infelizmente, não estão à venda. Elegância é uma delas.

Assim, para ser chique é preciso muito mais que um guarda-roupa ou closet recheado de grifes famosas e importadas. Muito mais que um belo carro Italiano.


O que faz uma pessoa chique, não é o que essa pessoa tem, mas a forma como ela se comporta perante a vida.

Chique mesmo é quem fala baixo.

Quem não procura chamar atenção com suas risadas muito altas, nem por seus imensos decotes e nem precisa contar vantagens, mesmo quando estas são verdadeiras.


Chique é atrair, mesmo sem querer, todos os olhares, porque se tem brilho próprio.


Chique mesmo é ser discreto, não fazer perguntas ou insinuações inoportunas, nem procurar saber o que não é da sua conta.


É evitar se deixar levar pela mania nacional de jogar lixo na rua.

Chique mesmo é dar bom dia ao porteiro do seu prédio e às pessoas que estão no elevador.

É lembrar-se do aniversário dos amigos.


Chique mesmo é não se exceder jamais!

Nem na bebida, nem na comida, nem na maneira de se vestir.


Chique mesmo é olhar nos olhos do seu interlocutor.

É "desligar o radar", “o telefone”, quando estiver sentado à mesa do restaurante, prestar verdadeira atenção a sua companhia.


Chique mesmo é honrar a sua palavra, ser grato a quem o ajuda, correto com quem você se relaciona e honesto nos seus negócios.

Chique mesmo é não fazer a menor questão de aparecer, ainda que você seja o homenageado da noite!

Chique do chique é não se iludir com "trocentas" plásticas do físico... quando se pretende corrigir o caráter: não há plástica que salve grosseria, incompetência, mentira, fraude, agressão, intolerância, ateísmo...falsidade.

Mas, para ser chique, chique mesmo, você tem, antes de tudo, de se lembrar sempre de o quão breve é a vida e de que, ao final e ao cabo, vamos todos terminar da mesma maneira, mortos sem levar nada material deste mundo.

Portanto, não gaste sua energia com o que não tem valor, não desperdice as pessoas interessantes com quem se encontrar e não aceite, em hipótese alguma, fazer qualquer coisa que não lhe faça bem, que não seja correta.

Lembre-se: O inferno não tem qualquer glamour!

Porque, no final das contas, chique mesmo é Crer em Deus!

Investir em conhecimento pode nos tornar sábios... mas, Amor e Fé nos torna humanos!

GLÓRIA KALLIL.

