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segunda-feira, 30 de julho de 2018

ANESTESIA, DEUS E DOR HUMANA.

ANESTESIA, DEUS E DOR HUMANA.

Luiz  Carlos Formiga


 “Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento a obra das suas mãos”. (Salmo 19)

Anestesia, Dios y dolor humano
Anesthesia, God and human pain

Os nazistas invadiram a Áustria em 1938. Aprisionaram o médico em setembro de 1942. Viktor Frankl tinha um consultório de Neurologia e Psiquiatria em Viena. Somente em 27 de abril de 1945 foi libertado pelas tropas norte-americanas.
 No cárcere vivenciou sofrimento extenuante. Passou pelos campos de concentração de Auschwitz, Kaufering e Türkheim. Ele trabalhou em escavações, túneis e construções de ferrovias. Nas horas “de folga”, fazia análise psicológica de prisioneiros e carcereiros e escreveu um livro, que foi destruído pelo invasor.
Em liberdade, soube que sua irmã Stella sobrevivera, mas que sua mulher havia morrido em Auschwitz, com apenas 24 anos. Logo depois, escreveu seu livro “Em Busca de Sentido”.
O ser humano, não religioso, pode se adaptar e sobreviver em condições de vida “insuportáveis”. Hoje ainda estamos discutindo as razões da resistência destas “mentes brilhantes” e as vantagens de uma fé raciocinada.
Allan Kardec nos apresenta Deus como se apresentam os cientistas, através de seu Curriculum vitae. Por esta ótica, olhando com microscópio/telescópio Deus ganha desenvoltura e se afasta dos defeitos humanos. “A Inteligência Suprema nos criou à sua semelhança e nós pagamos na mesma moeda”.
Em Ciência depuramos variáveis para chegar à hipótese mais provável, aquela que melhor explica o fenômeno. Para discernir a origem do sofrimento deveremos incluir a “hipótese do absurdo” e aventar a possibilidade da opção pessoal e livre-arbítrio. Assim o indivíduo, depois do devido processo legal, ampla defesa e da sentença, no tribunal da consciência, escolheria a natureza do sofrimento.
Os dois exemplos que se seguem foram colhidos através da prática mediúnica. O primeiro foi de um cego que pediu a medicação da sombra, para curar antigos desvarios da visão; o segundo foi a rogativa do espírito que reencarnou e se tornou leproso, implorando do Céu a vestimenta de feridas, como remédio purificador da personalidade transviada do verdadeiro bem. Sobre essas leis e penas rigorosas, o Codificador da Doutrina Espírita fez a pergunta 796 de “O Livro dos Espíritos”. A severidade das leis penais não é uma necessidade, no estado atual da sociedade?
 “A compreensão do sofrimento está associada à evolução da própria humanidade, assim como a concepção pessoal de Deus.” Estamos considerando o exame da evolução através da técnica antropológica. O desenvolvimento cultural da humanidade, no seu pensar, sentir e agir.
Seu horizonte cultural é caracterizado pelo meio físico e social no qual ocorreu uma fase do psiquismo humano. No estágio de homem primitivo, aquele onde não existia a noção da própria natureza, ele não poderia cogitar do “quem sou”? “O que estou fazendo no aqui e agora” Nessa fase vamos encontrar um Deus na “terceira idade”, de cabelos brancos.  Respeitar o ser, o embrião, ainda não é deste momento.
Mesmo mais evoluído, o homem civilizado, ainda fará confusão entre o humano e o divino, fundindo-se a Religião e o Estado. Há a construção de impérios teológicos. Passamos pela fase dos dogmas, a autocracia e a ditadura religiosa. A intolerância e a opressão do Estado se fazem presentes.
Emerge no homem a fase da razão, o homem científico, e também a abertura político-religiosa. A partir de então parece ocorrer uma fase de aceleração evolutiva. A revelação cai  como única forma de se obter conhecimento sobre a natureza. Apesar de toda a opressão político-religiosa e intolerância, o homem adquire a capacidade de formular conceitos abstratos, juízos éticos e princípios jurídicos. A fé é forçada a encarar a razão face a face.
Com Galileu, surge o método científico. Depois de 1800 surgem revoluções como a industrial, onde os músculos são substituídos pelas máquinas, há o domínio das técnicas e o descobrimento da eletricidade. Numa segunda revolução industrial o cérebro é substituído pelo computador. Estamos de posse de novos conhecimentos na Biologia, como o DNA; na Física, como a energia nuclear.
Nos anos 2000 encontramos a revolução da Informação. A era do conhecimento surge para ampliar conquistas admiráveis. Fala-se em Robótica, Biotecnologia, Astrofísica e Internet.
No entanto, o homem continua sem norte diante dos desafios econômico, social e moral, sem apoio da educação dos sentimentos, havendo desequilíbrio entre o pensar, o sentir e o agir.
Hoje há imperiosa necessidade do autoconhecimento, pois a mente que conseguiu fazer quase tudo, não conseguiu conhecer a si mesma. A revolução da informação nos traz a realidade da imortalidade da alma e da reencarnação; traz a noção de um Deus, Justo e Bom.  
Podemos perceber que quanto maiores se tornam as inteligências, cognitiva,  emocional e espiritual, maior também se apresenta a distância entre o Deus dos universos e aquele feito à imagem humana.
Com Viktor Frankl podemos dizer que para encontrar o sentido da vida e do sofrimento não é necessário adquirir a certeza do fadista: “foi Deus que deu luz aos olhos, perfumou as rosas, deu ouro ao sol  e prata ao luar. Foi Ele que colocou as estrelas no céu, fez o espaço sem fim, deu o luto as andorinhas, fez poeta o rouxinol e deu as flores à primavera.”
Mesmo sem Deus podemos enfrentar a dor na alma, mas tudo se torna mais fácil quando sabemos que “foi Deus que deu voz ao vento.” Enfatizamos que viver em condições de sofrimento é encontrar sentido na dor.
Viktor Frankl diz que quando todos os objetivos da vida estão desfeitos, ao homem resta somente uma liberdade: a capacidade de escolher a atitude pessoal que assumirá diante das circunstâncias que o envolvem. Pode ainda exemplificar a capacidade humana de se erguer acima do seu destino, por mais adverso que seja e construir uma vida digna e honrada. Vida esta que dê significado e contribua a benefício de outras vidas.
Os imediatistas e/ou materialistas podem discordar. No livro Relicário de Luz, no decálogo do Serviço Espiritual, encontramos recomendação do Espírito André Luiz: “Se esperas realização nobre, não olvides o trabalho incessante, a persistência no bem, o estudo edificante, a sementeira benéfica e o serviço desinteressado aos semelhantes.”
Viktor realizou trabalho incessante, mesmo nos campos de concentração, e não esqueceu a persistência no bem. Antes de ser preso, recusou-se a realizar a eutanásia, imposta pelos opressores aos “seus” doentes mentais.
“Muitas vezes nos perguntamos como pode haver materialistas quando, tendo passado pelo mundo espiritual, deveriam ter deste mundo a intuição: ora, é precisamente essa intuição que é recusada a alguns Espíritos que, conservando o orgulho, não se arrependeram de suas faltas. Para esses tais, a prova consiste na aquisição, durante a vida corporal e à custa do próprio raciocínio, da prova da existência de Deus e da vida futura que eles têm, por assim dizer, incessantemente sob os olhos. Sofrem eles a pena até que, domado o orgulho, se rendem à evidência.”
Entre o Céu e a Terra surgem eventos difíceis de explicar. Parece impossível compreender os desígnios do Deus utilizando as possibilidades limitadas da mente humana. É como se a mente não pudesse conter, em seu copo, a água do oceano, como a minúscula semente mágica retém a informação genética. No entanto a esperança permanece, quando, vencendo o orgulho, a mente humana percebe a existência da árvore.
Diante das dores pessoas religiosas e/ou espiritualizadas parecem possuir vantagens, como Leda Amaral, Jerônimo Mendonça e Marcondinho.
Leda, depois de perder a visão e a sensibilidade nos dedos ocasionada pela “Lepra”, lia em Braille, com a ponta da língua. Jerônimo Mendonça foi um gigante deitado. Marcondinho, que quando estava encarnado foi acometido pela cegueira e apresentava os os membros superiores e inferiores atrofiados, agora como espírito rolou pelo estúdio de TV, para demonstrar a imortalidade da alma através da mediunidade do próprio entrevistado.
Outro exemplo, como o de Viktor Frankl, é o daquele homem que viu carrascos  metralharem a família e, mesmo assim, fez opção pelo amor.
Sua explicação merece reflexão: “supliquei para morrer com a minha família, mas porque falasse alemão eles me colocaram num grupo de trabalho. Eu era advogado, minha prática, com frequência me havia mostrado o que o ódio podia fazer às pessoas de corpo e mente.  Meus olhos viram o que nenhuma pessoa devia presenciar. Assim, fiz a opção pelo amor, a tudo e a todos que eu viesse encontrar na vida..”
A pesquisa científica encontraria a anestesia se Deus desejasse a dor? Como explicar a espiritualidade influenciando no desenvolvimento da resiliência?

