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sexta-feira, 31 de julho de 2015

SOMOS LEGATÁRIOS DAS NOSSAS OBRAS (Jorge Hessen)

Jorge Hessen
Pesquisando aqui e ali esbarrei com histórias curiosas. Uma delas foi o recente reencontro entre dois amigos (ex-jogadores de futebol) que se uniram deslumbrados pela bola e após abandonarem os gramados seguiram rumos opostos. Seus nomes? Ronaldo Souza e Carlos Eduardo se conheceram na década de 1990 no pequeno time da Portuguesa da Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. Contudo a vida dos dois tomaria caminhos diferentes: Carlos virou magistrado e Ronaldo traficante de drogas. Decorridos quase 20 anos, o caminho dos dois se cruzou outra vez e, graças à intervenção de Carlos (o magistrado), Ronaldo (o criminoso) ganhou o benefício de trabalhar fora da cadeia. [1]

A história dos dois começou na juventude. Além da Portuguesa, a dupla atuou junto em outros times pequenos do Rio. Carlos jogava mais pela ala esquerda e Ronaldo era centroavante. Posteriormente, separados, eles passaram por vários clubes do Brasil. Carlos jogou no Vila Nova, Aracruz e União Barbarense, mas percebeu que o futebol não lhe daria equilíbrio financeiro. Estudou muito e se formou em direito e em seguida passou no concurso de juiz. Hoje, é o titular da vara de Execuções Penais e cuida dos cerca de 25 mil presos do Estado do Rio.

Ronaldo, porém, nos últimos anos de carreira, já desmotivado, começou a se envolver no submundo do crime. Foi preso em 2003. O processo criminal de Ronaldo caiu na mesa de Carlos em dezembro de 2014. Com um atestado de bom comportamento na prisão, Ronaldo solicitava o benefício de trabalhar fora da cadeia. Carlos, impedido de decidir por ter laços de amizade com Ronaldo, deixou o processo nas mãos de outro juiz. Mas, como titular da vara, foi ele quem assinou o documento que oficializou o benefício.

No dia do reencontro no fórum, Ronaldo parecia tenso, constrangido, mas a gratidão no rosto e nas palavras prevaleceram. Pronunciou ao amigo e então meritíssimo juiz que “na lei da semeadura colhemos o que semeamos, então temos que procurar plantar coisa boa, pra colher coisa boa, sei que infelizmente não plantei o melhor”. Após agradecer a oportunidade e relembrar os momentos de jogador, o tão esperado momento de sair do carceragem enfim aconteceu. 

Outro episódio singular ocorreu na corte de justiça de Miami nos EUA, quando dois ex-colegas do “ginasial” se reencontraram em situações de vida bastante adversas. Em uma sessão, a juíza Mindy Glazer reconheceu Andy Booth (acusado de assalto e distúrbios na ordem de trânsito) – como seu ex-colega de turma. O acontecimento (difundido pelo You Tube) e citado pela imprensa internacional foi ainda mais impactante quando a juíza pronunciou, em palavras francas, que Booth era “o cara mais legal da escola”. Entretanto, diferente do desfecho entre o juiz Carlos e o traficante Ronaldo, ocorrido no Rio de Janeiro, lá nos EUA o assaltante Booth chorou muito diante da ex-colega de ginásio quando a reconheceu. A juíza Glazer lastimou a situação do ex-colega de escola e aplicou-lhe a penalidade cabível, emitindo sinceros votos para que Andy conseguisse mudar o próprio futuro.[2]

Tais fatos incomuns e inesperados foram amplamente divulgados, e valem como uma sentença para reflexões: a todo momento devemos fazer opções na vida e as alternativas cotidianas edificam nossa história. Gradativamente vamos bancando nossa caminhada e cada dia em que preenchemos os espaços da experiência com boas decisões precisa ser celebrado. A conquista de uma situação social digna e segura é erigida palmo a palmo, dia após dia, insistindo no caminho do esforço e do bem.

Na Lei de Causa e Efeito estão compendiadas as dinâmicas que harmonizam as demandas ético-morais. Compreendemos que a justiça humana está apoiada na legislação terrestre, sob códigos judiciais instituídos pelos juristas. Quando há uma demanda qualquer, os conhecedores desses códigos analisam o processo, julgam e decidem os corretivos aplicáveis ao réu. A justiça dos homens se alicerça no arbítrio e segundo a visão dos meritíssimos.

Contudo, considerando a justiça divina a apreciação das infrações tem outra conotação. Os efeitos dos atos se dão de forma direta e natural, sem intercessores. Numa falta, a punição se situa de modo adequado e interrompe espontaneamente, com os mecanismos do arrependimento eficaz, da expiação e da reparação do erro. 

Nos códigos da justiça divina não há dois pesos e duas medidas. Inexiste espaço para injustiças e as leis são inabaláveis e não podem ser burladas. As leis divinas não admitem exceções, nem concessões. Todavia, como reconhecer essas leis? Ora, auscultando a consciência, que é onde está escrito o código divino. 

Se sabemos que as consequências dos nossos atos ocorrerão, que somos herdeiros das nossas obras, podemos suscitar, se quisermos, efeitos suaves para o futuro. Se hoje padecemos as sequelas de atos equivocados já cometidos, basta enfrentar os efeitos, sem nos queixar dos sofrimento, e agir com um comportamento ético-moral harmônico com o resultado que aspiramos conseguir amanhã. 

No campo moral a justiça divina rege a vida humana, distribuindo a cada um segundo as próprias obras, sem intermediários. Destarte, se desejamos um futuro próspero, procuremos acertar nossos passos em consonância com a consciência, que é sempre um guia infalível onde estão grafadas as leis do Criador. 

E, se não tivermos certeza de como agir corretamente, recordemos aquela regra de ouro: “façamos aos outros o que gostaríamos que os outros nos fizessem” [3], e não há como errar.

Referências:

[1] Disponível em http://globoesporte.globo.com/programas/esporte-espetacular/noticia/2013/08/o-traficante-e-o-juiz-um-reencontro-anos-apos-abandonarem-o-futebol.html acesso 28/07/15

[2] Disponível em http://revistamarieclaire.globo.com/Web/noticia/2015/07/suspeito-de-roubo-chora-em-julgamento-ao-reconhecer-que-juiza-era-sua-amiga-de-escola-assista.html acesso em 28/07/15

[3] Mateus 7:12

O céu e o inferno: 150 anos do lançamento por Kardec – 140 anos de lançamento no Brasil

Antonio Cesar Perri de Carvalho


Allan Kardec lançou a obra O céu e o inferno em Paris no dia 01/08/1865. A versão considerada final – 4ª. edição - surgiu em 1869 e sem o prefácio de Kardec. 


