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quinta-feira, 26 de julho de 2018

Divulgamos corretamente a Doutrina Espírita?


Vladimir Alexei 

Vladimir Alexei 
Belo Horizonte, das Minas Gerais 
26 de julho de 2018. 

A vida tem nos ensinado o momento de teorizar e o momento de agir. Leon Denis, em sua vasta e profunda obra, dizia, em outras palavras, que as Universidades estimulam mais a dúvida do que a certeza. Do ponto de vista acadêmico, a dúvida é saudável porque pode ser um estímulo a pesquisas estruturadas. Já para o espírito, os índices de depressão nos cursos de pós-graduação não deixam dúvidas de que as dúvidas são, em alguns momentos, prejudiciais à saúde mental de muitos. 
A busca pelo conhecimento é algo instigante. A doutrina espírita é responsável por muitos diplomas acadêmicos e por algum grau de instrução de muitas pessoas espalhadas pelo Brasil. Aprendemos com a Doutrina Espírita a desenvolver o gosto pelo estudo, de tanto que as pessoas diziam isso nas casas espíritas. Fazem até hoje, porém, com algumas diferenças. 
Quando jovens, nosso desejo de aprender a doutrina era o de nos tornarmos seres humanos melhores, agregando conteúdos que pudessem elucidar nossas dúvidas e inseguranças, ainda que isso exigisse um alto grau de adaptação da nossa parte. 
O tempo passou e aquela geração passou a “professorar” a doutrina espírita, aprofundando discussões importantíssimas, que se tornaram vazias ante as transformações do mundo. Somos da época em que era moderno apresentar estudos em “retroprojetores”, passando “lâminas” com um cuidado extremo para que a lâmpada do aparelho não queimasse por ser caríssima. 
Deixamos as lâminas, ganhamos praticidade, mas a profundidade doutrinária perdeu-se para apresentações rebuscadas, músicas melodramáticas e histórias que sensibilizam, despertam corações, tornam-nos ávidos pelo conhecimento, e ele não vem. Por que não vem? 
Porque passou a ser mais importante divulgar a doutrina do que vive-la. Embora, seja claro, muito claro para todos, que vive-la é de acordo com o aprendizado de cada um. Existem espíritas que arrepiam quando começamos a falar algo que sugere alguma correção comportamental ou moral. Isso, moral e comportamento, é de cada um. Não cabe a nenhum espírita corrigir posturas de ninguém, a não ser a própria postura, quando em contato com a doutrina. E nessa onda de “certo ou errado”, cada um tem feito a doutrina espírita que lhe convém, na hora de divulgar. 
Seria correto agirmos dessa forma? Há alguma outra maneira para fazermos melhor e diferente? A dúvida ainda persiste porque, em termos filosóficos, tudo existe de acordo com a lei de causa e efeito, e se não gostamos dos efeitos vistos na sociedade em geral e nas casas espíritas em particular, é porque a causa deixou a desejar. Exageros nas interpretações, ausências de interpretações, pensar o pensamento dos outros, não ter uma compreensão mais clara daquilo que lhe compete, enfim, reproduzir aquilo que ouviu como se fosse uma verdade absoluta, fomentam interpretações equivocadas. É apenas uma, dentre várias interpretações para o momento tão árido que vivemos no meio espírita. 
Falar em “inovação” na casa espírita é o mesmo que extrair das furnas umbralinas um obsessor, abrindo-lhe as portas para conosco contribuir na casa espírita. É visto com reservas por parte dos dirigentes que, inseguros, recorrem aos médiuns influenciáveis com as inseguranças dos dirigentes que, por sua vez, são assessorados por espíritos que comungam do mesmo pensamento e ditam mensagens carinhosas, amorosas, mas também pautadas pelo receio ao novo, corroborando com a dúvida. O novo causa resistência mesmo e nem tudo que é novo é melhor. Esse é o preço que se paga pelo estudo: saber analisar cada caso, de acordo com os parâmetros doutrinários que possuímos. Não obstante o nível de esclarecimento dos espíritas e a cultura larga em relação a outros pensamentos religiosos e filosóficos, os parâmetros doutrinários que nos dão segurança para tomar decisões passam pelo trabalho desenvolvido por Allan Kardec. E quando comentamos isso, não atribuímos infalibilidade a ele e sim, segurança metodológica. 
Kardec na atualidade é badalado como se fosse uma celebridade. E não é. Foi um homem de ciência, que pavimentou um caminho que percorremos com a escuridão que ainda habita em nós. Vamos desvendando à medida em que fazemos luz ante os nossos passos, com erros, muitos erros, que redundam em aprendizado e esse aprendizado capacita-nos ao próximo passo. 
Por fim, usar o nome de Allan Kardec para defender pensamentos personalistas não seria a melhor maneira de divulgar corretamente a doutrina. É preciso usar a doutrina espírita para pensar feridas, fortalecer videiras incipientes, ajuntar joelhos combalidos, levantar a cerviz dos que choram, escravos de um mundo egoísta e doente. Humildade e caridade.

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