Leitura adicional.
1. Um Ateu. Livro “O Céu e o Inferno”, 2° Parte Exemplos – Capítulo V. Suicidas. Página 312, 33° edição. Do 233° ao 252° milheiro. Tradução de Manuel J. Quintão. 1985.
2.  Seria eu, por acaso, um Espírito?
3.  Drogas, mediunidade, inteligências e Chico Xavier
4.  Tudo passa
5.  Leda Amaral. Na ponta da língua.
6. Jerônimo Mendonça
7. Marcondinho. Céu - propriedade particular

domingo, 29 de julho de 2018

Ainda sobre tatuagens e piercings, mas “nem tudo convém” (Jorge Hessen)


Ainda sobre tatuagens e piercings, mas “nem tudo convém” (Jorge Hessen)


Jorge Hessen

As pessoas que fizeram tatuagem precisam esperar um ano para doar sangue. De acordo com o Ministério da Saúde, esse prazo é necessário porque a pessoa pode ter contraído algum vírus na hora da tatuagem. Esse vírus será contraído por quem receber esse sangue. Para quem colocou piercing, a proibição é ainda maior. Segundo explica o gerente do ciclo do doador hemocentro de Brasília, Rodolfo Duarte. A lei pede 12 meses de inaptidão para o candidato que tiver feito uma tatuagem ou tenha colocado um piercing, desde que não seja um piercing em região de mucosa, seja ela mucosa oral ou mucosa genital. [1]
A partir do momento da retirada dos piercings da região de mucosa, a pessoa teria que ficar 12 meses sem doar sangue, mas enquanto usar vai ficar indefinidamente inapto para doação. Segundo o Ministério da Saúde, quem quer doar sangue, mas tem tatuagem ou piercing, deve ser sincero e falar a verdade, pois do contrário poderá prejudicar a saúde de quem receber a doação, em vez de ajudar.[2]
Médicos pesquisadores norte-americanos associam a tatuagem (arte corporal) à hepatite e como importante agente cancerígeno do fígado. Considerando que na pesquisa não houve relatos de casos de infestação bacteriana ou viral vinculados a estúdios de tatuagens profissionais nos Estados Unidos, os estudiosos recomendam que as pessoas apenas façam tatuagens ou coloquem piercings com profissionais habilitados. [3]
O que é tatuagem? É a introdução de pigmentos [4] insolúveis, coloridos ou não, sob a pele. As granulações microscópicas formam imagens, desenhos e palavras, permanecendo definitivamente na camada subcutânea. Para infiltração dos pigmentos são utilizados instrumentos pontiagudos especiais na epiderme. Durante o procedimento, a pele é perfurada de 80 a 150 vezes por segundo para a introjeção das substâncias [5], processo esse que pode representar perigo de contaminações, e dentre os riscos relacionados, apontados em pesquisas, incluem-se reações alérgicas, HIV, hepatite B e C, infecção de fungos e bactérias, além de outros riscos associados até mesmo com a excisão (remoção) das tatuagens.
Estas, por si mesmas, já são razões respeitáveis para se evitar a tatuagem e o piercing. Mas será que o uso de piercings e tatuagens sobrepujam qualidades morais? Quem pode penetrar na intimidade do semelhante e saber o que ali ocorre? É categoricamente certo que uma tatuagem não transformará o tatuado em pessoa boa ou má; apesar disso, após a sua desencarnação, não há qualquer garantia que assegure a condição mental de paz ou desdita nas dimensões extrafísicas. Cada caso é um caso.
Perante questões controversas, as recomendações espíritas buscam na intimidade do ser o seu real problema. Convidam ao autoconhecimento e ao estágio do autoaprimoramento. Sugere a sensatez, a boa autoestima, a altivez, o comedimento e a busca incessante do amor. Nas estruturas dos códigos espíritas não há espaços para proibições.
A Doutrina dos Espíritos nos oferece subsídios para ponderação, a fim de que decidamos prudentemente sobre o que, como, quando e onde fazer ou deixar de fazer (livre-escolha). O Espiritismo é uma ferramenta, uma filosofia de vida que se aceita ou não. É uma doutrina que não condena nem absolve ninguém.
Somos livres para podermos opinar, mas não nos cabe criticar, julgar ou condenar ninguém. Cada um tem inscrita na sua consciência as leis divinas e a responsabilidade dos próprios atos. Essencialmente sabemos o que é certo e o que é errado, e agimos conforme nosso livre arbítrio. De resto vamos tentando acertar se permanecermos inclinados a isso.
Sob o ponto de vista da saúde espiritual, não percebemos vigilância no uso de tatuagens na epiderme, especialmente se a lesão imposta ao próprio corpo for por mero capricho ou vaidade. Nesse caso, refletirá invariavelmente no perispírito, porque sendo o corpo físico um empréstimo divino para nossas provações, devemos mantê-lo dignamente protegido e saudável. Lembremos que o corpo físico é o templo do Espírito e não nos pertence, portanto, temos a obrigação de preservá-lo contra agressões que possam lesar e ou mutilar a sua composição natural.
"Tudo me é permitido, mas nem tudo convém”.[6]
Pensemos nisso!

