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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Educação na Idade Dourada




Luiz Carlos D. Formiga (*)


http://neu-uerj.zip.net/


Considerando a inversão da pirâmide populacional surge uma necessidade. Nessas condições, há que se pensar na educação na idade dourada, aquela que é capaz de gerar na sensibilidade, a reverência e a ternura. Diante da nova demanda, educadores se defrontarão com os que se encontram nessa faixa etária. Nessa etapa inicialmente acontece a crise da aposentadoria. Existem crises anteriores como a da adolescência, a dos trinta e a dos quarenta. Interessa-nos examinar a idade dourada e com ela a trajetória de pessoas para pensar e refletir. Nessa fase se consolida o amadurecimento natural trazendo no seu bojo o desapego, que aponta na direção de novos valores e também a oportunidade educativa.

Pensemos a “crise da aposentadoria”. Este momento crucial produz efeitos relacionados com o estilo de vida apresentado pela individualidade.

Podemos encontrar pessoas obsessivamente compromissadas com suas tarefas, havendo forte vinculação, incluindo dias ou horas reservadas ao descanso. Observamos também que além da vinculação ao trabalho, este também possibilita a outros profissionais acesso a satisfação ocasionada pela interação interpessoal, com dependência aos membros do grupo.

A aposentadoria pode apresentar efeitos destrutivos para este estilo de vida que vê no trabalho a única fonte de satisfação. Se considerarmos que a atividade laboral não é a única dimensão da vida humana seremos capazes de desenvolver outros tipos de projetos e será mais fácil lutar contra o apego ao cargo.

Há pessoas capazes de desenvolver redes sociais fora do ambiente de trabalho e parecem não sentir dificuldades, quando vão deixar de contribuir para o produto interno bruto.

Aquelas que possuem mais autonomia geralmente são muito criativas e demonstram facilidade de estabelecer relações, quando estas são necessárias e também capacidade de assumir novos papéis.

Outras há que são capazes de estabelecer poucas vinculações em toda a sua vida, de trabalhar com relativa facilidade em favor do próprio desenvolvimento pessoal e substituir atividades perdidas por outras novas. Parecem se bem proteger, no sentido de não expressarem suas necessidades de dependências. Essas podem sonhar com a aposentadoria, pois acreditam que esse momento pode se converter em novas oportunidades de crescimento, embora amem o que fazem

Educadores podem ajudar a perceber que a idade dourada pode ser encarada com otimismo e serenidade e, sobretudo mostrar a aposentadoria como uma grande oportunidade educativa, sem inatividade.

Forçoso é reconhecer a dificuldade de lidar com o poder neurótico (1) e com as mentes insensíveis e ignorantes. No entanto, não podemos esquecer que educação é um processo e que bons resultados são possíveis de encontrar. Será trabalho árduo uma vez que este condicionamento é feito pela própria sociedade, que considera o final da vida, a morte, quando o individuo deixa de trabalhar. Um comentarista nos lembrou que diferente da Inglaterra que possui dois mil, o Brasil possui vinte e cinco mil cargos de confiança. Eles não vão se aposentar nunca nas cinco mil prefeituras amigas. Isso nos adverte para que possamos lembrar que não estarão interessados no tema que estamos discutindo.

Embora encontremos no mundo realidades diferentes, sociedades diversas, nesse processo educativo podemos fazer observações que merecem ser consideradas, não importa qual seja a população alvo.

Em primeiro lugar devemos formular objetivos que possam abranger a figura do ser integral, a totalidade da pessoa humana, com natureza composta por domínios diversos e que passam pela transversalidade, interagindo entre si. Teremos que atender a inteligência cognitiva, a inteligência emocional, ao domínio psicomotor e, também, a espiritualidade.

Para determinados indivíduos, parar de trabalhar parece tornar a vida sem sentido, por isso um projeto de educação para a aposentadoria terá que dotar de sentido esta fase da vida e estimular a adoção de um novo estilo de vida. Teremos que atender a saúde, a economia, as relações interpessoais e familiares. Este processo procurará abrir novos horizontes, oferecer alternativas, atividades culturais voltadas para a idade específica.

Não saber o que fazer com o tempo, agora totalmente livre, pode conduzir a perigosa ociosidade. Alguns caem na mão de aproveitadores e são lesados, embora isso seja dos males o menor. Alguns definem a velhice como: “aquela coisa que só se percebe nos outros”. Há um pouco de verdade, quando encontramos adolescentes de cabelos brancos ou camuflados.A falta de atividade planejada pode ser um destruidor físico, psíquico e espiritual. Dessa forma, faz-se necessário elaborar um projeto de vida que se ajuste as reais possibilidades.

Podemos ser otimistas e pensar em etapas não muito longas, levando a vida como se fossemos morrer num futuro relativamente próximo. Um dia a gente acerta. Mas, devemos considerar que é fato comprovado que a humanidade tem ampliado sua média de vida. Assim podemos refletir nas mudanças do modo de viver, de pensar e de se conduzir diante do envelhecimento que é universal, intrínseco (endógeno na origem) e progressivo.

Vamos lembrar também que apenas 5% estão vivendo em recanto de idosos e que a Organização Mundial de Saúde aponta para a velhice apenas após os setenta e cinco anos e ainda que podemos e devemos realizar cirurgias plásticas espirituais, para não ficarmos parecidos com aquela bruxa do conto infantil.

A maior parte dos idosos não apresenta sinais consideráveis de decadência das aptidões físicas e mentais, o que lhes permite vida social, econômica e espiritual produtiva. Ticiano pintava aos 75 anos e Miguel Ângelo aos 89 trabalhava em Pietá. Deveremos, enquanto sociedade, promover a segurança psicológica e espiritual.

Vamos nos utilizar agora do antipático recurso da citação pessoal e antecipo minhas desculpas. Consideremos que experiência vivida não pode ser transmitida; que inexistem duas trajetórias idênticas e a ausência de duas aposentadorias iguais. Por outro lado, consideremos que existem fases na vida que podem generalizar-se e que os exemplos incentivadores são recentes e acessíveis.

Vamos nos socorrer de um trabalho publicado em plena crise dos quarenta e de outro alguns anos depois da crise da aposentadoria.

Tornar-se velho é processo natural e irreversível, que pode ser favorável ou desfavorável. Sentimos insatisfação ao perceber capacidade física diminuindo, no entanto a capacidade intelectual pode aumentar, assim como a experiência de vida.

Podemos demonstrá-lo utilizando duas épocas diferentes da mesma existência. Certamente determinado produto, de esforço intelectual, não poderia ser obtido pelo jovem, apesar de dispor de toda a capacidade física, embora uma pessoa envelhecida pudesse chegar a produto idêntico. Esse raciocínio nos remete a experiência de vida.

Experiência de vida é aquilo que hoje nos faz perceber que nos anos sessenta havia no mundo uma proposta política voltada para o bem coletivo e nos explica ainda a miopia do jovem na sociedade individualista de 2011.

É a experiência vivida, nos laboratórios de saúde pública, que nos faz apelar para a prudência, para a diligência e para a perícia, na Bacteriologia Clínica, mesmo estando dela fisicamente afastados.

Na década de 1980 nos preocupamos em fazer um diagnóstico rápido de uma doença que tinha a taxa de mortalidade aumentada na proporção da demora do resultado do seu exame. Não cogitávamos da possibilidade da existência de técnicos incapazes de perceber que não lidavam apenas com um tubo de ensaio, mas com vidas. Não estávamos alertados porque não tínhamos sido bem instruídos, nem na pós-graduação, no relativo a processo nos tribunais nem ainda tínhamos passado pelos bancos da faculdade de direito.

A primeira preocupação foi resolvida no ano de 1985, 16 anos depois da formatura nas ciências biomédicas e em plena crise dos quarenta. A segunda foi publicada 14 anos depois da crise da aposentadoria.

Isto é resultado do planejamento, não muito ambicioso, que comentei anteriormente. “Podemos ser otimistas e pensar em etapas não muito longas, lembrando que a humanidade tem ampliado sua média de vida, o que é um fato comprovado.“

O crítico mais duro poderá dizer que não foi um gol muito bonito e aí me fará lembrar do presidente que se utilizava de exemplos retirados do futebol e deixar falar o Mestre Dada: “não existe gol feio. Feio é não fazer o gol.”

Mesmo assim, que possamos aceitar a crítica e a realidade de que não fizemos, ou somos, quase nada. Só não poderemos é deixar de resistir à tentação de não começarmos a trabalhar no bem.

Na idade dourada colhemos frutos das diversas sementes lançadas e o leitor deve entender nossa alegria, quando depois de tantos anos encontramos esta citação na literatura. Não estamos iludidos, pois sabemos que representa um átomo do grão de areia dessa praia das ciências biomédicas (2). Esperamos que a contribuição de 2010 (3) não seja esquecida no futuro, embora já tenha produzido frutos no presente.

Outro e mais importante exemplo de planejamento pode ser encontrado na própria sociedade brasileira. A biografia nos permite verificar o quão feliz e produtiva pode ser a idade dourada. Mario Lago lecionou: “fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo. Ele não me persegue nem eu fujo dele. Um dia a gente se encontra.”

O escritor francês, residindo em Lyon, nos oferece precioso exemplo para pensarmos a idade dourada e seu processo de educação, ao biografar uma pessoa pública fácil de examinar pelo conjunto de sua obra inteligente. Com perfeito domínio da língua portuguesa, e, visitando várias vezes o Brasil, oferece-nos uma pérola. Não é uma “mera compilação, mas uma serena e desapaixonada interpretação de fatos.” Um destes fatos não era do nosso conhecimento e por isso o escolhemos para relato aos que possuem mentes aberta.

Rolando Ramaccioti procura Laerte Abnelli. “Chico, lá em Uberaba, pediu que você desenhasse uma capa para seu novo livro.”

Não conhecendo Chico e sendo ateu Laerte não deseja colaborar da divulgação de crença que não compartilha e responde negativamente. Chico lhe escreve reiterando o pedido. Em seguida, de passagem por São Paulo, é recebido com hora marcada. Falou da infância do artista, referência em matéria de publicidade no Brasil. Narrou fatos, que Laerte não lembrava mais, e também toda a sua vida. O artista estupefato dá seu testemunho em livro posterior.

