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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Os Dois Fundamentos (Mateus, 07:24-27)

Arnaldo Rocha

Aqueles que minhas palavras
Ouvem e lhe dão atenção
São como homens prudentes
Que sobre a rocha edificarão;

E descerão as chuvas,
E as torrentes virão,
E soprarão os ventos;
Porém, suas casas não cairão.

Mas aqueles que minhas palavras
Ouvem e não lhe dão atenção
São como homens néscios
Que sobre a areia construirão;

E descerão as chuvas,
E as torrentes virão,
E soprarão os ventos,
E, decerto, suas casas se tombarão.

E grande será a ruína... 
Assim, disse o Mestre Jesus
Para aqueles que quisessem
Seguir a verdade e a luz...

"Que queres conosco, Filho de Deus?



Jane Maiolo (*)



Então, disse aos seus discípulos: A seara é realmente grande, mas poucos os ceifeiros Rogai, pois, ao Senhor da seara, que mande ceifeiros para a sua seara. [2]

Aos primeiros dias do ano 30 a cidade de Jerusalém recebia a visita de um ilustre desconhecido galileu,Jesus,o chamado Cristo.[3]


Aqueles, como hoje,eram dias difíceis de subjugação, exploração, desvalorização da criatura humana e saturada violência.


Nesse painel conflituoso chega o Mestre,o nosso Modelo e Guia ,para apresentar Deus-Pai, iluminar consciências, consolar aos aflitos de todos os jaez e mostrar o caminho para retornar ao aprisco divino.A feição de imã, que possui campo magnético específico Jesus atraia e atrai à todos quer pelo consolo que proporciona, para a simples satisfação da curiosidade , ou para a cura do corpo físico.


Na sua grandeza espiritual não prescindiu e não prescinde da colaboração dos humildes pescadores,coletores de impostos, comerciantes e mulheres, dando-nos a generosa lição que toda a obra de edificação no Bem requer o espírito de colaboração dos seus seareiros, cadastrando todos os homens de boa vontade á Seara Divina.


 E confirmou tal convite e tarefa 18 séculos depois na obra da codificação kardequiana (Allan Kardec) ‘ O Evangelho Segundo o Espíritismo’ [4]cujo título ‘Os Obreiros do Senhor’ nos traz a seguinte convocação: “Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra”, porquanto o Senhor lhes dirá: “Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra!” Mas, ai daqueles que, por efeito das suas dissensões, houverem retardado a hora da colheita, pois a tempestade virá e eles serão levados no turbilhão!”


A seara do Mestre é o campo da vida , no qual todos nós somos chamados a laborar, mas raríssimos são aqueles que suportam e enfrentam os temporais conflituosos do campo de ação , seja na vida íntima ou na vida social.Talvez por está razão que o trabalhador do Cristo é constantemente assediado pelas forças constrangedoras da consciências empedermidas temporariamente no clima do mal e na faixa vibratória da ociosidade.Influência ainda possível devido a operarmos em sintonia moral indesejável.


Não resta a menor dúvida de que o Cristo aguarda nossa singela cooperação na Seara bendita dos afazeres espirituais, sociais e morais .Ainda há muito o que fazer, há muito que evangelizar,há muito a não temer, há muito que nos desvendar e conhecer.Porém ,há muito que aperfeiçoarmos em nível de sentimentos superiores.


O Movimento Espírita é a Seara imensa solicitando trabalhadores simples, justos e comprometidos com a mensagem libertadora do Evangelho.


O salário de cada um será o valor da consciência tranquila pelo dever cumprido.A responsabilidade da tarefa ainda assusta os pequeninos seareiros que estão na colheita pela própria regeneração.


Estamos presenciando o final de um ciclo na Humanidade e bem aventurados aqueles que atendem o apelo do Alto para o trabalho renovador sem prejudicar a obra.Sem dúvida somos espíritos em condição evolutiva mediana ,mais podemos ser seareiros fiéis a mensagem do Grande Seareiro como nos indica Eric Stanislas no livro ‘O Céu e Inferno’ no capítulo 3[5]:


“Ah! irmãos, quanto bem por toda parte,quantos doces pensamentos elevados e simples como vós, como a vossa Doutrina, estais chamados a semear na longa rota que tendes a percorrer; mas, também, quanto tudo isso vos será tributado antes mesmo do momento em que vós a isso teries direitos!”


Aos primeiros dias do ano 2015 Jesus continua aguardando o cadastro dos seus pequeninos seareiros .E inadvertidos, questionamos: "Que queres conosco, Filho de Deus? 

Referências Bibliográficas
:

[1]Mateus 8:29
[2]Mateus 9:37-38
[3] XAVIER, Francisco Cândido. Boa Nova, ditado pelo Espírito Humberto de Campos, cap. 03, RJ: Ed FEB, 1990
[4]KARDEC, Allan Kardec. O evangelho segundo o espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 3ª edição .FEB. Rio de Janeiro, 2007. Cap.XX, item 5.
[5] KARDEC, Allan Kardec.O Céu e Inferno.Tradução de Salvador Gentile,6ª Edição.Araras/SP,1934


  

*Jane Maiolo – É professora de Ensino Fundamental, formada em Letras e pós-graduada em Psicopedagogia. Dirigente da USE Intermunicipal de Jales. Colaboradora da Sociedade Espírita Allan Kardec de Jales. Pesquisadora do Evangelho de Jesus. Colaboradora da Agenda Brasil Espírita- Jornal O rebate /Macaé /RJ – Jornal Folha da Região de Araçatuba/SP Blog do Bruno Tavavres Recife/PE-Apresentadora do Programa Sementes do Evangelho da Rede Amigo Espírita. janemaiolo@bol.com.br -

O “outro” e “eu” (*)


Antonio Cesar Perri de Carvalho


Há uns tempos ouvi um interlocutor relatando as críticas que faziam a um conhecido dele. Depois de ouvi-las opinou que o personagem montado pelas críticas nada tinha a haver com a pessoa que ele também conhecia. 

