REENCARNAÇÃO OU RESSURREIÇÃO
Roberto Cury
“A alma do homem é como a Água; vem do céu e sobe para o céu, para depois voltar à Terra, em eterno ir e vir.” Goethe.
Grande parte das religiões e dos religiosos não aceita a reencarnação como um dos requisitos da Justiça de Deus.
Exacerbados radicalismos são opostos contra ela. Daí, colocarem a ressurreição como promessa da recomposição do corpo e do espírito quando do Juízo Final, por vários segmentos religiosos. Esses mesmos segmentos entram em contradição com seus dogmas quando falam da ressurreição de Jesus em carne e espírito, pois, com afirmação da recomposição da carne do Rabi da Galiléia, negam que Jesus é Deus. Porque Deus é Espírito e nunca teve ou terá necessidade de corpo material, indispensável aos homens na fase evolutiva.
Realmente, reencarnação e ressurreição são temas delicados que merecem um tratamento cuidadoso não apenas quanto à forma, mas, principalmente, em relação aos argumentos utilizados, porque ninguém tem o direito de desrespeitar o livre arbítrio de quem quer que seja.
Outrossim, é necessário, senão indispensável mesmo, que ambos lados estejam desvestidos de preconceitos, que analisem, sem paixões, cada dito e cada fato apresentados para que, ao final, as partes tenham o seu próprio juízo, aferindo com justeza, corrigindo os equívocos e acertando seus detalhes argumentativos.
Apesar da contestação de muitos religiosos, outros entendem que reencarnação e ressurreição se confundem pois, no dizer dos dicionaristas, ambas significam “vida nova”. Entretanto, não podem ser confundidas, nem tampouco uma anular a outra.
O Pastor Presbiteriano Nehemias Marien, formado pela Faculdade de Teologia da Igreja Presbiteriana em Campinas, e em Jornalismo e Comunicação pela Universidade de Bloomington – EUA; Mestre em Ciências Bíblicas pela Escola Bíblica de Jerusalém e pela Universidade de Nottingham – Inglaterra, desde 1972, no programa “Show Sem Limites”, apresentado por J. Silvestre, e, também, no seu livro “Transcendência e Espiritualidade”, tem declarado: “Até o ano de 553, no segundo Concílio de Constantinopla, a reencarnação fazia parte da Igreja. Depois, por discussões mais administrativas e menos teológicas, foi banida do cânone oficial e hoje a Doutrina Espírita, para a maioria dos pressupostos evangélicos, permanece no índex, interditada àqueles que não concordam com ela. No estudo da Bíblia, as evidências da reencarnação são clamorosas e eu admito ser o Espiritismo a mais caudalosa vertente do Cristianismo. Você encontra tanto no Antigo como no Novo Testamento, evidências claras da reencarnação, isto é, do prosseguir da vida. A morte nunca teve a última palavra.”
Algumas pessoas enganam-se quando acham que a Bíblia trata da reencarnação apenas nas passagens quando Jesus disse a Nicodemos “que é necessário nascer de novo” e, depois da Transfiguração, quando os Apóstolos perguntaram sobre Elias, o Divino Mestre respondeu: “pois que Elias já veio e eles não o conheceram, antes fizeram dele quanto quiseram”. Então os apóstolos compreenderam que Ele lhes falara de João Batista.
Eis outras passagens: “Tu reduzes o homem ao pó, e dizes: tornai, filhos dos homens, pois mil anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem que se foi” (Salmo 90: 3 e 4). “Porventura não tornarás a vivificar-nos?” (Salmo 85:6); Andarei na presença do Senhor, na Terra dos viventes”. (Salmo 116:9). “Porque somos de ontem e nada sabemos”. (Jó 8:9). “Agora eu era uma boa criança por natureza, e uma boa alma caiu no meu lugar. Sendo eu bom,eu caí num corpo puro”. (Sabedoria 8: 19 e 20). “Os vossos mortos e também o meu cadáver viverão e ressuscitarão” (Isaías 26:19). “Na quarta geração tornarão para aqui”. (Gênese, 15:15 e 16). “Viverão com seus filhos e voltarão”. (Zacarias 10:9). “Eis que abrirei as vossas sepulturas , vos tirarei de dentro delas, vos trarei à terra de Israel”. (Ezequiel 37:12). “Javé é quem faz morrer e viver, quem faz descer à sepultura e de lá retornar”. (I Samuel 2:6).
É preciso compreender que o espírito existe desde sua criação e que só vem a Terra ou a outro planeta quando reúne as condições encarnatórias. Por isso, a preexistência não tem como ser combatida. Rebeca, grávida, está aflita com a rivalidade que percebe entre os dois espíritos cujos corpos estavam sendo gestados no seu ventre. Consultou Jeová que respondeu: ”Duas nações há no teu ventre e dois povos se dividirão de tuas entranhas: um povo será mais forte do que o outro e o mais velho servirá ao mais moço” Gênese 25: 22 a 26. (o mais velho dos gêmeos é quem nasce primeiro).
Modo geral, os defensores da ressurreição em contraposição com a reencarnação, entendem que o ressurgimento se dá no mesmo corpo que um dia morreu, e isto no Juízo Final que não deixa de ser o mesmo que Final dos Tempos, enquanto pela reencarnação a volta do espírito, à vida física, acontece em novo corpo, sucessivamente até que atinja o seu melhor grau evolutivo. E aí a grande diferença. E aí a necessidade do bom senso. E aí só o raciocínio claro e isento pode concluir qual tema é mais consentâneo com a Divina Justiça, ou se ambos foram contemplados nas Imutáveis Leis.