“Fui testemunha de uma coisa (...) Perfume! Muito perfume: de rosas. Não apenas delicioso aroma. Garoava! Abundantemente! Tão intenso que meus cabelos estavam molhados. E vários dias depois, lavados diariamente, recendiam a rosas. E meu terno que guardei no armário, seguiu perfumado por meses e meses a fio...”

Sete anos depois, sem que Laerte tenha notícias do Chico, ocorre-lhe outro fato inusitado. Não tenho coragem de privar o leitor do prazer de verificar, no livro (referência ), como se transfere da fé no niilismo à realidade da alma imortal.


(*) Licenciado em Pedagogia


(1) http://orebate-jorgehessen.blogspot.com/2011/03/apego-ao-cargo-o-poder-neurotico.html


(2) KING Agar B, Base (Dansk Standard) - Mikrobiyoloji www.mikrobiyoloji.org/TR/yonlendir.aspx?


(3
) Um “Centro de Referência” na UERJ. Prevenindo demandas judiciais
http://jus.com.br/revista/texto/17015/um-centro-de-referencia-na-uerj-prevenindo-demandas-judiciais

Livro (referência) - Ponsardin, Mickaél. O homem e o médium. Conselho Espírita Internacional, 2010. 315 p.

http://www.ceilivraria.com.br/Livros-edicei/Portugues/Livro-chico-xavier-o-homem-e-o-medium.html?acao=DT&prod_id=200129

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O CENTRO ESPÍRITA NÃO É UM HOSPITAL PÚBLICO, MAS SIM UMA ESCOLA DE CONSCIENTIZAÇÃO DO ESPÍRITO


O CENTRO ESPÍRITA NÃO É UM HOSPITAL PÚBLICO, MAS SIM UMA ESCOLA DE CONSCIENTIZAÇÃO DO ESPÍRITO

Ficamos consternados ao ler pela imprensa as seguintes publicações: “500 km em busca de UTI (mãe e bebês gêmeos viajam mais de 500 km em busca de UTI em Porto Alegre-RS).”(1); “Falta de estrutura mata idosa no Rio” (Falta de estrutura da rede pública de saúde faz mais uma vítima no Rio de Janeiro) (2); “SUS gaúcho - 500 mil procedimentos não atendidos” (Estudo aponta 500 mil procedimentos não atendidos no SUS gaúcho). (3); “Mitos em torno dos recursos para a saúde”(4); “Saúde em greve no RS” (justiça determina restabelecimento das emergências).(5); “Pacientes como mercadoria” (Uma doença chamada propina).(6); “Do caos ao colapso na saúde.”(7); “Pesadelo da saúde.”(8); “Hospital é festival de horrores”. (9)

No Brasil, a Constituição de 1988 tornou, em tese, o acesso à saúde gratuita um direito universal de todo cidadão brasileiro. Para atender a esse objetivo, foi criado, há duas décadas, o Sistema Único de Saúde (SUS). Na prática, no entanto, ocorreu com a saúde algo semelhante ao observado na educação. A precária qualidade do atendimento público empurrou a classe média para o sistema privado. O Ministério da Saúde possui o maior orçamento do governo. O Brasil gasta, com saúde, mais do que outros países em desenvolvimento, e nem por isso possui indicadores mais favoráveis, ou seja, o país não oferece um nível mínimo de atendimento digno.
Observamos o sucateamento do setor público de saúde no Brasil, razão por que os Centros de Saúde não atendem satisfatoriamente a demanda da população, pelo número excessivo de pacientes a serem socorridos, seja por falta de equipamentos básicos necessários em casos de emergência, seja pelo número reduzido dos profissionais de que podem dispor, ou seja, pelos baixos salários que esses profissionais recebem, dentre outros fatores. Tudo isso tem provocado uma reação de abandono do serviço público nesses profissionais.
Muitas vezes as pessoas tendem a buscar meios alternativos para tratar suas enfermidades, e dentre eles estão os espaços religiosos, que possibilitam o acolhimento fraterno, dando importância e atenção ao que a pessoa está sentindo, e que, em muitas das vezes, aproxima-se da real condição do doente. Outras radicalizam mais, preferindo o auxílio das "rezadeiras" ou dos "curandeiros", disponíveis a atender, gratuitamente, através da reza e dos curativos feitos com ervas por exemplo, crendo na cura dessas pessoas apenas pelo fato de terem recebido o "dom de Deus".
Entretanto, alguns procuram as casas de orientação espírita, pois nelas encontram-se tratamentos para o bem-estar dos indivíduos, tendo o centro um papel interessante nesse contexto para prevenção e manutenção da saúde.

Já que o governo tem suas dificuldades na área, os espaços religiosos procuram oferecer alívio a esses males e sofrimentos, como também conforto, solidariedade e acolhimento. Daí a representação da relevância das práticas espíritas na saúde da população. O Centro Espírita percebe a prevenção de saúde de forma ampliada e contínua, através da difusão (sem prosélitos) das suas instruções espirituais. Portanto, o papel desempenhado pelas estruturas espíritas e/ou religiosas, de forma geral, pode ser de fato entendido como apoio à saúde (prioritariamente espiritual ) na sociedade.
A temática de práticas espíritas relacionadas à saúde pública é pouco discutida, razão pela qual não encontramos muitas publicações referentes à percepção desse fenômeno social pelos escritores espíritas. O descaso com a saúde pública tem confirmado o papel do apoio social e espiritual do Centro Espírita na percepção do bem-estar e sua relação com a concepção do amor e da caridade como fundamentos da conduta humana, explicados como saudáveis e capazes de manter a saúde relativa da população.
A caridade, apoiada na fé raciocinada que o Espiritismo propõe, dá sentido à vida, oferecendo consolo, renovando energias e dando orientação eficaz ante as situações de angústia, incerteza das idéias e, consequentemente, ante a insegurança pessoal. Essa fé está ligada à vida concreta dos que nela depositam a sua crença. Em todo tipo de religião está implícito um problema central: liberar o homem da incerteza de sua transcendência, dar sentido à sua vida no mundo e além dele. Numa palavra: "conscientização" do mundo espiritual.
Obviamente o Centro espírita não pode e nem deve ser um hospitalzão, entronizando métodos de cura física para os doentes que o procuram, mas uma escola da alma em que se prioriza a terapêutica da educação do ser pela ciência do espírito, a fim de que os doentes possam curar suas próprias doenças.



Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com
http://jorgehessen.net


Referências:

(1) BOM DIA BRASIL, REDE GLOBO, Terça-feira, 25/10/2011
(2) RJ TV - REDE GLOBO, Segunda-feira, 24/10/2011
(3) OPINIÃO - O Estado de S.Paulo - 17/10/2011
(4) EDITORIAL O GLOBO, 07/10/2011 às 18h13m
(5) ZERO HORA 26/08/2011
(6) O GLOBO, 20/08/2011 às 20h09m, Fabíola Gerbase
(7) ZERO HORA 19/08/2011
(8) RBS Notícias - Série Pesadelo da Saúde - Reportagem 4, 28/7/2011
(9) O GLOBO, 10/09/2010.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

OS MORTOS NOS FALAM


Londrina, 19/4/1998

Astolfo O. de Oliveira Filho

Padre François Brune.

(Edicel, 1a edição, 1991.)

Introdução

1. O padre François Brune diz que é escandaloso o silêncio, o desdém e mesmo a censura exercida pela Ciência e pela Igreja, a respeito da descoberta mais extraordinária de nosso tempo: a existência de vida após a vida e a possibilidade de comunicar-nos com os que chamamos de mortos. (P. 15)

2. Acompanhando e estudando as pesquisas mais recentes realizadas nesse campo, Brune diz que suas conclusões ultrapassaram o que havia previsto: não somente a credibilidade científica das experiências com os mortos encontra-se confirmada e não pode mais ser posta em dúvida, como a prodigiosa riqueza dessa literatura do Além reanimou nele o que séculos de intelectualismo teológico haviam extinguido. (P. 15)

3. A Igreja, diz ele, nutre a maior desconfiança em relação a esse tipo de fenômenos e, embora pregando a eternidade, não aceita que se possa vivê-la e entrar em comunicação com ela. Mas nem sempre foi assim. (P. 16)

4. “A morte - afirma Brune - é apenas uma passagem.” Nossa vida continua, sem qualquer interrupção, até o fim dos tempos e levaremos conosco para o Além nossa personalidade, nossas lembranças, nosso caráter. (P. 17)

Capítulo I - Ninguém morre

5. A primeira descoberta, e talvez a mais fantástica de todas, é a de que, enfim, temos praticamente a prova de nossa sobrevivência após a morte -- eis a frase que abre este capítulo. (P. 19)

6. Para referendar essa assertiva, Brune cita: I - as famosas E.F.M. (Experiências nas Fronteiras da Morte), que envolvem pessoas tidas por mortas e retornadas à vida, reconhecidas sobretudo a partir de 1970. Dr. Moody, em 1975, é o autor do primeiro estudo sobre o assunto, que fez grande barulho na época; II - a gravação direta das vozes dos defuntos em fitas magnéticas. Friedrich Jürgenson, nascido em Odessa, mas radicado em Estocolmo, foi o pioneiro desse trabalho, iniciado em 12 de junho de 1959 nas proximidades de Estocolmo, Suécia. (P. 19)

7. O histórico e os pormenores do trabalho de Jürgenson são relatados pelo padre Brune. (PP. 19 a 22)

8. Uma série de novos pesquisadores veio logo juntar-se a Jürgenson, a exemplo de Hans Bender, diretor do Instituto de Parapsicologia da Universidade de Friburgo, e de Konstantin Raudive, que descobriu graças ao chamado acaso a possibilidade de comunicar-se com os mortos. (PP. 21 e 22)

9. Um desses colaboradores foi o engenheiro Franz Seidl, da Viena, inventor de numerosos aparelhos, que construiu para Raudive o psicofone e o positron, com o objetivo de facilitar a gravação das vozes espirituais. (PP. 22 e 23)

10. Na Suíça destacou-se o trabalho do padre Léo Schmid, autor de várias obras para a juventude, que gravou todos os dias, até a sua morte, em 1976, mensagens espirituais, havendo recebido, em pouco mais de cem sessões, cerca de 12.500 vozes. (P. 23)