Esse fato nos veio à mente ao acompanharmos, recentemente, uma entrevista no programa “Roda Viva” (TV Cultura) com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que, atendendo à pergunta sobre as continuadas críticas que recebeu dos governos que o sucederam, comentou que ao analisar as informações verificou que em realidade haviam criado um outro “personagem”. E agora o tempo passou… 

O episódio remete a registro do conhecido poeta e escritor argentino Jorge Luís Borges, ao escrever o conto: “Borges y yo”, incluído no livro O fazedor: 

“Ao outro, a Borges, é a quem as coisas acontecem. Eu caminho por Buenos Aires e me demoro, acaso já mecanicamente, para olhar para o arco de um vestíbulo e porta interna; de Borges tenho notícias pelo correio e vejo seu nome em uma lista de professores ou num dicionário biográfico”. Comenta as diferenças que ele sente entre o Borges que divulgam e ele próprio. Ao final, encerra o conto: “Eu não sei qual dos dois escreve esta página”. 

Realmente, além das críticas há também certos endeusamentos. Por ocasião das evocações do cinquentenário de suas tarefas mediúnicas, Chico Xavier respondeu a uma entrevista: “Sou sempre um Chico Xavier lutando para criar um Chico Xavier renovado em Jesus e, pelo que vejo, está muito longe de aparecer como espero e preciso…”1 

A resposta de Chico Xavier é muito coerente com sua maneira simples de ser e também com a assertiva de seu orientador espiritual: 

“Sem dúvida, estamos muito longe, infinitamente muito longe da perfeição… Cabe, porém, a nós, aprendizes do Evangelho, a obrigação de confrontar-nos hoje com o que éramos ontem e, a nosso ver, feito isso, cada um de nós pode, sem pretensão parafrasear as palavras do apóstolo Paulo, nos versículos 9 e 10, do capítulo 15, de sua Primeira Epístola aos Coríntios: – ‘Dos servidores do Senhor, sei que sou o menor e o mais endividado perante a Lei, mas com a graça de Deus sou o que sou…”2 

Evidente que os relatos em pauta devem merecer reflexões e pautadas na questão 621 de O livro dos espíritos: “Onde está escrita a lei de Deus? – Na consciência”, e, também em O evangelho segundo o espiritismo (Cap. VI. Item 8): “O sentimento do dever cumprido vos dará o repouso do Espírito e a resignação”. 

Porém frente às provocações e insinuações – típicas do mundo em que vivemos -, vale a reflexão com base em comentário de Emmanuel: 

"Se muitos companheiros estão vigiando os teus gestos procurando o ponto fraco para criticarem, outros muitos estão fixando ansiosamente o caminho em que surgirás, conduzindo até eles a migalha do socorro de que necessitam para sobreviver. É impossível não saibas quais deles formam o grupo de trabalho em que Jesus te espera".3

Bibliografia:

1.      Carvalho, Antonio Cesar Perri. O homem e a obra. Cap. Cinquentenário de mediunidade. Ed.USE.
2.      Xavier, Francisco Cândido. Benção de paz. Cap.1. Ed. GEEM.
3.      Xavier, Francisco Cândido. Material de construção. Cap. Crítica e Serviço. Ed. IDEAL.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

JESUS, ESPIRITISMO E AS OPERÁRIAS DIVINAS DO CRIADOR (Jorge Hessen)


Jorge Hessen

A primeira das congregações cristãs surgiu na Galileia, e era composta principalmente de mulheres simples, do povo. Tais sustentáculos do Evangelho socorriam os mendigos, pedintes, coxos, aleijados. Na crise do Calvário, as mulheres galileias tiveram posição destacada ao pé da cruz. A “Casa do caminho” contou com a colaboração fundamental delas. Portanto, elas não foram simples coadjuvantes das passagens que marcaram os tempos apostólicos. Foram as testemunhas de momentos-chave daqueles tempos em que as mulheres eram tratadas como seres de “segunda classe”, porém o Cristo as tratava com respeito incondicional. 

No primeiro prodígio público do Mestre , nas bodas de Caná, é descrita a pujante fé exercida por Maria de Nazaré ao instruir os servos a obedecerem ao seu Filho amado: “Fazei tudo quanto Ele vos disser”. [1] Logo, as talhas de água foram enchidas, e o Senhor transformou a água em vinho atendendo ao pedido de ajuda de Maria para servir aos convidados do casamento. 

Junto à mulher de Samaria o Mestre comprova sua reverência a todas as mulheres, sem distinção de nacionalidade ou formação religiosa. Após marchar sob um sol causticante, o divino Carpinteiro parou para descansar e abater a sede. Iniciou uma conversa com aquela samaritana à beira do poço de Jacó e solicitou um pouco d’água. Gradualmente, ao longo da conversa, a samaritana assumiu um testemunho da divindade daquele homem, primeiro chamando-o “judeu”, depois de “Senhor”, então “profeta” e por fim de “Messias”. Ressalte-se que os judeus consideravam os samaritanos mais abomináveis do que quaisquer outros gentios e evitavam ter contato social com eles. Além do mais , nessa ocorrência, o Divino Rabi além de abandonar as tradições judaicas declarou pela primeira vez para a mulher que era o Cristo.[2]. 