No Brasil, dr. Joaquim Carlos Travassos manteve correspondência com Pierre-Gaétan Leymarie, dirigente da Sociedade citada e redator de “Revue Spirite”, com o objetivo de traduzir as obras de Kardec. E lançou em 1875, pela Editora B. L. Garnier, O Céu e o Inferno, traduzido da 4ª edição francesa, sem o nome do tradutor. Em nosso país, com exceção da tradução pioneira e da realizada por Manoel Quintão, em 1904 (FEB), a maioria contém o Prefácio de Kardec, inclusive a mais recente tradução, de Evandro Noleto Bezerra.

Com as obras da Codificação, surge uma maneira de racionalismo espírita, com destaque para as colocações em “O evangelho segundo o espiritismo”, de que “Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as etapas da humanidade”. Herculano Pires comenta que coube a Allan Kardec, a serviço do Consolador, libertar da letra que mata o espírito que vivifica. Ou seja, a religião dedutiva faz Deus baixar à terra e materializar-se em ritos e objetos; a religião indutiva faz o homem subir ao céu e desmaterializar-se, em razão e amor, para encontrar Deus. 

No Prefácio, ausente na 4ª. edição francesa (1869) e em muitas traduções, Kardec comenta: “O título desta obra indica claramente o seu objetivo. Nela reunimos todos os elementos destinados a esclarecer o homem quanto ao seu destino. Como em nossas publicações anteriores sobre a Doutrina Espírita, nada colocamos neste livro que seja produto de um sistema preconcebido ou de concepção pessoal, que aliás, não teria nenhuma autoridade. Tudo foi deduzido da observação e da concordância dos fatos”.

Em outro trecho esclarece: “As mesmas razões que nos fizeram omitir os nomes dos médiuns em O evangelho segundo o espiritismo, levaram-nos a omiti-los também nesta obra, tendo em vista mais o futuro do que o presente.”

A 1ª. parte trata de Doutrina, em 12 capítulos, contém o exame comparado das diversas crenças sobre: O porvir e o nada; Temor da morte; O céu; O inferno; O purgatório; As penas futuras segundo o Espiritismo; Os anjos; Os demônios; Intervenção dos demônios nas modernas manifestações. Com as penas eternas na visão espírita caem naturalmente as consequências que se acreditavam tirar de tal doutrina. Como as penitências, indulgências, e complexos de culpa.

Na 2ª. Parte, o Codificador analisou “Exemplos” e há numerosos casos que sustentam a teoria. A autoridade deles se baseia na diversidade dos tempos e dos lugares onde foram obtidos, porquanto, se emanassem de uma fonte única, poderiam ser produto de uma mesma influência. De início Kardec esclarece como se desenvolve o processo da desencarnação. Detalha algumas circunstâncias, lembrando que “A certeza da vida futura não exclui as apreensões quanto à passagem desta para a outra vida”. Em seguida, realizou um trabalho pioneiro de estudo das manifestações espirituais, cotejando-as com dados sobre a existência do manifestante, enquanto encarnado. Trata-se, portanto, do primeiro estudo de casos, de análise das manifestações espirituais, e de estudo de sobrevivência.

Sem pieguismo e adotando método de estudo, como em seus trabalhos em geral, analisa as manifestações dentro de uma classificação que estabeleceu de: Espíritos felizes; Espíritos em condições medianas; Espíritos sofredores; Suicidas; Criminosos arrependidos; Espíritos endurecidos; Expiações terrestres. Torna-se muito importante a compreensão dessas distintas situações de espíritos desencarnados. Esta classificação genérica formulada por Kardec chama atenção para essa relação entre a vida e morte corpórea e seus desdobramentos. O importante é o estado de alma e o nível e profundidade de como “a lei divina se encontra escrita na consciência” de cada um.

Por ocasião do centenário de O céu e o inferno, o espírito Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, homenageou esta obra do Codificador, escrevendo Justiça divina, “com o propósito sincero de reafirmar-lhes os conceitos, [...] no serviço interpretativo da palavra libertadora de Allan Kardec”. Com base nos itens do livro agora sesquicentenário, Emmanuel tece considerações de orientação para a vida cotidiana. Entre outras afirma: “[...] prevenindo-nos para compreender as realidades da Natureza, no grande porvir, ensinou-nos Jesus, claramente: ‘O Reino de Deus está dentro de vós”.

O Espiritismo responde às dúvidas existenciais mais freqüentes. E à pergunta insistente que brota na alma humana: “para onde vou após a morte?”. O livro O céu e o inferno – que completa 150 anos de lançamento - é a resposta clara e fundamentada!

Fontes:

Kardec, Allan. O céu e o inferno. Trad. Bezerra, Evandro Noleto. 1.ed. Rio de Janeiro: FEB. 2010.
Pires, Herculano. O espírito e o tempo. Introdução histórica ao espiritismo. 1.ed. São Paulo: Ed.Pensamento, 1964.
Xavier, Francisco Cândido. Justiça divina. 13. ed. Pelo espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB. 2008.
Wantuil, Zêus. Grandes espíritas do Brasil. 1.ed. Rio de Janeiro: FEB. 1969.

(Transcrito de “O Consolador” – revista semanal digital, no 425, 2/8/2015)

quinta-feira, 30 de julho de 2015

INVESTIMENTO



Luiz Carlos Formiga


Jesus é guia e modelo para os espíritas.


Em educação, crianças precisam de paradigmas.


Quando menino, Jesus surpreendeu doutores.

Depois uma de suas melhores aulas práticas foi imortalidade da alma.

Hoje, no teatro a morte é até piada.


Mas, o fato de Jesus ter usado parábolas, para ministrar ensinamentos e não ter escrito nada, ajudou ou prejudicou o entendimento do Cristianismo?

Se tivesse escrito, como Kardec, reduziria as multidivisões futuras e melhoraria o entendimento? 

O Mestre dos Mestres lecionou com perfeição.

As parábolas já eram conhecidas no Velho Testamento e nos livros sagrados do Oriente, mas Jesus as imortalizou.

São histórias simbólicas, comparativas, que embora utilizem reálias, encerram um conteúdo moral que precisa ser buscado.

Jesus ensinou como fazê-lo explicando a parábola do semeador (Mateus, 13:18-23) e do Joio e do Trigo (Mateus, 13: 36-43).

Há muitas vantagens na sua utilização.


Jesus é a porta; Kardec a chave.


Kardec é também um bom modelo de pesquisador nas ciências sócio-morais.


Há nas famílias bons modelos. Pode ser uma avó, um tio ou qualquer outro. No meu caso particular, o avô foi muito importante.


Chico Xavier foi bom modelo de mediunidade. Principalmente, quando aceitou a linha de segurança oferecida para o trabalho Doutrinário.

Emmanuel recomendou ao médium que “deveria, acima de tudo, procurar os ensinamentos de Jesus e as lições de Allan Kardec . E mais, que se um dia ele, Emmanuel, algo aconselhasse que não estivesse de acordo com as palavras de Jesus e de Kardec, que Chico deveria permanecer com os dois, procurando esquecê-lo.”