Referências:
[4]            Os pigmentos têm origem mineral
[5]            Atualmente são utilizadas máquinas elétricas. Elas são compostas de uma ponteira de aço inox cirúrgico e/ou descartáveis. Avisam os especialistas que essas ponteiras devem ser limpas por ultrassom e esterilizadas com estufa durante 3 horas, pelo menos, a uma temperatura maior ou igual a 170 ºC.
[6]            1 Coríntios 6:12

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Divulgamos corretamente a Doutrina Espírita?


Vladimir Alexei 

Vladimir Alexei 
Belo Horizonte, das Minas Gerais 
26 de julho de 2018. 

A vida tem nos ensinado o momento de teorizar e o momento de agir. Leon Denis, em sua vasta e profunda obra, dizia, em outras palavras, que as Universidades estimulam mais a dúvida do que a certeza. Do ponto de vista acadêmico, a dúvida é saudável porque pode ser um estímulo a pesquisas estruturadas. Já para o espírito, os índices de depressão nos cursos de pós-graduação não deixam dúvidas de que as dúvidas são, em alguns momentos, prejudiciais à saúde mental de muitos. 
A busca pelo conhecimento é algo instigante. A doutrina espírita é responsável por muitos diplomas acadêmicos e por algum grau de instrução de muitas pessoas espalhadas pelo Brasil. Aprendemos com a Doutrina Espírita a desenvolver o gosto pelo estudo, de tanto que as pessoas diziam isso nas casas espíritas. Fazem até hoje, porém, com algumas diferenças. 
Quando jovens, nosso desejo de aprender a doutrina era o de nos tornarmos seres humanos melhores, agregando conteúdos que pudessem elucidar nossas dúvidas e inseguranças, ainda que isso exigisse um alto grau de adaptação da nossa parte. 
O tempo passou e aquela geração passou a “professorar” a doutrina espírita, aprofundando discussões importantíssimas, que se tornaram vazias ante as transformações do mundo. Somos da época em que era moderno apresentar estudos em “retroprojetores”, passando “lâminas” com um cuidado extremo para que a lâmpada do aparelho não queimasse por ser caríssima. 
Deixamos as lâminas, ganhamos praticidade, mas a profundidade doutrinária perdeu-se para apresentações rebuscadas, músicas melodramáticas e histórias que sensibilizam, despertam corações, tornam-nos ávidos pelo conhecimento, e ele não vem. Por que não vem? 
Porque passou a ser mais importante divulgar a doutrina do que vive-la. Embora, seja claro, muito claro para todos, que vive-la é de acordo com o aprendizado de cada um. Existem espíritas que arrepiam quando começamos a falar algo que sugere alguma correção comportamental ou moral. Isso, moral e comportamento, é de cada um. Não cabe a nenhum espírita corrigir posturas de ninguém, a não ser a própria postura, quando em contato com a doutrina. E nessa onda de “certo ou errado”, cada um tem feito a doutrina espírita que lhe convém, na hora de divulgar. 
Seria correto agirmos dessa forma? Há alguma outra maneira para fazermos melhor e diferente? A dúvida ainda persiste porque, em termos filosóficos, tudo existe de acordo com a lei de causa e efeito, e se não gostamos dos efeitos vistos na sociedade em geral e nas casas espíritas em particular, é porque a causa deixou a desejar. Exageros nas interpretações, ausências de interpretações, pensar o pensamento dos outros, não ter uma compreensão mais clara daquilo que lhe compete, enfim, reproduzir aquilo que ouviu como se fosse uma verdade absoluta, fomentam interpretações equivocadas. É apenas uma, dentre várias interpretações para o momento tão árido que vivemos no meio espírita. 
Falar em “inovação” na casa espírita é o mesmo que extrair das furnas umbralinas um obsessor, abrindo-lhe as portas para conosco contribuir na casa espírita. É visto com reservas por parte dos dirigentes que, inseguros, recorrem aos médiuns influenciáveis com as inseguranças dos dirigentes que, por sua vez, são assessorados por espíritos que comungam do mesmo pensamento e ditam mensagens carinhosas, amorosas, mas também pautadas pelo receio ao novo, corroborando com a dúvida. O novo causa resistência mesmo e nem tudo que é novo é melhor. Esse é o preço que se paga pelo estudo: saber analisar cada caso, de acordo com os parâmetros doutrinários que possuímos. Não obstante o nível de esclarecimento dos espíritas e a cultura larga em relação a outros pensamentos religiosos e filosóficos, os parâmetros doutrinários que nos dão segurança para tomar decisões passam pelo trabalho desenvolvido por Allan Kardec. E quando comentamos isso, não atribuímos infalibilidade a ele e sim, segurança metodológica. 
Kardec na atualidade é badalado como se fosse uma celebridade. E não é. Foi um homem de ciência, que pavimentou um caminho que percorremos com a escuridão que ainda habita em nós. Vamos desvendando à medida em que fazemos luz ante os nossos passos, com erros, muitos erros, que redundam em aprendizado e esse aprendizado capacita-nos ao próximo passo. 
Por fim, usar o nome de Allan Kardec para defender pensamentos personalistas não seria a melhor maneira de divulgar corretamente a doutrina. É preciso usar a doutrina espírita para pensar feridas, fortalecer videiras incipientes, ajuntar joelhos combalidos, levantar a cerviz dos que choram, escravos de um mundo egoísta e doente. Humildade e caridade.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