O excelso Galileu informou que tinha a “água viva” [3]e os que bebessem dela jamais teriam sede. Assombrada, a samaritana fez outras indagações. O príncipe da Paz , então , revelou a desventura dela e seu atual relacionamento “impuro”. Embora ela pudesse ter-se sentido envergonhada, percebeu, porém, que Jesus lhe falou com benignidade, porquanto respondeu, absorta: “Senhor, vejo que és profeta”.[4] Ela, então, deixando o pote de água foi até a cidade e anunciou: “Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Porventura não é este o Cristo?” [5] 

Jesus sempre atento às mulheres conhecia os detalhes da vida delas. Além disso, Ele as respeitava independentemente da condição moral de cada uma. Tal como ocorreu noutro episódio com a mulher adúltera. Embora os escribas e fariseus persistissem em provocar Jesus e a humilhar a adúltera, o Mestre, por compaixão da mulher caída, lançou a sentença aos acusadores: Aquele que de entre vós estiver sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela. [6]. Condenando-se a si mesmos, os acusadores, um a um, afastaram-se humilhados, deixando apenas a frágil mulher diante do Governador da Terra que perguntou-lhe: “Onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela disse: Ninguém, Senhor!. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais” [7].

Como observamos Jesus tratava as mulheres com compaixão e respeito, a despeito das suas histórias. Noutro episódio demonstrou empatia consolando a convertida de Magdala quando a encontrou em lágrimas no jardim do sepulcro. Narra o evangelista: “No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu a pedra tirada do sepulcro” [8]. Ao ver que a pedra havia sido removida, Maria correu para procurar ajuda e para alertar os apóstolos de que o corpo de Jesus desaparecera. Ela encontrou Pedro e João, que correram ao sepulcro e somente encontraram as roupas de sepultamento. Então, os dois apóstolos partiram, deixando Maria sozinha no jardim da sepultura.

Madalena estava chorando no jardim que ficava junto à catacumba: a ideia de não saber o que havia acontecido com o corpo do Crucificado pode tê-la deixado desolada. Embora o Mestre lhe tenha aparecido e falado com ela, a princípio ela não O reconheceu. Mas então “disse-lhe Jesus: Maria!” [9] neste instante algo fez com que ela soubesse que se tratava de Filho de Deus. O reconhecimento foi instantâneo. Seus olhos em lágrimas brilharam de alegria. Depois de testemunhar o Senhor “ressuscitado”, foi pedido a Maria que testificasse aos apóstolos que Ele estava vivo. 

Madalena obedeceu. Embora os discípulos tenham se mostrado céticos a princípio [10], o testemunho da convertida de Magdala deve ter tido algum impacto. Mais tarde, os discípulos estavam reunidos para falar dos acontecimentos daquele dia, provavelmente ponderando o testemunho de Madalena , quando “chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco”. [11]

Historicamente o patriarcalismo ancestral tem dominado a trajetória do Cristianismo. Os donos da Igreja entronizaram um Deus “Pai” e não Mãe, um Criador e não Criadora, exaltaram os 12 apóstolos e não as apóstolas, exaltaram o filho de Deus e não filha. 

Mas sem sombra de dúvida que foram as mulheres que não só participaram, como protagonizaram boa parte dos momentos decisivos da Boa Nova. Recordemos Maria Salomé (esposa de Zebedeu), Maria [esposa de Cléofas], Maria (mãe de João Marcos), Maria e sua irmã Marta (irmãs de Lázaro) Lídia (mãe de Silas), Joana de Cusa, Loíde (avó de Timóteo) Eunice (mãe de Timóteo), Priscila (esposa de Áquila) Lídia (viúva digna e generosa) Suzana dentre outras que trabalharam nos “bastidores”. 

Prosseguindo no tempo, vamos identificar a força das mulheres no protagonismo da Terceira Revelação. Foram elas, as irmãs Fox, Florence Cook, Amália Domingo y Soler, Elisabeth D'Espérance, Eusápia Paladino, Roger, Plainemaison que colaboraram intensamente para a propagação da imortalidade. Allan Kardec teve incondicional apoio moral de sua consorte Amélie Gabrielle Boudet, estudou as arrebatadoras mediunidades das irmãs Julie Baudin e Caroline Baudin, Ruth Celine Japhet, Aline Carlotti e Ermance Dufaux. 

Para quem desconhece, saibamos que as irmãs Baudin psicografaram a quase totalidade das questões de O Livro dos Espíritos nas reuniões familiares dirigidas por seus pais e gerenciadas pelo mestre de Lyon. A senhorita Ruth Celine Japhet foi a medianeira responsável pela revisão completa do texto, incluindo adições do livro pioneiro do Paracleto. A jovem Aline Carlotti [12] era membro do grupo de médiuns através do qual Kardec referendou as questões mais espinhosas do Livro dos Espíritos, fazendo uso da Concordância dos Ensinos dos Espíritos.[13]

Afinal, não poderíamos deixar de bancar uma justa homenagem às personagens espirituais (populares entre os brasileiros), a saber: Maria Dolores, Meimei, Auta de Souza, ministra Veneranda, Sheila, Maria João de Deus (mãe de Chico Xavier), Joana de Angelis, irmã Rosália, Maria Dolores, Ad

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

DESAMPARO AFETIVO (Jorge Hessen)

Jorge Hessen


A 2ª Câmara de Direito Civil do Tribunal de Justiça de Santa Catarina negou indenização por danos morais a uma filha que alegava “abandono afetivo” do pai. O tribunal entende que não se pode obrigar um pai a amar o filho com a ameaça de indenização. Segundo o desembargador Gilberto Gomes de Oliveira, relator do caso “o afeto não é algo que se possa cobrar, quer in natura ou em pecúnia, tampouco se pode obrigar alguém a tê-lo, pois não se pode exigir que pai ame filhos com ameaça de indenização”. [1]