11. Nos Estados Unidos, o engenheiro George Meek, membro da Academia de Ciências de Nova York, após aposentar-se aos sessenta anos de idade, passou a dedicar-se inteiramente a esse gênero de experiências, objetivando encontrar um meio de comunicação regular, confiável, com os Espíritos, sem necessidade de médiuns. (PP. 24 e 25)

12. A novidade com as gravações de vozes em fita magnética prende-se ao fato de que todos podem ouvi-las sem precisar de dons particulares. Padre Brune e muitos outros entendem que, ainda que os dons mediúnicos pareçam facilitar a gravação, eles não são realmente necessários. “Bons aparelhos e muita paciência podem ser suficientes”, afirma Brune. (N.R.: Outros, como Divaldo P. Franco, discordam: é preciso que haja médiuns nesse tipo de experiência.) (P. 26)

13. Brune afirma que a gravação de vozes do Além comporta detalhes técnicos impressionantes. Por exemplo, se a fita girasse por ocasião da gravação à velocidade de 9,5 poder-se-ia, na hora da audição, perceber nos mesmos lugares 3 e até 4 vozes de defuntos diferentes: uma na velocidade de 9,5, outra na velocidade acelerada de 19, outra na velocidade de 4,75 e, às vezes, uma quarta voz, normal, girando-se a fita de trás para frente. (PP. 27 e 28)

14. A hostilidade das pessoas da Igreja para com tais pesquisas é fato que não se compreende, sobretudo porque em 1970 o Vaticano criou uma cátedra de parapsicologia e a equipe que fez naquele ano -- durante o 3o Congresso Internacional da Imago Mundi -- uma exposição sobre as vozes do Além, foi oficialmente encorajada pelo Vaticano a prosseguir em suas pesquisas. (P. 28)

15. Brune lembra que o sistema de fitas magnéticas funciona bem, mas não é fácil e é, sobretudo, muito irregular. Às vezes a voz é bastante límpida, bem timbrada e a pronúncia clara. Freqüentemente, porém, não passa de débeis murmúrios. As técnicas têm sido, contudo, pouco a pouco, melhoradas, e a senhora Schäfer chega a indicar dezenove métodos diferentes para captar as vozes dos Espíritos, sendo conveniente, às vezes, provocar certos barulhos no local onde se faz a gravação, barulhos esses que desaparecem, total ou parcialmente, no momento da reprodução. (P. 29)

16. Além das deficiências de gravação, padre Brune aponta uma outra razão para explicar a indiferença geral pelo assunto: o conteúdo das mensagens, que é muitas vezes decepcionante. (P. 29)

17. Em 1984, a Rádio Luxemburgo convidou o professor Hans Otto König a fazer, em público e ao vivo, uma demonstração do seu famoso aparelho “generator”, que trazia grande novidade para a época: as vozes recebidas por ele eram muito mais claras na gravação e podiam ser ouvidas diretamente, através de alto-falante, enquanto eram gravadas. (P. 31)

18. Estava estabelecido um sistema que permitia verdadeiro diálogo com o Além, sem precisar retornar a fita. Cada um pôde então fazer perguntas e as respostas vinham, após curta espera, muito claras, como se a voz ressoasse diretamente na sala. O sonho de George Meek (que, por sinal, estava presente à demonstração) enfim se realizava. O sucesso foi considerável, sendo a audiência calculada em dois milhões de ouvintes. (PP. 31 e 32)

19. Um único senão havia na experiência de Luxemburgo: as respostas eram muito curtas e não permitiam uma longa explicação, mas, desde então, as pesquisas têm progredido muito, como Brune pôde constatar com seus amigos H.-F., na mesma cidade da experiência ora relatada. (P. 32)

20. A essa altura já havia desencarnado Konstantin Raudive, que, embora no Além, não abandonou seu trabalho e persiste, com paciência, a sua obra, acreditando que a comunicação com os mortos terminará por modificar os corações das criaturas humanas e, por conseguinte, o mundo inteiro. (P. 32)

21. Em 1987, evocado pelos amigos de Luxemburgo, Raudive falou através dos aparelhos, valendo-se do francês, em homenagem ao padre Brune, ali presente: “... um substrato imaterial, qualquer que seja o nome que lhe dê, princípio, alma, espírito, uma parcela da eternidade escapa da destruição... A infelicidade é que, hoje em dia, as pessoas têm medo da morte. Ora, a morte não é para ser temida, mas sim a enfermidade e o que precede a morte... A morte, caros amigos, resulta em uma eternidade radiosa, uma liberação que põe termo às vossas tragédias. A morte é uma outra vida”. (P. 33)

22. Brune diz que em Luxemburgo uma outra surpresa lhe estava reservada, pertinente a fotografias de defuntos. Nos Estados Unidos, quando de uma sessão de gravação de vozes, fotos foram tiradas aleatoriamente, sem que houvesse na sala qualquer pessoa. Feita a revelação, seis fotos continham imagens de defuntos. (P. 35)

23. O que Jürgenson fez pela gravação de vozes, Klaus Schreiber conseguiu fazer pelas imagens, em Aix-la Chapelle, no início dos anos 80. Em Milão, em junho de 1986, perante 2.200 participantes, Hans Otto König apresentou uma série de diapositivos a partir dos trabalhos de Klaus Schreiber. Havia ali reproduções fotográficas de pessoas da família de Schreiber e de artistas conhecidos como Romy Schneider, Curd Jürgens, além de fotos de duas crianças cujas mães estavam presentes no recinto. (P. 35)

24. Eram as primeiras imagens do Além, que, conforme o método adotado por Ernest Senkowski, aparecem em uma tela de televisão e podem ser gravadas em vídeo por uma câmera. Brune descreve as imagens que ele viu, projetadas através desse método, e acrescenta diversos detalhes relacionados com essas experiências. (PP. 36 a 38)

25. Com a ajuda de uma dezena de cientistas de alto nível, vindos de várias partes do mundo, o padre Ernetti, titular de música arcaica na Universidade de Veneza, vem buscando captar, com um aparelho chamado de cronovisor, imagens e vozes de defuntos, quando se encontravam encarnados na Terra. Assim é que, pela metade dos anos 70, ter-se-ia captado o som, bem como as imagens de uma tragédia antiga, encenada em Roma em 169 a.C. O cronovisor recuperou o texto e seu acompanhamento musical. (PP. 38 e 39)

26. Padre Brune diz que em uma outra vez o aparelho transmitiu uma cena de mercado em Roma, mas o mesmo pode se dar com relação a episódios mais recentes. Certo dia, o padre Ernetti recebeu em seu aparelho os planos que acabavam de ser elaborados para um assalto. Ele preveniu a polícia e conseguiu obstruir a operação. (P. 39)

27. Pierre Monnier, um jovem oficial francês morto em 1915, revelava do Além, em 1919, um fenômeno que poderia explicar, ao menos parcialmente, o funcionamento do cronovisor. Indo, posteriormente, aos lugares onde o filho tombara, sua mãe teve a estranha impressão de ver e ouvir alguma coisa do horrível combate. Pierre explicou-lhe que não era impressão, nem ilusão, nem imaginação, mas um fenômeno real, muito generalizado, que poucos percebiam: “Permanece sempre uma imagem indelével dos quadros do passado”, disse Pierre à sua mãe. (PP. 39 e 40)

28. Ora, se o Universo está assim repleto de ondas do passado, que, em certas circunstâncias, podem encontrar-se e ser reativadas, é plenamente possível captá-las, como padre Ernetti parece fazer. (PP. 41 a 45)

29. Além das vozes gravadas e das imagens de Espíritos e da paisagem espiritual, um outro tipo de fenômeno foi detectado nos últimos anos: as chamadas telefônicas a partir do Além, que Theo Locher, presidente da Associação Suíça de Parapsicologia, analisa em dois números do Parastimme, o boletim da Associação Alemã de Transcomunicação, de abril e agosto de 1986. (PP. 46 a 48)

Capítulo II - A morte é um segundo nascimento

30. A morte, portanto, não é a morte. Ela não é senão uma passagem para uma nova forma de vida, como um novo nascimento. E podemos dizer: é maravilhoso morrer! (P. 49)

31. A existência do corpo espiritual está demonstrada por inúmeros testemunhos e o padre Brune apresenta várias citações a respeito. (PP. 51 a 54)

32. A grande passagem pode produzir-se sem que se perceba, como ocorre, com freqüência, em casos de acidente. O corpo espiritual é, nesses casos, projetado para fora de seu invólucro carnal, diz padre Brune, afirmando que existem numerosas narrativas de pessoas que se viram a alguns metros de distância de seus carros. (P. 55)

33. De passagem, Brune cita alguns fatos relacionados com o transe da morte. (PP. 56 a 59)

34. Um dos fatos de manifestação dos Espíritos mais duradoura é relatado pelo padre Brune. Trata-se de Pierre Monnier, já citado linhas atrás, morto no front de Argonne em 8 de janeiro de 1915. De formação protestante, sua mãe nada tinha de fanática e foi através dela, a partir de 1918, que Pierre comunicou-se com o mundo físico por quase dezenove anos, até 1937. De início, suas mensagens eram diárias; depois, um pouco mais espaçadas, formando no total sete grossos volumes, com cerca de 450 páginas cada um, grafadas pela mãe pelo método da escrita automática ou psicográfica. (PP. 59 a 62)

35. Belline, médium bem conhecido, contou num belo livro que, após a morte de seu filho único, Michel, conseguiu comunicar-se com ele pelo pensamento. Michel, a exemplo de outros Espíritos, disse ao pai que sua morte deveria acontecer de qualquer maneira, porque a hora de seu retorno estava traçada. (PP. 63 e 64)

36. Elisabeth Kübler-Ross, a grande iniciadora de todas as pesquisas modernas sobre a morte, interessou-se particularmente pelas crianças em estágio terminal e descobriu que as crianças sabem, quase sempre, por antecipação, que vão morrer, qualquer que seja a causa da morte. (P. 64)

