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segunda-feira, 29 de abril de 2013

SUBJUGAÇÃO ININTERRUPTA SOB O GUANTE DE UMA REENCARNAÇÃO?..

Jorge Hessen
http://aluznamente.com.br


Mordake, o homem de dois rostos




Por efeito das buliçosas narrativas sobre as deformações físicas, deparamos com eventos gritantes, e ao mesmo tempo melancólicos, de pessoas que (re)nasceram com os mais singulares tipos de aberrações. Edward Mordake (foto) sofria de uma anomalia conhecida como Craniopagus Parasiticus. Ele possuía outro“rosto parasita”acoplado à sua nuca. Em seu caso, poderia parecer apenas um caso de “gêmeo chupim”, mas para muitas pessoas e para ele mesmo, o que existia em sua nuca era algo mais sombrio.
Conta-se que a face gêmea apresentava alguns indícios de inteligência, porém não ingeria alimentos e inacreditavelmente era capaz de fazer careta, rir e chorar. O “rosto parasita”era flácido e desfigurado, algo ameaçador e tétrico. Narra-se que os olhos da “face intrusa” expressavam malícia e fúria e seguiam as pessoas pausadamente como se estivesse estudando aqueles que visualizavam, os seus beiços invariavelmente faziam barulhos exóticos. Embora sua voz fosse ininteligível, Edward declarou que muitas vezes foi mantido acordado durante a noite por conta dos murmúrios de ódio de sua “face gêmea diabólica” (como passou a chamá-la) e dos zumbidos lúgubres.
Conquanto o seu caso seja concretamente citado nos primórdios dos relatos médicos, na verdade sua história é misteriosa, e foi analisada como caso irreal durante algum tempo, por ser demasiadamente delirante para se acreditar e, obviamente, por não fazer muito sentido do ponto de vista médico, em alguns momentos. A única coisa que persiste dessa história é a existência de uma foto de Edward, que comprova que ele realmente existiu, mas quando exatamente não se sabe.
Há um livro intitulado Anomalies and Curiosities of Medicine, de George M. Gould e Walter L. Pyle, que faz referência a Edward Mordake, porém muito do que se conhece de sua vida é baseado em relatos orais. Muitos componentes de sua trajetória foram perdidos no decorrer do tempo e não há fontes consideráveis para os pesquisadores atuais, exceto a foto(1). Sabe-se que ele viveu em completo isolamento, recusando-se às visitas, até mesmo dos familiares. Diz-se que Edward teria pedido aos médicos que removessem sua “cara diabólica”, contudo nenhum clínico foi favorável a fazê-lo, porque a cirurgia seria fatal.
As pessoas começaram a se afastar dele e isso potencializava sua depressão. Conta-se que nos momentos de tristeza a sua “face extra”permanecia gracejando como se estivesse ridicularizando suas dores. Portanto, padecendo com o bullyng que o “rosto intruso” exercia, Mordake resolveu acabar logo com aquilo e se matou aos vinte e três anos. Diz-se que o suicídio ocorreu logo após seus médicos recusarem fazer a remoção cirúrgica daquele “suplemento facial’ na nuca. Edward teria deixado uma carta solicitando que a “cara satânica” fosse destruída de sua cabeça antes de seu sepultamento, a fim de que ele não continuasse a ouvir seus terríveis sussurros no além-túmulo.
Descreve-se que gostaria de ser enterrado em um lugar deserto, sem pedra ou legenda para marcar seu túmulo. Seu pedido teria sido atendido pelos médicos Manvers e Treadwell, que cuidavam do caso. Edward foi enterrado em uma cova de terra barata e sem qualquer tipo de lápide ou escultura, também a seu pedido.
No mundo somos defrontados com inúmeros casos teratológicos que assombram e deixam embaraçados mesmo os mais experientes analistas. Será admissível que junto com alguém que (re)nasce, reencarnar concomitantemente um outro Espírito colado em seu tecido perispiritual (molde do corpo físico), ocasionando pânico, como no episódio narrado, tanto para seu hospedeiro como também para quem o visualiza? Que mistérios existiriam por trás do rosto “demoníaco” de Edward Mordake?
Pelas leis reencarnatórias, teoricamente, num só corpo não há como reencarnar mais que um Espírito. No caso dos seres siameses, por exemplo, existem dois espíritos em corpos unidos biologicamente (grudados), com dois cérebros (dicéfalos), dois indivíduos, duas mentes. Embora o caso Edward não seja um fenômeno de siameses, é manifesto que existia um Espírito grudado (não sabemos como) naquela bizarra “face traseira”.
Há casos teratológicos em que nas reencarnações os Espíritos simpáticos aproximam-se por analogia de sentimentos e sentem-se felizes por estarem grudados biologicamente. Porém, os seres que não se toleram se repelem e são extremante infelizes no convívio. É da Lei! No caso Edward, do ponto de vista reencarnatório, que razões levariam a justiça divinaa permitir tal anomalia física? Por que alguns espíritos necessitam permanecer algemados biologicamente, compartilhando órgãos e funções orgânicos, sabendo que nada nos é mais íntimo e pessoal que o corpo físico?
A ser verdadeira a história de Edward, cremos que são dois espíritos ligados por cristalizados ódios, construídos ao longo de muitas reencarnações, e que reencarnam nessas condições estranhíssimas, raramente por livre escolha e nem por “punição”de Deus, mas por uma espécie de determinismo originado na própria lei de Ação e Reação. Alternando-se as posições como algoz e vítima e também de dimensão física e extrafísica, constrangidos por irresistível atração de ódio e desejo de vingança, buscam-se sempre e culminam se reaproximando em condições comoventes, que os obriga a compartilhar até do mesmo sangue vital e do ar que respiram.
Considerando que nos estatutos de Deus não há espaços para injustiças, a dualidade espiritual presente no corpo disforme de Mordake é factível . Sobretudo se no  processo de subjugação ocorrida em vidas pregressas , quando o obsessor assume o lugar do subjugado  em vários momentos da vida. A subjugação pode ser moral ou corporal que paralisa a vontade do obsedado.  Materialmente o obsessor atua sobre o corpo físico e provoca movimentos involuntários. Dava-se antigamente o nome de possessão ao império exercido por maus Espíritos.
Mas,  a possessão seria, para nós, sinônimo da subjugação, pois não há possessos, no sentido vulgar do termo, há somente obsidiados, subjugados e fascinados. Poderá ter como conseqüência a uma espécie de loucura cuja causa o mundo desconhece, mas que não tem relação alguma com a loucura ordinária. Entre os que são tidos por loucos, muitos há que apenas são subjugados; precisariam de um tratamento moral, enquanto que com os tratamentos corporais os tornam verdadeiros loucos. Quando os médicos conhecerem bem o Espiritismo, saberão fazer essa distinção e curarão mais doentes do que com as duchas”.(2)
Acreditamos que numa reencarnação especialíssima , dois seres que experimentaram a trama de subjugações obsessivas podem  renascer nas condições especialíssimas narradas no texto, todavia evidentemente estamos conjecturando  propondo ao leitor amigo mais amplas reflexões.
Muitas vezes não é possível, de imediato, dissolverem-se essas vinculações anômalas a fim de que haja total recuperação psíquica dos infelizes protagonistas. No decorrer dos anos, a imantação se avoluma, tangendo dimensões cruciais de alteração do corpo perispiritual de ambos. A analgesia transitória, pela comoção de consciência causada pela reencarnação, poderá impactar e recompor os sutis tecidos em desarranjo da alma enferma.
Infelizmente não foi o caso Mordake, pois ele fugiu do compromisso.Se à época Edward fosse espírita, poderia ter recorrido a alguns recursos tais como a prática da prece e da doação de energias magnéticas através do passe, por exemplo, que são recursos adequados e indispensáveis para despertar consciências e minimizar os traumas psicológicos. Soluções essas que para ele se descortinariam eficazes, iluminando-lhe a consciência para a necessidade da efetiva reconciliação, arrostando a união pelo laço indestrutível e saudável do amor.

Nota e referência bibliográfica:
(1) Em 1896, o livro Anomalies and Curiosities of Medicine, de George M. Gould e Walter L. Pyle, mencionava uma versão da história de Edward Mordake que ficou muito famosa na época e acabou virando referência para vários textos, peças teatrais e até mesmo para uma música de Tom Waits Poor.
(2) Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns, Cap. XXIII, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1997


Somos maioria

Heigorina, sobrinha de Euripedes Barsanulfo e Jorge Hessen

Nunca antes na Humanidade houve tantas pessoas fazendo o bem e amando o próximo como em nossos dias.