sexta-feira, 25 de março de 2011

DIANTE DOS MAUS PROFISSIONAIS, URGE EXERCITAR A TOLERÂNCIA, SEM CONIVÊNCIAS




Em quaisquer ambientes de trabalho, é urgente o combate à agressividade e sua raiz, com exemplos vivos de tolerância e de educação primorosa. Não por essa educação que tende a fazer homens credenciados pela academia de ciência (em que pese muitos serem péssimos profissionais), todavia, pela educação que tende a fazer profissionais honrados. "A educação, convenientemente entendida, constitui a chave do progresso moral." (1) Há alguns dias, recebemos sugestão para comentar a respeito das "profissões e profissionais". O solicitante informou que, tempos atrás, a sua avó fora mal tratada em um hospital de Petrópolis/RJ, razão pela qual, sua mãe se viu forçada, naquela época, a transferi-la para outro hospital do Rio de Janeiro, onde o respeito humano fosse incondicional e mutuamente retribuído. Recordou, também, que o seu pai, já doente terminal, em um hospital de Brasília, foi vítima de maus tratos de um médico despreparado para a profissão, com quem foi obrigada a se indispor, chegando ao limite da indignação, dizendo-lhe aos prantos e em bom tom: - "Peço a Deus que meu pai morra antes do seu próximo plantão, porque nas mãos de Deus ele estará livre da sua crueldade!".
Mesmo sabendo que um médico não deve curar, apenas, pelos conhecimentos acadêmicos que possui, mas demonstrar sentimento de solidariedade, humanidade, compaixão e fraternidade aos seus assistidos, entendemos que essas reações que desarticulam os sentimentos dos parentes amorosos, não são desejáveis para quem almeja um projeto de elevação espiritual.
É fato! Muitos profissionais, não depositam fé no homem nem em Deus. São agressivos, pernósticos, mentirosos, resultado da deseducação. No setor de saúde, da segurança pública, do magistério e outros setores de trabalho, encontramos profissionais inabilitados para exercer o serviço. São "profissionais" que desonram seus pares através de manifestas atitudes de brutalidade, de incapacidade técnica, de preguiça, de maledicências. Geralmente, são os que mais reclamam dos colegas, do ambiente de trabalho, do salário, do governo etc. São "profissionais" (com aspas!) frustrados, destituídos de elevados sentimentos, ainda, não desenvolvidos. Portanto, mal-amados por não saberem amar. Exigem eficiência dos outros, porém, são, extremamente, ineficientes e, comprovadamente, incompetentes na profissão que exercem. Para completar, e o que é pior, desconhecem a ética profissional.
Por essas razões, não raramente, deparamo-nos com médicos impulsivos, negando a mínima consideração aos pacientes, e, por outro lado, os enfermos irritados que se lhes opõem, em razão da fragilidade emocional em que se encontram, revidando essa indiferença, essa insensibilidade; nas escolas, vemos professores responsáveis por inumeráveis males e o sarcasmo de alguns alunos, tanto quanto as garras de um animal ameaçado. Em ambos os casos, representam indícios naturais da condição evolutiva em que se encontram. O autor de qualquer injustiça invoca o mal, que conspira contra ele mesmo. Destarte, o mal só é, realmente, mal para quem o pratica. Revidá-lo, por revidar, na base de inconseqüência em que se expressa, (o mal) consome as energias de quem o sustenta. Por isso, devemos vigiar para não sermos vítimas das emoções incontroláveis. Isso não equivale dizer que não devamos admoestá-los de forma enérgica se necessário for, porém, sem perdermos o equilíbrio.
Na condição de espíritas, devemos encarar a ignorância como chaga de grande porte e o remédio é participar das debilidades alheias com orações, de onde surgem as mais inteligentes e adequadas soluções no tratamento de uma chaga, porquanto, golpear a ferida, desairosamente, será o mesmo que transformar a doença curável em um carcinoma incurável. A tolerância, sem conivência, é exercício descomunal de completo domínio da situação e rápido esquecimento de todo o mal, com ação permanente no bem. Quem pronuncia palavras de agressão de maneira constante, demonstra acalentar a volúpia da mágoa com que se acomoda, perdendo tempo precioso na conquista de si mesmo.
Resolver um problema complexo diante dos maus profissionais é ter autoridade moral para olvidar a sombra, buscando a luz. Não é dobrar joelhos ou escalar galerias de superioridade falaciosa, teatralizando os impulsos do coração, mas, sim, persistir no trabalho renovador, criando o bem e a harmonia entre todos, pois, aqueles que não nos entendem de pronto, observam-nos a conduta espírita, e, e em determinado momento, compreenderão o idioma inarticulado da força moral. Oferece-nos o Cristo o modelo da tolerância ideal, em regressando do túmulo ao encontro dos aprendizes desapontados.
Os princípios da Doutrina Espírita, em seu tríplice aspecto - Filosofia, Ciência e Religião - fundamentam-se na moral do Cristo, que é a mais elevada expressão da Ética. O comportamento ético-espírita não está circunscrito aos momentos em que estamos na Casa Espírita ou no atendimento às carências do próximo. Ele deve constituir o nosso modo de ser e de agir em todas as circunstâncias da vida. "Compete-nos manter uma conduta ética no cotidiano, em todas as relações que estabelecemos com o semelhante e a sociedade, ainda que em detrimento de nosso interesse pessoal. Cabe-nos viver e exemplificar a conduta ética no lar, na vida profissional, nos negócios, na política, na administração pública, bem como nas outras situações, consultando sempre a consciência, onde está escrita a lei de Deus." (2)
Como percebemos, foi o Mestre Jesus que demonstrou o amor como base para a vida, dando início ao primado do dever e da moral como essenciais à felicidade humana. "Surge, assim, a ética cristã, fundamentada nos ensinos do Mestre. Pedro e seus companheiros vivenciam o amor e praticam a caridade na Casa do Caminho. Paulo de Tarso dá-lhe consistência, traçando diretrizes de ordem comportamental aos gentios em suas memoráveis Epístolas, das quais destacamos estes preceitos: "Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem" (5) Portanto, oremos para os maus médicos, professores, policiais, fiscais, etc., e exerçamos a tolerância, permanentemente, até porque, tais profissionais haverão de, inexoravelmente, prestar contas com as supremas leis da vida.
Como iremos manter o equilíbrio diante dos maus profissionais, se perdemos longas horas na posição de irritação ou de revolta? Emmanuel nos ensina que "a indignação rara, quando justa e construtiva no interesse geral, é sempre um bem, quando sabemos orientá-la em serviços de elevação; contudo, a indignação diária, a propósito de tudo, de todos e de nós mesmos, é um hábito pernicioso, de conseqüências imprevisíveis." (6)
O desânimo também é situação anestesiante, que entorpece e destrói. Isso, sem falar da maledicência ou da inutilidade, com as quais despendemos tempo valioso e longo em conversação infrutífera, extinguindo as nossas forças. O Benfeitor, ainda, adverte: "Que gênio milagroso nos doará o equilíbrio orgânico, se não sabemos calar, nem desculpar, se não ajudamos, nem compreendemos, se não nos humilhamos para os desígnios superiores, nem procuramos harmonia com os homens?" (7) Fujamos à brutalidade, enriquecendo os nossos pontos de simpatia pessoal, pela prática do amor fraterno. Sirvamos sempre na extensão do bem, guardando lealdade ao ideal superior que nos ilumina o coração, e permaneçamos convictos de que, se cultivamos a oração da fé viva, em todos os nossos passos, em qualquer lugar, Deus nos auxiliará sempre.


Jorge Hessen
E-Mail: jorgehessen@gmail.com
Site: http://jorgehessen.net
FONTES:
1· Kardec Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000, perg 917
2· VIEIRA Waldo. Conduta Espírita, pelo Espírito André Luiz. 5 a. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1974,
3· Xavier Francisco Cândido. Momentos de Ouro, Espíritos diversos, São Paulo: Ed GEEM, 1977
4 Hipocrisia
5 Romanos 12:21
6 Xavier, Francisco Cândido. Fonte Viva, Ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001
7 Idem