Em direção oposta, três anos atrás, a 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) condenou um pai a indenizar em R$ 200 mil a filha por "abandono afetivo". A ministra Nancy Andrighi entendeu que é possível exigir indenização por dano moral decorrente de “abandono afetivo” pelos pais. Para ela “amar é faculdade, cuidar é dever", afirmou no acórdão, pois não há motivo para tratar os danos das relações familiares de forma diferente de outros danos civis.” [2]

A ministra Andrighi ressaltou que nas relações familiares o dano moral pode envolver questões subjetivas, como afetividade, mágoa ou amor, tornando difícil a identificação dos elementos que tradicionalmente compõem o dano moral indenizável: dano, culpa do autor e nexo causal. Porém, entendeu que a paternidade traz vínculo objetivo, com previsões legais e constitucionais de obrigações mínimas. Concluindo que "aqui não se fala ou se discute o amar e, sim, a imposição biológica e legal de cuidar, que é dever jurídico, corolário da liberdade das pessoas de gerarem ou adotarem filhos", argumentou a ministra. [3]

Sob as vias dos contextos jurídicos, Samara Luiza Pereira Hessen[4], técnica judiciária do Tribunal de Justiça do DF , formanda em direito, explicou-me que “o dano moral possui dois aspectos: o primeiro é a condenação de alguém ao pagamento de danos morais para compensar algum sofrimento que adveio sobre a vítima. Sob este ponto de vista, e considerando que o pai biológico tivesse arcado com todas as obrigações legais, não haveria que se falar em sofrimento da vítima, consequentemente seria impossível a condenação de alguém por “abandono afetivo”. 

Entretanto, conforme Samara Luiza, “existe a teoria do desestímulo (punitive damages), ou seja, o que se condena é a atitude do agente causador do dano. Assim, ter um filho e simplesmente pagar pensão alimentícia, sem cumprir com o dever de pai, causaria indenização por danos morais, além de coibir que outros tenham filhos e simplesmente paguem pensão alimentícia, sem a preocupação de formalizarem a família, de acompanharem o crescimento do filho”. 

Sob quaisquer aspectos jurídico ou espírita, elevado é o preço que pagamos pelas lesões afetivas[5] que provocamos nos outros. Rodeando o tema, sem propor debatê-lo em profundidade em face do contexto jurídico sobre a eficácia ou não da indenização por danos morais por “abandono afetivo”, ressaltamos que os pais que não assumem seus filhos (bastardos ou não) comprometem drasticamente a composição psicológica dos rebentos. A consternação de experimentar a rejeição afetiva continuará até que o filho recusado consiga optar pelo indulto. 

Em psicologia, o termo afetividade é utilizado para designar a suscetibilidade que o ser humano experimenta perante determinadas alterações que acontecem no mundo exterior ou em si próprio. Nossa vida afetiva é composta de dois afetos básicos: o amor e o desamor. Esses dois elementos estão presentes em nossa vida psíquica e também estão juntos em nossas expressões, ações e pensamentos. A afetividade não se vive por estes meros sentimentos e sim pela prática, pela ação que vem oriunda do sentimento. Afeição é uma atitude, e não somente um sentimento. A relação de mãe e pai para com os filhos naturais é afeto automático. 

Já as relações afetivas de amizade ou de amor, precisam ser cultivadas. Os vínculos afetuosos, na Terra, permitem-nos abeirar dos nossos afetos e desafetos do pretérito, que também renascem sob liames biológicos, em sujeição aos compromissos assumidos com as leis da vida. Desta forma, as ligações da consanguinidade nos possibilitam experiências em comum, nas quais podemos nos tornar instrumentos de aprendizado recíproco. 

Sim! O convívio no corpo nos enseja o desenvolvimento da compreensão, da paciência, do perdão, da abnegação, valores que, gradualmente, nos educam o amor absoluto. Mas se não nos habituamos a renunciar, a abdicar mormente de nós mesmos, nos doarmos pelo próximo, despojar-nos de ambições, enfim, não esperar que a vida gire à nossa volta, sofreremos os reveses naturais de maneira inevitável. Em face disso, aos pais e filhos (bastardos ou não) sem cogitar de serem amados a qualquer preço, lhes é indispensável amar, especialmente àqueles que talvez não alcancem evidenciar o verdadeiro e desapaixonado amor em razão das circunstâncias talhadas pela vida.

Referências:

[3] Idem 
[4] Filha do autor do texto (Jorge Hessen)

[5] Afetividade, Afecção, do Latim afficere ad actio, onde o sujeito se fixa, onde o sujeito se liga.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Parábola Acerca da Previdência (Lucas, 14:28-35)



Arnaldo Rocha

Qual dentre os senhores
Que não tome precauções,
Que, querendo edificar
Analisando sem parar
Uma torre em suas terras,
Se, com dez mil homens,
Não se põe a planejar,
Vinte mil possa enfrentar?


A fazer todas as contas
Ou de outra maneira:
De quanto se vai gastar,
Enquanto a guerra não se faz,
Para saber se há condição
Enviando sua embaixada
Dessa torre edificar?
Peça-lhe tratados de paz?


Pois com isso se evita
E, assim, qualquer de vós
Ficar em exposição
Que não queira renunciar
Por só ter feito os alicerces
A tudo quanto possua
Dessa edificação;
Meu discípulo não será.


E, não a podendo terminar,
O sal é bom; contudo,
Todos os que a virem
Se sua força acabar,
Possam fazer zombaria
Com que outra coisa
E dele, então, sorrirem,
Se haja de temperar?


Comentando desse jeito:
Ficará sem serventia
- Este homem começou
E para a terra, inutilizado;
A construir uma torre,
Nem ao monturo servirá,
Mas não conseguiu e parou.
E fora será lançado.


Ou qual seria o rei que,
Esses ensinamentos
Estando para sair
Jesus deixou para o porvir:
Em campanha contra outro,
“Ouça aqueles que têm
Não se prepararia antes de ir?
Ouvidos prontos a ouvir”.