AS LUZES DA RIBALTA

AS LUZES DA RIBALTA


            Margarida Azevedo
Portugal

            Lindas e ofuscantes, atractivas e avassaladoras, a luzes da ribalta invadiram a cena religiosa conferindo um lugar ao sol aos seus líderes no cenário político das sociedades do século XXI. Vão longe os tempos da manipulação ideológica. Hoje vai-se mais longe. Já não é pelo medo do fogo do inferno, dos pecados mortais, do castigo implacável.
            Hoje fala-se de verdade, transparência,  liberdade, direitos e deveres dos leigos entupindo-os com falsas promessas. Não há melhor forma de garantir o sucesso que introduzir no discurso uma réstia de segredo revelado, verdades que supostamente permaneceram ocultas durante séculos, tornarem-se, perigosamente, manipuladas e acessíveis a todas as mentes.
            Por outro lado, não há religião que não queira ser reconhecida pelos políticos, não há orador que pretenda o anonimato. Isso significaria não ter nome na congregação, perder-se no emaranhado, embora tão complexo quanto perigoso, dos discursos manipuladores do que poderíamos chamar”sociologia religiosa”.
            Falsamente aceitando as verdades da Ciência, outros combatendo-as ferozmente, introduzem a juventude na resistência ao discurso científico, impondo-se por uma fé árida e oca. Mercê de uma vida em franco retrocesso econónico, as famílias desesperadas e o cenário de pobreza a aumentar,  sem falar das questões ecológicas, as religiões, quais empresas lucrativas, continuam, na sua maioria,  a prometer o céu ou o paraíso no outro mundo, numa irracionalidade sem tréguas.
            Noções como razão, vida, morte, mundo, eternidade, etc. são facilmente remetidas para Deus como o tubo de escape da ignorância. Assim, os discursos bem formulados, cheios de técnica de oratória, seguida a rigor pelos líderes religiosos, são facilmente aplaudidos pelos fiéis. Estes, adormecidos e acríticos, pensam ter a salvação garantida, tão simplesmente porque negaram a Ciência como um dos alicerces da nossa existência.
            Não contentes com isso, se tomarmos como exemplo o Espiritismo, criam-se denominações tais como “ciência espírita, filosofia espírita”, como se houvesse átomos espíritas, células espíritas, gripe espírita, automóveis espíritas.
            Esses oradores são os vip das organizações religiosas, de tal forma que, se é necessário angariar fundos para obras ou remodelações, eles são os convidados de honra porque se sabe que, de antemão, a sala vai estar cheia e o sucesso garantido.
            Ora  enquanto o religioso não tomar o seu devido lugar, que é ajudar os fiéis no seu caminho espiritual, facto que começa na educação, que significa, antes de tudo, escola da tolerância, está salvaguardado o ateísmo religioso.
            Se perguntarmos para que serve a religião, responder-se-á, e muito bem, para garantir alguma coisa. Ninguém está numa religião se esta não lhe der nada, não disser nada, não lhe conferir alguma estabilidade naquilo que a pessoa mais precisa. Mas o que acontece é isso? Cada um responda por si.
            A religião-espectáculo está a invadir o cenário religioso o que, numa amálgma de gente, se o orador não tiver bom-senso, pode, à rapidez do relâmpago, criar fanáticos prontos a fazer tudo o que lhes disser.
            O perigoso quanto apreciado dom de palavra do oraddor é meio caminho andado para que este se torne um líder bem sucedido, não sem que se tenha em conta o conteúdo do discurso. Considerado como um génio, uma voz de Deus, um profeta ele pode dizer o que quizer.
            Acredito que, um dia, ter-se-á a religião como o encontro fraterno de todos os viventes à face da Terra, humanos e não humanos, baseado na tolerância e onde não haverá importantes porque todos os seres trazem consigo um manancial grandioso da centelha divina.
            Unidos, acima de tudo, pelo muito amor ao próximo e ao planeta, amá-los-ão verdadeiramente, e Deus deixará de ser algo que pensa por nós, castigador implacável, em nome do qual grandes crimes se cometem, mas a fonte de onde jorra a paz universal, um referencial do lado inexplicável da vida.
            A vaidade do brilho envernizado dos belos discursos dará lugar à oração universal de louvor e glória a Deus. A fé deixará de ser um espectáculo, ou motivo de divisão, e passará a ser caminho de humildade.
            Quando as organizações religiosas deixarem de ter gente importante e influente virar-se-ão para o humano no seu caminhar vertical, rumo a um mundo que só Deus sabe qual é.
            Por enquanto, pequenos grupos fazem uma autêntica travessia no deserto, no anonimato, fiéis às suas convicções pacifistas e aos desígnios de Deus. Eles existem em todas as religiões? É possível. Na impossibilidade de as conhecer a todas, e dando voz ao optimismo da fé num Deus salvífico e Pai, não queremos duvidar que seja verdade.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Ninguém tem a obrigação de ser espírita e sequer demorar-se nos grupos kardecianos. (Jorge Hessen)

Ninguém tem a obrigação de ser espírita e sequer demorar-se nos grupos kardecianos. (Jorge Hessen)

Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com

Conhecemos centros “espíritas” brasiliense, que elegem como “mentores (as)” os espíritos saturados de atavismos psicológicos do tipo – “pai fulano”, “vovó sicrana”, “vovô beltrano” e correlatos. Nada mais incoerente! Não há como comparar tais “entes” com os espíritos que se apresentam como “ex-padres” e “ex-freiras” do ponto de vista da Codificação Espírita. [1]
Sabemos que no além-túmulo, o espírito não tem raça, portanto não é amarelo, nem vermelho, nem negro, nem branco, não obstante possa apresentar no seu perispírito distinções de alguma casta, idade, se ainda assim se sentir, devido à sua limitação moral e intelectual e ou se assim o apetecer. Como sucedeu numa das reuniões realizadas na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, em que Allan Kardec dialogou com um Espírito de um “velhinho” (Pai César), aliás, exclusivo episódio do gênero referido em toda a Codificação.
Será que há alguma coerência um “vovô”, uma “vovó”, um(a) preto(a) velho(a), ser mentor(a) espiritual de uma instituição cujo estatuto normatize a obrigatoriedade dos estudos das obras básicas? Obviamente não, sobretudo, se tais entidades evidenciarem insuficiente cultura, pouca evolução espiritual, linguajar primário, argumentos místicos e tolos, raciocínios lento e exigirem serem chamados de “vovô”, “vovó”, “preta ou preto velho”.
As comunicações de tais entidades havidas como “mentores espirituais” de uma instituição espírita  resultam da autossugestão mediúnica, do incabível animismo, das ciladas psicológicas e das emperradas mistificações. Não são poucos os obsessores que fingem ser tais entidades e imitam linguajar (de entes de “terreiros”) com o objetivo de iludir e manter sob hipnose os espíritas inábeis.
Nas sessões mediúnicas que administro há mais de 40 anos, se ocasionalmente ocorrer manifestação de tais espíritos (“pais”, “vós”, “vôs”, “pretas ou pretos velhos”, caboclos e análogos), se acolhidos pelo diretor espiritual da sessão, tais espíritos serão orientados adequadamente. Não haverá intolerância ou preconceito contra eles. Mas, analisaremos atentamente sua natureza e o conteúdo de suas comunicações, como fazemos com espíritos de qualquer procedência que se manifeste no grupo.
Na verdade,  tais espíritos, para se comunicarem no grupo mediúnico , não têm necessidades e nem precisam de convite para o uso de linguajar bizarro, incompreensível aos médiuns e aos participantes da reunião. Se tais entidades se apresentam com atavismos da encarnação de ex-escravos, “velhos ou novos”, índios etc. buscamos orientá-los sob a luz do Espiritismo, a fim de que se libertem desses ranços atávicos.
Assim, buscamos esclarecê-los quanto à sua real natureza de espíritos em evolução. Por isso, durante a doutrinação esforçamo-nos para lhes lembrar que já reencarnaram diversas vezes em diferentes condições e, portanto, têm patrimônio espiritual mais vasto, portanto , não necessitam permanecerem quais pássaros presos numa gaiola, alimentando um padrão mental de ingênuos seres algemados ao passado.
Há os que usam sutis subterfúgios, dizendo que se apresentam assim porque tal ou qual encarnação lhes foi muito grata por lhes haver permitido adquirir “virtudes”, especialmente a “humildade” e daí seu desejo em exemplificar. É evidente que esse argumento é capcioso, pois quem conquistou a virtude da humildade não nutre nenhuma necessidade de exibir e ou adotar trejeitos de falsas modéstias.
Algumas pessoas supõem que pretos-velhos, índios e caboclos e semelhados sejam quais empregados domésticos para lhes atenderem aos pedidos caprichosos. Outras acreditam que tais espíritos  tenham poderes misteriosos, capazes de resolver de modo feiticeiro os problemas dos consulentes. Parecem também julgá-los subornáveis, já que aceitariam agir em troca de algum “pagamento” ou “compensação”.
Quando não mais houver estímulos para essas exibições atávica nas instituições espíritas,  tais espíritos deixarão de se apresentar como “pai”, “mãe”, “vermelhos”, “pretos”, “amarelos”, “velhinhos”, “criancinhas”, “selvagens” etc. etc. etc. e passarão a se comunicar em seu modo próprio e natural de ser.
Muitos entendem que os “vovôs”, “vovós”, “caboclos” e “pretos-velhos” e “entidades orientais” são mais enérgicos e fortes. Creem que as proteções que os Espíritos comuns não obtêm os tais mandingueiros conseguem. Nada é mais burlesco!
Não estamos afirmando aqui que o Espiritismo seja uma doutrina melhor do que as outras. Porém, se abraçamos os princípios espíritas como regra de conduta devemos nos comportar consoante recomenda o Espiritismo. Todavia, se ainda temos carência das entidades (“fortes”) repletas de atavismos, busquemos seus espaços de ação (um terreiro por exemplo) e sejamos felizes! Até porque, ninguém tem a obrigação de ser espírita e sequer demorar-se nos grupos kardecianos.
O que não podemos é misturar as coisas. Cada um no seu espaço em plena liberdade de escolha.
Pensemos, nisso!
Referência:
[1] Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Ft7_VJ-hCKg  acesso 13 de julho de 2018