À primeira vista, a frase parece fora de contexto e mesmo alienada das coisas que vemos.

Temos a impressão de que todos estão fazendo o mal, que poucos são honestos, que ninguém respeita o próximo.

Vemos as notícias na televisão, lemos manchetes nos jornais, escutamos conversas no trabalho e na condução.

Tudo parece convergir e se dirigir para a maldade, para o prejuízo alheio, para gerar dificuldades.

Porém, o que ocorre é que escutamos meias verdades, ou às vezes um pedaço bem pequeno de verdade e, apenas com isso, concluímos ser o todo.

O que não vemos nos noticiários são os milhares de heróis anônimos que ganham sua vida no trabalho honesto e que, com responsabilidade, criam os seus filhos.

Não é notícia as mães e os pais que velam horas a fio o sono de seus filhos para terem certeza que estão bem; que acompanham seus deveres escolares e os educam com amor e carinho.

Poucos comentam a respeito da multidão de voluntários que dedicam horas e horas para minimizar dores, dificuldades e problemas do próximo que, na maioria das vezes é alguém desconhecido. E tudo isso fazem pelo prazer de ajudar.

Esquecemos que se há muitos que transgridem as leis, nunca tivemos tanta proteção legal para as crianças, os idosos, as mulheres e tantas outras minorias na sociedade.

Se ainda existem políticos que não honram seus cargos e missões públicas, há muitos funcionários públicos que trabalham além do que seus contratos preveem, pelo ideal de melhorar a vida da população.

São inúmeros os pesquisadores e cientistas, que dedicam suas vidas para solucionar problemas, encurtar distâncias, salvar vidas, oferecer conforto e bem-estar a todos.

Debruçam-se nos laboratórios, utilizando-se de sua inteligência e ciência, no ideal de conseguir algo que beneficie a Humanidade.

Esquecemos que incontáveis são os médicos, professores, ou ainda garis e pedreiros, que cumprem muito mais que sua missão e seu dever profissional.

São muitos aqueles que se doam generosamente, que oferecem o melhor que possuem, para também contribuir por um mundo melhor.

Há muito mais pessoas honestas que desonestos no mundo. Há muito mais bondade que maldade no coração da maioria de nós. Há muito mais pessoas fazendo o bem do que prejudicando.

Assim, ao olharmos nossa sociedade, lembremos que não estamos sós nem somos minoria aqueles que fazemos o bem, que somos honestos e idealistas.

Apenas somos, aparentemente, transparentes uns para os outros.

Não nos vemos, porém, estamos todos agindo para que os dias, um após o outro, tornem-se melhores e mais felizes.

Dessa forma, não devemos jamais desistir do nosso ideal.

Ao nos imaginarmos sozinhos, basta que olhemos para o lado, e logo perceberemos que somos uma grande maioria, uma multidão mesmo aqueles que semeamos o bem, a justiça e a paz nas estradas da vida.

Redação do Momento Espírita.
Em 25.4.2013.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

A RELIGIÃO DE JESUS




Ewerton Quadros

Ewerton Quadros
Primeiro presidente da FEB
Cultivando o pensamento libertador com que a Nova Revelação te insufla à vida, reflete na religião de Jesus.
Em todas as circunstâncias, reconheçamo-nos defrontados pelo Mestre, no exercício da fraternidade dinâmica.
Indubitavelmente, asseverou Ele não ter vindo para destruir a lei e sim para dar-lhe cumprimento.
E executou-a, substancializando-lhe os enunciados na ação construtiva com que lhe ampliou todos os preceitos em luzes de ensino e afirmação de trabalho.
Não levantou quaisquer santuários de pedra; não fomentou discussões teológicas; não instituiu pagamento por serviços religiosos; não criou amuletos ou talismãs; não consagrou paramentos e nem traçou rituais.
Ao revés, ajustou-se à comunidade, em penhor de soerguimentos e sustentação do homem integral amparando-lhe corpo e alma.
Explicou a verdade, tanto aos rabinos quanto aos pescadores de vida singela.
Pregou a divina mensagem no tope dos montes, alimentando estômagos famintos e clareando cérebros sequiosos de luz.
Socorreu mulheres infelizes e crianças abandonadas; leu nas sinagogas; curou cegos; restaurou doentes, ergueu paralíticos; recuperou obsidiados, doutrinando espíritos perturbados e sofredores; encorajou os tristes e banqueteou-se com pessoas apontadas ao escárnio social.
Sem qualquer laivo de culto à personalidade, viveu no seio da multidão.
Encontrando, pois, no Espiritismo a Boa Nova renascente, convençamo-nos de que as nossas casas doutrinárias devem ser lares de assistência gratuita ao povo que, em todos os tempos, é a verdadeira família de Cristo.
Meditando nestas observações incontestes, evitemos converter os templos espíritas em museus do Evangelho ou dourados mausoléus do Senhor, reconhecendo que é preciso constituir neles escolas de fé raciocinada, a se povoarem de almas ardentes no serviço desinteressado em favor do próximo, a fim de que possamos sustar as explosões do desespero subversivo e as epidemias de descrença que, ainda hoje, lavram na Terra com a senha do incêndio destruidor.