37. Padre Brune transcreve a propósito um dos exemplos fornecidos pela dra. Kübler-Ross. (PP. 64 a 66)

Capítulo III - Nosso novo corpo na outra vida

38. Todos os cemitérios estão vazios, ou seja, os túmulos não contêm mais do que velhas vestimentas em processo de decomposição. Sob aquelas lajes não jaz ninguém, não descansa ninguém. (P. 69)

39. Requiescat in pace (Descanse em paz), diz sempre o padre quando do sepultamento de alguém. A paz em questão não é, porém, um repouso. A vida continua sem prazos. Daí as preces pelos mortos. Daí as preces aos santos para que nos assistam agora. A teoria do desaparecimento completo do ser após a morte e de uma reconstituição ou recriação por Deus, no fim dos tempos, é apenas uma invenção muito recente de certos meios protestantes. (P. 69)

40. A alma era concebida como absolutamente imaterial, segundo a filosofia grega. A teologia ensinava a possibilidade de esta alma imortal não somente continuar a existir, mas purificar-se ou fruir a contemplação de Deus, considerada como a recompensa eterna dos justos, sem o seu corpo. (P. 70)

41. O indivíduo ressuscitaria, mesmo assim, no último dia, no fim do mundo. O problema era, pois, o seguinte: se as almas já estavam plenamente felizes sem o corpo, para que ressuscitar? (P. 70)

42. A verdade, porém, é que o corpo ressuscitado, o corpo de glória, é o corpo espiritual. Nossas velhas roupas poderão decompor-se tranqüilamente, em paz, nos cemitérios, porque não desceremos jamais com elas ao túmulo. (P. 71)

43. Quando se fala de “corpo espiritual”, segundo a expressão de São Paulo, e se explica que esse corpo tem uma consistência correspondente àquela do mundo onde irá viver, muitos entram totalmente em pânico. (P. 71)

44. O corpo espiritual assemelha-se ao carnal: no meio espiritual, as crianças continuam a crescer até chegarem à idade adulta e os anciãos rejuvenescem. A maioria dos mensageiros do Além dá-nos como referencial, na vida espiritual, a idade média de trinta anos. (P. 72)

45. Padre Brune disserta então sobre as percepções do corpo espiritual e cita comunicações em que os mortos a si mesmos se referem como tendo uma aparência humana. (PP. 72 a 79)

46. Cabe a nós, diz Brune, já nesta vida terrestre, através de nossa vida espiritual, fazer com que esse corpo glorioso, esta cópia, evolua em direção a um esplendor maior. Roland de Jouvenel, um dos grandes místicos do Além, já o repetia sem cessar à sua mãe. (P. 79)

47. Roland falou à sua mãe a respeito do corpo espiritual, que ele chamava de cópia de nós mesmos, afirmando que esse corpo irradia permanentemente em torno de si. É o que chamamos de “aura”, afirmou-lhe o rapaz. (PP. 80 e 81)

48. Comentando o assunto, padre Brune diz que a tradição cristã reporta-se à luz branca, com reflexos ligeiramente dourados, que seria irradiada por entidades de grande evolução espiritual. Essa luz, diz ele, é mencionada em quase todas as narrativas da vida dos santos e é também referida no Antigo e no Novo Testamento. Neste, sua mais alta manifestação continua sendo a que aparece na descrição da transfiguração do Cristo no Monte Tabor. (PP. 81 e 82)

49. Brune lembra a propósito desse fenômeno que os apóstolos, além de verem Jesus transfigurado, viram Moisés e Elias, revestidos de seu corpo de glória, em longa conversa com o Cristo. (P. 82)

50. Quando Santa Teresa de Ávila, ou Santa Bernadete, em Londres, vêem essa mesma luz, notando que ela é mais fulgurante do que o Sol, e todavia não fere os olhos, parece que se dá o mesmo fenômeno, percebido pelos olhos da cópia, do corpo espiritual, através de seus corpos de carne. (P. 82)

51. Padre Brune explica com os poderes do corpo espiritual o fenômeno da levitação e, citando vários fatos, defende a tese de que o corpo espiritual progride com o tempo, como afirmam Roland de Jouvenel e Pierre Monnier. (PP. 83 a 89)

52. Rosemary Brown, a conhecida médium inglesa, é focalizada também pelo autor, que mostra como se deu o primeiro contato dela com Franz Liszt. Rosemary tinha na época apenas sete anos de idade. (P. 89)

53. Liszt conversava freqüentemente com a médium a respeito da vida no Além e lhe disse coisas importantes sobre a reencarnação e a evolução dos Espíritos. Ele informou também que em seu mundo havia diferentes esferas ou níveis de consciência. No último estágio, a alma não se interessa pela aparência, mas pelo ser. (P. 90)

54. Como Liszt lhe explicou que, nesses estágios mais avançados, as almas não precisam ter uma forma externa, Rosemary indagou como eles poderiam ser, assim, reconhecidos. “Há uma espécie de percepção da alma”, informou o compositor desencarnado. “Quando uma alma está perto de outra, reconhece-a ao perceber sua presença e pode identificar a atmosfera de uma pessoa.” (P. 90)

55. Após ler esses textos, diz Brune, compreende-se melhor a manifestação de Santa Teresa de Lisieux a Theresa Neumann, que só viu uma luz, ouviu uma voz e sentiu alguma coisa que a pegava pela mão. Brune imagina que fenômeno semelhante foi o que ficou conhecido como a “estrela de Belém” que guiou os reis magos até à manjedoura. Graças às descobertas arqueológicas realizadas no Oriente, sabe-se hoje que os primeiros cristãos jamais representavam os anjos como homens alados, mas os associavam às estrelas. (P. 91)

56. Numerosos textos antigos, em grego, siríaco e armênio, dizem que a estrela de Belém que guiou os magos era, na realidade, um “anjo”, ou seja, um mensageiro de Deus, um mensageiro do Além. (P. 91)

57. Essa bola de luz é encontrada na vida de Santa Ana-Maria Taigi, morta em 1837. Durante 47 anos, dia e noite, Taigi via uma bola de luz que lhe mostrava todos os acontecimentos do mundo, até os que ocorriam nos países mais longínquos e nos lugares mais secretos. (P. 91)

Capítulo IV - Nas fronteiras da morte

58. No momento da morte, veremos surgir à nossa frente, vindos do outro mundo, alguns seres que nos são caros e que fizeram sua passagem antes de nós. Os testemunhos são incontáveis, sobretudo depois que as famosas E.F.M. (Experiências nas Fronteiras da Morte) se multiplicaram. (PP. 95 a 97)

59. Citando experiências da dra. Elisabeth Kübler-Ross e uma conhecida obra de Ernesto Bozzano, Padre Brune afirma que essas visões de falecidos no momento da morte acontecem em todos os países, qualquer que seja a raça, a cultura ou a religião do moribundo. Pesquisa levada a efeito nos Estados Unidos e na Índia constatou que esse fenômeno parece realmente ser universal. (P. 98)

60. O autor relata também alguns fatos em que a pessoa declara ter visto uma luz, ou um ser revestido de intensa luminosidade, seguindo-se o desdobramento de uma espécie de filme de sua vida, fenômeno bastante comum que se produz às vezes até sem que o indivíduo tenha deixado o corpo, sob o efeito de um choque violento. (PP. 99 a 103)

61. A visão da vida dos outros é fato conhecido há muito tempo. O cura d’ Ars, por exemplo, conseguia ver a vida de seus penitentes, em seus mínimos detalhes e de modo praticamente instantâneo. Nas pesquisas em torno da E.F.M. o fenômeno aparece constantemente, com pequenas variações entre um caso e outro. Brune relata a propósito vários casos. (PP. 104 a 111)

62. Existe uma espécie de transição, de zona intermediária, entre a morte e a desencarnação. Raymond Moody fala-nos em sua primeira obra a respeito de um túnel, que ele situa no momento da desincorporação. Entretanto, em seu segundo livro, relata ele vários casos em que o túnel se encontra claramente depois da desincorporação. O corpo espiritual flutua no espaço, acima do corpo carnal, e é então que o moribundo se sente aspirado para dentro desse túnel. (P. 112)

63. Estudos posteriores, sobretudo os de Sabon e Ring, parecem confirmar essa informação. O túnel corresponderia, então, não à saída do corpo, mas à passagem deste plano para outro plano. Quando o doente apenas sai do corpo, permanece no mesmo plano que nós: flutua junto ao teto do quarto, vê a todos, pode atravessar paredes, portas, tetos, mas só pode enxergar o nosso mundo. O túnel marcaria o seu acesso ao outro mundo. (P. 112)

64. As palavras que o descrevem são quase sempre as mesmas: longo corredor sombrio; algo semelhante a um tubo de esgoto; um vazio na completa escuridão; cilindro sem ar; profundo e obscuro vale; espécie de tubo condutor estreito e muito sombrio; túnel formado por círculos concêntricos. É geralmente no fim desse túnel que se encontra o ser de luz e, com freqüência, um jardim maravilhoso, e muitas vezes os seres que amamos. Mas, quanto a isto, não há regra geral, porque muitos moribundos viram chegar até eles seus queridos mortos sem haverem passado pelo túnel. (PP. 112 e 113)

65. Brune cita diversos fatos relacionados com o assunto. (PP. 113 a 115)

66. Seria esse túnel uma passagem obrigatória entre os dois mundos? A qual espaço corresponderia? O padre Brune lembra, ao colocar essas questões, que alguns moribundos disseram ter tido a impressão de passar por ele em grande velocidade e, muitas vezes, em movimento ascendente. Não se deve, porém, tomar essas descrições ao pé da letra, porque quando alguém diz “entrar” nesse túnel, espaço e tempo são diferentes. (P. 115)

67. Padre Brune, respondendo à indagação formulada, diz que existe pelo menos uma outra forma de acesso aos mundos superiores, ou de travessia desse túnel: através do sono. É o que têm dito muitos Espíritos. (PP. 115 a 118)

68. Há, contudo, uma outra espécie de sono: aquele que se costuma chamar, comumente, de o sono da morte. Dizem então: “dormir o último sono”. Mas os mortos nem sempre dormem. A experiência do sono não é absolutamente universal. Entretanto, parece ser habitual. É o que nos informam os Espíritos já desencarnados. (PP. 118 e 119)

