.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Como vai você?

Como vai você?

Por Jane Maiolo (*)
Descanse no Senhor e aguarde por ele com paciência* (Salmos 37:7)
Setembro se aproxima e com ele a expectativa de a primavera reflorir os caminhos.
Setembro também é o mês que acontece a campanha internacional de conscientização sobre a prevenção ao suicídio, visto ser o suicídio considerado um problema de saúde pública. Uma pandemia.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de óbitos autoprovocados é de 804 mil por ano, são mortes prematuras que poderiam ser evitadas porque é possível preveni-las e não faltam ferramentas para isso. Contudo, as taxas continuam avançando, especialmente em países pobres e em desenvolvimento.
Não resta dúvida que a ideação suicida está intimamente ligada a uma doença de ordem mental, e enquanto não se extirpar o preconceito contra a doença mental, vamos continuar assistindo o avanço dos números.
Em setembro de 2015 iniciava-se o atendimento pelo número 188, primeiro número sem custo de ligação para prevenção do suicídio. Após a assinatura do termo de cooperação técnica entre o Centro de Valorização da Vida e o Ministério da Saúde, a Anatel publicou o ato de autorização nº 9.623, estabelecendo que a partir de 30 de setembro de 2017 o funcionamento do número 188 abrangeria boa parte do todo território nacional. A partir de 30 de junho de 2018 os 26 estados do Brasil mais o Distrito Federal já são contemplados com esse instrumento.
As ligações para o CVV através do número 188 são gratuitas a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular.
Encontrar alguém que escute nossas angústias tem sido uma busca cada vez mais difícil, pois todos têm também suas próprias dores. Vivemos um momento delicado na sociedade contemporânea, pois poucos são os que “tem ouvidos de ouvir” e quase inexistentes aqueles que são portadores de lucidez para escutar e aconselhar.
Setembro se aproxima e como vai você?
Encontrar palavras para nomear as lesões emocionais é uma boa maneira de verbalizar a dor e desatar as amarras do sofrimento. O maior desejo do ser humano é ser cuidado e o silêncio em torno das tristezas só agrava a situação. É preciso continuar o caminho, apesar dos insucessos e frustrações, pois a vida não sabe andar pra trás, e como bons caminheiros façamos a nossa caminhada, pois é caminhando que se faz o caminho!
Se a ideação suicida pairar na mente lembre-se que a morte, como diria Millôr Fernandes, “...é uma coisa que se deve deixar sempre para depois.
Fale de sua dor, procure um amigo, um núcleo de atendimento, uma instituição religiosa, enfim permita a chegada da Primavera em você e ouça o conselho: “Descanse no Senhor e aguarde por ele com paciência”.
                                                                                      
(*) É professora de Ensino Fundamental, formada em Letras e pós-graduada em Psicopedagogia. Formanda em Psicanálise pelo Instituto Brasileiro de Psicanálise Contemporânea. Colaboradora da Sociedade Espírita Allan Kardec de Jales. Idealizadora do simpósio anual Valorização à vida, Pesquisadora do Evangelho de Jesus. Colaboradora da Agenda Brasil Espírita- Jornal O Rebate /Macaé /RJ – Jornal Folha da Região de Araçatuba/SP –Blog do Bruno Tavares –Recife/PE - colaboradora do site www.kardecriopreto.com.br- Revista Verdade e Luz de Portugal, Revista Tribuna Espírita de João Pessoa,  Apresentadora do Programa Sementes do Evangelho da Rede Amigo Espírita. Janemaiolo@bol.com.br

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

O conhecimento provoca o desejo da ignorância

Vladimir Alexei


Vladimir Alexei
Belo Horizonte das Minas Gerais,
14 de agosto de 2019.