Para mim, alguém especial foi um “leproso”.

Leproso pois ficou doente antes da era dos quimioterápicos e antibióticos.


Amazonas Hércules fez Política, mas a Divina.



Política Divina é aquela onde não há necessidade de respirar o clima da política administrativa do mundo. Nela, o político deve representar os interesses de Deus junto do coração humano, não havendo necessidade de portarias e decretos ou de se vestir o traje de sacerdote ou da toga de magistrado.

Por outro lado, há necessidade de testemunhar a grandeza celestial. Nesse particular, não se deve estar subordinado a reis e ministros, câmaras e parlamentos transitórios.

Na Política Divina deve-se utilizar as Plataformas do Evangelho Redentor, cessando o egoísmo da animalidade primitiva, fazendo-se o bem aos que nos fazem mal. Não é tarefa fácil, pois, deve-se abençoar os perseguidores e caluniadores e conseguir orar pela paz dos que nos ferem.

Talvez seja mais fácil repartir as alegrias com os menos afortunados e mais pobres do caminho; dissipar as trevas, fazer brilhar a própria luz e revelar o amor que acalma as tempestades do ódio.

Amazonas Hércules, o secretário do Centro Espírita Filhos de Deus, manteve viva a chama da esperança, onde soprava o frio do desalento e levantou os caídos. Por causa da hanseníase, usava muleta para locomoção, mas foi também a muleta benfeitora dos que se arrastavam sob os aleijões morais.

Amazonas, também, combateu a ignorância, acendendo lâmpadas de auxílio fraterno, sem golpes de crítica e sem gritos de condenação. Soube amar, compreender e perdoar sempre. Em síntese não dependeu de decretos humanos para meter mãos à obra.

Ficamos felizes quando vemos que sua biografia atravessou as fronteiras.


Deus permita que possa servir como modelo, auxiliar da educação espírita, nascido na pátria do Evangelho.

A criatura humana é o maior investimento divino.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Herculano Pires e o Roustainguismo


Leonardo Marmo Moreira


A atuação de Herculano Pires como espírita militante destacou-se por sua franqueza ao expor suas opiniões, sobretudo quando era deparado com pregações incoerentes do ponto de vista doutrinário (MOREIRA, 2015; LAVARINI, 2015). O professor Herculano teve uma atuação doutrinária de tamanha polivalência, com especial destaque para a defesa das bases kardequianas, que, com tranquilidade, podemos incluí-lo no seleto grupo dos maiores missionários espíritas que a humanidade já conheceu desde o advento da Doutrina dos Espíritos a 18 de Abril de 1857. Mesmo considerando períodos anteriores a 1857, chegando, por exemplo, a 1848 com os conhecidos eventos de Hydesville, os quais muitos utilizam como referência concernente ao surgimento do chamado “Neo-Espiritualismo”, e mesmo a períodos mais recuados (época dos precursores do Espiritismo e dos magnetizadores, tais como Mesmer), a atuação de Herculano Pires continua apresentando evidenciado relevo dentro do contexto geral do surgimento da chamada “Nova Era” para a humanidade em termos de Espiritualidade.
O profundo conhecimento doutrinário associado a uma vasta cultura geral, uma grande veia literária e um idealismo ímpar tornou o Professor Herculano Pires um defensor inigualável do valor da obra de Allan Kardec. Realmente, todos esses pré-requisitos proporcionavam significativa repercussão aos esforços de Herculano justamente por causa de sua força de trabalho e de seu sentido de abnegação raríssimos em todas as áreas da humanidade, incluindo o Movimento Espírita.
A frequente divulgação de ideias em oposição aos princípios doutrinários básicos da “Codificação”, quando dentro do contexto do movimento espírita, tinha sempre em Herculano um obstinado opositor, para que o movimento espírita não perdesse sua diretriz de segurança que sempre foi e sempre será a obra de Allan Kardec.
Destacando-se como escritor, orador, tradutor, revisor, polemista, entre outras atuações, representou, em uma época de grande efervescência dentro do Movimento Espírita Brasileiro (e também do movimento espiritualista brasileiro de uma forma geral), uma referência de coerência doutrinária espiritista e fidelidade às bases kardequianas. De fato, sem se circunscrever apenas aos postulados kardequianos, estudava novas contribuições, sem, no entanto, se deixar levar por modismos e “novidades”, que não fornecessem respaldos doutrinários mínimos. As ideias estranhas à Doutrina Espírita frequentemente penetravam (como ainda penetram) o movimento espírita ou mesmo eclodiam (como ainda eclodem) do próprio movimento, aproveitando brechas deixadas pelo baixo nível de vigilância no estudo e preservação de diretrizes de maior grau de segurança doutrinária por parte de nós mesmos, os militantes espiritistas, células básicas do movimento espírita.
Ademais, não é possível ignorar o desejo de projeção pessoal, incluindo frequentemente uma busca de originalidade, mesmo que em detrimento de critérios mínimos de coerência lógica.
Na verdade, Herculano não era taxativamente contra as chamadas “novidades”, mas seguindo os critérios de Kardec e Erasto, submetia tais propostas a uma rigorosa avaliação para definir se as mesmas poderiam ser ou não veiculadas dentro de um contexto espiritista. Ademais, Herculano foi um percussor da proposta popularmente conhecida como “comece pelo começo” e, em matéria de Espiritismo, o começo, obviamente, é a Codificação.
Tais reflexões acabam denotando a importância da contribuição de Herculano Pires, principalmente se analisarmos o contexto de trabalho no qual sua atuação era desenvolvida. Eram outros tempos, bem diferenciados em relação aos dias atuais. Apesar de algumas semelhanças, pois, presentemente, também vivemos uma eclosão de modismos e tendências sem maior sustentação doutrinária, os tempos de atividade doutrinária de Herculano Pires tinham maior número de fatores complicadores, o que precisa ser levado em consideração ao avaliarmos a situação do movimento espírita brasileiro no qual Herculano Pires atuou assim como a importância de sua contribuição.
E realmente não eram tempos fáceis. Herculano Pires viveu uma época difícil para o movimento espírita brasileiro, no qual perseguições externas, motivadas por preconceitos arraigados; divergências e até mesmo dissidências internas faziam parte do dia-a-dia do trabalhador espírita. Obviamente, o movimento espírita contava com um número muito menor de adeptos do que apresenta atualmente e o preconceito das religiões oficiais, e até mesmo de órgãos governamentais, era muito mais virulento. Isso fazia com que os Espíritas militantes mais abnegados tivessem realmente que viver diariamente um nível de “renúncia evangélica”, que faz lembrar, guardadas as devidas proporções, à dedicação dos divulgadores do Cristianismo no século primeiro (séc. I).
Legítimo herdeiro da determinação, capacidade de trabalho e firmeza de caráter de Cairbar Schutel (aliás, Herculano Pires atuou muitos anos em um centro espírita cujo nome era justamente “Grupo Espírita Cairbar Schutel”) (Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires, 2015), Herculano tornou-se um epicentro de qualidade doutrinária para o movimento espírita paulista, brasileiro e mundial.