69. Brune relata a propósito alguns fatos em que os Espíritos se reportam à experiência do sono reparador, definido por Pierre Monnier como uma espécie de gestação “que precede o novo nascimento da alma”. (PP. 119 e 120)

70. Mesmo após a nossa morte teremos muito a progredir, porque a evolução espiritual continua no Além. A grande lei que resulta de todos os testemunhos vindos do Além é a do respeito absoluto à nossa liberdade. Nossa evolução e sua rapidez de realização, etapa por etapa, de mundo para mundo, dependerão da boa vontade de cada um. (PP. 122 e 123)

71. Brune cita passagens de Albert Pauchard e Marie-Louise Morton em que ambos falam do mecanismo interno dessa evolução. Só trocamos de plano, de nível ou de esfera -- dizem eles -- quando começamos a ficar cansados do plano em que nos encontramos. Então, nosso corpo passa para um novo estado, em harmonia com o novo mundo que alcançamos. (PP. 123 e 124)

72. “Ajudar alguém é desenvolver a si mesmo.” Essa frase, captada pela Sra. Morton, mostra que podemos ajudar na evolução dos outros, mas não podemos forçá-los. Pode-se ajudá-los, e esse é o papel do Cristo e dos santos, mas o processo envolve a nossa liberdade. (P. 124)

73. Dizendo isto, padre Brune diz que nós, seres humanos, sempre temos a tentação de acreditar em varinhas de condão. Os teólogos cristãos sempre foram tentados a interpretar desta forma os sacramentos. É o que chamavam de “objetividade” dos sacramentos, em oposição às disposições interiores do sujeito, ditas “subjetivas”. “Sempre combati esta concepção dos sacramentos”, assevera Brune. “E tudo que descobri, ao ler estes testemunhos, não me levou -- de forma alguma -- a rever os princípios de minha teologia.” (PP. 124 e 125)

74. Isto explica o valor e o papel do chamamento à perfeição, existente além das exigências da boa moral comum. Se ficarmos apegados apenas aos interesses materiais, continuaremos longe dessa perfeição, como, aliás, dizia Santa Catarina de Siena: “Deus faz-nos falta, precisamos d’Ele, somos privados d’Ele, na medida em que ficamos presos a nós mesmos”. (P. 125)

75. Padre Brune comenta: Não há mal nenhum em assistir a um bom jogo de futebol ou em ir a um concerto. Mas, enquanto preferirmos assistir ao jogo ou ir ao concerto a mergulhar na contemplação de Deus, não poderemos sonhar em ser aspirados em Deus. Ou, em outras palavras: enquanto você preferir fazer uma boa refeição, deixando seu próximo na miséria, não estará totalmente amadurecido para dividir plenamente a vida de Deus. (P. 125)

76. Roland de Jouvenel retrata bem essa verdade em suas mensagens, mostrando que no Além cada um atingirá o nível correspondente ao grau de espiritualidade que tiver pessoalmente alcançado. Veremos então que as diferenças existentes entre os indivíduos podem ser enormes. Enquanto alguns dispararão “como balas de canhão”, retomando a expressão do Cura d’ Ars, a quem foi perguntado como se deveria chegar a Deus, outros arrastar-se-ão como caracóis. (PP. 125 e 126)

Capítulo V - Os primeiros passos no Além

77. Ao iniciar este capítulo, padre Brune adverte que no material fornecido exclusivamente pelos mortos, transmitido por via mediúnica, não encontraremos mais a formidável unanimidade que até este ponto se observara nos depoimentos até aqui transcritos. É que a diversidade evolutiva existente no meio espiritual é enorme. (P. 127)

78. Georges Morranier, por exemplo, que se matou aos 29 anos de idade, após uma crise depressiva, revela encontrar-se atualmente na quinta esfera, de um total de sete que circundam a Terra, excluindo a Crosta. Para um ex-suicida, a revelação de Georges é, no mínimo, estranha. (P. 128)

79. Como essa, Brune transcreve uma série de comunicações. (N.R.: A falta de critério realmente científico na organização dessas mensagens, em que há de tudo, desde a que atesta a divindade do Cristo até a que é atribuída a um extraterrestre, tira a esse capítulo o rigor que seria de esperar do autor deste livro.) (PP. 128 a 134)

80. Brune menciona o trabalho de Frederico Myers, morto em 1901, um dos fundadores da Sociedade de Pesquisa Psíquica de Londres e autor da obra intitulada: A personalidade do homem e sua sobrevivência após a morte do corpo, esclarecendo que após sua morte Myers iniciou uma obra ainda mais importante. (P. 134)

81. Com outros companheiros da Sociedade londrina, também falecidos, ele passou a transmitir a diversos médiuns mensagens fragmentadas, ou seja, trechos de mensagens sem nenhum sentido, quando tomados isoladamente, cujo encadeamento só surgia após agrupados segundo um código preciso. (PP. 134 e 135)

82. O objetivo de Myers era, evidentemente, provar aos homens de boa vontade que todos nós sobrevivemos após nossa morte. Não aparecia, contudo, nas referidas mensagens nenhuma descrição do Além, o que se deu apenas vinte anos depois de se encontrar no Além. (P. 135)

83. Myers começou então, geralmente por intermédio de uma jovem irlandesa de Cork, Geraldine Cummins, a descrever os novos mundos. A moça procedia de forma bastante estranha: sentada à mesa, cobria os olhos com a mão esquerda e entrava, logo, em uma espécie de sonolência. Sua mão direita punha-se, então, a escrever em velocidade inacreditável, que chegava a produzir até 2.000 palavras em pouco mais de uma hora. (P. 135)

84. Na descrição dos diferentes níveis do Além, muitos Espíritos têm-se referido a sete planos ou esferas. (P. 137)

85. Frederico Myers também distingue sete planos. Para ele, o nível 1 corresponde ao instante da morte; o nível 2 corresponde a um estado de transição; o nível 3, que ele chama de “região da ilusão”, é o do mundo existente após a morte. (N.R.: Heigorina Cunha em seu livro Cidade no Além, cap. IV, informa que o campo magnético da Terra se divide em sete esferas. A primeira, segundo ela, comportaria o Umbral “grosso”, mais materializado. A terceira seria o Umbral superior, onde se localiza a colônia Nosso Lar.) (P. 138)

86. Nesses mundos, diz padre Brune, o espaço certamente não é o mesmo. Trata-se, antes de mais nada, de níveis de consciência. Quanto a isso, há unanimidade, afirma Brune. Cada um desses níveis corresponderia a um nível espiritual, a certo grau de evolução interior. Se na Terra vivemos todos um ao lado do outro, submetidos às mesmas leis da gravidade e às mesmas condições físicas, no meio espiritual cada um atinge o nível correspondente ao seu grau evolutivo. A cada nível de evolução da consciência corresponde, pois, um mundo onde a matéria, o tempo, o espaço e o próprio corpo encontram-se em harmonia com esse nível. (P. 139)

87. Há mensageiros espirituais que dizem que esses mundos estão entre nós mesmos, ou em torno do globo terráqueo. Outros afirmam que os diferentes mundos correspondem aos diferentes planetas do sistema solar. Se não detectamos qualquer vida neles é porque em cada um desses planetas existem formas de vida e de civilização que nos são invisíveis, indetectáveis. O padre Brune insiste em dizer que se trata, na verdade, de um outro espaço. (P. 139)

88. Brune entende que o mundo em que vivemos é a resultante de nossa consciência e, por isso, insiste a respeito da harmonia existente entre o que somos, o nível espiritual que atingimos e o mundo que nos cerca, começando por nosso próprio corpo. (P. 140)

89. Diversas comunicações, referidas pelo padre Brune, inclusive a do célebre William Stead, morto no naufrágio do Titanic, em 1912, confirmam essa idéia, que é aplicável também às moradas espirituais. (PP. 140 a 147)

90. Tratando do tema viagem astral, padre Brune afirma que, freqüentemente, tais viagens assemelham-se mais a uma bilocação que a uma verdadeira viagem. E cita as experiências feitas por Robert Monroe, grande viajante do astral, fundador e diretor do Instituto Monroe, especializado no estudo dos efeitos das ondas sonoras sobre o comportamento humano. (P. 148)

91. Uma das características das narrativas de Robert Monroe é sua preocupação em observar rigorosa e objetivamente cada detalhe, para depois confrontá-lo com as pessoas com quem havia se encontrado. O padre Brune relata alguns episódios da experiência de Monroe. (PP. 149 a 153)

92. Na seqüência, padre Brune disserta sobre os primeiros níveis do Além e menciona novamente William Stead, que, após o naufrágio do Titanic, diz ter sido levado, com seus companheiros, em uma espécie de gigantesco elevador, rumo a um país maravilhoso ao qual chamou “ilha azul”, e que não é, no fundo, nada mais que um tipo de estação orbital de recepção para os recém-chegados. (P. 154)

93. Harold Sherman diz, em seu último livro, que A.J. Plimpton obteve mensagens de sua falecida esposa, que lhe referiu que a Terra era efetivamente circundada por uma série de estações orbitais de recepção para os falecidos das diferentes partes do planeta. Elas eram, contudo, apenas locais de trânsito -- afirmou a mulher. (P. 154)

94. O meio espiritual é, como sabemos, modelado pela força criadora do pensamento, mas tais criações mentais não são assim tão ilusórias. Os mortos, diz padre Brune, podem realmente comer ou beber os alimentos que mencionam. Os palácios que criam são efetivamente habitados por eles. Tais realidades correspondem simplesmente ao corpo que possuem naquele momento. (P. 158)

95. A respeito desse assunto, Pierre Monnier explicou à sua mãe: “Falei-lhe muito pouco das condições de vida no Céu: elas são infinitas e difíceis de serem contadas, pois variam para cada espírito. As ocupações (tanto as de distração quanto as de estudo), as coisas que nos cercam, tudo tendo-se tornado espiritual, desloca-se ou transforma-se sob o efeito de nosso pensamento... Pensa-se em um palácio: ele se constrói; em um templo: e nele pode-se rezar; em um oceano: e nele é possível navegar. Isto faz com que, quando se pergunta aos amigos a respeito dos planos que sucedem ao da terra, as respostas, às vezes, sejam muito diferentes...” (PP. 160 e 161)