Há muitos milênios, escrituras, Avatares e sábios hindus trataram da reencarnação. Eis o que diz o Bhagavad Gita (livro sagrado dos hindus): “Assim como a alma passa, neste corpo, pela infância, juventude e a fase adulta, de igual maneira ela toma outro corpo. O sábio não estranha tal coisa. (2.13)
Tal como uma pessoa despe a roupa velha e veste outra nova, a alma encarnada saca os corpos gastos e veste outros que sejam novos. (2.22).
Krishna Avatar, 5000 anos A.C. ensinou a verdade da reencarnação.
O Professor católico José Reis Chaves, que, diante das descobertas no estudo de O Livro dos Espíritos, tornou-se espírita, no livro “A Reencarnação Segundo a Bíblia e a Ciência”, diz: “Muitos acham que ressurreição e reencarnação são duas questões incompatíveis, o que é um grande equívoco. Para sintetizar de vez o assunto, devemos atentar para o fato de que a ressurreição bíblica é na chamada fase escatológica do homem ou no final dos tempos – final dos tempos, e não do mundo –, enquanto que a reencarnação sempre aconteceu, acontece e acontecerá, antes da mencionada fase o homem, como numa espécie de ressurreição provisória, em preparação à ressurreição, propriamente dita, ressurreição essa que não é só bíblica, mas universal, pois consta também das escrituras sagradas de outras grandes religiões”.
Para o Professor José Reis, a reencarnação seria a fase intermediária da evolução espiritual do homem; ou seja, enquanto o homem não chega à perfeição há de ir e voltar entre os dois mundos físico e espiritual, servindo-se da reencarnação e que, só ao final dos tempos, que não é o final do mundo, acontecerá a ressurreição bíblica, pois o ser humano não mais necessitará de um corpo físico e sim só do corpo astral, a que dão o nome de fase da glorificação. Tanto que conclui: “Mas o que é ressurreição? É a libertação do espírito da matéria, isto é do corpo mortal. Por isso ela é também a libertação da morte”.
De uma clareza meridiana, essa explanação do Professor Reis já seria suficiente para por fim a qualquer celeuma. Mas, como a humanidade, ainda tão díspar, contestadora eu diria, coloca oposições as mais complicadas exatamente visando defender os seus dogmas, pois quase todos se acreditam donos da verdade, quando até Jesus negou ser proprietário dela, ao responder a Pilatos que “a Verdade é Deus que está nos céus”.
Sonia Jobim, em notável artigo na revista Visão Espírita, ano 2, nº 24, páginas 18 a 21, ensina que: “Não há discrepâncias nem diferenças. A reencarnação e a ressurreição do espírito são verdades, dentro de parâmetros estabelecidos. São etapas de um mesmo ciclo evolutivo. São elas: 1 – Criação do Espírito: o espírito em sua “forma” original é uma energia, criada por Deus. Nessa “forma” ele está num estágio embrionário, onde não está desenvolvido, nem o Bem nem o Mal. Suas potencialidades estão apenas latentes. 2 – Reencarnação: etapa em que o espírito “toma” forma material (física) necessária a uma vida planetária (na Terra ou outro orbe). O objetivo é desenvolver todas as suas potencialidades. 3 – Ressurreição: etapa final do espírito, quando completado seu aprendizado retoma sua forma original, que é pura energia, não reencarnando mais. O espírito restabelece o íntimo contato com seu criador e está pronto a empreender missões mais elevadas da Criação. (Todos os grifos são da autora e a transcrição é literal até na pontuação).
Quando Chico Xavier e Waldo Vieira estiveram nos Estados Unidos, Chico recebeu mensagem psicografada em inglês do espírito Ernest O’Brien que afirmou: “ A reencarnação é o retorno da alma à Terra, repetidas vezes, no corpo humano. Somente essa doutrina explica as aparentes injustiças da vida. É a verdade eterna”.
Os espíritos Jésus Gonçalves e Jair Presente, respectivamente, cantaram a reencarnação:
Jésus Gonçalves
Uma lei que nunca erra:
Reencarnação, lei bendita...
Cada ser retorna à Terra
Na lição que necessita.
Assim, quando o espírito tiver adquirido o pleno conhecimento do Universo e atingido o ápice da moralidade, não mais necessitará de encarnar-se, encontrando-se pronto para a Ressurreição anunciada na Bíblia. Mas essa Ressurreição dar-se-á apenas quanto ao espírito que transcende as dimensões além da matéria. Onde reina o espírito, não cabe a matéria.
Ou, ainda, em palavras mais simples, o corpo material pertence aos mundos materiais, pois é dali que o espírito retira os elementos para compor a sua forma física.
O corpo, o bendito corpo, serve e muto bem, apenas para propiciar ao espírito suas vivências materiais. Ao desencarnar, o espírito volita para esferas do além imaterial, deixando no mundo material os despojos dali retirados ao nascer.
2 Comentários:
Prezado Jorge, grata pela citação ao meu trabalho.
Belo e profundo artigo que esclarece.
Abraços, Sonia Jobim
arqueóloga, socióloga, professora da rede pública de Arraial do Cabo.
Por SONIA JOBIM, às 25 de novembro de 2010 às 13:41
Prezado Jorge, você teria como me ajudar a conseguir o exemplar da REVISTA ESPÍRITA ano 2 numero 24, creio de 1999 onde está meu artigo RESSURREIÇÃO E REENCARNAÇÃO? Até agora não tive sucesso. Perdi o meu exemplar na época e gostaria de ter esta revista.
Grata, Sonia Jobim
Por SONIA JOBIM, às 25 de novembro de 2010 às 14:12
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