Trajetórias pessoal, profissional e conversão à Doutrina Espírita
Herculano Pires nasceu em Avaré (SP), em 25 de Setembro de 1914, sendo filho do farmacêutico José Pires Corrêa e de sua esposa, a pianista Bonina Amaral Simonetti Pires (RIZZINI, 2001). Herculano era primo de Cornélio Pires, ícone da cultura popular do interior do estado de São Paulo e conhecido autor espiritual que, através da mediunidade de Chico Xavier, trouxe uma importante contribuição para as nossas reflexões sobre “Lei de Sociedade”, “Lei de Justiça, Amor e Caridade” e de uma série de correlações entre a vida espiritual e a vida física na crosta terrestre.
Herculano casou-se com Maria Virgínia. Tiveram quatro filhos, dentre eles, Heloísa Pires, extraordinária escritora e expositora espírita. Heloísa é formada em pedagogia, tendo publicado, inclusive, um excelente livro sobre seu pai, intitulado “Herculano Pires, o Homem no Mundo” (PIRES, 1992).
Graduado em Filosofia pela USP em 1958, Herculano publicou uma tese existencial: “O ser e a serenidade”. De 1959 a 1962, foi docente titular da cadeira de filosofia da educação na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara. Foi membro titular do Instituto Brasileiro de Filosofia, seção de São Paulo, onde lecionou psicologia. Foi presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo de 1957 a 1959.  De fato, atuou muito tempo como jornalista dos “Diários Associados”. Além disso, foi professor de sociologia no curso de jornalismo ministrado pelo Sindicato (www.fundacaoherculanopires.org.br).
Herculano Pires converte-se ao Espiritismo aos 22 anos, depois de uma verdadeira saga em busca de uma doutrina que representasse a filosofia de vida/diretriz de comportamento mais elevada que pudesse estar disponível à humanidade. E foi assim que lendo, estudando e meditando, Herculano chega ao Espiritismo já amadurecido por uma busca prévia bastante rica, por ter sido propiciadora de um desenvolvimento de sua capacidade crítica em relação à avaliação de pontos positivos e negativos das diversas correntes de pensamento vigentes em seu tempo.

                Herculano Pires e o Roustainguismo
                Herculano Pires foi crítico do chamado “Pacto Áureo” (1949), pois, em sua opinião um diálogo mais profundo com maior abertura para a manifestação das várias representações do movimento espírita nacional deveria ter sido proporcionado. Espíritas nobres de ideal e de coração acabaram cedendo a um acordo, na visão de Herculano, precipitado, em prol da união, pois as divergências entre os grupos eram bastante acentuadas.
                É interessante frisar que Herculano Pires registra sua opinião contrária ao roustainguismo em praticamente todos os seus livros como autor único, inclusive em sua obra  “O Espírito e o Tempo”. É digno de nota que, em pesquisa realizada pela Editora “Candeira” no ano de 1999, visando à eleição dos 10 maiores livros espíritas do século XX, o livro de José Herculano Pires intitulado “O Espírito e o Tempo – Introdução Antropológica ao Espiritismo (PIRES, 2003)” foi considerado através de votação (cujos eleitores eram renomados trabalhadores espíritas de diversas áreas de atuação) o sétimo melhor livro espírita do século XX.
                Nesse contexto, algumas informações concernentes à famosa obra contra o roustainguismo denominada “O Verbo e a Carne” (ABREU FILHO E PIRES, 1973) seriam úteis para a compreensão da elaboração do referido texto e de suas motivações.
        A emblemática obra contra o Roustainguismo “O Verbo e a Carne” de autoria de Júlio Abreu Filho e José Herculano Pires (ABREU FILHO E PIRES, 1973) tornou-se, indiscutivelmente, uma das maiores referências contra o histórico processo cismático gerado no movimento espírita pela obra “Os Quatro Evangelhos” de J.B. Roustaing (ROUSTAING, 1994). Em verdade, Júlio Abreu Filho, célebre tradutor da Revista Espírita de Allan Kardec, havia escrito a obra “Erros Doutrinários (O sentido do roustainguismo)” (ABREU FILHO, 1973), que consistia em uma réplica à infeliz defesa do pensamento roustainguista intitulada “Elos Doutrinários” (BRAGA, 2000) de autoria de Ismael Gomes Braga e, segundo o próprio Júlio Abreu Filho “...constituído, ao que nos parece, de uma série de erros doutrinários”(grifo de J.A.F.)”. (ABREU FILHO E PIRES, 1973).
                       Como surgiu, então, a interessante co-autoria de J. Abreu Filho e Herculano Pires? É o próprio Herculano quem responde isso em um relato histórico que prefacia a obra “O Verbo e a Carne”. Diz Herculano:
        “No seu leito de libertação, pouco antes de abandonar o casulo do corpo e voar para o Além, Julio Abreu Filho conversava comigo e Jorge Rizzini sobre questões doutrinárias. Surgindo o problema do Roustainguismo lembrei o seu trabalho a respeito e a necessidade de reeditá-lo. Julio entusiasmou-se com a ideia e incumbiu-me de tratar o assunto...”
        “Falei a Julio da necessidade de uma revisão do texto e de acréscimo de notas explicativas. Ele me autorizou a fazer o que fosse necessário, pois compreendia a exigência de atualização. Mas ao reler o trabalho de Julio vi que era necessário fazer um pouco mais. Esse trabalho é polêmico e seguiu os rumos determinados pelas circunstâncias. Embora muito valioso, particularmente pelos dados que o informam, devia ser amparado por um esforço de análise metódica. Pensei numa introdução, mas o assunto exigiu mais do que eu pensava. Fui levado a escrever um pequeno livro, que é uma introdução analítica ao livro de Julio. Assim, achei melhor que ambos figurassem num volume único, sob um título geral” (J. Herculano Pires, 1972) (ABREU FILHO E PIRES, 1973).
                       É interessante perceber que Herculano Pires, em um primeiro momento, pensava apenas em reeditar a obra de Júlio Abreu Filho, provavelmente com algumas notas explicativas, mas relendo o referido texto percebeu que uma introdução mais extensa seria necessária, a qual acabou desdobrando-se em um segundo livro. Entretanto, compreendendo o caráter complementar dos dois textos, Herculano decide publicar ambos os textos juntos, sob um título único, fortalecendo o corpo de ideias que, em conjunto, geraram uma das principais contribuições de Herculano Pires ao movimento espírita. Tal predisposição já demonstra como Herculano era aberto às parcerias que pudessem enriquecer o entendimento doutrinário do movimento espírita. Pareceria semelhante ele também desenvolveria com Chico Xavier, a qual abrangeria cinco livros.
 A propaganda roustainguista nos idos da década de setenta era extremamente agressiva e somente a união de dois textos de altíssimo nível, de autoria de dois extraordinários autores espiritistas, poderia gerar a elucidação necessária para que muitos que estavam dominados e outros que estariam predispostos a sucumbir à fascinação roustainguista, não fossem por ela iludidos.
                       Todavia, uma única obra não derrubaria totalmente um processo cismático construído a mais de um século. No entanto, o exemplo de destemor de Júlio Abreu Filho e José Herculano Pires sensibilizou muitos espíritas sérios, que, conscientes de suas responsabilidades, começaram, igualmente, a manifestar suas respectivas opiniões através de artigos e livros, sobretudo após o ano de 1979, quando Herculano desencarnara. De fato, sem a presença física de Júlio Abreu Filho e José Herculano Pires, outros confrades admiráveis assumiram o trabalho desgastante de escrever sobre tão indigesto assunto, em prol do movimento espírita e da futura divulgação doutrinária em níveis de qualidade mínimos, os quais, em um cenário de dominação roustainguista, estavam seriamente ameaçados.
                       Vale acrescentar os comentários finais de Herculano Pires no prefácio da respectiva obra, denotando a motivação dos polemistas autores de “O Verbo e a Carne” em constituir tal volume:
“Muita gente pensa que a questão do Roustainguismo deve ser posta de lado. Essa é uma atitude cômoda, mas não corresponde às exigências da boa compreensão doutrinária. Espero que o nosso trabalho – o meu e o de Julio Abreu Filho – concorra para melhor entendimento do problema” (José Herculano Pires, 1972) (ABREU FILHO E PIRES, 1973).
                       Portanto, Herculano Pires deixa claro que o esforço de ambos os autores visava a uma maior compreensão doutrinária, a qual somente pode ser lograda sabendo não somente o que é Espiritismo, mas também o que não é Espiritismo, com clareza e objetividade, a fim de que não nos percamos em cismas bem urdidas, como já aconteceu em outros contextos dentro da história do Cristianismo.
                      