quinta-feira, 24 de março de 2011

BREVES REFLEXÕES SOBRE O VALOR DO DINHEIRO



Comunidades de várias regiões brasileiras estão aprendendo a enfrentar a falta de dinheiro [aquele que compra qualquer coisa, em qualquer lugar]. Adotaram um dinheiro novo. É a moeda social. Moeda Social Local Circulante, também chamada de circulante local, complementar ao Real (Moeda Brasileira - R$), criada pelo Banco Comunitário. Historicamente, a proposta de se criar alternativas dessa espécie veio à tona durante os anos 1980, numa vila próxima à cidade de Vancouver, no Canadá. Michael Linton, um analista de sistemas, colocou em vigor o Lets (Local exchange trading system), quando o poder aquisitivo local decaiu em razão da recessão econômica advinda com a crise na indústria madeireira e a transferência de uma base aérea dos EUA para outra província. O Lets se configura como um clube de troca, onde o dinheiro oficial é substituído por uma moeda própria.
As moedas sociais asseguram o desenvolvimento ao favorecer que a riqueza gerada no local circule na própria comunidade. O dinheiro é um instrumento da circulação de mercadorias - o valor de troca dos produtos no sistema capitalista é expresso em moedas, através dos preços. Serve como unidade de medida para se efetuar essas trocas. A moeda social surge na economia solidária como alternativa ao escambo, e possui características próprias. Porém, na prática, o mercadinho solidário funciona como escambo da seguinte forma: a pessoa chega com um potinho de doce de leite, que ela faz com um pouquinho de leite e açúcar, mas ela precisa do macarrão. No local, ela chega e troca o doce de leite pelo macarrão que precisa. Isso é o que ela pode fazer e é a possibilidade que tem de se sustentar com o que produz. A idéia das moedas sociais é essa mesma: mostrar que amizade e união fazem economia. Substituir o "cada um por si" do mundo real e dos reais, por um lugar onde "todos são por um e um por todos".
Em verdade, o dinheiro é neutro - nem é bom, nem é mau em si. Utilizado para o bem, dinheiro é instrumento de Deus. Porém, cobiçado, ou se dele fizermos mau uso, dinheiro é instrumento de infelicidade. Na parábola dos talentos, Jesus mostra que lucro, longe de ser mau, é o alvo de trabalho e investimentos. Ao mesmo tempo, nos ensina que o que se ganha deve ser usado para os propósitos do bem. Na parábola, a condenação cai sobre o homem que não usa sua oportunidade - dinheiro é para usar, não para esconder ou guardar. É como o sangue que precisa circular no organismo social. Se ficar estagnado, provoca a "trombose" na sociedade. Logo, o dinheiro que ganhamos deve ser usado nesta ordem: assistencia social, compra do mês, contas e prestações, outras necessidades, poupança, lazer e compras avulsas.
Um dos pontos cruciais da tese epicurista é que, se temos dinheiro e não temos amigos, nada temos. Jamais seremos livres, e nunca nos iremos sentir verdadeiramente felizes se não optarmos por uma vida baseada na reflexão. Por que, então, escolhemos coisas caras se elas não podem nos trazer alegria extraordinária? De acordo com Epicuro, somos influenciados por "opiniões vãs", que não refletem a hierarquia natural de nossas necessidades, enfatizando o luxo e a riqueza, e raramente a amizade, a liberdade e a reflexão. Para muitos fanáticos pelo dinheiro, o Ter é mais importante que o Ser. "Nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores." (1)
Não estamos tratando, aqui, de exploração comercial do dinheiro. Porém, de uma nova maneira de promover a integração das pessoas ao mercado de trabalho. Valorização do ser humano como sujeito e finalidade da atividade econômica. O circulante local tem lastro no Real (R$), ou seja, para cada moeda emitida, existe, no banco comunitário, um correspondente em Real. (2) Como experiência, a Alemanha se tornou um verdadeiro laboratório de projetos de moedas sociais desde 2003, e há mais de 50 projetos em desenvolvimento.
Não podemos dizer que o dinheiro é instrumento do mal, muito pelo contrário, pois o dinheiro é suor convertido em cifrão. É urgente que lhe demos funções nobres, lembrando que a moeda no bem faz prodígios de amor. Porém, vale refletir o preceito de Paulo, acima, qual seja: "tendo sustento e com o que nos cobrirmos, estejamos, com isso, contentes". Essa lição deve ser sempre ponderada quando nos faltam recursos financeiros. A circulação do dinheiro é uma condição importante para que a prosperidade apareça. Porém, raros são os indivíduos que mantêm uma relação equilibrada com o dinheiro, sem traumas, sem culpas, sem excessos de qualquer natureza.
Dinheiro e avareza não se deveriam misturar, pois os avarentos não gostam de "meter a mão no bolso" e, quase sempre, deixam de colaborar, financeiramente, com as obras sociais. Há muitos confrades, ativos participantes nos trabalhos das inúmeras Instituições Espíritas, espalhadas pelo nosso País, que mudam de assunto, tão logo o apelo, que lhes são dirigidos, implique na emissão de um cheque ou na entrega de algumas cédulas para socorrer os mais necessitados. É comum observarmos companheiros nossos, apresentando claros sinais de uma vida confortável, portando-se como se não tivessem a mínima condição de ajudar o próximo através de um serviço de assistência social espírita.
Sempre que nos fixarmos a atenção no dinheiro, reflitamos nas aflições que ele pode suprimir. Meditemos em nosso saldo financeiro, ainda que mínimo, transformado em socorro a um enfermo ou em alegria de uma criança. "Frequentemente, a quantia que julgamos modesta e sem qualquer significação, uma vez aplicada em benefício de outrem, pode ser transubstanciada no reconforto e na benção de muitos." (3) Com o passar do tempo, "observaremos a importância do dinheiro, à margem das próprias necessidades, por instrumento potencial de trabalho e educação, progresso e beneficência, à espera de nossas resoluções para construir e servir." (4)