O título desta pensata é baseado em uma frase da obra “Santo Agostinho” de Teixeira Pascoaes (Assírio & Alvim, Lisboa, 1995). Algumas obras devem ser “degustadas” com vagar. Deixar fluir a imaginação e a mente para cada canto que os textos nos remeterem.
Esse “vagar” não pode ser o “silêncio eterno dos espaços infinitos” que Blaise Pascal (1623 – 1662) dizia, e que, por vezes, são provocados quando se vive experiências do cotidiano materialista, que exige que sejamos o que não somos e ostentemos o que não temos, sem oferecer elementos novos ao aprendizado.
Por isso, mais do que muitas palavras, a busca pelas palavras corretas, pela síntese, ronda o imaginário daqueles que, de alguma forma, se aventuram a escrever. Escrever com proveito, extraindo das ideias originais, outras ideias capazes de alçar a compreensões mais elevadas, é digno da história de Santo Agostinho, que, segundo Pascoaes, desceu aos pântanos da paranoia, para alcançar a metanoia, mudança essencial do ser.
Enfrentar paranoias, ou “meus demônios”, como fez o educador Edgar Morin (1921 - ), exige compreensão de que, na atualidade, a vida convida a fazer escolhas mais difíceis. “Nem tudo que reluz é ouro...” É preciso vigilância. Morin conta que desde a sua adolescência possuía a incômoda experiência de conversar com interlocutores que pensavam, naturalmente, que ele compartilhava suas ideias e sentimentos, algo que só foi vencido mais tarde com a publicação de uma obra.
Bertrand Russell (1872 – 1970), disse algo parecido, com outras palavras: “para muita gente, antes morrer que pensar”. A ignorância é um convite a permanecer estacionado em pensamentos e comportamentos de outrora. “A vida toda fui assim”! Outros mais ousados dizem: “todo mundo faz assim...”!
Sem perceber, aprisiona-se em “teias” complexas tecidas ao longo do tempo – por meio das reencarnações –, a quatro ou mais mãos, junto com pessoas que acreditam que ainda se é como antes. Romper essa teia exige esforço e o esforço provoca medo. O medo, segundo Zygmunt Bauman (1925 – 2017), provoca três tipos de perigos: ameaças ao corpo e a propriedade; ameaças de ordem social, envolvendo o sustento da família, emprego, sobrevivência no caso de velhice ou invalidez; e ameaças de lugar da pessoa no mundo.
Para não sentir medo, permanece-se com as mesmas ideias. A isso, o senso comum atribui o nome de “zona de conforto”, estado em que se sente aconchegado em um ambiente nocivo à saúde física, mental e espiritual. E por que o sentimento de aconchego? Porque os “hábitos” trouxeram até aqui. Porque assim se constrói pensamentos e comportamentos. Romper com os laços firmados, exige desfazer teias complexas que podem ter origem em outras vidas.
Saint-Exupéry (1900 – 1944) em seu “voo noturno”, conseguiu compreender a chave destes “laços”, em uma época atribulada, de profundas mudanças (guerra): o “homem é só um laço de relações, apenas as relações contam para o homem”.
Com o passar do tempo, as demandas individuais e sociais se tornaram mais sofisticadas e a sensação de ausência de controle passou a insuflar o medo. As respostas não são mais tão simples e a necessidade em se obter respostas mais “rápidas” parece um fenômeno pouco analisado. É o mesmo que passar uma vida inteira abusando da alimentação, com sobrepeso por mais de dez anos, e acreditar que em seis meses de dieta ou academia tudo voltará ao normal. “Natura non facit saltum”!
Se os laços das relações são importantes, quais os laços que nos unem ao sentido profundo, ou filosófico, da Vida? Vive-se para ganhar experiência e compreender, com autonomia e liberdade, o que nos move, as potências superiores da alma. Isso explica os obstáculos enfrentados. Tornam-se sofridos, quando tentamos curvar as leis naturais aos desejos pessoais, preservando a ignorância que ainda exerce força contrária ao progresso do ser. Entretanto, é possível o conhecimento fazer morada na mente e no coração de cada um, se voltarmos a degustar os pensamentos que nos impulsionam ao Mais Alto.
E é em busca desse pensamento elevado que trazemos Allan Kardec (1804 – 1869). Kardec deixa claro que a Doutrina Espírita é para as pessoas de boa-fé. Dentre as diversas análises possíveis, compreende-se que a boa-fé, nesse caso, é o espírito destituído de verdades absolutas, calcadas em dogmas, afastados da religiosidade, para conseguir sentir os ensinamentos do Espiritismo.
O Espiritismo está acima, enquanto filosofia espiritualista, das religiões tradicionais, porque será a religião do futuro, capaz de abrigar pensamentos diferentes, entendimentos diferentes, crenças diferentes, em busca dos mesmos valores, aqueles que alimentarão o espírito em seu progresso. Assim o conhecimento que rompe com as amarras da ignorância que nos mantem ainda presos a convenções religiosas do passado, que são separatistas, dogmáticas, arbitrárias, materialistas, ocupará espaço nas mentes e corações, capazes de vencer o medo de pensar para o Alto e para frente.
Novos tempos, novas crenças, novos entendimentos. Cogito ergo sum.