Livro Ideal Espírita - Psicografia Francisco C. Xavier - Espíritos Diversos

LEGALIZAR O ABORTO? JORNAL "O BEM" PUBLICOU









LHUFAS E NINGUÉM PODE JUSTIFICAR A LEGALIZAÇÃO DO ABORTO NO BRASIL

O presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM) afirmou hoje 21/03/2013 que considera inaceitável mulher [pobre] morrer em aborto realizado sob condições inseguras. Por isso defende liberação do aborto [assassinato de bebês] até 12ª semana. Garantiu que vai encaminhar, ainda em março, junto à comissão especial que discute a reforma no Código Penal no Senado, uma proposta com o posicionamento favorável à legalização do aborto até o 3º mês de gestação.
O atual presidente do CFM deve desconhecer que o Brasil é o campeão mundial de prática do aborto. Esta situação fez surgir no país médicos ferrenhamente favoráveis à legalização do “homicídio de neném”, torná-lo simplificado, acessível, higiênico, juridicamente correto. O CFM defende, entre outras questões, o direito da mulher sobre o seu próprio corpo para trucidar um ser indefeso no útero.
Evocam, por meio de indefensáveis calões, as péssimas condições em que são realizados os abortos clandestinos. Contudo, ninguém se engane que o aborto oficial vá substituir o aborto criminoso. Ao contrário, irá aumentar. "Ele continuará a ser feito por meio subterrâneo e não controlado, pois a clandestinidade é cúmplice do anonimato e não exige explicações."(1) "É inadmissível que pequeníssima parcela da população brasileira, constituída por alguns intelectuais, políticos e profissionais dos meios de comunicação e embebida de princípios materialistas e relativistas, venha a exercer tamanha influência na legislação brasileira, em oposição à vontade e às concepções da maioria do povo e contrariando a própria Carta Magna de 1988."(2)
Outro ponto é: legalizando-se o aborto, estariam todos os obstetras disponíveis à prática abortiva? Seria possível, no âmbito da ética médica, conciliar uma medicina que cura com uma medicina que assassina? "Pessoalmente, entendo que o homem não tem o direito de tirar a vida de ninguém, seja pela pena de morte, seja pelo aborto, seja pela eutanásia."(3)Chico Xavier recrimina: "se anos passados houvesse a legalização do aborto, e se aquela que foi a minha querida mãe entrasse na aceitação de semelhante legalidade, legalidade profundamente ilegal, eu não teria tido a minha atual existência, em que estou aprendendo a conhecer minha própria natureza e a combater meus defeitos, e a receber o amparo de tantos amigos, que qual você, como todos aqui, nos ouvem e me auxiliam tanto”.(4)
Importa reconhecer que o primeiro dos direitos naturais do homem é o direito de viver. O primeiro dever é defender e proteger o seu primeiro direito: a vida. Chico ainda adverte "admitimos seja suficiente breve meditação, em torno do aborto delituoso, para reconhecermos nele um dos grandes fornecedores das moléstias de etiologia obscura e das obsessões catalogáveis na patologia da mente, ocupando vastos departamentos de hospitais e prisões."(5) À luz da reencarnação, realmente, o filho que não é aceito no lar, pela gravidez interrompida, penetrará um dia em nossa casa, na condição de alguém de conduta antissocial.
Aquele que expulsamos do nosso abrigo reaparecerá porque ele não pode ser punido pela nossa irresponsabilidade, mas seremos justiçados na nossa irreflexão, através das leis soberanas da vida. O médium Divaldo Franco assevera que "aquele filho que nós expulsamos, pela interrupção no corpo, voltará até nós, quiçá, em um corpo estranho, gerado em um ato de sexualidade irresponsável. Por uma concepção de natureza inditosa, volverá até nós, na condição de deserdado, não raro, como um delinquente."(6)
O aborto praticado sob quaisquer justificativas, mesmo diante de regulamentos humanos, é um crime ante os estatutos de Deus. Por isso Chico Xavier ressalta "os pais que cooperam nos delitos do aborto, tanto quanto os ginecologistas que o favorecem, vêm a sofrer os resultados da crueldade que praticam".(7)
Registre-se que, se não há legislação humana que identifique de imediato o ignóbil infanticídio, nos redutos familiares ou na bruma da noite, e aos que mergulham na torpeza do aborto, "os olhos divinos de Nosso Pai contemplam do Céu, chamando, em silêncio, às provas do reajuste, a fim de que se expurgue da consciência a falta indesculpável que perpetram."(8)
Outra discussão que também se levanta é a legitimidade, ou não, do aborto, quando a gravidez é consequente a um ato de violência física. No caso de estupro, quando a mulher não se sinta com estrutura psicológica para criar o filho, a Lei deveria facilitar e estimular a adoção da criança nascida, ao invés de promover a sua morte legal. "O Espiritismo, considerando o lado transcendente das situações humanas, estimula a mãe a levar adiante a gravidez e até mesmo a criação daquele filho, superando o trauma do estupro, porque aquele Espírito reencarnante , terá possivelmente um compromisso passado com a genitora."(9)
Lembrando também que "O governo deveria ter departamentos especializados de amparo material e psicológico a todas as gestantes, em especial, às que carregam a pesada prova do estupro."(10) Por isso é perfeitamente lógico que o aborto em decorrência de estupro não deva ser autorizado, porque o ser concebido não pode ser punido por fatos não queridos que determinaram sua vida.Outra questão defendida pelos abortistas é o aborto "terapêutico". Se o aborto, em tempos idos, era usado a pretexto de terapia, devia-se à falta de conhecimentos médicos. Recordo que numa aula inaugural do Dr. João Batista de Oliveira e Costa Júnior aos alunos de Direito da USP em 1965 (intitulada "Por que ainda o aborto terapêutico?") diz que o aborto "não é o único meio, ao contrário, é o pior meio, ou melhor, não é meio algum para se salvar a vida da gestante", Divaldo Franco reflete sobre o assunto com o seguinte comentário: "o aborto, mesmo terapêutico, é imoral, segundo o conhecimento médico, (...) por que interromper o processo reparador que a vida impõe ao espírito que se reencarna com deficiência? Será justo impedi-lo de evoluir, por egoísmo da gestante?" (11)
O médium baiano recorda, ainda, "é torturante para a mãe que carrega no ventre um ser que não viverá, mas trata-se de um sofrimento programado pelas Soberanas Leis da Vida".(12) E mais "segundo benfeitores espirituais, a Terra vem recebendo verdadeiras legiões de espíritos sofredores e primários, que se encontravam retidos em regiões especiais e agora estão tendo a oportunidade de optar pelo bem de si mesmos".(13)Se os tribunais do mundo condenam, em sua maioria, a prática do aborto, "as Leis Divinas, por seu turno, atuam inflexivelmente sobre os que alucinadamente o provocam. Fixam essas leis no tribunal das próprias consciências culpadas, tenebrosos processos de resgate que podem conduzir ao câncer e à loucura, agora ou mais tarde. (...)".(14)
Se a futura mãe corre riscos de vida, o aborto tem outra conotação conforme consta na questão 359 de O Livro dos Espíritos, onde os mentores que orientavam Kardec advertem que só é admissível o aborto induzido quando há grave risco de vida para a gestante. (15) Oportuno acrescentar, com a evolução da Medicina, dificilmente se configura, hoje, uma situação dessa natureza. Óbvio que não lançamos os anátemas da condenação impiedosa àqueles que estão perdidos no corredor escuro do erro já cometido, até para que não caiam na vala profunda do desalento. Expressamos ideias cujo escopo é iluminá-los com o archote do esclarecimento para que enxerguem mais adiante, a opção do Trabalho e do Amor, sobretudo nas adoções de filhos rejeitados que atualmente amontoam nos orfanatos.
"É preciso também saber que a lei de causa e efeito não é uma estrada de mão única. É uma lei que admite reparações; que oferece oportunidades ilimitadas para que todos possam expiar seus enganos."(16) Errar é aprender, destarte, ao invés de se fixarem no remorso, precisam aproveitar a experiência como uma boa oportunidade para discernimento futuro.

Referências Bibliográficas:
(1) Aborto - breves reflexões sobre o direito de viver Genival Veloso de França
(2) Manifesto Espírita sobre o Aborto Federação Espírita Brasileira Manifesto aprovado na reunião do Conselho Federativo Nacional da Federação Espírita Brasileira, nos dias 7, 8 e 9 de novembro de 98
(3) Pena de Morte para o Nascituro Ives Gandra da Silva Martins Professor emérito das Universidades Mackenzie e Paulista e da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército Presidente da Academia Internacional de Direito e Economia e do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo Vice-presidente da PROVIDA FAMÍLIA, in O Estado de São Paulo 19 de setembro de 1997.
(4) Disponível em http://www.editoraideal.com.br/chico/perguntas-21.htm, acessado em 15 de março de 2006
(5) Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Religião dos Espíritos, ditado pelo Espírito Emmanuel. 14a edição. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2001.
(6) Cf. Divaldo Franco em entrevista para Revista Espírita Allan Kardec, disponível em acessado em 10/03/2006
(7) Xavier, Francisco Cândido. Leis de Amor, ditado pelo Espírito Emmanuel, SP: Ed FEESP, 1963.
(8) Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Religião dos Espíritos, ditado pelo Espírito Emmanuel. 14a edição. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2001.
(9) Cf. Manifesto Espírita sobre o Aborto Federação Espírita Brasileira Manifesto aprovado na reunião do Conselho Federativo Nacional da Federação Espírita Brasileira, nos dias 7, 8 e 9 de novembro de 98
(10) Respeito ao Embrião e ao Feto Laércio Furlan http://www.espirito.org.br/portal/artigos/diversos/aborto/respeito-ao-embriao.html
(11) O jornal Folha Espírita, edição de janeiro de 2005.
(12) Idem
(13) Idem
(14) Peralva, Martins.O Pensamento de Emmanuel.Cap. I Rio de Janeiro: Editora FEB, 1978
(15) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. RJ: Ed FEB, 2003, perg. 359.
(16) De Lima, Cleunice Orlandi. A Quem Já Abortou - artigo - disponível em http://www.espirito.org.br/portal/artigos/diversos/aborto/a-quem-ja-abortou.html