Jorge Hessen
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FONTES:
1 Cf. 1 Timóteo 6:6-10
2 As moedas são produzidas com componentes de segurança (papel moeda, marca d'água, código de barra, números serial) para evitar falsificação. Disponível no site http://www.bancopalmas.org.br/oktiva.net/1235/secao/10043 acesso em 10/04/09
3 Xavier, Francisco Cândido. Rumo Certo, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1971
4 idem

terça-feira, 22 de março de 2011

A ARTE ESPÍRITA É DIVINA POR EXCELÊNCIA



A arte foi um dos primeiros meios de comunicação entre os homens. A arte é um aglomerado de ciência, magia e técnica, uma janela para o conhecimento sensível do mundo. Em sua polissemia, revela a diversidade da natureza, suas singularidades, sendo avessa a resultados orientados pela medida e pela utilidade. O artista traduz o mundo sensível e imaterial em formas, sabores, cores, texturas, volumes e odores. A arte é capaz de extrair formas outras daquilo que se mostra aparente, de mergulhar no que é mais desconhecido, de romper a mera percepção e de considerar a imaginação como capacidade humana para a criação. Porém, ela só pode ser essencial, se puder contribuir para a elevação do ser humano como ser imortal.
Em toda a história da humanidade, é marcante a evidente participação da arte no contexto social. Na pré-história, ela fora utilizada como instrumento mágico, ajudando o homem a garantir a sobrevivência da raça, por meio de desenhos nas paredes das cavernas e grutas, quando, mais tarde, por sons rítmicos e movimentação corporal. O ser humano foi desenvolvendo, gradualmente, sua capacidade criativa e artística ao longo dos tempos. Na Idade Média, a arte reflete as potências latentes do ser espiritual e imortal da época. Com a chegada da Idade Moderna, novos caminhos a orientam e ela resplandece em liberdade de temas e técnicas. Surge a figura do artista, em sua majestosa veste de núpcias, aproximando o divino celeste à natureza humana. Os séculos vindouros reinventam o fazer artístico. Os movimentos, oriundos das quebras conceituais, que surgem no início do século XX, perfazem uma arte que questiona a vida e a própria arte. Das vanguardas, resultam os conceitos referentes ao que denominamos, hoje, de arte contemporânea, alvo de calorosas discussões acerca de suas verdades.
Nesse contexto, temos uma grande variedade de conceitos, porque são diferenças resultantes da pluralidade cultural e da liberdade de nossos pensamentos. Alguns respiram poéticas intuitivas e espirituais, outros, respiram pensamentos menos transcendentes e buscas sensoriais. Dentre os conceitos filosóficos transcendentais e atuais, a Arte Espírita se compromete a restaurar os princípios iluminativos nas manifestações artísticas. Ressalte-se o termo "Arte Espírita", embora entenda que seja um termo de difícil definição, evocamos a tese do termo para que o movimento doutrinário, no Brasil, possa, definitivamente, consolidar a efetiva "arte espírita". Até porque, o artista espírita não veio negar o acervo atribuído ao longo dos séculos, pois, também, utiliza-os em suas variadas linguagens. Seus conceitos, estes sim, estão definidos de acordo com a causa que abraçam.
"A arte pura é a mais elevada contemplação espiritual por parte das criaturas. Ela significa a mais profunda exteriorização do ideal, a divina manifestação do "mais além", que polariza as esperanças das almas. O artista verdadeiro é sempre o "médium" das belezas eternas, e o seu trabalho, em todos os tempos, foi tanger as cordas vibráteis do sentimento humano, alçando-o da Terra para o infinito e abrindo, em todos os caminhos, a ânsia dos corações para Deus, nas suas manifestações supremas de beleza, sabedoria, paz e amor. "(1)
A Arte Espírita não deve agir, apenas, no contexto das casas espíritas, ou ter um específico público para dialogar. Ela deve ir além, a todo coração que se dispuser a conhecer suas verdades, sejam simpatizantes ou, simplesmente, indiferentes à Doutrina Espírita. Sobre a prática artística e sua atuação no Espiritismo, é preciso romper com velhos preconceitos, ainda existentes no movimento doutrinário. Toda arte de sentimentos nobres é grande vôo da criação, capaz de nos atingir, profundamente, e, nesse contexto, recordemos que o Brasil é o país que abriga a maior quantidade de artistas e de produções de artes espíritas.
A criatividade artística é sempre um processo inacabado, um eterno vir-a-ser, uma idéia em expansão. O artista deforma a realidade, transmutando-a em artifícios que desestruturam a fixidez das sociedades, desintegram o pensamento ortodoxo, e que se quer único. É preciso não esquecer que a arte é um eterno diálogo entre artista e público. As relações que os unem têm duplo sentido: o artista inspirando seu público e o público, por sua vez, reagindo sobre o artista, impondo-lhe seus gostos e seus desejos.
"A estética religiosa criou obras primas em todos os domínios; teve parte ativa na revelação de Arte e de beleza que prossegue pelos séculos além. A Arte grega criara maravilhas; a Arte cristã atingiu o sublime nas catedrais góticas, que se erguem, bíblias de pedra, sob o céu, com as suas altaneiras torres esculpidas, as suas naves imponentes, cheias de vibrações dos órgãos e dos cantos sagrados, as suas altas ogivas, de onde a luz desce em ondas e se derrama pelos afrescos e pelas estátuas." (2) Cremos que a estética espírita deve limitar-se a enunciar julgamentos da realidade, a estudar as correlações entre as formas artísticas e as formas espirituais e sociais, sem tanger o sectarismo e os dogmas normativos, que, obviamente, dizem respeito à teologia e à filosofia.
O Espiritismo, moralizando os homens, exerceu, exerce e exercerá uma grande influência sobre a arte em si e, particularmente, a música. Produzirá mais compositores virtuosos, que comunicarão as suas virtudes, fazendo ouvir as suas composições. André Luiz descreve, em sua obra Nosso Lar, (3) o Campo da Música, em cujas cercanias há Luzes de indescritível beleza, banhando extenso parque, onde se ostentam encantamentos de verdadeiro conto de fadas. Fontes luminosas traçam quadros surpreendentes de um espetáculo paradisíaco.
André comenta, em suas narrativas sobre a Colônia Espiritual, que, em gracioso coreto, um corpo orquestral de reduzidas figuras executa música ligeira. Nas extremidades do Campo da Música, há certas manifestações que atendem ao gosto pessoal de cada grupo dos que, ainda, não podem entender a arte sublime; mas, no centro, ouve-se a música universal e divina, a arte santificada, por excelência. Platão já ensinava que "a música é uma lei moral. Dá alma ao universo, asas ao pensamento, saída à imaginação, encanto à tristeza, alegria e vida a todas as coisas. Ela é a essência da ordem e eleva em direção a tudo o que é bom, justo e belo, e do qual ela é a forma invisível mas, no entanto, deslumbrante, apaixonada... eterna."
"Assim como a arte cristã sucedeu a arte pagã, transformando-a, a arte espírita será o complemento e a transformação da arte cristã". (4) Posto que a arte espírita é, por definição e por princípio, a arte universal, a rigor, onde reflita a beleza da harmonia Divina, podemos identificar a arte espírita na essência. Sobretudo, quando ela atinge o objetivo de levar à humanidade o consolo, o desejo de auto-reforma, o bem, a caridade, o amor. Pintores, escultores, compositores, poetas, rogarão as suas inspirações ao Espiritismo, e ele as fornecerá, porque é rico, é inesgotável. Muito mais importante do que o auxilio que a arte pode oferecer ao Espiritismo, é a transformação que a Doutrina Espírita causará, e já está causando, na arte. (5)
As primeiras expressões artísticas identificadas com a doutrina espírita surgem em 1858, pouco após o lançamento de O Livro dos Espíritos. Observa-se, nesse primeiro período, uma forte identificação entre arte e mediunidade. A edição de maio, de 1859, da Revista Espírita, traz uma matéria sobre o fragmento de uma sonata atribuída ao espírito de Mozart, pelo médium Bryon-Dorgeval. (6) Em 1860, Kardec utiliza, pela primeira vez, a expressão Arte Espírita, propondo-a como o terceiro elemento de uma tríade formada, também, pela arte pagã e pela arte cristã. O Espiritismo não poderia negar ou dispensar a atividade artística; ao contrário, os conceitos e concepções que traz, ajudam-nos a ampliar nossa visão acerca da arte, vista como elemento importante no movimento de elevação das almas, rumo ao porvir feliz e venturoso de equilíbrio espiritual.
É perfeitamente possível e verdadeiro o propósito de sensibilizar corações com a mensagem espírita, através da arte. Para isso, entretanto, é preciso se assumir o compromisso de FIDELIDADE com o Espiritismo. O espírita precisa burilar, incansavelmente, as obras artísticas de qualquer gênero e colaborar na Cristianização da Arte, sempre que se lhe apresentar ocasião, lembrando que a Arte deve ser o Belo, criando o Bem. "O artista espírita deve preferir as composições artísticas de feitura espírita integral, preservando-se a PUREZA DOUTRINÁRIA. A arte enobrecida estende o poder do amor." (7) (destaque meu)
A arte é excelente ferramenta para trabalhar a intuição e a sensibilidade, além de promover a inter-relação alegre e harmoniosa entre as pessoas. É, sem dúvida, expressão de harmonia, de aprimoramento e de beleza. Quem a transmite consegue estabelecer contato com a natureza e com o seu Criador. Nós vamos entender que Deus, ao criar a vida, não se afastou da beleza, da harmonia e da perfeição.
Que o Espiritismo seja a base das apresentações artísticas para quem trabalha com arte voltada para a divulgação e engrandecimento, posto que, é através da arte que o ser interage com o ambiente em que vive; e, principalmente, como forma de expressão, de materialização de idéias, sentimentos e percepções, em consonância com o patamar evolutivo em que se encontra.
Diante do exposto, convidamos os artistas espíritas a estudarem, mais profundamente, a maravilha de doutrina que temos ao nosso alcance, para dar a qualidade devida à Arte Espírita. Aos literatos e poetas, que refinem a poesia; aos pintores, que burilem a pintura; aos músicos, aos atores e aos dançarinos, que aperfeiçoem seus talentos, incansavelmente. Dessa forma, a Arte, aliada ao Espiritismo, assentará seus pilares e consolidará seu lugar, para fortalecer, ainda mais, o movimento espírita brasileiro, espalhando mais talentos por todos os cantos do mundo, sem jactâncias, sem pieguismos, sectarismos, fanatismos e tantos "esquisitismos" estranhos que teimam invadir nossas hostes através dos misticismos inócuos.