AS ARENGAS SOBRE O “DE MENOR” (Jorge Hessen)

Jorge Hessen

Foi altruística indubitavelmente a reação do carioca Deivid Domênico, carteiro, músico e autor do samba enredo 2016 da “estação primeira da Mangueira” que após ter o celular roubado por um menor infrator (na janela do ônibus), conseguiu detê-lo, protegendo-o de um possível linchamento. Acompanhou o delinquente “de menor” até a delegacia, prometendo visitá-lo no centro de reclusão para onde foi levado.

Deivid é contra a redução da maioridade penal, e de forma um tanto burlesca disse que seguirá o “conselho” da Rachel Sheherazade[1], adotando “seu” bandido “apreendido”. Contudo, a opinião do carteiro sambista não reflete a tendência da sociedade brasileira, conforme consigna a última pesquisa nacional em torno do tema: segundo o instituto Datafolha, 87% dos brasileiros são favoráveis à redução.[2]

Sei perfeitamente que é ingenuidade acreditar que a redução da maioridade para 16 anos resolverá o problema da criminalidade. O que o nosso país necessita é de ética, moralização, patriotismo e educação. A única educação que poderia reduzir a criminalidade é a educação moral, aquela dada em casa pelos pais, a educação formal das escolas apenas instrui e há “menores “criminosos (“infratores”) muito bem instruídos. a solução não deve ser tão simplista. Mas aos menores criminosos (“infratores”) deve haver punição, responsabilização e ressocialização. 

Quanto aos “de menores” imersos nos desvãos da criminalidade é importante distinguir e separar: os violentos cruéis, que expressam real perigo para a sociedade, que deveriam ser ressocializados numa penitenciária, que por sua vez também precisa ser humanizada, pois que no Brasil encontra-se em estágio adiantadíssimo de decomposição moral. 

Em relação aos delinquentes não violentos, a solução deve ser a reeducação imprescindível, em período integral e em regime de cerceamento da liberdade, pois, nenhuma sociedade moralmente sadia aceita milhões de crianças e “de menores” desamparados nas ruas. Lamentavelmente a Organização das Nações Unidas revelou que o Brasil ocupa o sétimo lugar no ranking dos países mais violentos. 

Mas, falar sobre a educação no Brasil é miragem. Por estas plagas a irreflexão de educadores imaturos, não habilitados moralmente para os relevantes misteres de preparação das mentes e caracteres em formação, contribui com larga quota de responsabilidade no capítulo da delinquência juvenil, da agressividade e da violência vigentes na utópica “Pátria do Evangelho”.

Sem subterfúgios inócuos , apesar de ser a opinião dominante entre os especialistas que transformar de 18 para 16 anos a maioridade penal não restringirá a violência e não conseguirá afastar o “ de menor” da criminalidade, urge reconhecer que é consenso, na maioria da população descrente do judiciário, que medidas urgentes precisam ser tomadas para garantir a redução da criminalidade, a fim de que não sejam massacrados, trucidados, assassinados por “de menores” (apiedados pela Lei) ou “de maiores” incorrigíveis, os seres de bem (crianças, jovens, adultos e velhos) nessa alucinada e interminável guerra urbana. 

Referências:

[1] “Conselho” lançado pela jornalista Raquel Sheherazade (SBT), depois que um grupo de bandidos de classe média, no Rio de Janeiro, chamados “Bairro do Flamengo”, prenderam, espancaram e amarraram em um poste um jovem “criminoso” ou “possível criminoso” (O Globo 5/2/14, p. 8). 

[2]Diponível em http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/11/151109_salasocial_adoteumbandido_rs acesso em 17/11/2015

domingo, 22 de novembro de 2015

QUANDO A FÉ É UM PROBLEMA


Margarida Azevedo
Frequentou Universidade Nova de Lisboa
Sintra/Portugal

Quando abordamos qualquer texto religioso dividimos a temática em dois grandes grupos, a saber, verdades de fé e verdades históricas. Por exemplo, que Jesus era um pregador itinerante é de um facto histórico, que subiu ao céu em corpo é um facto de fé. O primeiro é incontestável, o segundo já não. Com isso, estamos, à partida, a afirmar que fé e História giram em polos opostos.

A fé não começou com com uma revolução no dia tal, no ano tal; não amadureceu a partir de determinado acontecimento histórico. A História pode narrar actos de fé, mas jamais terá acesso à interioridade da fé de cada homem/mulher. Fé é fonte, facto histórico é a água que dela jorra. A primeira é o invisível, a segunda o que se vê, ainda que distorcido, permeabilizado, perigosamente, pelos pressupostos. Todavia, importantíssimos, pois servem para tomarmos consciência das posições em que nos fomos colocando ao analisar os factos, ao longo do tempo,

Etimologicamente, o pressuposto existe antes da observação, é um pré-suposto. Ele agrupa informações segundo critérios e mediante objectivos precisos, visando fins pré-determinados. Os factos objecto da História não foram observados pelo historiador, e ainda que o fossem a objectividade deste como observador estaria sempre permeabilizada pelos seus pressupostos, tais como a cultura. Por isso, a honestidade intelectual é a pergunta que se faz ao outro, resultante da preocupação ética em descobrir a verdade.

Por exemplo, há quem pense que se vivessemos no tempo de Jesus percebe-lo-íamos de forma mais objectiva e seríamos melhores cristãos. Puro engano. A nossa observação não significa reflexão. Um profeta não se impõe pelo facto de ser observado nos seus actos milagrosos, nem no seu comportamento social, mas na mensagem que transporta e que, naturalmente, exterioriza. O comportamento social de Jesus foi aceite por bem poucos, e mesmo por estes, com relutância, já o seu discurso revolucionário, crítico, arrastou multidões das quais somos herdeiros.