96. Albert Pauchard confirma essas informações, acrescentando que, nas regiões astrais mais próximas da terra, a vida continua amplamente como antes -- comparativamente --, com escolas, igrejas, cidades inteiras, até mesmo hospitais e edifícios públicos; mas, à medida que se progride, tais coisas desaparecem. (P. 163)

97. William Stead, já referido aqui, conta que, para comunicar-se telepaticamente com a Terra, há um prédio especial com pequenas cabines e monitores muito amáveis que ensinam como proceder para estabelecer o contato. Numa das imagens do Além vistas pelo padre Brune em Luxemburgo havia uma paisagem urbana, com um grande edifício, mais alto que os demais. Os Espíritos disseram que era daquele prédio que se enviavam ditas imagens em direção à Terra. (P. 163)

98. Padre Brune transcreve trechos de diversas mensagens que se reportam a esse assunto. (PP. 164 a 168)

Capítulo VI - No coração do bem e do mal

99. Padre Brune abre este capítulo asseverando que nosso pensamento constrói o nosso destino, mesmo que não o queiramos, ou seja, à nossa revelia. Deus não tem, pois, nada a ver com as provações que nos atingem, porque somos nós mesmos que a criamos. É o que Roland de Jouvenel afirma ao advertir que uma parte da humanidade, perdendo o gosto de viver, cria sem saber, na estrutura cósmica, o embrião que pode precipitar o seu destino. (PP. 169 e 170)

100. A força do pensamento é tal que há casos de pessoas que, julgando-se perseguidas pelo diabo, viam efetivamente seres horríveis como o diabo, a persegui-las e arranhá-las. Mas isso só existia na imaginação delas. Ora, o que se produz na vida terrena, produz-se também, constantemente, no além-túmulo. (P. 172)

101. Falando dos sonhos, Brune entende que a maior parte deles corresponde a um mecanismo complexo. São todos os nossos problemas, todas as nossas preocupações que entram em cena, freqüentemente com indicações quanto a uma possível solução. Mas surgem aí também nossas aspirações profundas, nossas alegrias. “Cada noite, em média, oferecemos a nós mesmos uma hora e meia de cinema”, afirma o padre Brune. (P. 174)

102. O padre lembra, porém, que Hélène Renard vê com interesse e simpatia a hipótese formulada pelo biólogo Lyall Watson, segundo a qual os sonhos seriam obra de uma espécie de segundo corpo, ou seja, o corpo que sobrevive à nossa morte física: o perispírito ou corpo espiritual. (P. 176)

103. As diferenças havidas na interpretação dos sonhos dão-se também na questão das visões. E, para embasar seus argumentos, Brune menciona o caso Tereza Neumann, falecida em 1962, a qual teria visto e vivido a Paixão de Cristo aproximadamente setecentas vezes! E alude também às experiências de Swedenborg, que dizia ter visto o próprio Cristo, que o teria encarregado de uma tarefa: enxergar o mundo espiritual e desvendar os seus mistérios. Swedenborg viveu antes de Kardec, no período de 1688 a 1772. (PP. 179 a 182)

104. Com o pensamento, como já foi dito, podemos criar no Além tudo aquilo que queremos e até mesmo sem querer. Os pensamentos seriam, desse modo, energias vivas, como Pierre Monnier afirmou à sua mãe: “Eu disse a você que seus pensamentos prolongam-se em ondas vibrantes e animadas; ora, esses eflúvios têm uma composição análoga à da matéria, esta também vibrante e animada. Eles agem e comportam-se do mesmo modo, contêm vida imanente. Disto resulta que os pensamentos vivem e produzem vida”. E acrescentou: “O mesmo ocorre, eu já disse, com o olhar... com o raio emitido pelos seus olhos... este raio é vivo, fisiologicamente vivo, se assim posso dizer”. (P. 183)

105. Desmitificando a figura de Satanás, Pierre Monnier asseverou: “Satã não pode ser uma pessoa, mas sim uma acumulação de energia do mal dotada de consciência. É um centro de desagregação, de destruição, um ventre inteligente”. Mais adiante, após afirmar que os homens o criam, que ele não tem vida concreta, Pierre acrescenta: “Somente Deus vive. Satã tem vida efêmera que os homens podem aniquilar em um instante, desde que queiram pensar no pensamento de Deus. O mal não durará para sempre, enquanto Deus existirá eternamente...” (PP. 184 e 185)

106. Padre Brune defende, estranhamente, a idéia de que existem anjos caídos, ou seja, seres espirituais que nunca encarnaram, nem na Terra, nem em outro planeta e que, valendo-se de sua liberdade, escolheram a revolta contra Deus, isto é, a recusa do amor. (N.R.: Essa tese é repelida formalmente pela Doutrina ensinada pelos Espíritos Superiores.) (P. 185)

107. Paqui Lamarque, morta em Arcachon, em 1925, escreveu por intermédio da Sra. Yvonne Godefroy seis mil páginas de comunicações diversas em que, entre outros temas, confirma a importância do pensamento em nossa vida. Diz ela: “Todos os pensamentos, bons ou maus, formam ondas que vão soltas pelo espaço. Segundo sua natureza, elas se encontram, unem-se e constituem legiões que se enfrentam umas às outras. Como em todas as batalhas, o fim do confronto depende do mais forte. Se o elemento mau triunfa sobre o elemento bom, é o mal que recai sobre a terra. Ao contrário, se é a força benfazeja, a felicidade e a paz descem sobre os homens”. (PP. 186 e 187)

108. Examinando a questão do inferno e do paraíso, padre Brune diz que toda uma grande tradição, na Bíblia e também em teólogos do Oriente, em místicos do Ocidente e, por fim, em vários teólogos contemporâneos, interpreta o Inferno, o Purgatório e o Paraíso como sendo, em última análise, o modo como cada um sentiria Deus, tendo antes recusado ou aceitado amar como Deus, que seria, ao mesmo tempo, Inferno, Purgatório ou Paraíso para cada um, segundo o nível espiritual que tivesse atingido. (P. 189)

109. Numerosos são hoje os físicos que acreditam que uma certa forma de consciência e mesmo de liberdade está presente já nos níveis mais ínfimos da matéria, e um bom número de cientistas começa a conceber que, sob os fenômenos físicos ou psíquicos, encontra-se uma espécie de campo de forças não diferenciado, de onde surgem -- numa espécie de interação íntima -- formas e consciências. (P. 189)

110. O Deus da Bíblia -- afirma padre Brune --, já no Antigo Testamento e depois no Novo, e em toda a tradição cristã oriental, ou nos místicos do Ocidente, é essencialmente dinâmico. Ele lança, sem parar, energias que produzem e mantêm este campo de forças. Nossa consciência, reagindo neste campo de forças, molda-o segundo suas angústias, seus desejos, seus ódios. Aquele que se fecha para o amor, fonte de todas as energias, encontra-se nas trevas, entregue a seus pesadelos. Aquele que se abre para o Amor encontra-se na luz, transfigurado por estas energias. (PP. 189 e 190)

111. Jesus afirmou: “O Reino de Deus está dentro de vós”. Os chamamentos à conversão não são, portanto, uma forma de pregar a moral, mas servem para tornar-nos atentos às leis da evolução. Os caminhos de purificação que não tiverem sido percorridos aqui na Terra, serão percorridos na vida futura. É o que afirma Roland de Jouvenel. (P. 190)

Capítulo VII - O exílio nos mundos da infelicidade

112. No Além, ensina padre Brune, existem vários níveis de consciência. Inicialmente, há o nível daqueles que sequer vêem a luz. Perdendo-a, parecem perder contato com os outros homens. Quem se afasta de Deus afasta-se de seus irmãos. (P. 193)

113. De acordo com a lei natural, segundo a qual cada um cria, por projeção, seu próprio ambiente, quem não crê em nada, quem só crê no nada, encontra-se no nada. Entregues a si mesmos, deixados no nível espiritual que lhes é próprio, encontram-se esses seres na escuridão e na solidão, incapazes até mesmo de perceberem a presença de mortos que os amaram e que vêm ajudá-los. Brune cita, a propósito disso, vários exemplos. (PP. 194 a 196)

114. A influência negativa dos falecidos infelizes foi demonstrada, entre outros, pelo dr. Carl Wickland, médico psiquiatra americano, morto em 1937, o qual comprovou a possibilidade de comunicação entre nós e os Espíritos e, ainda, que os Espíritos infelizes podem apossar-se de nós sem qualquer má intenção e mesmo sem perceber. (PP. 196 e 197)

115. Dr. Wickland adquiriu, através de uma longa experiência, a convicção de que a maioria das doenças mentais são devidas, na realidade, a uma possessão. Como sua esposa era médium, a operação consistia no seguinte: fazer com que o Espírito retardatário deixasse o corpo do doente mental e, com a ajuda de Espíritos evoluídos, se incorporasse no corpo de sua mulher. O diálogo direto tornava-se então possível entre o dr. Wickland e o Espírito. Várias sessões eram, às vezes, necessárias. O médico observou logo que os Espíritos que obsidiam sentem, bem mais que nós, as dores de nosso corpo. Ele montou, então, um aparelho simples que enviava ao doente mental pequenas descargas elétricas, totalmente inofensivas e indolores para o encarnado, porém intoleráveis para o Espírito perturbador que o possuía. (P. 198)

116. Numa obra ainda inédita, que, segundo padre Brune, não foi publicada devido ao obscurantismo científico que impera em nosso mundo, o professor W. Schiebeler conta como utiliza um método bastante semelhante em um grupo de oração formado por vários médiuns, embora não utilize o aparelho do dr. Wickland. “Mais uma vez -- diz Brune -- verificamos que eram, pelo menos em parte, as pessoas da Idade Média, os feiticeiros da África, que tinham razão.” Tanto o dr. Wickland como o professor Schiebeler ensinam que é insuficiente -- como no ritual católico dos exorcismos -- expulsar os maus Espíritos, os demônios, porque esses maus Espíritos vão, em seguida, procurar uma outra vítima na qual investir. É preciso iluminá-los e convertê-los, devolver-lhes a esperança na misericórdia, no Amor de Deus; convencê-los de que, mesmo para eles, tudo ainda é possível. (PP. 198 e 199)

