INDUSTRIALIZAÇÃO DE EVENTOS ESPÍRITAS "GRANDIOSOS”
Que os dirigentes espíritas, sobretudo os comprometidos com órgãos “unificadores”, compreendam e sintam que o Espiritismo veio para o povo e com ele dialogar, conforme lembrava Chico Xavier. Devemos primar pela simplicidade doutrinária e evitar tudo aquilo que lembre castas, discriminações, evidências individuais, privilégios injustificáveis, imunidades, prioridades, industrialização dos eventos doutrinários.
Os eventos devem ser realizados, gratuitamente, para que todos, sem exceção, tenham acesso a eles. Os Congressos, Encontros, Simpósios, etc., precisam ser estruturados com vistas a uma programação aberta a todos e de interesse do Espiritismo, e não para servirem de ribalta aos intelectuais com titulação acadêmica, como um "passaporte" para traduzirem "melhor" os conceitos kardecianos. Não há como “compreender o Espiritismo sem Jesus e sem Kardec para todos, com todos e ao alcance de todos, a fim de que o projeto da Terceira Revelação alcance os fins a que se propõe.” (1)
"A presença do elitismo nas atividades doutrinárias (...) vai expondo-nos a dogmatização dos conceitos espíritas na forma do Espiritismo para pobres, para ricos, para intelectuais, para incultos.” (2) Infelizmente, alguns se perdem nos labirintos das promoções de shows de elitismo nos chamados “Congressos”. Patrocinam eventos para espíritas endinheirados, e, sem qualquer inquietação espiritual, sem quaisquer escrúpulos, cobram altas taxas dos interessados, momento em que a idéia tão almejada de “unificação” se perde no tempo. Conhecemos Federativa que chega a desembolsar R$. 90.000,00 (noventa mil reais); isso mesmo! 90 mil, para promover evento destinado a 3, 4, 5.000 (cinco mil) pessoas. A pergunta que não quer calar é: será que o Espiritismo necessita desses eventos "grandiosos"? Cobrar taxa em eventos espíritas é incorrer nos mesmíssimos e seculares erros da Igreja, que, ainda, hoje, cobra todo tipo de serviço que presta à sociedade. É a elitização da cultura doutrinária.
Sobre isso, Divaldo Franco elucida na Revista O Espírita, edição de 1992, o seguinte: “é lentamente que os vícios penetram nos organismos individuais e coletivos da sociedade. A cobrança desta e daquela natureza, repetindo velhos erros das religiões ortodoxas do passado, caracteriza-se ambição injustificável, induzindo-nos a erros que se podem agravar e de difícil erradicação futura. Temos responsabilidade com a Casa Espírita, deveres para com ela, para com o próximo e, entre esses deveres, o da divulgação ressalta como uma das mais belas expressões da caridade que podemos fazer ao Espiritismo, conforme conceitua Emmanuel, através da mediunidade abençoada de Chico Xavier. Nos eventos essencialmente espíritas, deveremos nós, os militantes na doutrina, assumir as responsabilidades, evitando criar constrangimentos naqueles que, de uma ou de outra maneira, necessitem de beneficiar-se para, em assimilando a doutrina, libertarem-se do jogo das paixões, encontrando a verdade. O dar de graça, conforme de graça nos chega, é determinação evangélica que não pode ser esquecida, e qualquer tentativa de elitização da cultura doutrinária, a detrimento da generalização do ensino a todas as criaturas, é um desvio intolerável em nosso comportamento espírita.” (3)
As Federativas Espíritas devem envidar todos os esforços para que não haja a necessidade de qualquer cobrança de taxa de inscrição dos participantes de Congressos, procurando fazer frente aos custos do evento. Para esse mister devem buscar viabilizar, previamente, os recursos financeiros através de cotização espontânea de confrades bem aquinhoados. Realizar promoções, doutrinariamente, recomendáveis para angariar fundos. Os dirigentes devem preservar o Espiritismo contra os programas marginais, atraentes e, aparentemente, fraternistas, que nos desviam da rota legítima para as falsas veredas em que fulguram nomes pomposos e siglas variadas.
A Doutrina Espírita é o convite à liberdade de pensamento, tem movimento próprio, por isso, urge deixar fluir naturalmente, seguindo-lhe a direção que repousa, invariavelmente, nas mãos do Cristo. Chico Xavier já advertia, em 1977, que "É preciso fugir da tendência à ‘elitização’ no seio do movimento espírita (...) o Espiritismo veio para o povo. É indispensável que o estudemos junto com as massas mais humildes, social e intelectualmente falando, e deles nos aproximarmos (...). Se não nos precavermos, daqui a pouco, estaremos em nossas Casas Espíritas, apenas, falando e explicando o Evangelho de Cristo às pessoas laureadas por títulos acadêmicos ou intelectuais (...).” (4)
Não reprovamos os Congressos, Simpósios, Seminários, encontros necessários à divulgação e à troca de experiências, mas, a Doutrina Espírita não pode se trancar nas salas de convenções luxuosas, não se enclausurar nos anfiteatros acadêmicos e nem se escravizar a grupos fechados. À semelhança do Cristianismo, dos tempos apostólicos, o Espiritismo é dos Centros Espíritas simples, localizados nos morros, nas favelas, nos subúrbios, nas periferias e cidades satélites de Brasília; e não nos venham com a retórica vazia de que estamos propondo, neste artigo, alguma coisa que lembre um tipo de “elitismo às avessas”. Graças a Deus (!), há muitos Centros Espíritas bem dirigidos em vários municípios do País. Por causa desses Núcleos Espíritas e médiuns humildes, o Espiritismo haverá de se manter simples e coerente, no Brasil e, quiçá, no Mundo, conforme os Benfeitores do Senhor o entregaram a Allan Kardec. Assim, esperamos!
Jorge Hessen
http://jorgehessen.net/
jorgehessen@gmail.com
Fontes:
(1) Cf. Entrevista concedida ao Dr. Jarbas Leone Varanda e publicada no jornal uberabense O Triângulo Espírita, de 20 de março de 1977, e publicada no Livro intitulado Encontro no Tempo, org. Hércio M.C. Arantes, Editora IDE/SP/1979
(2) Editorial da Revista O Espírita, ano 11 numero 57-jan/mar/90.
(3) Revista O Espírita/DF, ano 1992- Página “Tribuna Espírita” –Divaldo Responde- pag. 16
(4) Entrevista concedida ao Dr. Jarbas Leone Varanda e publicada no jornal uberabense O Triângulo Espírita, de 20 de março de 1977, e publicada no Livro intitulado Encontro no Tempo, org. Hércio M.C. Arantes, Editora IDE/SP/1979.
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