terça-feira, 23 de abril de 2013

HITLER ,O NÚNCIO DAS TREVAS

Jorge Hessen



Adolf Hitler, com todo seu carisma, não teria força suficiente para, sozinho, causar a Segunda Guerra Mundial. A rigor, nos momentos de grandes crises sociais, surgem “falsos profetas” oferecendo salvação. Não significa necessariamente que tais personagens sejam grandiosos, mas têm, mormente, qualidades de sedução. Um dos elementos de acesso de Hitler ao poder foi a sede de vingança do povo alemão contra os países vencedores da Primeira Guerra Mundial.
Anotamos também a influência de outras forças ocultas para explicar como o Führer, um indivíduo obsedado, excêntrico, desajustado mental em alto grau, chegou ao comando do Alemanha, em pleno coração da Europa. Como se explicaria, sem essa intervenção maciça de obsessores [encarnados e desencarnados], que um jovem fracassado, sem êxito, pobre, abandonado à sua sorte, rejeitado pela sociedade, tivesse conseguido montar o mais tenebroso instrumento de opressão que o mundo já conheceu?
As suas altissonantes revelações (provindas das trevas) ajudavam a cimentar a dependência carismática entre ele e o povo obsedado. Hitler era um médium pervertido, totalmente subjugado por falanges encarnadas e do além-tumba. Por mais irracionais que fossem as suas ordens, sempre houve alguém disposto a cumpri-las. Emanava um tipo de magnetismo tão estranho e hipnotizante que as pessoas acreditavam em qualquer coisa que pronunciasse. Transmitia mensagens exóticas, prometia que o Terceiro Reich seria um reinado de 1000 anos de fartura, poder e felicidade. Era uma marionete dos gênios das trevas que oferecia não opções de livre-arbítrio, mas uma tentadora visão milenarista, ilusória, oca, irracional e escravizante.
No livro Mein Kampf, de sua autoria (mancomunado com as sombras), Adolf Hitler divide os seres humanos em categorias com base na aparência física, estabelecendo ordens superiores e inferiores. No topo da qualificação está o homem germânico com sua pele clara, cabelos loiros e olhos azuis (ariano). Afirmava que o ariano é a forma suprema da raça humana. Sua filosofia de modo algum acreditava na igualdade de raças, por isso era obrigado a promover a elevação do mais forte e exigir a subordinação do mais fraco. Essa ideia seria compartilhada em diferentes graus por milhões de alemães e habitantes de países ocupados, que permaneceram em silêncio ou participaram do sistema.
O poder carismático, conforme explica Marx Weber, dependente das qualidades inerentes a um indivíduo e repousa numa qualidade excêntrica e arbitrária. Por isso o caráter durável, excêntrico e individualista de poder carismático deve ser regulado se se deseja estabelecer um sistema mais estável dentro de uma comunidade. A intransigência obsessiva ostentada por reformadores sociais que se julgam iluminados pela graça divina, e que por isso pensam possuir um conjunto de qualidades em liderança política, tidas como excepcionais ou sobrenaturais, levam ao fanatismo popular.
Aqueles que dizem ter o poder de carisma são o que Jesus chamou de falsos profetas (médiuns das sombras). A História demonstra isso. A obsessão tem sido a doença de todos os séculos. O surto de aparecimento dos fenômenos mediúnicos destrambelhados é o efeito natural da maior incidência dos Espíritos malignos sobre os homens. Hitler construiu para si a imagem de ser o escolhido, no sentido teológico da palavra. A insistência dele em possuir um poder e um mistério quase do outro mundo tinha um grande apelo, o que lhe deu a sensação de ser de fato o salvador.
A mediunidade luminosa foi um magnífico elemento nas vidas de Francisco de Assis, Mahatma Gandhi e Chico Xavier, mas a mediunidade trevosa por outro lado assomou os meandros do psiquismo de Adolf Hitler, um frequentador do grupo mediúnico de Tullis, no início do século XX, em Berlim. Ele sabia muito bem da sua condição de instrumento dos invisíveis. “Numa entrevista à imprensa, documentou claramente esse pensamento ao dizer: “movimento-me como um sonâmbulo, tal como me ordena a Providência”. Havia nele súbitas e tempestuosas mudanças de atitude. De uma placidez fria e meditativa, explodia, de repente, em cólera, pronunciando, alucinadamente, uma torrente de palavras, com emoção e impacto, especialmente quando a conversa enveredava pelos temas políticos e raciais.”. (1)
A sociedade precisa estar atenta a essas investidas, pois é muito apurada a técnica da infiltração das trevas. O lobo adere ao rebanho sob a pele do manso cordeiro; ele não pode dizer que vem destruir, nem pode apresentar-se como inimigo; tem de aparecer com um gesto sedutor, atitude de salvador, herói, um desejo de servir até a morte, sem restrições.
A sugestão pós-hipnótica tem sido até hoje muito bem aplicada por obsessores altamente treinados na técnica da manipulação da mente humana individual e coletiva. Hitler entrou para a História como a encarnação da maldade, o inventor do holocausto, o marco de um dos regimes mais apavorantes já experimentados pela humanidade. Sua personalidade tem oferecido inexaurível fonte de implicações para as mais variadas abordagens temáticas.
Muitas vezes, esses representantes das trevas nem têm ciência exata que estão servindo de utensílios aos entes sinistros das sombras. Cremos que Adolf Hitler e vários dos seus sequazes desempenharam terrível papel na tática geral de fundação do reino das trevas na Terra, num trabalho colossal que, obviamente, tem a marca pujante do Anticristo, consoante mencionou o apóstolo João (2).


Notas:
(1) Texto de Hermínio C. Miranda publicado no Reformador de Março de 1976.
(2) 1João2:18

segunda-feira, 22 de abril de 2013

"O PASSE" PUBLICADO NO JORNAL DA ADDE DE S.J.RIO PRETO



http://adde.com.br/

O biólogo Ricardo Monezi, mestre em fisiopatologia experimental pela Faculdade de Medicina da USP e pesquisador da unidade de Medicina Comportamental da Unifesp, estudou a fundo a técnica de imposição de mãos [passe]. Lembramos que na atualidade o passe é empregado por outras religiões, que o apresentam sob nomes e aparências diversas (benção, unção, johrei, heiki, benzedura), além do quê, pessoas sem qualquer relação com movimentos religiosos também o empregam.
Para Monezi, os dados preliminares apontam que a prática do passe gera mudanças fisiológicas e psicológicas, como a diminuição da depressão, da ansiedade e da tensão muscular, além do aumento do bem-estar e da qualidade de vida. Ressaltamos que a Doutrina dos Espíritos clarifica melhor e explica as funções do perispírito, que “é o órgão sensitivo do Espírito, por meio do qual este percebe coisas espirituais que escapam aos sentidos corpóreos”(1), além de o mesmo interagir de forma profunda com o corpo biológico, razão pela qual as energias transmitidas pelo passe e recebidas inicialmente pelos centros de força(2), atingem o corpo físico através dos plexos (3), proporcionando a renovação das células enfermas.
“Assim como a transfusão de sangue representa uma renovação das forças físicas, o passe é uma transfusão de energias psíquicas, com a diferença de que os recursos orgânicos (físicos) são retirados de um reservatório limitado, e os elementos psíquicos o são do reservatório ilimitado das forças espirituais.” – explica o Espírito Emmanuel.(4) Recordemos que Jesus utilizou o passe "impondo as mãos" sobre os enfermos e os perturbados espiritualmente, para beneficiá-los. E ensinou essa prática aos seus discípulos e apóstolos, que também a empregaram largamente. Entretanto, é nas hostes espíritas que o passe é melhor compreendido, mais largamente difundido e utilizado, “dispensando qualquer contacto físico na sua aplicação.”.(5)
Segundo Ricardo Monezi, “um dos centros que avaliam o assunto é a respeitada Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. A física atual não consegue classificar a natureza dessa força, mas vários estudos indicam que se trata de energias eletromagnéticas de baixa frequência.".(6) Tiago escreveu: “toda boa dádiva e dom perfeito vêm do Alto”.(7) Sim, as energias magnéticas e a prática do bem podem admitir as expressões mais diferentes. Suas essências, contudo, são continuamente as mesmas diante do Soberano da Vida.
Os passes poderão ser espirituais, em função do magnetismo provindo de irmãos desencarnados que participam dos processos, e humanos, através do magnetismo animal do próprio passista encarnado. “A cura se opera mediante a substituição de uma molécula malsã por uma molécula sã. O poder curativo estará, pois, na razão direta da pureza da substância inoculada; mas depende, também, da energia, da vontade que, quanto maior for, tanto mais abundante emissão fluídica provocará e tanto maior força de penetração dará ao fluido.”.(8) É importante explicar, porém, que o tratamento espiritual através do passe, oferecido na Casa Espírita, não dispensa tratamento médico.
Infelizmente toda a beleza das lições espíritas, que provém da fé racional no poder das energias magnéticas pelo passe, desaparece ante as ginásticas pretensiosas e burlescas de tratamentos espirituais atualmente praticados em algumas instituições espíritas mal dirigidas. O passe não poderá, em tempo algum, ser aplicado com movimentos bruscos, utilizando-se malabarismos manuais, estalos de dedos, cânticos estranhos e, muito menos ainda, estando incorporado e, psicofonicamente, verbalizando “aconselhamentos” para o receptor. Isso não é prática espírita.
“O passe deverá sempre ser ministrado de modo silencioso, com simplicidade e naturalidade.”.(9) Na casa espírita não se admitem as encenações e gesticulações em que hoje se envolveram terapias esquisitas tais como apometrias, desobsessão por corrente magnética,“choques anímicos”, cristalterapias (poderes das pedras???), cromoterapias (poderes das cores???) e outras “terapias” mitológicas, geralmente atreladas a antigas correntes espiritualistas do Oriente ou de origem mística, ilusionista e feiticista. É sempre bom lembrar a tais adeptos fervorosos que todo o poder e toda a eficácia do passe genuinamente espírita dependem do espírito e não da matéria, da assistência espiritual do médium passista e não dele mesmo.
Por conseguinte, na aplicação do passe não se fazem necessários a gesticulação violenta, a respiração ofegante ou o bocejo contínuo, e que também não há necessidade de tocar o assistido. “A transmissão do passe dispensa qualquer recurso espetacular”.(10) As encenações preparatórias – “mãos erguidas ao alto e abertas, para suposta captação de fluidos pelo passista, mãos abertas sobre os joelhos, pelo paciente, para melhor assimilação fluídica, braços e pernas descruzados para não impedir a livre passagem dos fluidos, e assim por diante – só servem para ridicularizar o passe, o passista e o paciente.”.(11) A formação das chamadas “correntes” mediúnicas, com o ajuntamento de médiuns em torno do paciente, “as ‘correntes’ de mãos dadas ou de dedos se tocando sobre a mesa – condenadas por Kardec – nada mais são do que resíduos do mesmerismo do século XIX, inúteis, supersticiosos e ridicularizantes.”.(12)
O passe é prece, concentração e doação. “A oração é prodigioso banho de forças, tal a vigorosa corrente mental que atrai”.(13) Por ela, consegue o passista duas coisas importantes e que asseguram o êxito de sua tarefa: expulsar do próprio mundo interior os sombrios pensamentos remanescentes da atividade comum durante o dia de lutas materiais; Sorver do plano espiritual as substâncias renovadoras de que se repleta, a fim de conseguir operar com eficiência, a favor do próximo presente ou distante do local de sua aplicação.
Em que pese aos místicos que ainda não compreendem e criam confusões ao aplicarem o passe, reconhecemos que muitos encarnados e desencarnados são beneficiados por ele, pois sabemos que é manifestação do amor de Deus, esse sentimento sublime que abarca a todos e os alivia. Importa-nos lembrar, porém, um pensamento Xavieriano: o passe, tal como terapia, não modifica necessariamente as coisas, para nós, mas pode modificar-nos a nós em relação às coisas.