117. Schiebeler assinala em sua obra dois casos em que esses “maus Espíritos” voltaram para dizer que haviam, enfim, compreendido e que mudaram de campo, passando agora a lutar pela libertação dos homens, mortos e vivos, pelos Espíritos retardatários e por suas infelizes vítimas. (P. 199)

118. Um fato comprobatório da influência negativa dos Espíritos sobre nós, citado pelo padre Brune, passou-se com George Ritchie, um soldado americano, desincorporado após forte ataque de febre, que teria sido levado em uma espécie de “viagem fantástica” de iniciação por um Ser de luz que, para ele, era o próprio Jesus. Numa das cidades da América, ele entrou em um bar sórdido, onde havia uma multidão de marinheiros bebendo, coadjuvados por um certo número de indivíduos incapazes de levar a bebida aos lábios, porque suas mãos passavam através do balcão, através dos braços e corpos dos beberrões encarnados. Tratava-se, na verdade, de alcoólatras desencarnados. (P. 200)

119. Padre Brune atribui à incompreensão da Igreja a desertificação espiritual assustadora que vivemos hoje no mundo. Diz ele que a hierarquia católica romana conseguiu, entre os séculos XIII e XVII, pôr fim, pouco a pouco, às correntes místicas da Europa do Norte, da Espanha e da França, culminando neste último país com a condenação de Fénelon. Isto explica, segundo Brune, a eclosão dos movimentos carismáticos, porque, quando Deus “não pode passar pela sua Igreja, Ele a contorna!”. (P. 202)

120. O papel da Igreja seria o de indicar o perigo dos desvios na busca de Deus, fornecendo os critérios necessários para que as pessoas sinceras evitassem ser desviadas. A Igreja tem feito isto com certa regularidade, mas a tentação de arrancar todas as plantas para extirpar o joio sempre aparece -- e este não é o método aconselhado pelo Evangelho. É o que acontece, por exemplo, com as comunicações com o Além e, de modo geral, com o estudo dos fenômenos “paranormais” ou “parapsicológicos”. (P. 202)

121. Padre Brune lembra o perigo que existe nas experiências mediúnicas para as pessoas despreparadas, ou movidas por simples e vã curiosidade, muito superficiais ou demasiadamente interessadas. Mas, inversamente, diz ele, esses fenômenos podem ser benéficos, sobretudo para aqueles que não tentam provocá-los. (P. 202)

122. Falando do fenômeno da escrita automática, Brune afirma que ela pode assumir formas espetaculares: pode ser realizada totalmente ao contrário, ou invertendo apenas uma palavra em cada duas; pode atingir velocidades inacreditáveis e há médiuns que podem escrever até com as duas mãos, ao mesmo tempo, dois textos diferentes. O mesmo ocorre na mesa ou tábua ouija, onde a tabuinha ou o copo podem indicar as letras mesmo depois de largados. (P. 203)

123. Há casos em que a escrita automática, como é mencionado por Jean Prieur, pode levar à possessão. Padre Brune relata um caso desses, mas discorda dos que afirmam que esse fato só se dá na TCM (transcomunicação por meio de médiuns) e não na TCI (transcomunicação instrumental). (PP. 203 e 204)

124. São excessivamente negativas em relação a esses fenômenos as obras de vários especialistas eclesiásticos, como o Abade Schindelholz, que diz que, muitas vezes, as possessões ocorrem depois de se ter freqüentado sessões espíritas ou práticas de ocultismo. Brune discorda desses excessos e lembra que, ao contrário, existem curandeiros, magnetizadores e radiestesistas que são pessoas de Deus, homens e mulheres de bem. Um deles, o Reverendo Jean Jurion, radiestesista e ao mesmo tempo padre católico, conta como foi levado com outros padres radiestesistas, humildes ou renomados, a descobrir sua dupla vocação. E cita todas as passagens das Escrituras onde o Cristo realiza curas, que era feita também pelos apóstolos e seus sucessores. (P. 205)

125. A conclusão de padre Brune é a seguinte: é recomendável haja prudência e discernimento em tais assuntos, mas jamais a recusa absoluta, como a manifestada pelo padre Jean Vernette a respeito das comunicações contidas nas Cartas de Pierre e nas obras de Roland de Jouvenel e Jean Prieur. A crítica nesses casos, diz padre Brune, não é totalmente honesta. O padre Jean Vernette fala como se não fossem justas as censuras feitas por Pierre à Igreja e chega a afirmar que ler tais mensagens e autores afasta-nos pouco a pouco do Cristianismo. (P. 205)

126. Jean Prieur, ao contrário disso, indicou numerosos eclesiásticos que não tinham a mesma opinião. Padre Brune confessa, então, que seria mais através dos textos de Santo Agostinho ou de São Tomás de Aquino, sem falar de um grande número de teólogos contemporâneos, que ele teria podido perder a fé. (P. 205)

127. Numerosos santos reconhecidos pela Igreja realizaram curas, predisseram o futuro, como Santa Anna-Maria Taigi, morta em 1837, que curava atuando, por vezes, com a imposição das mãos, e na maioria das vezes indicava a verdadeira causa do mal e o remédio a ser tomado. Os poderes dessa mulher eram tão grandes que o clero de Roma, Papa e cardeais à frente, sem contar numerosos santos da época, não tinha qualquer escrúpulo em consultá-la. (PP. 205 e 206)

128. É equivocada, diz padre Brune, a idéia de que manifestações “satânicas” na vida de um curandeiro ou de um vidente estejam a indicar que tais práticas são contrárias à vontade de Deus. Esses ataques podem ser, ao contrário, o sinal de que eles agem a favor do Reino de Deus, como assinala o padre René Chénesseau, padre católico que também praticava o exorcismo: entre as pessoas atacadas pelas forças do mal, muitos são homens e mulheres de fé, às vezes profundamente dedicados a Deus, quase místicos. É que a santidade atrai as forças do mal, e as vocações religiosas são, para elas, uma verdadeira provocação. (P. 206)

129. Georges Ritchie, na viagem fantástica que teria feito, foi conduzido a várias casas, onde falecidos seguiam os vivos, de cômodo em cômodo, repetindo sempre a mesma frase, sem que ninguém os ouvisse: “Sinto muito, Papai”, ou “Sinto muito, Nancy...” “Eu não sabia o mal que aquilo iria causar a Mamãe.” Eram suicidas, agrilhoados a cada conseqüência do ato cometido. (P. 207)

130. Ritchie descreve suas impressões do meio espiritual, onde viu indivíduos em lutas descomunais, impelidos pelo ódio puro, e até abusos de natureza sexual perpetrados naquele meio, onde o sofrimento imperava, fato confirmado por Robert Monroe e Albert Pauchard. Isso não modifica a idéia, presente nas informações dadas pelos Espíritos, de que é possível o progresso para todos eles. (PP. 207 a 209)

131. Neste ponto, assevera padre Brune, abandonamos o ensinamento habitual dos catecismos católicos romanos: “Ninguém está definitivamente preso pela morte, contra ou a favor de Deus. Após a morte, tudo ainda é possível”. Abandonamos os catecismos, mas reencontramos as Escrituras. São Pedro, por exemplo, diz que Cristo, após sua morte, foi pregar até aos espíritos em prisão, aos que foram incrédulos outrora. Ora, se o Cristo foi pregar aos mortos que eram incrédulos no momento de sua morte, sua pregação não teria qualquer sentido se não pudesse ter eficácia. (P. 210)

132. Descer aos Infernos é diferente de descer ao Inferno. O termo “Infernos” não tem qualquer conotação de danação; trata-se simplesmente de “lugares inferiores”. Pierre Monnier confirma a validade da pregação de Jesus nos lugares inferiores, ao dizer à sua mãe: “Nos ‘Infernos’, ainda há tempo de se converter e escapar do Inferno (neste caso, no sentido de danação). Até depois da morte, o Evangelho é pregado aos culpados para arrancá-los do império do Mal, do Inferno”. Mais adiante, Pierre é ainda mais explícito: “Quando Pedro, o apóstolo, fala da missão de seu Mestre espiritual na morada dos mortos, não se trata de um mito, como argumentam alguns teólogos -- argumentação gratuita que confunde a fé. Trata-se da visão gloriosa da Misericórdia de Deus para com os pecadores. Como Jesus despido da carne, nós também -- seus missionários celestes -- vamos até nossos irmãos desolados ou culpados para ensinar-lhes o Evangelho...” (P. 210)

Capítulo VIII - A reencarnação: última provação da alma infeliz

133. Que acontece, então, aos falecidos que mais recusaram o Amor? Pierre Monnier afirma que Deus lhes concede uma segunda oportunidade e permite-lhes voltar à Terra. É a reencarnação. Muitos outros mensageiros afirmam a mesma coisa e padre Brune concorda com essa informação. (P. 213)

134. Segundo Pierre Monnier, a reencarnação ocorre, às vezes, com muito menor freqüência do que alguns imaginam. Ela é muitas vezes aconselhada como sendo o meio mais rápido de realização da evolução espiritual, obrigatória para que se atinja a felicidade para a qual tendemos todos, e que só conheceremos na fusão com Deus. A reencarnação seria, no entanto, por assim dizer, sempre facultativa. Isto, na concepção do Espírito de Pierre Monnier. (P. 213)

135. A reencarnação ocorre, às vezes, em famílias inteiras, ou quase. Pais que arrastaram seus filhos em sua infelicidade, pedem para reparar a falha dando à luz, novamente, os mesmos filhos. (PP. 214 e 214)

136. A posição de François Brune -- favorável à doutrina da reencarnação -- é, no entanto, bastante curiosa: 1) ele não crê que, em relação às criaturas humanas, a reencarnação constitua uma regra. Ela seria, antes, uma medida adotada em caráter excepcional para casos determinados; 2) embora acredite nessa tese, não está convencido de que já tenhamos obtido provas absolutas da existência do fenômeno; 3) ele diz que, ao contrário do que sempre se fala, a doutrina da reencarnação era completamente desconhecida no Egito antigo, na Suméria, na Assíria, em Babilônia, entre os Vedas e os hebreus; 4) não considera argumentos válidos pró-reencarnação os episódios do Evangelho a respeito do cego de nascença e da vinda de Elias; 5) admite porém que no tempo do Cristo a doutrina começava a nascer, porquanto, segundo Flávio Josefo, os Fariseus acreditavam em suplícios eternos, destinados aos maus, e na reencarnação destinada aos bons, e, mais tarde, na Cabala, tal doutrina ocuparia um lugar importante; 6) ele afirma que, ao contrário do que alguns dizem, a Igreja jamais pregou a reencarnação, embora também nunca a tenha formalmente condenado. (PP. 214 a 216)