Referências Bibliográficas:
MOREIRA, Leonardo Marmo. Herculano Pires: A Visão Doutrinária e a Ação no Movimento Espírita. Jornal de Estudos Espíritas. 3. 010205.
LAVARINI, Chrystiann. Herculano Pires e o papel do intelectual espírita na organização da cultura. Jornal de Estudos Espíritas. 3. 010206.
RIZZINI, Jorge. J. Herculano Pires - O Apóstolo de Kardec - O Homem A Vida A Obra. Paideia. 1 ed. 2001.
PIRES, Heloísa. Herculano Pires, o Homem no Mundo.  1 ed. Edições FEESP. 1992 acesso em abril de 2015.
PIRES, José Herculano. O Espírito e o Tempo – Introdução Antropológica ao Espiritismo. 8 ed. Paideia. 2003.
www.fundacaoherculanopires.org.br acesso em abril de 2015.
ABREU FILHO, Júlio e PIRES, José Herculano. O Verbo e a Carne – 2 Análises dos Roustainguismo. 1 ed. Edições Cairbar. 1973.
ROUSTAING, J. B. Os Quatro Evangelhos.  FEB. 8 ed. 1994.
ABREU Filho. Erros Doutrinários. Edições Caibar. 1 ed. 1973.

BRAGA, Ismael Gomes. Elos Doutrinários. FEB. 4 ed. 2000.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

REENCARNAÇÃO - GURIS E GURIAS GENIAIS SANCIONAM O RENASCER (Jorge Hessen)

Jorge Hessen


Quem são os guris e gurias prodigiosos? O que é a genialidade, o virtuosismo? O que faz na Terra um supertalentoso? Qual é o seu futuro? Perguntas essas que somente podem ser respondidas tendo a pluralidade das existências como verdade inconteste e mecanismo natural de evolução do Espírito. Sem a pluralidade das existências não há como explicar os fenômenos dos gênios mirins.

Pesquisadores acadêmicos, por mais que investiguem e arrisquem explicar as atuações de crianças e jovens com inteligências muito acima da média, oferecem frágeis hipóteses, discorrendo sobre causas obscuras, influências enigmáticas, recalcamentos e complexos mágicos. Os teólogos, laborando na inaptidão de elucidação racional e experimental, adjudicam tudo aos insondáveis mistérios da vontade do Altíssimo. Em verdade, a temática sobre reencarnação, sob o ponto de vista espírita, não foge à ciência, não teme debate, não se enlaça a dogmas e repele o materialismo. A Doutrina dos Espíritos está inteiramente habilitada para explicar o admirável fenômeno das crianças e jovens prodígios pelas considerações reencarnacionistas.

Por cabível, citemos a título de ilustração alguns nomes para lá de prodigiosos. Mozart e Chopin, por exemplo, trouxeram de reencarnações anteriores um nível de habilidade para a música extremamente superior aos músicos comuns. Quando tais virtuoses reencarnaram, simplesmente complementaram os conhecimentos e habilidades que permitiram acrescentar aquele degrau que passaria a habilitá-los à classe de Gênios. Assim, tais espíritos, em vez de trazerem somente um potencial latente, apresentam no cérebro físico a porta aberta do setor da memória espiritual. Recordando não como intuição, mas como lembrança concreta daquela habilidade desenvolvida no passado.

Miguel Ângelo, aos doze anos já era um magistral artista; Balzac, aos oito já compunha pequenas comedias; Wagner, aos 6 já havia lido a história de Mozart; Carlyle aprendeu a ler aos 4; Alexandre Dumas, aos 4 lia a História Natural de Buffon. Walter Scott aprendeu a ler entre 3 e 4 anos. Voltaire, educado por um padre, aprendeu a ler aos 3. Antes dos 12 versejava com admirável fluência; Goethe, aos 7 compunha versos em latim e, antes dos 9, fazia um poema, parte em latim, parte em grego e parte em alemão; Hermógenes, aos 15 ensinava retórica ao imperador Marco Aurélio; Victor Hugo, aos 13 ganhava um prêmio nos jogos florais de Toulouse; Stuart Mill, aos 8 já conhecia o grego perfeitamente e aos 10 aprendeu o latim.

Há diferentes talentos presentes nos gênios mirins contemporâneos. Vejamos: Kim Yong-Ung frequentou a Universidade aos 4 de idade e no seu quinto aniversário resolveu um complicado cálculo diferencial e integral; doutorou-se aos 15 anos. Kevin Michael Kearney falou suas primeiras palavras aos quatro meses, e quando tinha seis meses disse ao seu pediatra: "eu tenho uma infecção na orelha esquerda", e aprendeu a ler aos 10 meses. Mikaela Irene Fudolig entrou para a Universidade das Filipinas aos 11 anos. Fez bacharelado em Ciências Físicas aos 16 anos e era a melhor aluna de sua turma de formandos.