A mensagem dos profetas só atinge um valor pedagógico e ético quando amadurecida no coração dos discípulos. Ora, pensar Jesus hoje, passados dois mil anos, é mais objectivo do que ouvi-lo. A humanidade amadureceu na sua experiência de fé. Já correram rios de tinta de interpretações dos evangelhos, Podemos colocar as mesmas questões, a nossa existência pode continuar a girar em torno da procura da eternidade, dos dois grandes vértices amor e morte, mas a nossa capacidade de interiorização está carregada de vivências espirituais que fomos acomulando ao longo de séculos. Não esqueçamos que podemos ter milhares de encarnações, mas apenas dois mil anos de cristianismo, o que, no contexto geral, é pouquíssimo. Quando dizemos que a fé está a dar os primeiros passos, proferimos uma grande verdade, pois que a liberdade de fé tem a idade de Jesus, na terra. Lembremo-nos de que o que uma criança pensa do pai aos cinco anos de idade não é o mesmo que aos trinta; depois do seu falecimento o filho lembra-o naquilo que lhe transmitiu e, não raro, afirma: “Hoje é que eu compreendo o meu pai, quando me dizia aquelas coisas!”

A fé é sempre o móbil, pois não tem a ver com aspectos religiosos, apenas. Para o Espiritismo, por exemplo, a fé tanto pode ser humana como divina. Crer que se é capaz de conduzir uma nação a determinado estado civilizacional, mediante a melhoria das condições do trabalho, não é a mesma coisa que incutir nos fiéis a necessidade de orar para agradar a Deus. Ainda que ambas possam estar implicadas, a luta sindical pela melhoria salarial não é do âmbito da prece, onde é solicitado a Deus que tudo na vida corra bem. O coração bombeia sangue, sem o sangue o coração não tem nada para bombear.

Há quem pense que o sofrimento tráz mais fé, ou que os problemas comuns da vida são responsáveis por um amadurecimento da fé. Se assim fosse, não havia revoltas contra Deus, descrenças associadas a situações problemáticas; não haveria desilusões religiosas nem ninguém punha em causa aquilo em que sempre acreditou. Sofrimento e fé, um binómio perigoso. Dito de outro modo, o sofrimento gera a crise da fé cujo desenlace é um tiro no escuro, de tal forma que se se aceitar que o primeiro desenvolve a segunda, então esta converte o ser humano no cínico da criação. Ter fé porque sofre, ou não ter fé pelo mesmo motivo são ambas indesejáveis.

A fé baseia-se sempre num encontro de contas com o deus. Quem é que tem fé se tal nâo se traduzir num universo de esperança, que é sempre uma benesse? Jesus falou de um reino reservado aos bem-comportados na terra. A esperança do cristão é a de entrar num reino de suprema felicidade onde o espera um banquete. Qual o móbil? O amor. Para a Psicanálise, estamos perante uma situação erótica: felicidade eterna num banquete em alta festança é o mesmo que uma eternidade onde existe um prazer sem limites numa abastança sem fim.

Assim sendo, por mais voltas que se lhe dê, a fé, sem um sistema de trocas, perde-se. Não há mesmo nada que se lhe iguale. Pode-se perdoar a ingratidão de alguém que não retribuiu uma benesse, mas muito dificilmente ao deus que não deu a protecção esperada. Na fé religiosa não há mãos vazias, não é perdoável a dívida proteccionista do deus, e não nos parece que os deuses durmam descansados sem o perdão dos humanos. “ Eu dou-te e tu dás-me.”, e estamos conversados! Por isso, um deus que não retribui não é digno de ser adorado,“Já não acredito em ti!”, e a fé, intransigentemente, parte para outro.

Ora, chegados ao Deus único, o Supremo, o que é que mudou? Nada. Continuamos a pedir a este Deus o mesmo que aos anteriores: a imortalidade, o amor, a felicidade, a abundância, a riqueza, tudo o que traduzimos por protecção. O que é que esperamos deste Deus? Tudo, ou seja, uma resposta favorável a esses pedidos. Se os outros não deram, então este dará, de certeza, caso contrário onde está a sua superioridade?!

Só que este Deus não é conquistável pelo ouro, o que tem levado séculos a perceber, a fé para com os outros deuses deixou marcas profundas.

Seja num caso ou noutro, a experiência da fé transcende o espaço/tempo. Ela é sintomática de uma angústia inerente à condição humana e da qual emergem grandes questões:“Nascemos convertidos?A quê?” Por outras palavras: Qual é o nosso universo religioso e qual a sua raíz? Preciso de alienar-me da História para viver uma realidade salvífica que, por seu lado, pode estar desajustada com os meus anseios, os meus pressupostos escatológicos? Os últimos tempos serão os tempos do fim da História, ou, contrariamente, o fim de uma soteriologia (teoria da salvação) e ingresso numa bem-aventurança em que já não haverá nada para bem-aventurar, uma vez que são atingidos os tempos que a História não abrange, um tempo fora do tempo? Será que, uma vez atingido o alvo da fé, teremos a consagração da História? Que sentido terá a fé, ou em que moldes esta se manifestará quando ou se atingirmos um ponto que seja da tão almejada felicidade? Por outras palavras, a fé só faz sentido numa espécie de contrato com o invisível?

Quando dizemos que cremos em Deus, a que é que nos referimos? A um Ser que não tem história? Karen Armstrong escreveu a obra monumental “História de Deus”, um Deus mas mais próximo de nós do que os outros. Aquele de que Jesus apenas nos informou de como entrar no Seu reino; Aquele que fez silêncio às nossas palavras e aos nossos discursos. Os outros podem ser caminhos para Este, mas sentimos que Este nos interroga na consciência, que por sua vez é bastante turbulenta.