137. Quanto às vozes do Além, recebidas em fitas magnéticas, elas longe estão de solucionar o caso, porque, segundo a senhora Schäfer, têm sido recebidos por esse meio todos os tipos de opinião, desde: “claro, a reencarnação existe, todos passam por ela”, até: “mas é um absurdo, isto não existe!”, passando por: “não sei de nada”. (P. 217)

138. Padre Brune, depois de reconhecer que Albert Pauchard continua, mesmo no Além, cada vez mais convencido da realidade dessa doutrina, elabora uma série de considerações de natureza filosófica tendentes a mostrar que a reencarnação não seria, como alguns pensam, indispensável à compreensão das aparentes injustiças da existência e da lei do Karma. Aos que afirmam que uma só existência não basta para nossa evolução, padre Brune responde que os que dizem isto não compreendem que a vida continua no Além, onde também se pode perfeitamente progredir. (PP. 218 a 226)

139. Na seqüência, ele disserta sobre o que significa efetivamente a reencarnação nas concepções do Ocidente e do Oriente. E afirma não considerar como prova da reencarnação a chamada memória extracerebral, em que crianças descrevem lugares, pessoas e fatos relacionados com uma vida anterior. “Tais lembranças são autênticas, eu admito”, diz padre Brune. “E também referem-se a vidas anteriores. Mas nada me obriga a crer que se trate da mesma pessoa.” (PP. 227 a 231)

140. Brune tende a resolver pela influência de Espíritos o que, na verdade, seriam reminiscências do passado, e procede do mesmo modo com relação aos gênios precoces, como Mozart e outros. (PP. 231 a 236. Ver também p. 239)

Capítulo IX - O retorno aos mundos da felicidade

141. Padre Brune abre este capítulo dizendo que o termo anjo tem sido mencionado por um grande número de mensageiros, para designar os falecidos mais evoluídos em condições de nos ajudar. Essa palavra não tem, pois, para eles, qualquer outro sentido; aliás, afirmam não terem conhecido no Além “anjos”, no sentido comum da palavra. Há mensageiros que dizem, no entanto, que existem seres espirituais que jamais viveram na Terra, nem em qualquer outro planeta, ou seja, jamais “encarnaram” no nível em que se situa nossa matéria, o que não implica dizer que não tenham um corpo. (N.R.: Esta última informação é rejeitada frontalmente pela Doutrina ensinada pelos Espíritos Superiores, que atestam ser a “encarnação” absolutamente indispensável à evolução da alma.) (P. 237)

142. Falando sobre o meio espiritual, Alain Tessier, morto em acidente de moto, diz que os não-encarnados são muito mais numerosos do que os encarnados, ou seja, há mais mortos do que vivos. E eles nos influenciam muito. A influência dos “bons” equilibra a influência dos “maus”. (P. 238)

143. Padre Brune lembra que alguns acreditam que só podemos realizar descobertas científicas na Terra, quando as mesmas foram feitas no Além, o que explicaria o fato de uma mesma descoberta ser realizada, quase que simultaneamente, por equipes de pesquisadores completamente independentes. Essa ação se exerceria também nas obras de arte e na literatura. Assim, as inúmeras representações de um anjo soprando ao ouvido de um escritor inspirado não são tão ingênuas quanto geralmente parecem. (PP. 238 e 239)

144. Brune conclui, então: “Se esta assistência dos invisíveis já nos é garantida em nossas pesquisas científicas ou em nossas criações artísticas, ela o é ainda mais, evidentemente, em nossas obras de caráter mais diretamente caritativo ou espiritual”. O padre reporta-se, então, às curas e às cirurgias promovidas por médiuns incorporados pelos Espíritos, relatando o extraordinário caso ocorrido com o jornalista J. Bernard Hutton, curado e tratado pelo dr. William Lang, morto em 1937, que o tratou em 1963, após incorporar o ex-bombeiro George Chapman. (PP. 240 a 243)

145. Na seqüência, padre Brune disserta sobre os “anjos da guarda”, mencionando mensagens que tratam do assunto, entremeadas com impressões de Robert Monroe em suas “viagens astrais” e com a própria opinião do padre, sem fundamentação científica, como a idéia de que o anjo da guarda talvez “seja uma parte de nós mesmos, não encarnada”. (PP. 243 a 248)

146. No rumo da alma à luz, Brune diz que os falecidos, além de ajudar-nos, são também ajudados por outros Espíritos, mais avançados do que eles. Nesse sentido, lembra a eficácia de qualquer oração pelos mortos, confirmada em mensagem de Pierre Monnier, embora este tivesse origem protestante. (PP. 248 a 250)

147. Um dos sinais da evolução do falecido será a transformação de suas relações com os outros, sobretudo de suas relações de amor. Para os Espíritos que a perversidade não retém nas zonas assustadoras vislumbradas por Georges Ritchie, em sua viagem fora do corpo, a sexualidade desaparece, mas não o amor, que será expresso então de modo bem diferente e mais profundo. Rosemary Brown confirma essa idéia, dizendo que os seres desencarnados parecem não ter qualquer sentido de sexualidade, nem qualquer interesse por este assunto. “O amor expressa-se -- diz Rosemary Brown -- de modo bem mais completo e feliz, sob outras formas, tornando-se algo de grande beleza, permitindo uma perfeita harmonia entre os seres que se amam.” (P. 251)

148. No outro mundo, segundo Rosemary Brown, não há casamento tal como o conhecemos aqui. Robert Monroe afirma que a união sexual, tal como a conhecemos neste mundo, é uma pálida imitação, degenerada, daquilo que ele pôde conhecer quando de suas experiências de desdobramento. Falando sobre essa “união”, diz ele: “Os dois parceiros fundem-se verdadeiramente, não apenas em um nível superficial, ou em um ou dois lugares específicos do corpo, mas em plano geral, átomo por átomo, através do conjunto do Corpo Segundo. Uma rápida troca de elétrons entre os parceiros ocorre neste momento. Você atinge, em um instante, um estado de êxtase insuportável; e, no instante seguinte, você vive a tranqüilidade, a plenitude perfeita. Depois, tudo está acabado”. (P. 251)

Capítulo X - A união com Deus: última experiência da alma bem-aventurada

149. Entende padre Brune que, desde o instante da passagem para o Além, o essencial da felicidade sentida pelo falecido não reside nem no esplendor do novo cenário de vida, nem na liberdade de ir e vir, nem na possibilidade de adquirir maiores conhecimentos. Não! Tudo isso tem, certamente, importância, mas é apenas um complemento, porque o essencial dessa felicidade é a experiência de Deus. (P. 253)

150. A propósito do tema, eis algumas idéias colhidas neste capítulo: a) Deus é como uma radiação de energias, vivificantes, benfazejas, através das quais Ele nos regenera continuamente; b) O Deus cristão, que é dinâmico, nada tem a ver com o Deus de São Tomás de Aquino e Aristóteles, o qual, para não sofrer qualquer influência, teria (segundo São Tomás e Aristóteles) decidido tudo a respeito de nossas relações com Ele; c) Deus, como diz João Evangelista, é amor e luz; d) a prece é um puro arrebatamento de fé e de amor para com Deus, o Criador; e) a pessoa pode simplesmente dizer: “Meu Deus, o senhor está aí e eu o amo”. Se todo o seu ser vibrar ao pronunciar esta frase, terá feito uma bela prece, ao contrário do que ensina a quase totalidade dos tratados de oração que encontramos nos seminários, que mantêm os “fiéis” presos a formas inferiores de prece; f) Deus é puro espírito. (PP. 253 a 261)

151. Discutindo, na seqüência, a questão da divindade do Cristo, o padre Brune apresenta depoimentos pró e contra a tese esposada pela Igreja, tese essa que ele pessoalmente defende. (PP. 260 e 261. Ver também pp. 265 a 275)

152. Padre Brune cita também alguns relatos, inclusive de “viagens astrais”, que se referem à vida de Jesus, dos doze aos trinta anos, em que, evidentemente, as versões apresentam diversas contradições. Brune os menciona, mas não lhes dá maior importância (PP. 261 a 264)

153. No que se refere a esse tema, padre Brune diz que a verdade é que nosso mundo não está em condições de compreender ainda os dezoito anos de silêncio do Cristo em Nazaré. Desde o instante em que se pensa que ele não é Deus vindo à Terra, é natural que se procurem professores e gurus, para explicar a superioridade dos seus ensinamentos. Há, nos meios esotéricos, segundo Brune, um único consenso em relação ao advento da era de Aquário: o desaparecimento das grandes religiões tradicionais, que cederão lugar a novos Mestres. Mas o consenso acaba aí. (PP. 264 e 265)

Conclusão

154. Ao final da obra, padre Brune diz nutrir a esperança de que a vida de seus leitores tenha mudado, porque seu desejo é que o coração de todos nós se abra para a eternidade. E transcreve, então, dois textos que devem, segundo ele, ser lidos como o relato da mais ardente das experiências: a do Amor tornado fonte irradiante no fundo de nossos corações. Eis o último deles, com que se fecha esta obra: “Uma noite, o Padre Lazare levantou-se para ir da cabana dos Santos Apóstolos até Karies. Padre Modesto estava doente e era preciso ir. Era junho e fazia muito calor. A noite estava banhada pela lua. Mal havia saído e dado alguns passos quando avistou, à beira do caminho, um espetáculo único. Alguém estava ajoelhado, mãos erguidas, no meio da calma infinita da noite e do silêncio da natureza, e rezava. Era o Padre Isaac”. Brune diz que Padre Isaac era um dos monges que viveu no monte Atos, no início deste século.

Londrina, 19/4/1998

Astolfo O. de Oliveira Filho

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