Akrit Pran Jaswal (da Índia) se tornou conhecido quando realizou sua primeira cirurgia, com apenas sete anos de idade. Entrou na universidade de medicina aos 12 anos, e aos 17 já estava graduado em Química Aplicada. Taylor Ramon Wilson é a pessoa mais jovem do mundo a construir um fusor nuclear. Aos 10 anos, Taylor construiu uma bomba e aos 14, o fusor. Em maio de 2011, ganhou o prêmio International Science and Engineering Fair Intel, graças ao seu detector de radiação. Cameron Thompson é um prodígio da matemática do norte do País de Gales. Quando tinha quatro anos de idade corrigiu seu professor sobre sua afirmação de que zero é o menor número. Jacob Barnett, aos 10 anos de idade se matriculou na Universidade de Indiana. Enquanto estudava, afirmou que um dia poderia refutar a Teoria da Relatividade de Einstein. Atualmente ele está trabalhando em seu PhD em Física Quântica.

March Tian Boedihardjo nasceu em Hong Kong e é a pessoa mais jovem a se matricular na Universidade de Hong Kong, aos nove anos de idade. Balamurali Ambati nasceu em 29 de julho de 1977, e foi a pessoa mais jovem do mundo a se formar na carreira de medicina. Aos 13 anos já tinha se graduado da Universidade de Nova Iorque, e aos 20 terminou sua residência na Universidade de Harvard e se graduou como oftalmologista.

Gregory R. Smith, pode parecer brincadeira, mas aos 14 meses já sabia as 4 operações aritméticas e aos dois anos já lia perfeitamente, inclusive corrigindo os erros gramaticais que encontrava. Ruth Elke Lawrence, aos 8 anos já tinha atingido o nível intelectual de matemática mais alto que se pode obter – "Grau A em Matemática Pura". Aos 11 anos, Ruth entrou na universidade de Oxford, onde se graduou com honras 3 anos mais tarde. Continuou seus estudos até obter seu doutorado, com 18 anos, sendo professora da Universidade Hebreia de Jerusalém. William Hamilton conhecia treze línguas em sua infância, e aos dezoito anos foi proclamado o melhor matemático de sua época.

Só a pluralidade das existências pode explicar a diversidade dos caracteres, a variedade das aptidões, a genialidade, a desproporção das qualidades morais; enfim, todas as desigualdades que alcançam a nossa vista. Fora dessa lei, indagar-se-ia, inutilmente, por que certos homens possuem supertalentos, sentimentos nobres, aspirações elevadas, enquanto muitos outros só manifestam paixões e instintos grosseiros. A influência do meio, a hereditariedade (privilégios biogenéticos) e as diferenças de educação não bastam, obviamente, para explicar esses fenômenos. Vemos os membros de uma família, semelhantes pela carne, pelo sangue, pelo histórico genético, e educados nos mesmos princípios, diferençarem-se ao infinito em muitos pontos.


No século XIX, numerosos pensadores renderam-se à reencarnação: Dupont de Nemours, Charles Bonnet, Lessing, Constant Savy, Pierre Leroux, Fourier, Jean Reynaud. A doutrina das vidas sucessivas foi vulgarizada para o grande público por autores como Balzac, Théophile Gautier, George Sand e Victor Hugo. Pesquisadores como Ian Stevenson, Brian L. Weiss, H. N. Banerjee, Raymond A. Moody Jr., Edite Fiore e outros trouxeram resultados notáveis sobre a tese reencarnacionista. É possível que, em um futuro próximo, os estudos nessa direção cheguem aos mesmos resultados já afirmados pelo Espiritismo. Grande parte das tentativas de estudar prodígios mirins, sem levar em conta a pré-existência do Espírito, esbarra em resultados nada satisfatórios ou em dificuldades insuperáveis, em face da necessidade de se considerar essa hipótese. Caso contrário, entra-se em um beco sem saída e o progresso da Ciência nessa área permanecerá na inércia.

Parábola da Rede de Pescar (Mateus, 13:47-50)




Arnaldo Rocha

Enfim, o reino dos céus...
E voltou Jesus a falar:
- É semelhante a uma rede
Que foi lançada ao mar


E apanhou bastante peixe,
De todo tipo e qualidade.
Depois de cheia, foi recolhida
Por pescadores da localidade,

E, reunidos todos na praia,
Separaram os peixes na hora;
Os bons foram para os cestos,
E os ruins eles deitaram fora.


E, no fim do mundo... Disse:
- Da mesma forma será feito:
Os anjos virão e separarão
Os maus dos bons, desse jeito,


E os lançarão na fornalha
De chamas tão ardentes,
Onde haverá muito choro
E, também, ranger de dentes.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

A HONESTIDADE NÃO NECESSITA DE ELOGIOS – É OBRIGAÇÃO HUMANA (Jorge Hessen)


Jorge Hessen

Não experimento qualquer regozijo quando leio as notícias sobre pessoas que são festejadas por atos de honestidade. Isso significa que ser honesto é ser exceção numa maioria desonesta. Despertou-nos a atenção um recente roubo ocorrido em Canna, uma pequena ilha da Escócia. O imprevisto ocorreu em uma loja gerenciada pelos próprios fregueses , que vendia comidas, produtos de higiene pessoal e outros utensílios. Produtos como doces, pilhas e chapéus de lã artesanais foram roubados, sendo a loja revirada pelos ladrões. Parece coisa pequenina para nós brasileiros, mas o roubo assombrou os residentes de Canna, que não viam nada parecido acontecer por ali havia meio século. 

A loja permanece aberta em tempo integral e o pagamento da compra dos produtos é feito na “boa fé” ou "caixa da honestidade": os fregueses deixam o dinheiro junto com um bilhete descrevendo o que compraram. Se confrontarmos a realidade do Brasil, seja na educação, na saúde, na ética, na honestidade com outros países sérios, surgem desculpas sempre esfarrapadas quais: o Brasil é “especial”, é a “pátria do Evangelho”(!??...) , é continental, tem uma história “mística” etc... A cantilena é incansavelmente repetida. 

Não obstante saibamos que o Brasil como território é um paraíso, um lugar formoso; de uma natureza exuberantemente cativante, com rios, cachoeiras, florestas, ilhas e mares de nos fazem suspirar. Mas, inventamos “trocentas” desculpas para nossos déficits e barbáries morais. Em face disso, é urgente uma insurreição moral, entronização do cultivo da honestidade, destruição do status do embuste, o fim da vulgaridade inebriante, notadamente a que tange para a degeneração ética através de permissões para a pilhagem, a falcatrua, a corrupção em todas os covis institucionais do País.

