Teoria da Evolução ou do Des-envolvimento?
Maurilio Nogueira da Silva
Tese básica: Não existe evolução do simples para o complexo a não ser quando a complexidade já existe em germe ou potencialmente no que parece simples.
Penso que quando falamos em evolução, temos uma visão linear e queremos dizer que algo simples se transforma em algo complexo por acréscimo de elementos. Mas será que é assim mesmo? Não será a evolução do simples para o complexo um equívoco de observação ou uma observação superficial que não reflete a realidade? Não será verdade que todos os seres desenvolvem, cada um, as potencialidades que já trazem em si? É o que pretendo refletir nesse pequeno texto.
Quando supomos que algo simples evolui para o complexo, estamos sendo simplórios ou ingênuos em nossas observações. Estamos vendo apenas a periferia dos fenômenos. Na verdade o simples não evolui a não ser que ele traga em germe ou na origem o complexo, de forma oculta à nossa observação imediata. E nesse caso não se trata de evolução, mas sim um des-envolvimento onde o que parece simples vai deixando que venha à tona o complexo que já estava dentro dele, como potencialidade, como possibilidade, esperando condições favoráveis para ser atualizado, plasmado ou concretizado. Sendo assim, os elementos simples da natureza não evoluem para além de suas potencialidades, mas se des-envolvem, ou seja, tiram o véu que os faz parecer simples e vão revelando sua complexidade ou sua perfeição.
Pensando assim parece-me lógico tratar o termo evolução com o sentido de des-envolvimento, à luz do que já afirmara o filósofo Aristóteles, que viveu antes de Cristo, com sua teoria de “potência e ato”. Segundo ele, tudo se desenvolve, atualizando as potências que traz dentro de si.
Nesse caso, o animal não evoluiu para um ser humano, como pregam os evolucionistas em suas conclusões apressadas. O homem já estava nele desde o início, em germe ou potencialmente, apresentando, nos seus primórdios, aparência ou características de um animal antes de chegar à figura humana como se conhece hoje. E que continua passando por mudanças em sua aparência em função das alterações no seu modo de viver.
Segundo esse raciocínio, parece-me fazer sentido admitir que Deus criou tudo que existe, em germe ou potencialmente, dando a cada criatura a propriedade de se atualizar ou des-envolver as potencialidades que lhe são próprias. Há assim as potencialidades do reino mineral, as do reino vegetal, as do reino animal e as do homem. Cada criatura está desenvolvida quando chegou a atualizar suas potencialidades. Não é correto, portanto, insistir na idéia de evolução nem estabelecer comparações sobre quem é mais perfeito ou mais belo na obra da criação, embora tenhamos enraizada a idéia de que o homem é o ser mais desenvolvido e mais perfeito. O que se pode admitir que ele é o ser mais complexo da criação. É só olharmos melhor as criaturas para percebemos o desenvolvimento e a beleza própria de cada uma. Exemplificando os minerais ou os seres inanimados não podem evoluir para serem vegetais por não trazer em si a potencialidade ou possibilidade de serem criaturas animadas ou que têm vida. Assim também os vegetais não podem evoluir para serem animais, por não trazerem a potencialidade de terem um cérebro animal e, finalmente, os animais não podem evoluir para serem humanos por não trazerem em si as potencialidades de desenvolverem a consciência, que é o elemento mais complexo dos seres vivos.
A consciência - que é o diferencial básico entre o animal e o homem - segundo grandes estudiosos, não vem da evolução material dos seres vivos, como advogam os materialistas naturalistas, mas das atividades que os homens desenvolvem coletivamente na sociedade. Esta afirmação pode ser encontrada nas idéias filosóficas de Karl Marx ( na Tese I de Karl Marx sobre Feuerbach, onde ele critica o materialismo naturalista ou vulgar), Friederich Engels no livro Dialética da Natureza, onde ele afirma que o pensamento não vem da matéria, mas das atividades do homem ao atuar sobre a matéria) e, mais tarde no psicólogo russo Aléxis Leontiev ( no livro “O Desenvolvimento do Psiquismo”, onde ele afirma que a Consciência não vem do cérebro, mas das atividades sócio-históricas do indivíduo). Todos estes estudiosos negam, portanto, a tese dos materialistas vulgares para os quais o pensamento, a consciência, enfim, os fenômenos psíquicos ou espirituais teriam origem na matéria.
Concluindo, defendo a tese vai na direção contrária à teoria da evolução baseada no materialismo naturalista ou vulgar e aponta na direção de uma teoria do des-envolvimento, que parte de um materialismo-dialético e, a meu juízo, concorda com o espiritualismo, admitindo que o Homem é criado por Deus em espírito ou à semelhança de Deus, mas percorreu um longo caminho des-envolvendo ou passando por diversos corpos materiais até chegar ao que hoje ele é.
Bibliografia:
. ARISTOTELES, Vida e Obra. Coleção os Pensadores, SP Ed. Abril Cultural, l978
. ENGELS, Friederich. Dialética da Natureza, RJ, Paz e Terra, l979
. LEONTIEV, Aléxis. O Desenvolvimento do Psiquismo. Lisboa, Ed. Horizonte Universitário, l978.
. MARX, Karl, A Ideologia Alemã e outros Escritos
. SILVA, Maurilio N. A Produção Sócio-Histórica da Consciência do Indivíduo ( Tese de Mestrado
defendida na UNICAMP, em l986.
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