sábado, 10 de agosto de 2019

OS ESPÍRITOS E A NATUREZA


Margarida Azevedo


A imposição do Homem à Nautreza é considerada, intelectualmente, uma mais-valia para a humanidade. O Homem alterou o curso natural dos rios, construíu barragens e represas, transportou dos seus habitats animais e plantas para lugares que a Natureza consideraria inóspitos, cultivou massivamente a terra, foi aumentando a produção de plantas, e de animais que domesticou, alterou a constituição orgânica de uma pluralidade de seres, acelerou-lhes o processo de crescimento; construíu cidades com lagos e jardins artificiais, mudou tudo e tudo lhe pareceu ser sempre permitido, baseado no grande princípio de que o Homem é o rei da Criação e todas as outras espécies têm que lhe ser submissas.

E assim, coroado de vaidade, lá foi reinando, espelhando na Natureza não propriamente o seu desejo de bem , mas a sua ambição com o nome de bem. É certo que, nalgumas coisas, a vida lhe foi sendo facilitda, e é para isso que a inteligência serve: escavar um poço para ter água junto de casa e precaver-se contra as intempéries, criar redes de saneamento, plantar e criar silos para armazenar para o inverno rigoroso, ou criar animais para o sustento do lar é meritório. Porém, mexer com as forças intrínsecas da Natureza, alterar os seus propósitos a ponto de até nem o clima escapar, estamos a falar de outra coisa bem diferente.

Face aos resultados sobejamente conhecidos e à vista de toda a gente, isto leva-nos a pensar se não será o humano um erro da Criação ou o ser mais estúpido à face da terra, pois é difícil aceitar que destrua aquilo de que precisa para a sua sobrevivência, a começar pelo ar que respira, a água que bebe, expondo-se à fome, uma natural consequência da sua leviandade. Por outro lado, é difícil aceitar que a sua evolução passe pelo prazer de destruir, em nome do lucro fácil, a ponto de se pensar que é a própria humanidade que neste momento está em perigo de continuar a existir. Obviamente não é este o sentido de destruição natural, em que a Natureza tudo transforma num renascer constante e eterno. Neste desnorteio, até esta eternidade natural é posta em causa, pois até o ciclo das estações do ano foi alterado. As plantas florescem quando deviam dar fruto, ou morrem secas na aridez dos terrenos cheios de rachas, os animais alteram o ciclo de reprodução alteram o seu habitat e mudam-se para outras zonas à procura de água e de alimento.

Pergunta-se: Será que a evolução humana teria este propósito? Mas o que é a evolução? Se é isto, dispensa-se, pois se a ignorância e o atraso civilizacional é respeitar a Vida e o Planeta, então venham eles.

Como é possível associar o processo evolutivo da humanidade ao fim trágico do mundo? Que evolução é esta, qual a sua verdadeira fonte, qual o seu verdadeiro rosto? A que normas e a que regras realmente obedece? Quem é esta humanidade? Estará o humano condenado a um fim trágico? Por outras palavras, estará a viver a dimensão do trágico no seu melhor, ao mais alto nível? Para onde nos conduz esta tão inflamada falta de amor? Estará o humano tão farto de si próprio que já não se suporta? Que é feito do Homem? Que tem ele contra Vida, porque a rejeita nesta destruição sem precedentes? Que forças são essas que o movem? Para onde pensa que vai? O que é que ele quer? Que e qual o horizonte tão ávido de…nada?!