sábado, 14 de julho de 2018

CURTO-CIRCUITO COGNITIVO-ESPIRITUAL

CURTO-CIRCUITO COGNITIVO-ESPIRITUAL

Luiz Carlos Formiga

Jorge Andréa, médico-psiquiatra diz que existem três variedades de inteligência que, apesar de se apresentarem em seus degraus, correspondem a um só bloco com uma única origem espiritual. Assim, uma linha horizontal representaria o coeficiente de inteligência (QI), a posição mais simples de pequeno desenvolvimento.
A partir da década de 90 do século XX, nasce a chamada inteligência emocional, o denominado QE, podendo ser representado por linha oblíqua, de modo a traduzir um grau mais avançado de inteligência. Uma linha vertical representaria o mais expressivo grau de inteligência, a espiritual, o QS. Nesta, as ligações neuronais alcançariam posições bastante complexas, com ativa participação da base cerebral, zona do conhecido lobo límbico.
Este modelo mais aparelhado engloba todos os graus de inteligência, com pensamentos ordenados, participando das criações psicológicas em que a intuição representa a mola mestra do processo. (1)
E os fetos anencéfalos?
Estatisticamente, 75% deles já nascem mortos e os que sobrevivem tem uma expectativa extrauterina em torno de 48 horas. Se há dúvidas sobre o diagnóstico, é possível que abortos sejam autorizados para casos que não são de anencefalia. É importante comparar o caso do anencéfalo com outras situações, mas que não autorizam  a decretação da morte do paciente. A vida humana não pode ser relativizada com base em critério subjetivo e arbitrário. Havendo vida e vida humana, atributo do feto e bebe anencéfalo, se está diante de um valor jurídico fundante e inegociável.
Independentemente das características que assuma, a vida vale por si mesma mais do que qualquer bem humano supremo.  A dignidade está presente no ser humano que esteja vivo, ainda que sofra de doença terminal ou esteja potencialmente causando sofrimento a outro ser humano. Cabe referir que um corpo pode existir sem alma, não sendo homem mas massa de carne sem inteligência. Que é a alma? A resposta no “Livro dos Espíritos” diz que é “um espírito encarnado”. Mas, que era a alma antes de se unir ao corpo? “Um Espírito”.
Depois dos anos 2000 surge a revolução da informação, para ampliar conquistas admiráveis. Hoje há imperiosa necessidade do autoconhecimento. Essa revolução nos traz a realidade da imortalidade da alma e da reencarnação. Quanto mais desenvolvidas as inteligências, cognitiva,  emocional e principalmente espiritual, maior a distância entre o Deus dos universos e aquele feito à imagem humana. (2)
Diante do feto, de vida breve, pode-se dizer que para encontrar o sentido dessa vida, e do sofrimento, não é necessário adquirir a certeza do fadista: “foi Deus que deu luz aos olhos, perfumou as rosas, deu ouro ao sol  e prata ao luar.” (3) Mesmo sem Deus podemos enfrentar a dor na alma, mas tudo se torna mais fácil quando sabemos que foi Ele que deu voz ao vento.
Enfatizamos que viver em condições de sofrimento é encontrar sentido na dor.
Diz Allan Kardec: "às penas que o espírito experimenta na vida espiritual ajuntam-se as da vida corpórea, que são consequentes às imperfeições do homem, às suas paixões, ao mal uso de suas faculdades e à expiação de presentes e passadas faltas."
Emmanuel comenta, no Livro Justiça Divina, psicografado por Chico Xavier  - “O caluniador está sentenciado à repressão da própria língua,  o ofensor está sentenciado ao ferrete da consciência, o criminoso está sentenciado a carregar consigo o padecimento das próprias vítimas.
Sentenciados, sim! A vida, porém, não nos suplicia pelo prazer de atormentar. À face de nossa destinação à suprema felicidade, estamos intimados ao bem, impelidos ao progresso, endereçados à educação e policiados pela justiça. Cada conta exige resgate proporcional aos débitos assumidos, com o remorso de quebra.”
Nesta hora de eleição, vamos lembrar o Ministro Cezar Peluso e seus argumentos em favor da vida intrauterina. Ele é quem diz: “a natureza não tortura.” (4)
Diante de um feto teratológico há dor na alma. O sofrimento psíquico é inerente à vida humana, mas não é coisa que lhe degrade a dignidade. O crime de aborto pressupõe gravidez em curso e que o feto esteja vivo.   
O ordenamento jurídico reconhece o indivíduo ainda no seio materno como sujeito de direito, enquanto portador de vida. Ele não é uma coisa, e não sendo, também, objeto de direito alheio, a mãe não tem poder jurídico de disposição sobre o filho anencéfalo!
A alegação de que a morte possa ocorrer no máximo algumas horas após o parto em nada altera a conclusão segundo a qual, atestada a existência de vida em certo momento, nenhuma consideração futura é forte o bastante para justificar-lhe deliberada interrupção. De outro modo, seria lícito sacrificar igualmente o anencéfalo recém-nascido e ainda com vida.
Uma mulher tem o direito de levar a termo uma gestação com uma criança seriamente afetada, mesmo quando isso representa uma carga financeira e social imensa para toda a sociedade. A ausência de perfeição ou potência, embora tenda a acarretar a morte nas primeiras semanas, meses ou anos de vida, não é empecilho ético nem jurídico ao curso natural da gestação, pois a dignidade imanente à condição de ser humano não se degrada nem se decompõe só porque seu cérebro apresenta formação incompleta. 
O doente de qualquer idade, portador de enfermidade incurável, de cunho degenerativo, em estado terminal, sofre e também causa sofrimento, mas não pode, por isso, ser executado. Na ínfima possibilidade de sobrevida, na sua baixa qualidade ou na efêmera duração pressuposta, o argumento para ceifa-la por impulso defensivo, por economia ou por falsa piedade, é insustentável à luz da ordem constitucional que declara, sobreleva e assegura valor supremo à vida humana. Pergunta o Ministro: como infringir a pena de morte ao incapaz de pressentir a agressão e de esboçar qualquer defesa?  Por outro lado, se desumanizarmos o embrião, aí sim, poderemos adormecer consciências.
A mesma pessoa que argumenta contra o aborto, em defesa da vida intrauterina, pode ser encontrada entre os que apoiam governos materialistas, adeptos da “morte in útero”, através do voto e nas redes sociais. Como explicar a incoerência?
Tenho na minha família um refém “em curto”. Ele me lembra o estado psicológico encontrado na síndrome de Estocolmo, pois está apaixonado pelo seu político populista-sequestrador.
Em relação à cultura da morte, entre nós, um dos primeiros atos foi assinatura do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, onde há o compromisso de legalizar o aborto no Brasil. Em Abril de 2005, foi apresentado à ONU um documento com o compromisso de  legalizar o aborto durante aquele mandato presidencial.
A descriminalização do aborto seria diretriz do programa de governo inclusive  para um segundo mandato. Em setembro de 2009, foram condenados, por infração contra a Ética Partidária, dois deputados federais, da base aliada, por terem se posicionado contra o aborto.
Em junho de 2012, o governo declara que o sistema de saúde acolheria mulheres que desejassem fazer aborto e as orientaria na utilização correta dos métodos. O argumento foi que é crime praticar o próprio aborto, mas não é crime orientar uma mulher na sua realização.
No ano seguinte, 01 de agosto, foi sancionada a Lei 12.845. Que 2013! Que agosto! Que desgosto! (5)
Candidatos a cargos eletivos se camuflam e, como cordeiros paz e amor, podem subir ao monte da autoridade e do poder, porém, enganam o povo e o esquecem depois. São tiranos disfarçados em condutores envenenando a alma da multidão.
Um político influente questionou: “somos uma seita, guiada por uma pretensa divindade, onde quem fala a verdade é punido e os erros e ilegalidades são varridos para debaixo do tapete?”
 Podemos encontrar políticos adeptos de “uma seita que navega no terreno pantanoso do sucesso sem crítica, do poder sem limites, onde a corrupção, os desvios, as disfunções que se acumulam são apenas detalhes”. Nestas condições de “religiosidade sequestrada” acontece o “curto-circuito cognitivo-afetivo-espiritual”, um colapso imprevisto no funcionamento mental, que pode provocar problemas, quando “nada parece importar, nem mesmo o erro de eleger e reeleger um mau governo”. (6)
A esperança é a última que morre, mas tudo parece não ter solução. Já comentamos sobre a desesperança anteriormente. (7)
Quem canta seus males espanta!
Fiquemos então com o churrasco e o bom samba brasileiro.
Já não se pode esperar nem mesmo acreditar no que eles todos disseram, irmão. E não se pode pensar que alguém vem nos salvar e nos dar o teto e pão. Morrem pessoas lá fora a cada dia que passa aumenta a fumaça e o povo bebe a cachaça, tentando esquecer a sua opinião.
Ficam as pessoas aflitas sem direção passando fome e a preguiça cedendo ao dragão.
Tudo passa. Tudo fica sem solução. (8)