Assim, perante os acontecimentos da História, precisamos de decidir sem demora como orientar a nossa fé; precisamos de traçar novas vias. A História é aqui e agora, a salvação é hoje, o Reino de Deus está na terra, a cada passo, a cada gesto, em cada palavra. O banquete de que falava Jesus começa agora, aqui, já. 

O acto de fé confere ao humano a sua dignidade. Não crer significa conhecer sem objectivo. De que vale um conhecimento qualquer, de que serve ser competente em determinada área se não há um seguimento de fé concomitante? Só pela fé rumamos ao Apocalipse, a revelação divina.

Consultar: ARMSTRONG, K., Uma História de Deus, Temas e Debates, Lisboa, 1999.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A força do Bem



Em uma palestra intitulada “A Mulher Samaritana”, proferida no dia 07/12/2006, no Grupo Espírita Rodrigo Lobato, em São José do Rio Preto, SP, narrou o Dr. Haroldo Dutra Dias, juiz de Direito em Belo Horizonte, MG, que uma senhora perdeu o seu filho em um acidente e foi a Uberaba, MG, (dezenas lá compareciam), em busca de uma mensagem que a consolasse, através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier. Lá chegando muito cedo, pegou uma senha que lhe daria o direito de ser atendida. 

Mais tarde, chegou outra mãe chorando desesperada, inconsolável mesmo, por ter perdido uma filhinha. Ela, mesmo sem conseguir uma senha, pois haviam acabado, insistia em ser atendida de qualquer jeito pelo Chico, pois, também desejava uma comunicação da criança. 

A mãe que havia conseguido a senha, olhando para a outra em desespero, pensava: “Meu Deus do céu, esta senhora precisa mais do que eu. Vou lhe dar a minha senha!..”. E deu. A outra, ao receber a inesperada dádiva, ficou muito feliz e, não contendo a alegria, abraçou a doadora, entrando as duas em choro compulsivo, compartilhando a dor de perderem os filhos. 

Passados alguns instantes o Chico começou a psicografar e, tendo recebido várias mensagens, passou a lê-las de público, quando, para as duas mães, se deu a sublime surpresa. A primeira mensagem lida foi a do filho da mulher que havia doado a senha. Ele dizia: “Mamãe, eu não tinha condições de vir aqui, hoje, dar uma mensagem a para senhora, mas o seu gesto foi tão lindo, mãe, que comoveu a espiritualidade e eles foram lá me buscar. Eu estou aqui amparado, pra te dar esta mensagem, tamanha a beleza do seu gesto. Estou vivo, mãe, e muito orgulhoso da senhora!..”. 

A segunda mensagem lida foi a da filha da senhora que chegou a Uberaba em desespero, ficando, desta forma, amenizado o sofrimento daquelas duas almas aflitas!..

É a caridade superando as dificuldades, e é a Espiritualidade atenta no atendimento aos que praticam um gesto de bondade.

Cachoeiro de Itapemirim, ES.
Domingos Cocco
E-mail: domingoscocco1931@yahoo.com.br.
Rua Neca Bogosto nº 06 – Bairro Sumaré
Telefone (28) – 3522-4053 – CEP 29304-590
Cachoeiro de Itapemirim – Estado do Espírito Santo

domingo, 15 de novembro de 2015

Parábola do Fariseu e do Publicano (Lucas, 18:09-14)

Arnaldo Rocha

Esta parábola Jesus contou
Aos que só em si confiavam,
Desprezando outras pessoas,
Porque justos se achavam:

- Dois homens foram ao templo
Desejando orar para Deus;
Um deles era Publicano
E o outro, membro dos Fariseus.

O Fariseu, orando em pé,
A si mesmo exaltou:
- Meu Deus, graças vos rendo
Porque igual aos outros eu não sou...

E continuou a falar,
Como se fosse um insano,
Que a ele não se comparava
Nem mesmo aquele Publicano,

E que os outros homens
Eram ladrões, adúlteros e injustos;
Dando claramente a entender
Que ele fazia parte dos justos.

E seguiu a dizer, assim:
- Duas vezes por semana eu jejuo,
E pago o dízimo de tudo
O quanto eu possuo.

O Publicano, ao contrário,
Mantendo-se distante,
Não ousava erguer os olhos
Aos céus, naquele instante,

Apenas batia no peito
E clamava com ardor:
- Meu Deus, tende piedade de mim,
Que sou um reles pecador...

- Digo-vos -acrescentou Jesus -
Que este, enfim, retornou
Para os seus justificado,
E não aquele que se exaltou;

Porque aquele que se exalta
Será, afinal, humilhado,
E aquele que se humilha

Aproximação e fuga

Jane Maiolo


Desta vez, quero vos ver não somente de passagem, mas espero demorar-me algum tempo convosco, se o Senhor o permitir. [1]

O “apóstolo dos gentios”, na sua primeira carta aos coríntios , após recomendar-lhes o que era necessário para o cumprimento das atividades da igreja, manifesta seu desejo de permanecer entre os irmãos de fé um pouco mais. Estar na presença daqueles que nos edificam é valiosa oportunidade de evolução .

Desde os primórdios da Humanidade experimentamos um processo contínuo de aproximação e fuga que colaboraram na nossa estruturação enquanto indivíduos. Aproximamos daquilo que nos interessa e fugimos daquilo que nos ameaça ou cobra-nos novos posicionamentos.

Os primeiros organismos vivos iniciaram um processo de troca de informações químicas com o meio externo há milhões de anos a fim de nutrir-se de substâncias essenciais à sua subsistência e também de repulsão de fragmentos químicos que lhes seriam danosos para a sobrevivência.” [2]

De onde vem essa inteligência instintiva desses seres tão primários? São enigmas não resolvidos pela Ciência Moderna. Aproximação e fuga são posicionamentos tão constantes no nosso cotidiano que não percebemos o automatismo dessas ações na nossa vida .