Caberá à Natureza impôr-se como o único e verdadeiro universal, no seu sentido mais lato, mais impenetrável às nossas fracas mentes, um universal cósmico numa hiper-consciência, toda divino, e que justa e brutalmente se está a revoltar contra a humanidade? Que seres compõem essa mesma natureza, qual a sua verdadeira identidade que tanta força têm para se imporem aos humanos, que mais parece que vieram de um hospício do que de um cosmos perfeito?

Os animais dão-nos grandes lições de amor e dedicação à Vida. No cumprimento dos seus deveres naturais para com a Natureza, ensinam aos humanos que esta é para se respeitar.

E a fé? Qual é o seu papel? Será a fé, também ela, uma tragédia? Estamos a viver a falência das nossas convicções, dos nossos valores, a desconstrução dos alicerces que pensávamos profundos. A força converteu-se em fragilidade e está cada vez mais a vir à superfície a necessidade de uma humanidade convertida a Deus, bem como ao entendimento com os Espiritos que comandam o planeta. A fé tem, urgentemente, que mudar, tudo tem que mudar.

Mas, como, se não se conhece outra coisa que não a dor, a irracionalidade, a loucura? Ou o pesadelo do sofrimento como o inevitável, a sombra de uma perseguição sem tréguas?! Quem sabe, talvez esteja aí a solução para a tragédia: há outro caminho, tem que haver outro caminho que não este banho de sofrimento. É que não se trata de um sofrer penitencial, catarxico ou reparador. Trata-se de criar o desconforto sádico, a destruição gratuita, gerar e premiar comportamenos ao arrepio da ordem natural.

Nesta impotência vocabular e conceptual, sentimos a panóplia de palavras sem sentido a povoarem as nossas cabeças num painel de incongruências, de fantasias, de mitos e de filosofias vãs e de fés egoístas. O que fomos jamais voltaremos a ser. Perdemo-nos. Impotentes perante a realidade dura, temos que aceitar que, de facto, a destruição é o que melhor nos caracteriza.

Ah, mas é claro, aqui entra a fé no Deus todo poderoso, tão mágica, tão colorida. De facto, a fé, nos seus insondáveis labirintos, acaba por ser também ela uma vítima. A fé também destrói pois, qual cata-vento, tem acompanhado a falta de amor orientando-se segundo e conforme os interessses egoístas. Acreditar em Deus, Pai todo poderoso e amigo de todos os seus filhos é uma fé completamente diferente da de acreditar num deus mágico que vai fazer ressuscitar das cinzas os rios secos que nem palha, os oceanos cheios de plástico, os animais que já desapareceram e os que estão em vias de desaparecer; um deus que vai impôr-se à falta de educação ambiental ou aos genocídeos de povos que tão simplesmente querem viver na sua natureza.

Esse deus que vai enviar Espíritos de outras galáxias, imagine-se, que estão a preparar um corpo perispiritual para entrar na atmosfera terrestre, é o grito da mais alta ignorância espiritual, da falta de fé, da maior fascinação que se possa imaginar. É como sanear as Entidades que tão dedicadamente vêm a este planeta com o propósito de prover aos desígnios de Deus; é como se conheccessem tudo o que está à nossa volta, todas as Entidades, e lhes disssessem, desecucadamente, “já não precisamos de vocês porque vocês falharam. Que tristeza.

Falanges enormes de Espíritos presidem aos fenómenos da Natureza. Seres que cumprem a nobre missão do equilíbrio de todas as coisas, em que tudo está em perfeita harmonia com tudo. São miríades que fazem surgir as tempestades, o raio, dirigem as marés, orientam os seres para o cumprimento dos seus propósitos, provendo ao equilíbrio do planeta bem como do seu papel no cosmos.

Isto significa que amar a Natureza é amar quem preside aos seus desígnios sob ordens de uma Vontade soberana. Tudo tem Deus. Aquilo a que chamamos a natureza de todas as coisas mais não é que a manifestação da força divina que a tudo preside, no encadeamneto de géneros e espécies, desde o átomo ao Espírito mais brilhante.