Jorge Hessen
http://aluznamente.com.br

Fujam dos Falsos Espíritas

Margarida Azevedo

Margarida Azevedo
Mem Martins, Sintra, Portugal


Porque perdidos em discursos fúteis, pregadores do vazio e da inconsequência, vivem enrodilhados no vaivém de ideias mesquinhas, desconfiados e hipócritas, desvirtuando a sublime Doutrina Espírita.

Dizem aceitar as outras doutrinas, mas soa a falso. Para eles só o Espiritismo tem a verdade, só os espíritas sabem o que se passa no além, só os Centros espíritas são dignos de serem chamados Casa de Deus.

Nada na Doutrina aponta para semelhante postura. A Verdade é Deus, a vida do além é abordada desde todos os tempos e o mundo inteiro é a Casa de Deus. O Espiritismo não inventou a verdade, não descobriu o além nem tão pouco a modo de o contactar, tal como não pode ter-se como o mais digno representante do Reino de Deus na Terra, fazendo dos Centros um espaço epifânico de curas e purificações.

O deus que defendem é um ser exclusivista, partidário, não o Deus de que Israel nos deu testemunho, o Deus dos profetas do Antigo Testamento e dos quais Jesus veio sedimentar e comentar os seus ensinamentos, acrescentando o papel do amor como a grande redenção, manifestação incondicional da fé. 

Mas não ficamos por aqui. Na sua habitual rejeição dos estudos bíblicos, defendem coisas que vão contra não só a Doutrina, como também os preceitos de Jesus, nomeadamente expressos em Mateus.

Não lhes bastando fazerem da Doutrina espírita uma doutrina do passado com fétidas referências às outras vidas como fonte de todos os males, o que a Codificação não defende, gastam-se a falar do fim do mundo, que está para breve.

Ora, isto é a maior heresia que se pode pronunciar, em termos espíritas. O Espiritismo não é uma doutrina apocalíptica, nem o será. 

Levados por teorias inconsequentes e mórbidas, às quais não tiveram força para se lhes impor, prova de que lhes são semelhantes, começaram por defender que o mundo iria acabar em 21 de Dezembro de 2012. Mas atenção, nesses espíritas não surge a palavra acabar mas sim transformar, cujo significado vem dar no mesmo. Nessa data deveria ter havido uma grande transformação em que os maus iriam definitivamente desaparecer, uma espécie de catarxis à escala mundial, uma coisa gigantesca; seria o fim de uma falsa civilização, aquela em que vivemos, por meio de um milagre ou um acto de mágica comandados pelos seres bonzinhos do além. Por outras palavras, esses seres viriam pôr fim às calamidades e aos sofrimentos, e a tudo o que demais existe e que seja considerado nocivo, por meio de um processo de “limpeza” espiritual, libertando os bons para sempre e recambiando os maus para as trevas. O livre curso da História iria ser alterado, tudo o que fazemos, pensamos ou projectamos seria destruído por meio dessas vontades aniquiladoras.

Não tendo consciência do facto, trata-se de uma versão grosseira da teoria do Céu, Inferno e Purgatório de algumas igrejas cristãs. O nosso trabalho, as nossas conquistas seriam destruídos, de nada valendo o que foi feito junto dos carenciados do alimento espiritual e material.

Porém, a teoria ridícula, de forte impacto nessas pessoas, depressa caiu, graças a Deus, sem que eles, no entanto, deem sinais de fraqueza. Uma nova teoria está a surgir, idêntica e pior nos seus fundamentos. É que, se a primeira apoiava-se em interpretações incorrectas da sabedoria Maia, muito digna de respeito, como qualquer outra, esta baseia-se, imagine-se, em assembleias, chamemos-lhe assim, de Entidades do nosso sistema solar que, em magnas reuniões, decidiram que em Julho do ano 2019 o planeta Terra será palco de grande transformação. Ora, ora, quem diria!

Como se tal não bastasse, para tornarem credíveis essas loucuras, afirmam que é Jesus Cristo, imagine-se, o mentor de semelhante enormidade. É Ele quem dirige essas sessões de grande gabarito. Da nossa parte, afirmamos peremptoriamente, não aceitamos, venha de onde vier, ditado seja por que Entidade for. O mundo acaba-se para os que morrem/desencarnam, e ponto final. Alguém salvará os corpos? Não! Pretendemos salvar os corpos? Também não. Todos iremos passar para o lado de lá um dia, é a única certeza de que dispomos. Como? Só Deus o sabe.“Preocupemo-nos antes em salvar os Espíritos, porque os corpos serão sempre lançados ao laboratório da Natureza onde se tornarão em pó, cinza e nada.” (Eduardo Fernandes de Matos, grande tribuno da Doutrina e homem de profundo espírito crítico, nosso professor de Espiritismo). 

Reuniões de Jesus com Mentores? Mas quem é que tem acesso a essas Entidades? Se não temos acesso a tão grandes Espíritos, como ter acesso às suas tarefas? Alguém pode dizer com certeza o que se passa na “agenda de Jesus”? 

Segundo aprendemos, Jesus afirmou que podem passar o céu e a terra, mas as suas palavras jamais passarão. Ora, Jesus, através dos Evangelhos, o que constitui para nós uma escritura sagrada, afirmou peremptoriamente: “Porém, daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas únicamente meu Pai.”(Mt 24: 36); “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há-de vir.”(Mt 25: 13).

Não há nada, absolutamente nada que para nós se sobreponha a isto. Eis a nossa Escritura Sagrada, ou parte ínfima dela. É isto que respeitamos acima de todas as coisas que por aí se escrevem e dizem.

Há quem afirme, veja-se, que as profecias são reveladas para não serem cumpridas. Mas o que é isto? O que é, então, uma profecia? Nós explicamos, quando o bailarino é fraco diz que é o chão que está torto. 

Fraternidade, sabedoria e amor são fáceis de pregar. Conquistá-los por meio de honestidade em todos os aspectos, humildade e empenho forte na modificação interior é difícil.

Materialismo, enganos imediatistas e ilusões são fáceis de abordar. Estudar criticamente, interrogar tudo, analisar passando ao crivo da razão e da fé, e partir sempre de máximas que tanto o Evangelho como a Codificação nos aconselham, é bem mais trabalhoso.

Só para refrescar alguns cérebros, nos quais nos incluímos como igualmente necessitados de relembrar a todo o momento, tomemos, além das citações supramencionadas, as seguintes advertências: 

“A concordância no ensinamento dos espíritos é, portanto, o melhor controlo, mas é preciso ainda que ocorra sob certas condições. A menos segura de todas é quando um médium interroga, ele próprio, vários espíritos sobre um ponto duvidoso.”( O Evangelho Segundo o Espiritismo, p.16.); 

“O Espiritismo e o Cristianismo ensinam a mesma coisa.”(idem, p.29) 

“Eis o que diz o Senhor dos exércitos: Não escuteis as palavras dos profetas que vos profetizam e que vos enganam. Eles relatam-vos as visões do seu coração, e não o que ouviram da boca do Senhor. Dizem àqueles que me blasfemam: O Senhor falou, a paz estará convosco; e a todos os que caminham na corrupção do seu coração: Não vos acontecerá mal algum. Mas quem, de entre eles, assistiu ao conselho do Senhor, quem viu e ouviu o que Ele disse?