Jorge Hessen
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Site: http://jorgehessen.net
FONTES:
(1) Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Jeneiro: Ed FEB , 2001, pag. 100, perg. 161
(2) Denis, Léon. O Problema do Ser, do Destino e Da Dor, Rio de Janeiro: Ed FEB , 1999
(3) Xavier , Francisco Cândido. Nosso Lar, ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed FEB 2001, Cap. 45
(4) Kardec, Allan. Obras Póstumas, Rio de Janeiro, Ed FEB, 1992
(5) Artigo de Flávio Fonseca editado na Revista Cristã de Espiritismo nº 1
(6) Kardec, Allan. Revista Espírita, edição de maio de 1859, Brasília: Edicel, 2001,
(7) Vieira ,Waldo. Conduta Espírita, ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed FEB, 1992

segunda-feira, 21 de março de 2011

OS GÊMEOS SIAMESES NUMA ANÁLISE ESPÍRITA




Sobre os Espíritos encarnados na condição de gêmeos siameses ou xifópagos (1), lembramos que tradicionalmente o termo siamesa surgiu no século XIX, no ano de 1811, com o primeiro caso no mundo ocorrido com os irmãos Chang e Eng Bunker (origem de Siamesa, atualmente Tailândia) – decorre daí o termo siameses. Chang e Bunker foram conduzidos para a Inglaterra e posteriormente para os Estados Unidos. Por uma questão de programação espiritual, e nem poderia ser diferente, os dois desencarnaram no mesmo dia, com poucas horas de diferença, aos 63 anos, estabelecendo um recorde de sobrevida entre os gêmeos siameses.
Pelas leis reencarnatórias, num só corpo não há como reencarnar mais que um Espírito. Todavia, no caso dos seres siameses, existem dois espíritos em corpos unidos biologicamente (grudados), com dois cérebros (dicéfalos), dois indivíduos, duas mentes.(2)
Nas reencarnações os Espíritos simpáticos aproximam-se por analogia de sentimentos e sentem-se felizes por estar juntos. Os seres que não se toleram nesse caso se repulsam e são infelizes no convívio. É da Lei! Nos casos dos gêmeos siameses, do ponto de vista reencarnatório, que razões levariam a justiça divina permitir tais anomalias físicas? Por que esses espíritos necessitam permanecer algemados biologicamente, compartilhando órgãos e funções orgânicas, sabendo que nada nos é mais intrínseco (íntimo) e pessoal que o organismo físico?
Os xifópagos, via de regra, são dois espíritos ligados por cristalizados ódios, construídos ao longo de muitas reencarnações, e que reencarnam nestas condições, raramente por livre escolha e nem por punição de Deus (aliás, Deus não pune, nem castiga, apenas corrige suas criaturas), mas por uma espécie de determinismo originado na própria lei de Ação e Reação (Causa e Efeito), que os hindus denominam de “karma”. Alternando-se as posições como algoz e vítima e, também, de dimensão física e extrafísica, constrangidos por irresistível atração de ódio e desejo de vingança, buscam-se sempre e culminam se reaproximando em condições comoventes, que os obriga a compartilhar até do mesmo sangue vital e do ar que respiram.
A vida física dolorida possibilitará que ambos os espíritos, durante a experiência anômala no corpo carnal, finquem laços de união e sustentação moral, catalisando sentimentos de amizade, fraternidade e início provável de reconciliação pelo perdão.
Ainda mesmo entre espíritos afins ou simpáticos, a experiência descrita deverá ser uma vivência muito dolorosa, inobstante ambos aceitarem, ou serem forçados a cumprir juntos, visando amenizar traumas morais do passado para robustecer a reaproximação necessária agora e no futuro.
Muitas vezes não é possível, de imediato, dissolverem-se essas vinculações anômalas a fim de que haja total recuperação psíquica dos infelizes protagonistas. No decorrer dos anos, a imantação se avoluma, tangendo dimensões cruciais de alteração do corpo perispiritual de ambos. A analgesia transitória, pela comoção de consciência causada pela reencarnação, poderá impactar e recompor os sutis tecidos em desarranjo da alma enferma.
Nessas reflexões doutrinárias não há como desconsiderar que os pais são invariavelmente co-participantes do processo, até porque são os vínculos solidários do passado que os impõe a experienciar o drama da vida atual com os filhos. Não podemos afirmar que são vítimas ingênuas de uma lei natural injusta e arbitrária. O reencontro comum pelas afinidades que atraem pais e filhos por simbiose magnética apenas retrata os lídimos mecanismos da lei de causa e efeito à qual todos estamos submetidos.
A proposta espírita da questão aponta para algumas soluções que podem contribuir cientificamente com a psicologia e a medicina de hoje e de amanhã, considerando o tratamento. A prática da prece e da doação de energias magnéticas através do passe, por exemplo, são recursos adequados e indispensáveis para despertar consciências e minimizar os traumas psicológicos. Soluções essas que para eles (xifópagos) se descortinam eficazes, iluminando-lhes a consciência para a necessidade da efetiva reconciliação, arrostando a união pelo laço indestrutível e saudável do amor.

Jorge Hessen
http://jorgehessen.net


Notas:

(1) A nomenclatura provém de xifóide que é o apêndice terminal do osso esterno (com s ), situado na frente do tórax onde se unem as costelas, isto porque muitos dos xifópagos estudados eram unidos por esta parte do corpo.
(2) Quando dois espíritos são jungidos à psicosfera materna e ulteriormente ao fluido vital do óvulo, ocorrendo a fecundação, o zigoto (óvulo fecundado) sob a influência das energias espirituais diferentes tende a se repartir. No início da embriogênese quando o ovo inicia sua multiplicação, há em face da presença de dois espíritos, a separação em duas células que formarão dois corpos-filhos. Na circunstância normal quando há duas entidades espirituais ligadas ao ovo (óvulo fecundado), a dita separação determina o surgimento de gêmeos idênticos (univitelineos). Todavia, em se tratando de xifópagos, ambos permanecem grudados durante a gestação consubstanciando na ligação física entre os dois corpos. Muitas vezes essa ligação pode se efetuar através de órgãos vitais obstando a intervenção cirúrgica sem risco de morte para os xifópagos.