Devemos à Mãe Natureza, naqueles que a dirigem, a nossa vida. Vida essa que não está isolada, mas que depende de uma infinidade de outras vidas para continuar a existir. Devemos-lhe o ar que respiramos, os alimentos que comemos, a terra que pisamos; devemos-lhe as famílias que construímos, os nossos filhos, um bem preciosíssimo; as referências identitárias responsáveis pelos nossos equilíbrios mentais e afectivos. Para esses Espíritos devem ir sempre as nossas orações de acção de graças, um muito obrigado clamoroso.

Somos o que respiramos, energia vital que trespassa o mais íntimo do nosso ser; somos o que comemos, aquilo em que acreditamos, com que sonhamos. É chegada a hora de voltar às forças da Natureza, primárias, e recomeçar tudo de novo e repensar a História Natural, voltar aos Espíritos que presidem às forças do planeta, só que desta vez sem coroas de falsas glórias, sem reinados ridículos, sem superioridades de qualquer ordem. O Homem tem que aprender que está na Vida para obedecer, não para mandar no que está acima de si e que não compreende; há que perceber que são imensos os mistérios que nos envolvem. Um deles é o de saber como é que, apesar de tudo, a vida continua. Grande é a força da Vida e magníficos são os seus mistérios e magníficos os Espíritos que a dirigem.

Espíritos da Natureza, por favor, perdoem-nos porque, efectivamente, não sabemos o que fazemos.





Bibliografia consultada:

KARDEC.,A., O Livros dos Espíritos, CEPC, Lisboa, 1984, Livro Segundo, Mundo Espírita ou dos Espíritos, cap. IX, Intervenção dos Espíritos no Mundo Corpóreo, IX, Acção dos Espíritos nos Fenómenos da Natureza, pp.237-239.

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

“Dia dos Pais”

 “Dia dos Pais”

Luiz Carlos Formiga

Alguns podem pensar e admitir que a lei  é exageradamente generosa. (1) Tremembé, São Paulo, possui pais famosos. (2) Mesmo condenado pela Justiça após ter matado uma filha, o detento paradoxalmente poderá deixar a Penitenciária devido ao “benefício da saída temporária de Dias dos Pais”.
      “No projeto de lei anticrime, consta a vedação de saídas temporárias da prisão para condenados por crimes hediondos”. (3) O texto final poderá apresentar alterações advindas da Câmara dos deputados e do Senado.
Pertinente lembrar que uma pessoa pode ser portadora de um tipo de transtorno dificilmente curável, onde as perspectivas de tratamento são sombrias. Na reclusão, as tentativas de reintegração social são nulas. Assim, o indivíduo, portador dessa disfunção, não deixa a penitenciária em melhores condições. Haverá entre eles um portador do TPA? (4)
Onde o “Pai” errou?
Winnicott associou seus estudos a questões educacionais e tornou-se importante referência, diz:  “somente se há uma mãe suficientemente boa é que a criança inicia um processo de desenvolvimento que seja pessoal e real. Se a maternagem não é suficientemente boa, então a criança torna-se uma coleção de reações à imposição, e a verdadeira identidade da criança falha em se formar ou se torna escondida atrás de uma falsa identidade". (5)
Antes dos dias dos pais, “in útero”, deixemos claro para nosso filho quais são os valores espíritas, pelo arrastamento do exemplo. Depois ele decidirá se vai segui-los ou não. Existe o livre-arbítrio. Isto é, não é “quem come do meu pirão, tem que ter a minha religião”. (6)
Diz Passini, apud 8, que “aqueles que procuram educar a criança à luz dos ensinamentos espíritas buscam não perder tempo, aproveitando essa fase de aceitação de novas informações, a fim de sensibilizá-lo em relação às verdades e à noção de valores trazida pelo Evangelho, para que, mais tarde, quando as tendências de sua bagagem aflorarem, o espaço já esteja ocupado, pelo menos parcialmente, pelas ideias renovadoras.” “Educadores modernos valorizam a educação desde o nascimento. A educação, à luz do Espiritismo, reconhece isso e vai um passo além, lembrando à mãe que ela deve dialogar com o nascituro desde que se percebeu grávida.” (7)
Ouvimos uma explicação sobre o respeito que se deve depositar na questão do livre arbítrio: “se estivermos avançando na direção de algo que irá nos ensinar uma lição valiosa, porém difícil, eles poderão nos mostrar maneiras mais alegres de aprender a mesma coisa. Se resolvermos persistir no caminho original, eles não tentarão nos impedir. Cabe a nós escolhermos a alegria, mas caso aprendamos melhor através da dor e do esforço, os guias espirituais não os afastarão de nós”.
No dia em que a criança percebe que todos os adultos são imperfeitos torna-se adolescente, e, se tornará adulta quando os puder perdoar.