Leia mais
2.   Anestesia, Deus e Dor Humana. Artigo a ser publicado no dia 29 de julho de 2018. Revista “O Consolador”. http://www.oconsolador.com.br/ano12/575/especial.html

terça-feira, 10 de julho de 2018

Os gêmeos ante o afeto e a hostilidade na família (Jorge Hessen)


Os gêmeos ante o afeto e a hostilidade na família (Jorge Hessen)

Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com
A gestação de um novo filho na família é a possibilidade do reencontro de seres de vivências passadas no contexto do lar. Reencontro que se inicia no programa pré-existencial reencarnatório, planejado nos departamentos do além-túmulo. Nessa conjuntura há uma união tão intensa entre pais e reencarnante que o nascituro sabe, antes mesmo de renascer, se será acolhido ou rejeitado.
No caso de filhos gêmeos, são situações especiais que sempre despertam a atenção, tanto de cientistas como de espiritualistas. Várias teorias já foram sugeridas a fim de explicar os mecanismos determinantes da gemelaridade. Fatores ambientais e genéticos foram descritos como predisponentes a essa circunstância obstétrica. Todavia existem causas mais transcendes.
Analisemos uma programação para dois ou mais Espíritos reencarnarem na mesma família, considerando o risco de impedimento de gestação no porvir, considerando a vinda de um de cada vez, nesta hipótese, pode ser que a espiritualidade apresse a vinda de mais de um espírito unidos simultaneamente.
Suponhamos uma reprodução assistida mediante fertilização in vitro convencional ou injeção intracitoplasmática de espermatozóides. Ninguém consegue garantir que tais procedimentos possam ser reproduzidos com sucesso em longos intervalos. Ora, se existe a probabilidade de imediata gestação de mais de uma criança, deve-se valer da oportunidade, a fim de favorecer a reencarnação simultânea dos espíritos. Nesses casos, cremos que os técnicos reencarnacionistas do além-tumba agem de modo a antecipar o renascimento de dois ou mais Espíritos, considerando a incerteza de uma segunda gravidez; daí sobrevêm os gêmeos implantados em laboratórios.
Na verdade, a gravidez de gêmeos proporciona a chance de espíritos simpáticos reencarnarem juntos por identidade de sentimentos, além de servir como oportunidade de reconciliação de seres rivais. Frequentemente os gêmeos são espíritos que foram unidos em várias reencarnações. São amigos e possuem muita afinidade; entretanto, há exceções, nalguns casos  em que os irmãos revelam a aversão mútua.
Os gêmeos podem ser espíritos afins ligados não só por seus laços de sangue, mas por uma extensa história de convivência espiritual como encarnados ou desencarnados, para uma convivência compulsória. Obviamente a matriz da afinidade entre dois irmãos, sobretudo se gêmeos, advém de Espíritos simpáticos que se aproximam por analogia de sentimentos e se sentem felizes por estarem juntos.
Mas se os gêmeos podem ter semelhança de caráter, podem também serem antipáticos, pois cada um é um mundo à parte, cada qual com os seus pendores. Portanto, não é de regra que sejam simpáticos os Espíritos dos gêmeos. Acontece que Espíritos adversários entendam de lutar juntos no palco da vida.
Assim, podem ser Espíritos inimigos que se reencontram na formação biológica, visando que se processe o perdão com mais eficiência, fato que não correu com os gêmeos Esaú e Jacó, netos de Abraão, que exibiam forte antagonismo recíproco, possivelmente também fruto de graves conflitos em vidas passadas que não ficaram resolvidos enquanto reencarnados.
Por essas razões devemos aprimorar, sem esmorecimento, as relações diretas e indiretas com os pais, irmãos, tios, primos e demais parentes nas lutas do mundo, a fim de que a vida não venha a nos cobrar novas e mais enérgicas experiências em encarnações próximas.
A estrutura familiar tem suas matrizes na esfera espiritual. Em seus vínculos, juntam-se todos aqueles que se comprometeram no além a desenvolver na Terra uma tarefa construtiva de fraternidade real e definitiva.
A família é uma reunião espiritual no tempo, e por isso mesmo o lar é um santuário. Muitas vezes, mormente na Terra, vários de seus componentes se afastam da sintonia com os mais altos objetivos da vida.
Preponderam na família os elos do amor, fundidos nas experiências de outras eras. Todavia, como se observa hoje em dia, no clã familiar acorrem igualmente os ódios e as perseguições do pretérito obscuro, que devem ser transformados em solidariedade fraternal, com vistas ao futuro. Até porque, quando a família é ameaçada pela desunião doméstica, por qualquer razão, a sociedade perde a direção da harmonia e da paz.

terça-feira, 3 de julho de 2018

O pecado da permanência



 
Jane Maiolo
Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, e sois redarguidos pela lei como transgressores.  Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos. [1]