sábado, 19 de março de 2011

A MEDIUNIDADE E A DESORDEM DISSOCIATIVA DE IDENTIDADE

Kim Noble, uma artista plástica inglesa, que carrega 20 personalidades diferentes em seu "cérebro", demonstra por que a desordem dissociativa de identidade (DDI) confunde e fascina médicos e psicólogos há vários anos. Para os estudiosos, o distúrbio das múltiplas personalidades (DMP) (1) é um mecanismo de defesa por meio do qual uma pessoa cria personalidades alternativas para enfrentar situações que, originalmente, não seriam suportadas. Existem estudos de pessoas que apresentam duas, e até centenas de personalidades diferentes. (2) Kim foi internada, várias vezes, em hospitais psiquiátricos, experimentando diversos medicamentos e, em muitas ocasiões, foi diagnosticada como esquizofrênica (3) razão pela qual era tratada com antipsicóticos. Há quatro anos, uma assistente social sugeriu a Kim que começasse a pintar. Foi como se uma comporta tivesse sido aberta em seu cérebro.
Ela passou a conhecer seus vinte álteres (4) pelo estilo artístico de cada um. Noble sofre "apagões" de memória, durante três ou quatro horas, todos os dias, e outra persona assume o comando de seu corpo. Depois de um transe ("apagão"), Kim vê uma pintura nova ou alterações em um quadro que já havia começado a pintar e é capaz de dizer quem esteve por lá. Ao ser perguntada sobre Bonnie, um dos álteres, responde que está com saudades porque faz tempo que ela não "aparece". Porém, às vezes, algum dos álteres causa incômodos. "Dentro de Kim" há Judy, uma típica adolescente rebelde de 15 anos. Além das pinturas, Kim consegue transmitir mensagens por meio de bilhetes e recados verbais.
O Transtorno dissociativo de identidade é uma condição mental onde um único indivíduo demonstra características de duas ou mais personalidades ou identidades distintas, cada uma com sua maneira de perceber e interagir com o meio. O distúrbio é um campo de pesquisa cheio de controvérsias instigantes para a compreensão do complexo funcionamento da mente humana. O fenômeno, ainda, é mal compreendido pela ciência. Especialistas afirmam que o distúrbio é, geralmente, desencadeado por um trauma recorrente ocorrido na infância, principalmente o abuso sexual. Curioso é que muitos especialistas acreditam que a DDI não existe, pois que a literatura médica sobre o tema é pouco confiável. Há médicos e psicólogos que acreditam que o distúrbio não é genuíno - não passaria de fingimento de alguém com uma memória muito boa. Outros crêem que a DDI é, na verdade, um estado semelhante ao hipnótico, no qual as pessoas se comportam da maneira como acham que deveriam se comportar.
Especialistas analisam o distúrbio das múltiplas personalidades do ponto de vista biológico. Para tais profissionais, o stress traumático afeta a química do cérebro. Apesar de ser classificado como "transtorno mental", a condição não tem relação com a esquizofrenia, ao contrário do que acredita a maioria das pessoas. A grande maioria dos estudiosos não explica a epilepsia, as desordens genéticas e os desequilíbrios neuroquímicos. Outros apelam para a idéia de possessão demoníaca [num passado, não tão remoto, tal justificativa seria perfeitamente razoável]. Nessa época, teólogos elaboravam "rituais sociais", apresentando bases que pareciam validar a sugestão da possessão demoníaca. No contexto sócio-cognitivo, essas crenças eram tomadas por "corretas" e reforçadas pela tradição.
O tema se torna ainda mais relevante no Brasil, onde possuímos diversas religiões que enfatizam os transes: espíritas, afro-brasileiros, evangélicos pentecostais e católicos carismáticos. Além do valor cognitivo de se estudar e compreender melhor essa milenar vivência dissociativa, deve-se ressaltar as implicações clínicas. Faz-se mister a realização de um adequado diagnóstico diferencial dessas vivências consideradas mediúnicas, buscando distinguir quando se trata de uma vivência religiosa não-patológica das situações em que são manifestações de psicopatologia dissociativa ou psicótica. O Brasil, do começo do século, assistiu a inúmeras interpretações da mediunidade, também relacionadas à dissociação, porém, descontextualizando tais experiências de seus aspectos culturais. A mediunidade foi descrita, quase invariavelmente, como sinal de psicopatologia. As análises feitas na mediunidade, apenas raramente, foram realizadas por pesquisadores com formação psicológica.
Há tendência, antiga e atual, em interpretar o fenômeno da mediunidade como um estado dissociativo. No contexto da mediunidade, discutiram-se as diferenças conceituais entre "transe", "possessão" e "transe de possessão", sustentando que a "possessão" não envolve um "transe" ou outra alteração de consciência, mas uma doença pretensamente causada pela introjeção de espíritos malévolos na mente e no corpo de alguém. No "transe de possessão", haveria uma alteração de consciência induzida por espíritos, durante o qual o comportamento e a fala das entidades possuidoras poderiam ser observados. Algumas vezes, as entidades seriam benevolentes (como no caso dos médiuns que "incorporam" seus "espíritos-guias") e, em outras vezes, inoportunas (como no caso de espíritos malévolos ou entidades nocivas que falam e agem pelo corpo dos médiuns). O pesquisador Bourguignon utilizou o termo "transe" para se referir aos estados alterados de consciência induzidos que não estão relacionados às idéias culturais de possessão. (5)