Eu não enviei esses profetas, e eles correram por si mesmos; não lhes falei e eles profetizaram de suas cabeças.

Eu ouvi o que dizem esses profetas que profetizam a mentira em Meu nome, dizendo: Eu tive um sonho, eu tive um sonho. Até quando haverá essa fantasia no coração dos profetas que profetizam a mentira, e cujas profecias não são senão as seduções do seu coração?

E quando esse povo, ou um profeta, ou um sacerdote vos interroga e vos diz: Qual é o fardo do Senhor? Vós lhe direis: sois vós mesmos o fardo, e eu lançar-vos-ei para bem longe de mim, diz o Senhor.” (Jr 23:16-18, 21, 25-26, 33. Idem, p. 255).

E passando os olhos pelo Livro dos Espíritos, Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, itens VII, X, XII, XIII, XIV, Allan Kardec estava longe do que viria a passar-se quase dois séculos mais tarde.

A razão é tão falível como qualquer outra capacidade humana, há que ter cuidado com ela. Kant foi o filósofo da crítica da razão, advertindo-nos seriamente para o facto; a linguagem já não é um garante totalmente fiável da qualidade dos Espíritos. Entidades negativas usam linguagem elaborada. Por vezes, até surge o contrário, Entidades com uma linguagem simples e relativamente rude são desprezadas, basta que digam verdades difíceis de ouvir. A identificação de Espíritos das baixas falanges já não se faz pela explicitação dos nomes pois os encarnados, dominando esse critério, são eles que os simulam; em múltiplos casos são os encarnados que chamam aos Espíritos o que eles não são, e não o contrário. Quanto à caligrafia, os médiuns, nas suas obsessões e fascinações, sabem mudar de letra tantas vezes quantas as necessárias.

Todavia, perguntamos, vamos desprezar as advertências do séc. XIX? Não. Vamos alargá-las, dar-lhes continuidade, pois os tempos em que vivemos estão bem mais complexos.

Como denunciar as negatividades, e no caso em epígrafe, dos falsos espíritas? Pela resistência à crítica, pela recusa em dizer “eu não sei”, por aceitarem tarefas que não são para si, pelo desejo mórbido de comando, por muito falarem, pela ignorância dos seus discursos, pelo ridículo de certas práticas, tais como ir para o campo olhar o céu para estudar Astronomia com gente de áreas totalmente diferentes e recebendo psicografias ridículas em conformidade com semelhantes práticas, ou então imporem-se contra a Medicina, a Justiça e a Educação (só para citar alguns exemplos) negando-as, sem as conhecerem, impondo princípios moralistas ingénuos e inconsequentes. 

Os falsos espíritas vivem perdidos em leituras dos Espíritos trevosos, antíteses da Doutrina, fascinados por conhecimentos de nada, que não levam a nada, que são nada. Recusam-se a ler obras de outras doutrinas, recusam os cientistas bíblicos, teólogos e exegetas, que têm em fraca consideração. 

Os falsos espíritas são uma epidemia que não defende o estudo sério, nem a força da oração como a grande alavanca da alma. Alguém faz encontros de oração? Algum Centro, governado por eles, convida pessoas de fora, de fora da Doutrina, entenda-se, para dissertar sobre um tema bíblico? Os falsos espíritas ainda julgam que o campo doutrinário está dividido em ideologias, ainda não sabem que Ciência é tudo o que se estuda, desde a Literatura à Matemática, passando, obviamente, pela Bíblia e todos os livros sagrados da Humanidade. Eles ainda não sabem que as equipas de estudos teológicos são compostas por cientistas e estudiosos de todos os quadrantes, mesmo ateus. Eles não sabem que as grandes teses não têm cor ideológica e que o pesquisador, seja qual for a sua área, intelectualmente honesto, pretende chegar mais perto da verdade.

A maioria dos livros em que se movimentam está impregnada de sectarismo, divisionismo e falso amor. É certo que a obra de Kardec é o rosto de uma época, mas cabe-nos, justamente, prolongá-la. Como? Não tanto em conhecimentos, pois à rapidez a que o nosso mundo voa é muito difícil. Ela completa-se pela maturidade dos nossos comportamentos, pela vida mais fraterna, pela necessidade de viver uma irmandade de todos os homens e de todas as mulheres à face da terra. Não é de conhecimentos que nos distanciamos, mas no modo como os transmitimos, na escala de importância que lhes catalogamos. Por outras palavras, não é a Ciência, mas o modo como estamos nela

Já não estamos no tempo dos azuis e dos verdes. Os tempos são de aceitação de todas as cores pois é por meio delas que são floridos os jardins. Deus facultou-nos a diversidade. Assim sendo, cada um de nós é parte desse divino ao ser portador de uma tonalidade. 

E, por favor, não façam de Francisco Xavier o papa do Espiritismo. Criticam os católicos por defenderem a infalibilidade do papa, mas nem se dão conta de que estão a fazer o mesmo com Kardec e, principalmente, com F. C. Xavier. Não façam de Emmanuel uma Entidade tipo anjo Gabriel. Os falsos espíritas são os que adoram seres iguais a si, que idolatram. Sim, são eles que introduziram a idolatria no seio da Doutrina. Perfeito só Deus, esta a maior das máximas.

Na nossa prece, e porque a responsabilidade de falar ao mundo é enorme, pedimos-Te, Senhor, que nos dês a coragem para enfrentarmos os nossos erros, a humildade para os denunciarmos, a força para continuar a estudar. 

Jesus, tu que disseste que “Não é quem diz Senhor, Senhor que entra nos Reino dos Céus, mas quem faz a vontade do Pai”, ajuda-nos a conquistar a santidade, um coração puro e a traçar caminhos rectos e verdadeiros que nos conduzam a Deus.


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Bibliografia

KARDEC, A., O Livro dos Espíritos, CEPC, Lisboa, 1984, Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, itens VII, X, XII, XIII, XIV, pp. 39-42; 45-52.

__________O Evangelho Segundo o Espiritismo, Livros de Vida, Editores, 2002, pp. 16; 29; 255.

XAVIER, F.C., A Caminho da Luz, FEB, RJ, 1991, cap. XXIV, O Espiritismo e as grandes transições, pp.203 – 210.

domingo, 21 de abril de 2013

Interessante comentário sobre a Entrevista do Cesar Perri, presidente da FEB


         
Carlos Alberto
Carlos Alberto



Prezado Jorge 

          Em primeiro lugar, anoto que o Presidente Perri não deixou de enfrentar os questionamentos que lhe foram apresentados, com coragem e serenidade.

          Destaco como muito importantes a aproximação da FEB com os Espíritas, introduzindo decisões colegiadas e, em alguns casos precedidas de consultas a orgãos colegiados mais próximos de nós; o movimento de interiorização; a recolocação das associações de classes apenas em seu papel consultivo em temas específicos que lhes dizem respeito; a ampliação dos meios informáticos para a divulgação doutrinária; a revisão do ESDE, centrado nas Obras Básicas; os primeiros passos para baratear os eventos espíritas e a introdução do "vale-livro" como forma de financiar os custos dos eventos; os cursos à distância já disponíveis, e a promessa de ampliá-los; intensificação da divulgação das obras doutrinárias pela vias virtuais; a reafirmação pública da excelência das obras de Emannuel e André Luiz.

          É um homem experiente, com conhecimento da Doutrina e vivência do movimento espírita. Merece receber apoio e incentivos.

          Realmente torna-se muito difícil combater as volumosas obras ditas de conteúdos Espíritas por qualquer comentário específico da FEB, sem que não passe a ideia de Index Librorum Prohibitorumcomo disse o Presidente. Mas não creio que a FEB apenas silenciando em relação a essas obras e sugerindo as boas leituras esteja sendo proativa em relação ao problema. Podemos aprender com a velha, mas eficiente instituição católica: quando ideias estranhas começam a visitar o seu corpo interno, cuida de emitir encíclicas que abordam o tema, em tese, e reafirma sua posição em linguagem atualizada, como, por exemplo, a encíclica Fé e Razão de João Paulo II (provavelmente escrita pelo cardeal Ratzinger).

          A FEB não necessita atacar, mas quando detectar que pilares da Doutrina estão sendo comprometidos com determinadas divulgações, pode, também, em tese, emitir ostensivamente opinião sobre a matéria, clareando para todos o que nos revelaram os Espíritos Superiores. Ela poderia emitir em seu site e solicitar a replicação em todos os sites Espíritas que concordem com o que escreveu a respeito. Estaria utilizando de um canal legítimo e de grande alcance, principalmente para os Espíritas e iniciantes na Doutrina. Podemo conversar mais a respeito.