Leia um pouco mais embora eventuais sentimentos contraditórios possam estimular o contrário.

7.   A nova geração.

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Os riscos reais dos “concursos de beleza mirim”. Cuidado! (Jorge Hessen)

Os riscos reais dos “concursos de beleza mirim”. Cuidado!  (Jorge Hessen)


Jorge Hessen
Brasília-DF

O Programa do Sílvio Santos, do SBT, tem apresentado nas suas atrações um concurso de miss mirim na TV. São meninas na faixa etária até no máximo 10 anos de idade que desfilam sensualizadas vestidas de maiô e rostos maquiados, e disputam quem é a mais bonita. O programa tem sido mira de reprimendas, considerando-se o plausível conflito psicológico que poderá trazer para as mentes infantis.
Tal iniciativa robustece arquétipos de beleza que se enquadram desde cedo em um padrão extremamente restritivo de “formosura” feminina, ou seja, magrinha, loirinha, altinha, olhinhos claros etc. Obviamente tudo isso é extremamente lesivo para o desenvolvimento da criança, pois que competição de beleza desse tipo não é saudável para o desenvolvimento social de uma criança. Até porque os efeitos dessa “brincadeira” poderão ser perversos tanto para a “vencedora” quanto para as “perdedoras”, pois todas tenderão tombar sob transtornos de ansiedade, desordens alimentares, baixa autoestima e depressão, dentre outras patologias psíquicas e emocionais.
A “vencedora” certamente se prenderá àquele conceito de "beleza" que, caso se transforme na adolescência ou na vida adulta, poderá levá-la a se sentir “menos bela”. Já as “perdedoras” poderão interrogar "o que a vencedora tem que eu não tenho?”, derivando daí o nascedouro de tumultos psicológicos.
A criança não tem espontaneamente o desejo de aparecer, de ser a mais bonita, se não for estimulada por adultos. No fundo, é o ego dos pais que estimula. Pais que estão conduzindo suas filhas a entrar precocemente no mundo sexual adulto, atropelando fases do desenvolvimento e prejudicando o processo de aprendizagem afetiva das pequenas. Ou seja, a sexualidade, entendida como elemento presente em todos os estágios de desenvolvimento do indivíduo, acaba sendo desviada para o erótico, o excitante, o sensual, quando na realidade deveria ser canalizada para a construção das emoções, das relações sociais, da experimentação de papéis e do desenvolvimento da afetividade. E isso é profundamente danoso.
Entendo que os pais que inscrevem suas filhas para tais concursos certamente transportam frustrações íntimas e transferem para os rebentos a pretensão íntima de desfilarem nas passarelas. São pais que insistem em viver no mundo da fantasia e dos contos de fadas.
Recordo de Isabella Barrett, uma criança de apenas 6 anos, que foi estrela de concursos de beleza mirim transmitido pelo canal Discovery Home & Health, no programa Toddlers & Tiaras. O evento, transmitido com o título “Pequenas Misses”. Pasmem! Concursos de beleza de crianças são populares nos Estados Unidos porque têm clientela.
Recentemente assisti a um documentário assombroso, noticiando sobre a adolescência e a juventude dessas “ex-misses mirins”. Muitas delas foram forçadas pelos pais a participar desses concursos peculiares. Registra o documentário que a maioria dessas crianças se transforma em pessoas com dramas psiquiátricos profundos, e algumas mergulham nos subterrâneos das drogas e do meretrício. No epílogo do programa, ficamos sabendo que ao início dos problemas pessoais dessas crianças, na fase pré-adolescente, a maioria dos pais abandona as filhas ao “deus-dará”, na vida mundana.