Façamos algumas análises do ponto de vista psicológico do fenômeno "mediunidade" que, completas ou não, constituem importantes contribuições e às quais devemos fazer referência. A pesquisa científica dos médiuns e da mediunidade teve seu início organizado em 1882, com a fundação da Society for Psychical Research, em Londres. Dentre os membros da Society figuravam personalidades que seriam conhecidas como as fundadoras da Psicologia moderna, como Sigmund Freud, Carl Gustav Jung e William James. As pesquisas realizadas pelos membros da Society estiveram menos ligadas às análises psicológicas dos médiuns do que à tentativa de constatação dos supostos feitos mediúnicos, como a capacidade de provocar alterações físicas no ambiente (deslocamento de objetos) e a capacidade de se comunicar com os espíritos de pessoas falecidas.
Apesar de serem criticados por provocarem seus efeitos por meio de fraude, os médiuns também mereceram análises menos desabonadoras. Nesse particular, a maioria dos membros da Society concordaria, com William James: "O que quero atestar imediatamente a seguir é a presença - no meio de todos os ingredientes da farsa - de um conhecimento verdadeiramente supranormal. Entendo tal conhecimento, sendo aquele cuja origem não possa ser atribuída às fontes ordinárias de informação - ou seja, os sentidos do sujeito. (6)
Evoco aqui Theodore Flournoy, professor de Psicologia na Universidade de Genebra, que realizou as primeiras análises psicológicas dos médiuns. Flournoy se preocupou, por exemplo, em inquirir a respeito da influência de condições fisiológicas e mentais sobre a mediunidade e, inversamente, a influência da mediunidade na saúde orgânica e mental dos médiuns; sob que circunstâncias (se espontaneamente, se durante uma sessão espírita...) os médiuns descobriram sua mediunidade; a importância da mediunidade para a vida mental, religiosa e moral dos médiuns; e as origens familiares da mediunidade. (7)
Apesar de tamanho impacto exercido sobre a humanidade, ela tem sido praticamente ignorada pelos pesquisadores da área de saúde mental. Porém, encontramos Pierre Janet, que teve formação em psicologia e psiquiatria, apesar de pouco conhecido atualmente, mas amplamente reconhecido como o fundador das modernas visões sobre dissociação. O estudo da mediunidade e do espiritismo ocupa relevante espaço em sua pesquisa destinada ao estudo das "desagregações psicológicas", pois buscou perscrutá-las a partir de sujeitos que as apresentavam em seu mais alto grau (médiuns). Apesar de considerar o espiritismo "uma das mais curiosas superstições de nossa época", afirmou ser este o precursor da psicologia experimental, assim como a astronomia e a química começaram através da astrologia e da alquimia.
Dos estudiosos, citamos, também, William James que, ao lado de Freud, Piaget, Pavlov e Skinner, foi considerado um dos cinco psicólogos mais importantes de todos os tempos. A investigação da mediunidade recebeu especial destaque de James, tendo realizado, por mais de duas décadas, pesquisas com uma das mais renomadas médiuns do século XIX, Leonore Piper. Considerava a possessão mediúnica uma forma natural e especial de personalidade alternativa em pessoas, muitas vezes, sem qualquer outro sinal óbvio de problemas mentais.
Chamamos para dentro do debate Carl Gustav Jung, pois o seu interesse pela mediunidade já se manifestou em sua dissertação, publicada em 1902, para a obtenção do título de médico: "Sobre a Psicologia e a Patologia dos Fenômenos Chamados Ocultos". Afirmava "com absoluta clareza que em todo movimento espírita havia uma compulsão inconsciente para fazer com que o inconsciente chegasse à consciência". Aponta duas razões pelas quais "os conteúdos inconscientes se manifestem na forma de personificações (espíritos)": porque esta sempre foi a forma tradicional de compensação inconsciente e porque é difícil provar, com certeza, que não se trate realmente de espíritos. Por outro lado, também diz ser muito difícil, senão impossível, a prova de que se trate realmente de espíritos.
A rigor, para James e Jung: a mediunidade não é necessariamente patológica; teria origem no inconsciente do médium, mas não foi excluída a possibilidade de uma origem paranormal, inclusive a real comunicação de um espírito desencarnado e ambos reforçam a necessidade de maiores estudos. Porém nestes apontamentos o que é digno de nota é o fato de a mediunidade ter sido objeto de intensas pesquisas que não levaram a uma teoria única e, mesmo assim, os estudos terem sido interrompidos. Num sentido "kuhniano", não havia, ainda, chegado a um paradigma maduro e aceito, consensualmente, pelo meio científico. Outro aspecto relevante são as declarações dos pesquisadores discutidos, enfatizando a importância que a investigação e o melhor entendimento das vivências, tidas como mediúnicas, têm para a exploração da mente humana.
A mediunidade não é a causa primária dos desequilíbrios orgânicos e psicológicos. Ela desempenha papel essencial no estabelecimento da base experimental da ciência espírita e nas atividades dos centros espíritas. Qualquer pessoa apta a receber ou a transmitir comunicações dos Espíritos é, por isso mesmo, médium, quaisquer que sejam o modo empregado e o grau de desenvolvimento da faculdade, desde a simples influência oculta até a produção dos mais insólitos fenômenos. Têm-se visto pessoas, inteiramente, incrédulas ficarem espantadas de escrever [mediunicamente] a seu mau grado, enquanto que crentes sinceros não o conseguem, o que prova que essa faculdade se prende a uma disposição orgânica. A mediunidade é a faculdade especial que certas pessoas possuem para servir de intermediárias entre os Espíritos e os homens. Ela tem origem orgânica, e independe da condição moral do médium; de suas crenças; e/ou de seu desenvolvimento intelectual. Quando existe o princípio, o gérmen de uma faculdade, esta se manifesta sempre por sinais inequívocos.