Acredite se puder, mas recentemente decifrei uma “pesquisa” garantindo que os brasileiros, na sua maioria, são “honestos”. Isso mesmo, honesto! Seria cômico se não fosse trágico tal resultado. É risível confiar em tal “pesquisa”! Os questionários abordavam circunstâncias como não devolver o troco recebido a maior, sonegar imposto de renda, estacionar na vaga destinada a idosos e deficientes físicos, apossar-se de canetas, lápis, borrachas, elásticos e envelopes da empresa ou órgão público onde trabalha, ficar com o dinheiro de uma carteira achada na rua, “furar” a fila no embarque do ônibus, exceder o limite de velocidade ou avançar o sinal de trânsito, usar cópia ilegal de softwares de computador, dirigir quando bebeu acima do limite permitido, etc, etc, etc, etc, etc.... 

Tal “pesquisa” realizada no “Coração do mundo”(!?) concluiu que os brasileiros são mais honestos que os europeus submetidos à mesma “pesquisa”. É óbvio que tal “pesquisa” no Brasil não é a radiografia da realidade: os brasileiros, com as justas ressalvas, são capazes de múltiplos atos desonestos. Ora, num país em que ainda impera a chamada “Lei de Gerson” em que o fim é obter vantagem, o meio utilizado não faz diferença. As respostas dos “entrevistados” atestam um fato inquietante que além de desonestos os “entrevistados” são ao mesmo tempo mentirosos. 

Impossível negar que a grande maioria dos brasileiros praticam os pequenos atos de desonestidade contidas nas perguntas da “pesquisa”, porém, raros são capazes de admitir que o cometeriam. Diante de tantas evidências, seria justo hastearmos a bandeira de um povo incorruptível? ... E como transformar essa conjuntura? É elementar, meu caro Watson!, diria Sherlock Home, é necessário que assumamos a consciência de que não somos sinônimo de reputação “NOTA DEZ”, em seguida, cultivarmos as transformações necessárias em nossa índole comportamental. Desonestidade é, especialmente, desrespeito pelo próximo e todo ato desonesto provoca algum tipo prejuízo à sociedade.

No país em que o valor máximo da vida pode ser depositado em instituições financeiras, onde o sensualismo e o culto ao corpo físico substituiu os valores do espírito, onde a honestidade é desmoralizada sem piedade pelo indesejável “jeitinho”, continuaremos bem longe da harmonia social. Apesar disso, é preciso confiar no futuro. Importa assumirmos sincera confiança nos homens que vivem nestas plagas abençoadas e no porvir edificarmos os alicerces do edifício do Evangelho de Jesus na Pátria do “Cruzeiro do Sul”.

Tudo no universo encontra-se em constante metamorfose e aprimoramento, por isso o progresso é uma das finalidades da vida. Na natureza não ocorrem saltos. Algumas etapas devem ser percorridas para ser possível atingir-se a fase subsequente. Tais conquistas não são obras do acaso e nem brotam de um momento para o outro. Todavia, a honestidade é justamente uma das primeiras virtudes a serem conquistadas por quem deseja a paz e a felicidade na sociedade. 

Ser honesto implica confirmar fidelidade em todos os aspectos da existência. O homem honesto realiza as tarefas que lhe cabem, com ou sem testemunhas e aplausos, até porque, ao agir honestamente, ninguém faz mais do que a obrigação.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

As forças que nos regem

Jane Maiolo
“E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.

Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério.” (2)

Qualquer reflexão sobre a arte de viver passa primeiro por um entendimento sobre o que é a vida.

Parafraseando o compositor Gonzaguinha questionamo-nos: E a vida o que é, diga lá meu irmão?

Ainda que passássemos toda nossa existência procurando desvendar as forças que nos regem, não conseguiríamos satisfazer-nos por completo e ainda assim continuaríamos nossa incessante busca pela felicidade.

Viver significa inventar uma fórmula para sermos felizes. Significa por outro lado aprender e apreender.

Somos seres extremamente moldáveis, flexíveis e adaptamo-nos facilmente às situações, sejam elas favoráveis ou desfavoráveis.

Existe um conceito da psicologia chamado resiliência, esse conceito não tem sido muito divulgado no Brasil, mas vale a pena meditarmos.

Resiliência é uma capacidade inata para fazer as coisas corretamente, de modo que, não ficamos muito tempo presos em dadas situações, sejam elas positivas ou negativas, de alegrias ou de sofrimentos.

O ser resiliente é capaz de se tornar elástico, ou seja, se estica no calor das emoções, se encolhe nos momentos das dores, desespera nos arroubos dos sofrimentos, mas sempre sabe que é preciso retomar ao ser essencial que é.

A resiliência é uma força decisiva do princípio evolutivo do ser humano e é fator fundamental da nossa sobrevivência quando em condições fora da normalidade.

Não podemos ignorar que atravessamos tempos difíceis, onde perdas e danos nos fazem sofrer, mas é preciso reagir, precisamos fortalecermo-nos para preservar psicologica e emocionalmente o nosso mundo interior.

Temos capacidade de responder de forma mais consciente aos desafios e dificuldades, de reagir com flexibilidade e somos capazes de recuperarmo-nos diante das circunstâncias desfavoráveis em qualquer “departamento” da Vida.

Se tiver que chorar, sofrer, gritar, faça tudo isso de maneira digna. Não ignore seu sofrer. Não tente passar por herói, você não precisa disso. Você é um ser humano sensível e precisa aprender a “ser” humano. Precisa parar de querer se mostrar forte, duro, auto-suficiente. Você precisa aprender a ser resiliente, a sofrer quando for necessário e a se reerguer dos embates quando for preciso.

Recusar essa capacidade que temos é permitir sofrer demasiadamente e isto não é viver.

Não é preciso escondermo-nos por detrás de máscaras ou representar papéis (do tirano, do bonzinho, do forte, do calculista, do certinho), pois quando agimos assim distanciamo-nos de nós mesmos e perdemos o contato conosco.

Devemos nos permitir “ser” de verdade, viver de acordo com nossos princípios e convicções.

No mundo moderno só é feliz quem descobriu que o melhor jeito de viver é “inventar” a vida, de modo que, os embates da existência não nos “nocauteie”. Usamos tantas máscaras para nos esconder dos outros que, se fossemos analisados por profissionais seríamos catalogados como sendo portadores de personalidades múltiplas.

Deixemos as máscaras de lado e assumamos o roteiro traçado por nós, inventando nossa vida e tendo alegria de viver.

Temos um roteiro seguro que é o Evangelho do Cristo, mas temos que desejar viver em plenitude. Ouçamos o convite do Mestre que é sempre Modelo e Guia para nossa redenção: 

“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. 

Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.

Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.”