         Com a relação ao movimento de interiorização, creio que lhe assiste razão sobre a transição em curso da divulgação pelos processos tradicionais do meio impresso e pela ampliação paulatina dos meios informáticos. Numa comunidade como a do Amazonas, sem eletricidade, primeiro que chegue até ela o material doutrinário impresso; mas naquelas em que a Internet já está disponível, apenas fora do alcance por restrições de recursos monetários, haveria necessidade de auxílio mais direto em termos de custeio de equipamentos, pagamento dos sinais de acesso à Internet e treinamento. As formas em como isso pode ser executado são variadas: desde a ação direta da FEB; por intermédio da Federativa Estadual; das Associações Especializadas (que poderiam apadrinhar algumas das casas Espíritas realmente carentes, levantadas pela FEB); por meio do estímulo que Espíritas mais abonados assumam esse papel; pelo treinamento gratuito, em forma de voluntariado por Espíritas com conhecimento específico sobre a matéria, e por outros meios que irão surgindo à medida que se amplie a análise da situação. Não basta que a FEB apenas forneça, a partir de seu site, cursos à distância e acervo doutrinário para download. Sei que o problema não simples e de difícil equacionamento. Mas desafios existem para serem superados.

         Chamou também minha atenção que desloquemos a apreciação das obras mediúnicas para o exame do conteúdo, deixando o endeusamento do médium como avalista do conteúdo, seja ele quem for.

         O espírito das considerações que apresento não tem a pretensão de analisar o que  disse o Presidente, mas destacar pontos interessantes do falou.

         Em suma, foram positivas a inciativa do amigo Jorge e as respostas do Presidente Perri.

         Parabéns, amigo, pela inciativa. A divulgação da entrevista já é dos primeiros passos para clarear na comunidade espírita pontos importantes da Doutrina e do Movimento Espírita.


Comentário sobre a entrevista abaixo:



Luz na Mente entrevistou Cesar Perri, presidente da FEB

JORGE HESSEN

jorgehessen@gmail.com
Brasília-DF (Brasil)

Antonio César Perri de Carvalho



Antônio César Perri de Carvalho, presidente da Federação Espírita Brasileira, nasceu em Araçatuba (SP) e atualmente reside em Brasília (DF). Foi fundador de mocidade e de centro espírita, conselheiro e presidente da União Municipal Espírita de Araçatuba, diretor e presidente da USE  União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, secretário geral do Conselho Federativo Nacional e membro da Comissão Executiva do Conselho Espírita Internacional (CEI). Na entrevista que se segue, César Perri fala à  revista  A luz na Mente  sobre os desafios que enfrentará para coordenar o Movimento Espírita Brasileiro.

A Luz na Mente – Considerando a disseminação do Evangelho com as fundações de “igrejas”, visitas e, sobretudo, intercâmbios epistolares de Paulo de Tarso com os “chefes” dos núcleos cristãos, pode-se identificar, nos primórdios do Cristianismo, um movimento organizado para a Unificação dos postulados da Segunda Revelação?

Antônio Cesar Perri de Carvalho  Nós identificamos claramente, nos primeiros cristãos, um trabalho que nos serve de inspiração e que estamos estimulando presentemente. Guardadas as devidas proporções, acreditamos que haja semelhança entre o trabalho dos cristãos primitivos e o Espiritismo. A rigor, a Codificação Espírita tem pouco mais de cento e cinquenta anos e isso é um período de tempo muito curto. A Doutrina se apresenta como Cristianismo Redivivo e o Consolador Prometido, que restabeleceria a Verdade e ensinaria algumas coisas a mais. Dessa forma, percebemos que os trabalhos pioneiros dos cristãos nos servem de estímulos, sim!
Quando Paulo de Tarso reunia os interessados do Cristianismo para o estudo da mensagem de Jesus, considerando as condições da época, fazia visitas, estimulava o intercâmbio, levava orientação e praticava trabalhos mediúnicos. Observemos que na Carta aos Coríntios consta a necessidade de “ordem no culto”. Quando olhamos as necessidades dessa “ordem”, claramente é como se fosse orientação para prática mediúnica, certa disciplina. Ao final do trabalho, quando percebeu que não teria mais condições de visitar a todos, Paulo foi inspirado pelo Espírito Estevão para minutar as epístolas, ou seja, estimulou o contato próximo, direto; todavia também à distância. Identificamos aí a origem, vamos assim dizer, daquilo que hoje nós praticamos na imprensa espírita.
Essa era a razão predominante, o objetivo dele em ajudar, apoiar e orientar os primeiros agrupamentos cristãos, inclusive para a prática da caridade no verdadeiro sentido da palavra. Recordemos que existia entre eles muita solidariedade – dessa forma encontramos entre os primeiros cristãos as bases que inspiram o Movimento Espírita atual, com um detalhe fundamental: naquela época não existia hierarquia, não existia uma organização que preponderasse sobre outra; isso surgiu muito mais tardiamente, daí ser importante olharmos a vivência dos primeiros cristãos e verificarmos aquilo que aproveitamos como parte de reflexão e de orientação para o Movimento Espírita atual.

A Luz na Mente – Allan Kardec comenta no item 334, Cap. XXIX, do Livro dos Médiuns, que a formação do núcleo da grande família espírita um dia consorciaria todas as opiniões e uniria os homens por um único sentimento: o da fraternidade. Estaria aqui o Codificador formulando alguma programação doutrinária visando a unidade dos espíritas por intermédio de instituições colegiadas?

Antônio Cesar Perri de Carvalho  Allan Kardec trabalhou exatamente a ideia colegiada, e fala da fundamentação, do vínculo da fraternidade. Mas percebemos, igualmente, em “Obras Póstumas”, que ele nos orienta sobre o funcionamento das instituições. Anota sobre uma comissão não centralizada numa única pessoa e essa experiência que nos sugere foi uma ideia que serviu de referência para a atualidade. Notemos que a noção de presidencialismo, não só na questão político-partidária, como ocorre no Brasil, mas igualmente nas instituições espíritas, é um presidencialismo que às vezes excede o conceito do termo presidencialismo em si; muitas vezes chega a se confundir com o autoritarismo.
Allan Kardec chega a propor que as decisões institucionais sejam colegiadas; que se discuta, que se troquem ideias, e nós estamos vivenciando essa experiência aqui na FEB. Desde que assumimos primeiramente de forma interina em maio de 2012, e atualmente eleito, trabalhamos em conjunto com todos os diretores da FEB, fazendo reuniões com periodicidade muito curta e tratamos todos os assuntos e decidimos em nível de diretoria. Entendo que é uma experiência enriquecedora, facilita a tomada de decisões e evita, às vezes, determinadas tendências pessoais.

A Luz na Mente – Qual a diferença essencial entre Espiritismo e Movimento Espírita?

Antônio Cesar Perri de Carvalho  O Espiritismo é a doutrina propriamente dita, composta pelas Obras Básicas e as chamadas obras complementares, que mantêm coerência com a Codificação, ou seja, o Espiritismo é a mensagem e a proposta. O Movimento Espírita é a ação; é realizado pelos encarnados. De maneira muito objetiva, Allan Kardec registrou na obra "A Gênese", Capítulo I, que o Espiritismo é de origem divina em face da ação dos Espíritos. Contudo, a concretização doutrinária se faz através dos homens, contributo da participação dos encarnados. Leon Denis, da mesma forma anota que o Movimento Espírita é de responsabilidade dos seres encarnados. Do exposto, e com base na Doutrina Espírita, temos que partir para a ação, e isso se efetiva no dia a dia, por isso somos os responsáveis pelas opções e atos. A decisão de agir ou não é nossa, dos encarnados, então o Movimento Espírita compete aos encarnados.

A Luz na Mente – Os princípios institucionalizados da Unificação inibem o ideário da União espontânea entre os espíritas?

Antônio Cesar Perri de Carvalho  A rigor, não. Em 1949 foi definido através do Pacto Áureo um itinerário de ação, dando origem ao CFN – Conselho Federativo Nacional, que é composto pelas entidades federativas estaduais com base na obra de Allan Kardec. Hoje em dia, dentro do contexto da idéia de união e de unificação, podemos perfeitamente estabelecer propostas de união e de parceria entre várias instituições, somando esforços, e portanto não há necessidade, desde que haja propósitos comuns, de ficarmos na dependência de conceitos antigos de controles. Essa é a ideia.

A Luz na Mente – O Pacto Áureo ainda pode ser avaliado como o grande marco da Unificação?