A palavra pecado no hebraico e no grego comum significa "errar", no sentido de  não atingir um alvo, ideal ou padrão. Na acepção bíblica denota qualquer ato, sentimento ou pensamento que viola a Lei de Deus , ou seja , pecar é “falhar” ou  transgredir os Códigos dos estatutos divinos.
Bem provável que nós seres espirituais em constante aprendizado na matéria densa já experienciamos inúmeras situações onde a “falha” era nossa marca registrada.
A transgressão à lei de amor tem nos feito cativos , recalcitrantes e vagarosos.
O Espiritismo surge em nossa existência como farol a iluminar os caminhos que percorremos. É bem verdade que antes do conhecimento do Espiritismo não era tão consciente e nítida nossa condição de espíritos imortais e responsáveis pelos atos perante a eternidade. Beneficiados pela Terceira Revelação somos compelidos a adotar novos rumos de entendimento , sempre atentos à  afirmativa do apóstolo Tiago :  “Portanto, se alguém sabe fazer o que é certo e ainda assim não o faz, está pecando.” [2]
É bem verdade que por decorrência dessas inobservâncias e “falhas” acumulamos débitos , muitas vezes impagáveis, contudo por misericórdia divina  realinharemo-nos com as propostas de evolução que nenhum de nós conseguiremos fugir.
Pelas nossas transgressões à lei divina, intoxicamo-nos de ideias malsãs, comportamentos duvidosos e geramos frutos do dissabor. Adoecemos, pois o corpo mental não suporta a vibração e sintonia constante do mal.
Somos seres completos e complexos. Entre o espírito e o corpo físico existe o corpo psicossomático (períspirito) dotado de um campo magnético definido por André Luiz como túnica eletromagnética. Tal Benfeitor   revelou a singularidade da vida no mundo espiritual, através da psicografia de Francisco Candido Xavier. Esse corpo sutil, quintessenciado é capaz de captar as ondas do pensamento, agregá-las, irradiá-las e emanar os fluidos pertencentes à sua identidade espiritual. Esclarece o autor de “Nosso Lar” que “todos os seres vivos (...) dos mais rudimentares aos mais complexos se revestem de um halo energético que lhes corresponde à natureza(…) Nas reentrâncias e ligações sutis dessa túnica eletromagnética de que o homem se entraja, circula o pensamento, colorindo-a com as vibrações e imagens de que se constitui, aí exibindo, em primeira mão, as solicitações e os quadros que improvisa, antes de irradiá-los no rumo dos objetos e das metas que demanda.” [3]
A mente, essa incógnita para a ciência humana, verdadeiramente deve ser conhecida, explorada, apreendida e meditada. As “falhas” que temos cometido por imaturidade , insensatez , invigilância, ignorância ou simplesmente por maldade tendem a conspurcar essa túnica eletromagnética ,que Jesus afirmou ser o traje nupcial necessário para permanecer na esferas mais elevadas do mundo espiritual.
As anomalias psíquicas estão cada vez mais frequentes e passamos achar que é normal aquilo que antanho conceituamos anormal. Agredimos o semelhante, dissimulamos situações, corrompemos os sentimentos, caluniamos contra o próximo e tantas outras insanidades prepetramos ao longo do tempo. Portanto, cometemos “pecados”.
O homem do século XXI enfermou moralmente. “Falhou”. Transgrediu. “Pecou”. Não que dantes estivesse incólume ao “pecado”, mais porque a ignorância, de certa forma atenuava, suas responsabilidades. Evoluímos. Sentimos. Expressamos.
O corpo doente é o reflexo do estado mórbido do ser espiritual. As doenças psicossomáticas nascem da obstinação da ira , do rancor , do ressentimento, da mágoa ,do orgulho, da presunção , dentre tantos outros vícios morais que impregnamos na intimidade.
O padrão mental que adotamos é capaz de alterar nossas estruturas mais íntimas a ponto de perturbar as células físicas e culminar em  doenças instaladas no corpo físico  pelo desiquilíbrio psicoemocional e energético.
O adoecer psíquico é o mais grave problema do ser imortal, visto que macula sua identidade espiritual conduzindo-o pelos caminhos da culpa,  levando-o  a experienciar  angústias , medos , inseguranças, que nada mais são que consequências correspondentes às “falhas morais” ante os ditames dos códigos do BEM.
Importante lembrar que ao estagiar nessas estações de aprendizagem o espírito pode adotar, se assim o desejar, uma nova  postura mental e compreender que haverá  enormes esforços a serem empregados para realinhar-se ao que é bom , saudável e divino. Pois se a mente em desequilibrio é capaz de fazer-nos adoecer , é preciso aceitar racionalmente que a mente sã é capaz de gerar saúde em nós. É como diz o adágio: Mens sana in corpore sano ("uma mente num corpo são") é uma célebre frase latina, proveniente da obra Sátira X do poeta romano Juvenal.
Ensinariam os nobres amigos da erraticidade:  “A espiritualidade vem demostrando a relação da mente com o sistema imunológico afirmando que ideias enobrecedoras levam a fixações positivas, com a formação de substâncias defensivas vindas do pensamento, com o aumento da imunoglobulinas” [4].que são as defesas do soro sanguineo.
A Doutrina Espírita vem lançar luzes sobre esses pontos nevrálgicos e nos ensina a buscar horizontes e fixar de maneira educativa nossa mente em paisagens mais esperançosas. É possível nos tranformar.
Busquemo-nos a renovação mental através da lei de justiça ,amor  e caridade e viveremos saudáveis  invariavelmente  identificados com as leis de Deus.

Referências bibliográficas:
[1]Tiago 2:9
[2]Tiago 4:17
[3] XAVIER, Francisco Cândido. Evolução em dois mundos- cap.17- primeira parte- ditado pelo espírito André Luiz –  Brasília /DF:  Ed FEB.
[4] Franco, Divaldo Pereira; Outros; Albuquerque, Alcione; Paulo, Jaider Rodrigues de – Livro: Das Patologias aos Transtornos Espirituais- AMEMG-  pág, 78.1ª edição .BH. editora INEDE, 2006.

*Jane Maiolo – É professora de Ensino Fundamental, formada em Letras e pós-graduada em Psicopedagogia. Colaboradora da Sociedade Espírita Allan Kardec de Jales/SP. Pesquisadora do Evangelho de Jesus. Colaboradora da Agenda Brasil Espírita- Jornal O Rebate /Macaé /RJ – Jornal Folha da Região de Araçatuba/SP –Blog do Bruno Tavares Recife/PE-Apresentadora do Programa Sementes do Evangelho da Rede Amigo Espírita. janemaiolo@bol.com.br -