Referências:
(1)  Mateus 11:28-30

(2)  2 Timóteo 4:4-5

Jane Maiolo* É professora de Ensino Fundamental, formada em Letras e pós-graduada em Psicopedagogia. Dirigente da USE Intermunicipal de Jales. Colaboradora da Sociedade Espírita Allan Kardec de Jales. Pesquisadora do Evangelho de Jesus. Colaboradora da Agenda Brasil Espírita- Jornal O rebate /Macaé /RJ – Jornal Folha da Região de Araçatuba/SP -Apresentadora do Programa Sementes do Evangelho da Rede Amigo Espírita. janemaiolo@bol.com.br -
 

Histórico das CONBRAJEs – Confraternização de Juventudes Espíritas

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

A postulação inicial para a realização de evento jovem reunindo a região centro do país ocorreu durante a Reunião da Comissão Regional Centro do Conselho Federativo Nacional da Federação Espírita Brasileira, nos dias 15 a 17 de maio de 2009, em Brasília. Na reunião plenária do evento, realizada na sede da Federação Espírita do Distrito Federal, o representante do Departamento de Infância e Juventude da Federação Espírita do Estado de Goiás Eduardo Vieira explicitou uma proposta neste sentido. Os integrantes da mesa – presidente da FEB Nestor João Masotti, vice-presidente Altivo Ferreira e o secretário geral do CFN Antonio Cesar Perri de Carvalho – manifestaram-se, em tese, favoráveis à realização de um estudo sobre tal proposta e consideraram a histórica experiência exitosa das Concentrações de Mocidades Espíritas do Brasil Central e Estado de São Paulo (COMBESP), efetivadas entre 1948 e 1966. Aliás, os três citados integrantes da mesa participaram do referido conclave. Este evento teve muita importância no estímulo para a valorização de novas lideranças.1

O entusiasmo dos jovens da FEEGO se fez presente também quando uma caravana de 25 jovens, coordenada por Eduardo Vieira, diretor do DIJ daquela Federativa visitou a reunião do CFN, na sede da FEB, no dia 7 de novembro de 2010. Na oportunidade foram saudados pelo presidente da FEB, apresentados pelo presidente da FEEGO Aston Brian Leão, e o citado diretor do DIJ saudou o CFN. Também foram entusiasticamente saudados por vários membros do CFN.2

Por decisão do Conselho Federativo Nacional da FEB, em sua reunião de novembro de 2010, foi definido que “o tema juventude espírita deve ser amplamente analisado, levando-se em consideração os aspectos sociológicos, psicológicos, antropológicos e educacionais dos tempos atuais e suas relações e impactos com o Movimento Espírita; o tema será discutido na reunião dos dirigentes das Comissões Regionais já em 2011...”2

Na Reunião da Comissão Regional Centro do CFN da FEB, realizada em Vitória de 27 a 29 de maio de 2011, já se iniciaram os preparativos para a realização do então designado “1º Encontro de Juventudes Espíritas da Comissão Regional Centro”, apresentado pelo DIJ/FEEGO, o que foi aprovado na reunião dos dirigentes.3 Em seguida, em nível da Área de Infância e Juventude do CFN da FEB e presidência da FEB definiu-se uma designação genérica para tal evento, acrescentando-se o nome da região, por exemplo: Confraternização Brasileira de Juventudes Espíritas – Centro.

Finalmente, o evento inicial – a CONBRAJE-Centro - ocorreu na cidade de Goiânia, com patrocínio do CFN da FEB e apoio da FEEGO, em Goiânia, nos dias 30 de maio a 2 de junho de 2013. Compareceram ao conclave cerca de 400 jovens representantes das Entidades Federativas Estaduais do Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Tocantins e também coordenadores de infância e juventude das Federativas de outras regiões do país. Na abertura ocorreram saudações do presidente da FEB, do secretário geral do CFN da FEB, do secretário da Comissão Regional Centro do CFN da FEB e dos dirigentes ou representantes das Federativas citadas. O tema central “Senhor, que queres que eu faça?” foi desenvolvido de maneira dinâmica com oficinas de trabalho, palestras e apresentações teatrais e musicais. Houve ambiente de muito entusiasmo por parte dos jovens presentes. Atuaram como expositores Sandra Maria Borba Pereira (RN) e o presidente da FEB, Antonio Cesar Perri de Carvalho.4

Como reflexo imediato, poucos dias depois, durante a 6ª. Marcha Nacional Em Defesa da Vida – Brasil sem Aborto, realizada em Brasília, estavam presentes jovens ligados aos DIJs da FEB e da FEDF, os quais nos procuraram e comentaram: “Isso é efeito da CONBRAJE!”.

Nas reuniões das Comissões Regionais do CFN da FEB, durante o ano de 2014, já se definia a realização das CONBRAJEs Sul e Nordeste, respectivamente, nos Estados de São Paulo e Pernambuco, para o 2º semestre do ano de 2015 e uma proposta inicial para a CONBRAJE-Norte, para o ano de 2016.

O conjunto desses eventos juvenis e o protagonismo juvenil explicitado no documento “Diretrizes para ações da juventude espírita do Brasil”, aprovado na reunião do CFN da FEB, em novembro de 2013, poderão contribuir significativamente para a dinamização das juventudes e a integração delas no Centro e no Movimento Espírita.5

Fontes:
1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Juventude espírita: antecedentes históricos e primeiros tempos. Revista Internacional de Espiritismo. Edição de julho de 2015.
2) Ata da Reunião Ordinária do Conselho Federativo Nacional realizada em Brasília. Reformador. Edição especial de maio de 2011.
3) Reunião da Comissão Regional Centro. Reformador. Edição de agosto de 2011.
4) Confraternização Brasileira de Juventudes Espíritas – Conbraje. Reformador. Edição de julho de 2013.


(*) – Foi secretário geral do CFN da FEB de 2004 a 2012 e presidente da FEB entre 2012 e 2015 (entre interinidade e como efetivo).

domingo, 19 de julho de 2015

PARÁBOLAS (FERMENTO, DO TESOURO ESCONDIDO, DA PÉROLA)

Arnaldo Rocha 

Parábola do Fermento
(Mateus, 13:33)

O reino dos céus, também,
É semelhante ao fermento
Que uma mulher utiliza
Para fazer um alimento. 

Em três medidas de farinha,
Ela mistura esse ingrediente
Até que toda essa massa
Fique levedada totalmente.


Parábola do Tesouro Escondido 
(Mateus, 13:44)

O reino dos céus
A um tesouro é 
Que, ocultado num 
Por um homem foi achado.

Este, cheio de alegria,
Com cuidado o escondeu
E foi logo para cidade
Vender tudo o que era seu;

E, tendo assim agido,
Uma quantia recebeu,
E comprando aquele campo,
O tesouro passou a ser seu.


Parábola da Pérola
(Mateus, 13:45-46)

O reino dos céus, todavia,
Se assemelha a um negociante
Que, procurando belas pérolas,
Encontra uma mais adiante;

E, sendo esta linda pérola
De um preço muito elevado,
Vendeu tudo o que possuía
Comprando este bem desejado.