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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

“Engajamento” político do espírita, Carta de um amigo



Caro Jorge,


Achei muito bom e, principalmente, oportuno o artigo sobre o “engajamento” político do espírita.

O ponto principal é que o espírita não é político, nunca poderá ser.

O cidadão, que por acaso seja espírita, pode, de fato, ter aspirações políticas e mesmo militância, desde que sejam situações completamente separadas.

O problema é que a vida nos ensina que nunca são.

Gosto de dizer nas reuniões que somos cristãos 24 horas por dia, não apenas durante os trabalhos na casa espírita; os ensinamentos de Jesus destinam-se à vida em todos os seus aspectos.

Do mesmo modo, o espírita não perde essa condição em nenhum momento de sua vida cotidiana; porém, em alguns ambientes, como a política, é impossível neles permanecer sem abdicar de algumas convicções absolutamente irrenunciáveis.

Ainda que o espírita nada pratique de errado, dificilmente conseguirá, de fato, fazer o bem; pior ainda, verá procedimentos indignos e precisará com eles conviver, sob risco de ser alijado de qualquer participação política.

De qualquer modo, acabaria submetendo-se ao ditame de Edmund Burke, ainda no século XVIII:

A única coisa necessária para triunfo do mal é que os homens bons nada façam.

Já li, e ouvi, algumas vezes uma argumentação que pretensamente justificaria, e mesmo exigiria, a participação política dos espíritas e, pior, também das entidades espíritas.

Muitas religiões já o fazem, chegando mesmo a manter bancadas em parlamentos estaduais e federais, para que defendam os seus “interesses”, e que deveríamos agir da mesma forma, sob risco de ficarmos para trás, de vermos nossas dificuldades aumentadas, seja pela indiferença da população, seja por ações ostensivas contra a nossa doutrina.

Além de esse termo “interesses” abrigar uma definição tão imprecisa quanto ampla, acredito que não poderemos, jamais, adotar posturas que criticamos, como a submissão a táticas partidárias ou eleitoreiras, ou a omissão, na verdade cooptação deletéria perante o erro.

Seria um preço alto demais, e que, por graça divina, não precisamos pagar.

Persistamos em nosso trabalho, certos de que, se as dificuldades aumentarem, crescerá também a nossa capacidade de superação, inspirados e fortalecidos pelos verdadeiros orientadores de nossa doutrina.

O Espiritismo progride há 150 anos e sempre recusou a convivência com a prática espúria, eivada de pragmatismo interesseiro, que evita sujeitar-se ao crivo da moralidade, porque a ele sucumbiria.

Alguém já disse que a verdade não precisa de defesa, ela sobreviverá sempre a qualquer atentado ou perseguição.

Por fim, uma frase que define à perfeição a realidade política, pelo menos a de nosso país; Eça de Queiroz estava certo, há mais de um século:

Os políticos e as fraldas devem ser mudados freqüentemente e pela mesma razão.

Receba meu grande abraço,

Sérgio de Jesus Rossi

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