O espírito pensante vive e evolui num processo semelhante, ora se aproxima das verdades que lhes renovam as energias fisiopsíquicas e espirituais , ora foge desse compromisso individual e intransferível que é a evolução.

Em todos os períodos da Humanidade temos recebido notícias, ensinamentos e exemplos de missionários que tentam por todos os meios nos aproximar das verdades eternas, conforme nos assevera Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, questão 622. [3]

A misericórdia divina é sempre rica de recursos.

Retrocedendo no tempo é possível avaliar como tratamos todos aqueles que de uma forma ou de outra intermediaram essa aproximação com aquilo que é sublime. A verdade sempre nos afronta de tal forma que não conseguimos conviver com seus representantes. O processo de fuga representa um adiamento à aquisição dos valores eternos necessário a todos os espíritos.

Desde a vinda de Abrãao , o primeiro patriarca do povo hebreu, responsável pela tarefa de apresentar-nos o Deus Único, estamos fugindo da proposta espiritual de redenção.

Assassinamos os profetas da antiguidade, serramos o Profeta Isaias ao meio, queimamos uns tantos outros no azeite, crucificamos alguns no madeiro maldito, decapitamos , ateamos a fogueiras tantos outros que ousavam falar de justiça, ética, perdão e amor ao próximo. Em tempos de ódio, perseguição e guerra a presença do amor e da verdade eram sentimentos insuportáveis. Não poupamos nem mesmo o Cristo Divino, representante inigualável do Amor, assassinamos-os com requintes de loucura e insensatez.

É de se notar que nosso histórico espiritual não é muito recomendado ,mas assim caminha a Humanidade, com passos de formiga e sem vontade, como entoou o cantor moderno.[4]

Registra o nobre escritor Humberto de Campos, no livro Crônicas de Além-Túmulo , no capítulo 15, intitulado “A ordem do Mestre” que Jesus interrogava João, o discípulo amado, sobre como andam os deveres cristãos no mundo, onde Ele deixara o exemplo maior do Amor e o Evangelista responde: “- Vão mal, meu Senhor. Desde o Concílio Ecumênico de Nicéia, efetuado para combater o cisma de Ario em 325, as vossas verdades são deturpadas. Ao arianismo seguiu-se o movimento dos iconoclastas em 787 e tanto contrariaram os homens o Vosso ensinamento de pureza e de simplicidade, que eles próprios nunca mais se entenderam na interpretação dos textos evangélicos.”[5]

Talvez seja por tantos atritos e desentendementos acerca de uma doutrina sempre tão acessível a todos os entendimentos que continuamos a criar tantas fórmulas de desvios , destruição e violência contra nós mesmos. Continuamos a aniquilar aqueles que representam o amor, a caridade e a paz como fizemos com Martin Luther King, Mohandas Karamchand Gandhi, Al Hajj Malik Al-Shabazz, mais conhecido como Malcolm X e tantos outros conhecidos ou não.

Jesus na sua Sabedoria Infinita percebendo a dureza ainda instalada em nossos corações decide um novo programa , capaz de restaurar a verdade e nos proteger das nossas próprias alienações.

Um plano audacioso e eficaz. Seu novo plano é enviar alguns dos missionários, já “mortos”, impedindo-nos de matá-los novamente, para serem portadores da 3ª etapa da Revelação Divina , o Consolador Prometido, que chegaria em tempo oportuno e reestabeleceria a paz e libertaria consciências .

Humberto de Campos registra o primoroso plano do Cristo no citado livro ,dirigindo-se a João: “- Se os vivos nos traíram, meu discípulo bem-amado, se traficam com o objeto sagrado da vossa casa, profligando a fraternidade e o amor, mandarei que os mortos falem na Terra em meu nome.”[6]

Assim ,Jesus , o Cristo de Deus, envia o Paracleto em tempo mais que necessário, na esperança de não mais destruirmos aquilo que é capaz de nos elevar enquanto criaturas de Deus.

É tempo de aproximarmo-nos dos ensinamentos do amor para vivê-lo em toda sua plenitude.Fujamos sempre daquilo que nos macula a pureza do coração e nos impede de crescer espiritualmente .Tal qual os primeiros organismos somos hoje espíritos sedendos de substâncias capazes de nutrir nossa alma e edificar nossa vontade de retornar ao aprisco Divino, e se o Senhor assim o permitir demoraremos mais tempo , desta vez, no caminho do amor.

Referências  bibliográficas:
[1] 1Coríntios 16:7
[2]  Facure, Nubor Orlando. Artigo – “O enigma da consciência”, (coloque aqui o  local: editora, ano)
[3] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB , 2007. Perg. 622
[4]Letra da música composta por  Lulu Santos – “Assim caminha a humanidade”.
[5] XAVIER, Francisco Cândido. Crônicas de Além túmulo ,ditado pelo Espírito Humberto de Campos , cap. 15-Brasília /DF:  Ed FEB.
            [6] Idem.


            *Jane Maiolo – É professora de Ensino Fundamental, formada em Letras e pós-graduada em Psicopedagogia. Dirigente da USE Intermunicipal de Jales/SP. Colaboradora da Sociedade Espírita Allan Kardec de Jales/SP. Pesquisadora do Evangelho de Jesus. Colaboradora da Agenda Brasil Espírita- Jornal O Rebate /Macaé /RJ – Jornal Folha da Região de Araçatuba/SP –Blog Bruno Tavares Recife/PE-Apresentadora do Programa Sementes do Evangelho da Rede Amigo Espírita. janemaiolo@bol.com.br -