Assunto correlado, escrevemos há alguns anos sobre Thylane Lena Rose Blondeau, uma menina de 10 anos de idade que fez uma produção fotográfica para a revista Vogue Paris, erguendo polêmica devido à roupa ousada, maquiagem e poses provocantes. O ensaio fotográfico causou indignação em pessoas ligadas a ONGs de proteção à criança. De acordo com a organização “Concerned Women for America”, os pais da criança devem ser responsabilizados por ter permitido à criança realizar aquele trabalho. (1)
Percebemos claramente a exploração infantil e temos convicção de que os pais deviam ser criminalizados. Infelizmente, o mundo ingênuo da criança vem sendo explorado pela fúria predadora da sensualidade desorientada, envilecendo a inocência e dignidade infantis. Como se não bastasse “o caso Thylane”, há outras situações polêmicas na contenda, a exemplo dos cursos de pole dancing (2) para crianças, na cidade do México, e dança “funk carioca”, no estado do Rio de Janeiro. Muitas meninas (crianças e adolescentes) têm aderido ao “sexting” (3), postando fotos sensuais na internet. São meninas e meninos que exploram os espaços virtuais nos sites de relacionamento.
Cada vez mais cedo, e com maior magnitude, as excitações da criança e do adolescente germinam adicionadas pelos diversos e desencontrados apelos das revistas libertinas, da mídia eletrônica, das drogas, do consumismo impulsivo, do mau gosto comportamental, da banalidade exibida e outras tantas extravagâncias, como espelhos claros de pais que vivem alucinados, estancados e desatualizados, enjaulados em seus quefazeres diários e que jamais podem demorar-se à frente da educação dos próprios filhos.
A criança é o futuro, sabemos disso. E, “com exceção dos espíritos missionários, os homens de agora serão as crianças de amanhã, no processo reencarnacionista (4)”. A demanda de redenção dos novos tempos que chegam há de principiar na alma da infância, se não quisermos divagar nos cipoais teóricos da fantasia exacerbada. Precisamos perceber no coração infantil o esboço da geração próxima, procurando ampará-lo em todas as direções, pois “a orientação da infância é a profilaxia do futuro (5)”. Por questão de prudência cristã, não podemos permitir “que as crianças participem de reuniões ou festas que lhes conspurquem os sentimentos em nenhuma oportunidade, porque a criança sofre de maneira profunda a influência do meio (6)”.
Fiquemos atentos, pois a educação, por definição, constitui-se na base da formação de uma sociedade saudável. A tarefa dos pais é a da educação das crianças pelo exemplo de total dignificação moral sob as bênçãos de Deus. Nesse sentido, os postulados Espíritas são antídotos contra todos os venenosos ardis humanos, posto que aqueles que os conhecem têm consciência de que não poderão se eximir das suas responsabilidades sociais, sabendo que o futuro é uma decorrência do presente. Deste modo, é urgente identificarmos no coração infantil o esboço da futura geração saudável.

                                                            
Referências bibliográficas:
(1) Hessen, Jorge. Artigo Educação espírita: Arcabouço da futura geração saudável, disponível em http://aluznamente.com.br/educacao-espirita-  arcabouco-da-futura-geracao-saudavel/ acessado em 17/05/2013
(2) Pole dance tem suas raízes na dança exótica, strip-tease e burlesco e têm elementos de apelo sexual e subversão
(3) Refere-se a envio e divulgação de conteúdos eróticos, sensuais e sexuais com imagens pessoais pela internet utilizando-se de qualquer meio eletrônico, como câmeras fotográficas digitais, webcams e smartphones.
(4) Xavier, Francisco Cândido. Coletânea do Além, ditado por Espíritos Diversos, São Paulo: FEESP, 1945, Cap. A Criança e o Futuro pelo Espírito Emmanuel
(5) Vieira, Waldo. Conduta Espírita, ditado pelo espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed FEB, 1997, Cap. 21- Perante a Criança
(6) idem