Jorge Hessen
E-Mail: jorgehessen@gmail.com
Site: http://jorgehessen.net
FONTES:
1 Os norte-americanos atualmente denominam o transtorno de personalidade múltipla de "Dissociative Identity Disorder" (desordem dissociativa de identidade-DDI)
2 Spanos, N.J.: Multiple identityenactments and multiple personalitydisorder: a sociocognitive perspective.Psychological Bulletin, 116(1), 143-165,1994
3 O termo "esquizofrenia" vem das raízes das palavras "mente dividida", mas refere-se mais à uma fratura no funcionamento normal do cérebro do que da personalidade.
4 termo usado pelos especialistas para definir várias personalidades
5 BOURGUIGNON, E. (1989). Multiple personality, possession trance, and psychic unity of mankind. Ethos, 17, 371-384.
6 ZANGARI, W. . Estudos Psicológicos da Mediunidade: Uma breve revisão. In: 3º Seminário de Psicologia e Senso Religioso, 1999, São Paulo. Caderno do 3º Seminário de Psicologia e Senso Religioso. São Paulo: 3º Seminário de Psicologia e Senso Religioso, 1999. v. 1. p. 94-102.
7 Flournoy, Theodore . Spiritism and Psychology. New York: Harper & Brother Publishers, 1911, pg 33