Antônio Cesar Perri de Carvalho  Pode ser considerado, sim, pois ele é genérico. Ele define a obra de Allan Kardec e decide também com base na obra “Brasil Coração do Mundo”. Os membros do Pacto chegaram à conclusão que o livro Brasil do Mundo Pátria do Evangelho mostrava qual seria a missão do Espiritismo no Brasil e qual a missão espiritual do Brasil também. É esse o roteiro que ele oferece. O Pacto não entra em detalhamentos, mas fala da União e criou o Conselho Federativo Nacional. Para o CFN funcionar ele foi primeiramente introduzido no Estatuto da FEB. Com a instalação do CFN, a área federativa da FEB é corporificada com a ação do CFN – é importante que saibamos disso. Então o CFN é que traz a orientação geral e define planos para o Movimento Espírita Nacional. Esse Conselho é presidido pelo presidente da FEB, mas é integrado pelas representações dos 27 estados.

A Luz na Mente – Quais os grandes desafios vistos para o Movimento Espírita brasileiro?


Antônio Cesar Perri de Carvalho  Nós estamos vivendo vários desafios. A ideia de difundirmos o Espiritismo, na sua pureza, é um grande desafio, pois, como ficou claro, de várias orientações de Allan Kardec, sempre haveria alguma tendência natural de se valorizar pessoas, de se personalizar, e com isso, o que nós assistimos atualmente é que há uma diferença entre a proposta de Kardec e algumas práticas. Por exemplo, na Apresentação de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec explica que optou por não colocar o nome dos médiuns junto às mensagens e apenas colocou o nome dos Espíritos, a cidade e a data. Para Kardec era mais importante o conteúdo das mensagens do que o nome do médium. Infelizmente, notamos que hoje em dia muitas pessoas, antes de ler o texto, querem saber primeiro quem é o médium, ou seja, inverte-se a situação.
Urge buscar-se mais a coerência doutrinária e maior compatibilidade com a base da Codificação ao invés de ficarmos exaltando ou levantando fileiras em torno de médiuns A,B,C ou D, ou seja, temos que somar, independente de quem seja o médium, desde que a mensagem tenha coerência e esteja fundamentada nas obras de Kardec; esse é o grande desafio.

A Luz na Mente – Recentemente, um espírita latino-americano participou de um evento doutrinário realizado no Brasil, e o mesmo nos confidenciou que a coordenação do tal movimento “doutrinário” proíbe aos seus membros quaisquer contatos com espíritas não integrantes do grupo. Qual a sua opinião sobre esse procedimento de tais coordenadores?

Antônio Cesar Perri de Carvalho  Essa postura é lamentável, pois em primeiro lugar ela fere a Constituição brasileira sobre o direito de ir e vir, ou seja, nenhuma pessoa pode ser impedida de se manifestar ou transitar no país. Em segundo lugar, ela não é uma proposta respaldada no Espiritismo, porque a Doutrina respeita, com base em Jesus, as diversidades e distintas realidades das pessoas, então, se eventualmente um de nós tiver uma visão ou interpretação doutrinária diferente, não podemos impedir que outro tenha a oportunidade de dialogar, conversar ou manifestar opções; caso contrário, seria um retorno a um processo, de certa forma, inquisitorial.

A Luz na Mente – O modelo federativo foi idealizado por mentes superiores, não temos dúvidas. O crescimento do Espiritismo gera distorções e perda na qualidade da mensagem e da prática espírita – é fato – fenômeno sociologicamente explicável. Boa parte dos dirigentes de casas espíritas nem sempre valorizam as ações dos órgãos de Unificação, atribuindo- lhes caráter meramente administrativo, burocrático, com pouco sentido prático. Considerando a sua larga experiência doutrinária, seja como fundador de mocidade espírita, conselheiro e presidente da União Municipal Espírita de Araçatuba, membro fundador de centro espírita, diretor e presidente da USE (União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo) e por fim presidente da Federação Espírita Brasileira, quais as ações que pretende desenvolver para aproximar a FEB das casas Espíritas?

Antônio Cesar Perri de Carvalho  Reportarei a minha primeira experiência. Quando era muito jovem, assumi a presidência da União Municipal Espírita de Araçatuba – órgão da USE- São Paulo. Naquele momento batalhei contra essas dificuldades, porque o Movimento de Unificação era recente, tinha apenas 20 anos (pós Pacto Áureo). Nessas condições, havia uma certa confusão entre as lideranças espíritas, sobretudo de qual seria a função do órgão unificador. Alguns tinham receio de que seria um órgão controlador ou fiscalizador. Por outro lado, havia muitas pessoas (jovens) no Movimento de Unificação, que pensavam também assim, e ocorriam muitos conflitos.
As reuniões eram simplesmente administrativas, então quando assumimos a presidência da UMEA, dentro desse contexto, tornamos as reuniões minimamente administrativas e preponderantemente voltadas para diálogos, para as propostas de ação, juntando esforços, de tal modo que conseguimos descentralizar, fazendo as reuniões em rodízios pelos centros espíritas da cidade. Aproveitamos experiências para que elas se tornassem coletivas.
Essa a ideia que, guardadas as devidas dimensões, ainda seguimos, embora atualmente exista uma abrangência gigantesca e um grau de complexidade muito maior, mas mantivemos essa postura para tornar mais dinâmicas as reuniões do CFN. Vejamos, conseguimos suprimir a leitura de relatórios, e hoje as federativas encaminham um relatório por meio de um formulário eletrônico – transferimos para um DVD e distribuímos; desse modo utilizamos o espaço reunião para discutir planos de ação, e, assim avaliarmos situações que merecem discussão para o desenvolvimento  espírita. Entendemos que esse seja o melhor caminho.

A Luz na Mente – Considerando que as sandálias de nosso Mestre Jesus sempre estiveram próximas aos necessitados e sofridos, e especialmente junto a esses irmãos em humanidade que Ele nos ofereceu provas de amor insuperáveis, e considerando que sobre a FEB repousam muitas esperanças, mas também expectativas, como atuará para se aproximar dos pobres e pouco instruídos na educação formal, dado que representam significativo extrato da sociedade brasileira?

Antônio Cesar Perri de Carvalho  Essa é uma preocupação para a qual estamos procurando colocar a solução em prática. Há três anos consubstanciamos um projeto que se titulava “interiorização”, ou seja, estimulávamos a ação de representantes, diretores e colaboradores da FEB juntamente com uma federativa estadual para ir ao interior, não ficarmos só nas capitais. Assim, tive o prazer de conhecer duas cidades do interior do amazonas, uma delas viajando de barco durante duas horas, justamente para ter o contato com a realidade da base. Um desses centros que visitamos não possuía luz elétrica. A nossa participação à noite foi através do clarão de uma fogueira, porque para eles era uma ocasião especial, pois normalmente usavam a luz de velas.
Após essa experiência (interiorização), começamos outros projetos que seriam implementados, que são as ações integradas de acolhimento, consolo, esclarecimento e orientação no centro espírita, porquanto concluímos também que aquela ideia de departamento ou setor, ou seja, muita burocracia, não seria efetiva, até porque a grande maioria dos centros espíritas do Brasil são casas simples e pequenas, não tendo espaço nem condições para tais trâmites.
Assim, começamos a trabalhar em torno de um projeto, uma ação, um acolhimento junto a essas pessoas simples, além da ideia de valorizar os centros humildes, periféricos, pequenos, que às vezes não têm condições de manter os custos, mas podem perfeitamente seguir esses passos de acolhimento, consolo e orientação.
Nós estamos caminhando nesse sentido e aí recordo de um companheiro nosso que foi muito feliz na confecção de um cartaz com a imagem da formiguinha. Ele fez a comparação com a formiga e que nos remete a uma mensagem de Fenelon, no Cap. I do Evangelho Segundo o Espiritismo, onde o Espírito examina: “não são esses animálculos (formigas) que conseguem levantar o solo?” É a ideia do trabalho simples, mas persistente e em conjunto, isso que pretendemos disseminar.

A Luz na Mente  Suas palavras finais.
Antônio Cesar Perri de Carvalho – As nossas palavras finais são de sugestão aos espíritas para que aproveitemos o momento que nós estamos vivendo, que é o período, segundo Emmanuel, de aferição de valores, e é um momento bastante delicado e sensível, porque nós temos os compromissos individuais e compromissos coletivos, e com relação ao Movimento Espírita, é muito importante lembrar o nosso trabalho respaldado no propósito de União, de concórdia e de benevolência recíproca. Então é isso que deve animar a nossa atuação conjunta no Movimento Espírita