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quarta-feira, 29 de novembro de 2017

A dor é o chamamento ao cultivo do amor (Jorge Hessen)


Jorge Hessen

" A dor é o aguilhão que o impele para a frente, na senda do progresso"[1]Entendemos que a dor seja o medicamento que solicitamos na fronteira da experiência terrestre. Sim! Espíritos doentes e endividados que somos, imploramos, antes do berço, as dores e as provações capazes de propiciar-nos o regozijo da cura e a benção do resgate. Portanto, as dificuldades são benfeitoras do coração. Aceitemo-las no caminho, com o equilíbrio da resignação que tudo abrange para tudo auxiliar e expurgar, na marcha de nossa via crucis.
A dor , seja física ou espiritual, é sofrida por quem a provoca e que jamais bate em porta errada. Não há razão, em hipótese alguma, atribuir a terceiros a culpa de nossas dores, pois que elas resultam das atitudes, dos procedimentos, das ações praticadas contra as leis divinas. Para aliviá-la existe a necessidade de assumirmos a responsabilidade de uma mudança comportamental, que sempre pode libertar-nos da dor, quando bem realizada segundo padrões éticos/morais cristãos.
As provações da vida fazem adiantar quem as sofre, quando bem suportadas; elas apagam as faltas e purificam o espírito faltoso”.[2] Quando a dor chega, ninguém permanece indiferente, não importando suas causas. Por vezes, chega através da doença física, minando a saúde antes inabalável. De outras, é a dor da separação do ente amado que desencarna.
De toda forma, não importando por quais caminhos a dor nos visite, sempre é presença contundente, alterando-nos as paisagens emocionais. Ela sempre traz consigo seu caráter pedagógico, em um convite ao cultivo das virtudes que ainda não nos dispusemos a acionar.  “As provas rudes são quase sempre indício de um fim de sofrimento e de um aperfeiçoamento do Espírito, quando aceitas com o pensamento em Deus”.[3]
Há três categorias de dor: a dor-evolução, a dor-expiação e a dor-auxílio. A dor-evolução atua de fora para dentro, aprimorando o ser, e sem ela não haveria progresso. A dor-expiação vem de dentro para fora, marcando a criatura no caminho dos séculos, detendo-a em complicados labirintos de aflição, para regenerá-la, perante a Justiça. Quanto à dor-auxílio, pela intercessão de amigos devotados à nossa felicidade e à nossa vitória, recebemos a bênção de prolongadas e dolorosas enfermidades no envoltório físico, seja para evitar-nos a queda no abismo da criminalidade, seja, mais frequentemente, para o serviço preparatório da desencarnação, a fim de que não sejamos colhidos por surpresas arrasadoras, na transição da morte. [4]
O enfarte, a trombose, a hemiplegia, o câncer penosamente suportado, a senilidade prematura e outras calamidades da vida orgânica constituem, por vezes, dores-auxílio, para que a alma se recupere de certos enganos em que haja incorrido na existência do corpo denso, habilitando-se, através de longas reflexões e benéficas disciplinas, para o ingresso respeitá­vel na Vida Espiritual. [5]
A oração habitual, o comportamento retificador, o descortino mental e o bem que se pode patrocinar ao próximo, retratam as atitudes inteligentes daqueles que almejam o bom aproveita­mento da dor no processo de evolução .

Referências bibliográficas:
[1]            KARDEC , Allan . A Gênese, Cap. III, item 5, RJ: Ed. FEB 2001
[2]            KARDEC , Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. V, item 10, RJ: Ed. FEB 2001
[3]            Idem cap. XIV, item 09, RJ: Ed. FEB 2001
[4]            XAVIER, Francisco Cândido. Ação e Reação, ditado pelo Espírito André Luiz, cap. 19, RJ: Ed. FEB 1959
[5]            Idem




terça-feira, 28 de novembro de 2017

O passe não modifica as coisas, para nós, mas pode modificar-nos a nós em relação às coisas (Jorge Hessen)


Todo o encanto dos ensinos espíritas, oriundo da fé racional considerando o potencial do magnetismo pelo passe, desaparece ante as ginásticas pedantes e caricatas de tratamentos “espirituais” ultimamente praticados em algumas instituições espíritas mal administradas.
Dos muitos disparates que já ouvi nas hostes espíritas de Brasília, um deles é que a aplicação do passe quando “concentrado" (concentrado???....!!!) e muito demorado pode causar "congestionamento fluídico” (congestionamento fluídico???...!!!) e com isso o assistido pode se sentir mal (sentir mal???...!!!) Acredite se puder!
Ora, na aplicação do passe oferecido numa casa espírita bem dirigida, os Benfeitores manipulam e espargem os fluidos exatamente na quantidade necessária para cada assistido, nem mais, nem menos. Nunca em excesso.
O passe não poderá, em tempo algum, ser aplicado com movimentos bruscos, com malabarismos manuais, estalos de dedos, cânticos estranhos e, muito menos ainda, com passistas incorporados com “aconselhamentos” para o assistido.
Por conseguinte, na aplicação do passe não se fazem necessários a gesticulação violenta, a respiração ofegante ou o bocejo contínuo, e que também não há necessidade de tocar o assistido. A transmissão do passe dispensa qualquer recurso espetacular.
São ridículas as encenações preparatórias com as mãos erguidas ao alto e abertas, para suposta captação de fluidos pelo passista, mãos abertas sobre os joelhos, pelo paciente, para “melhor assimilação” fluídica, braços e pernas descruzados para não impedir a livre passagem dos fluidos, e assim por diante – só servem para achincalhar o passe, o passista e o paciente.
A transfusão sanguínea promove a renovação das forças biológicas. O passe é transfusão de energia psíquica e magnética. A diferença é que os recursos sanguíneos são extraídos de um reservatório limitado, mas os elementos psíquicos são retirados do reservatório interminável das forças espirituais.
A transfusão ocorre através do períspirito, órgão sensitivo do Espírito, que interage de forma profunda com o corpo biológico, razão pela qual as energias psíquicas, transmitidas pelo passe e recebidas inicialmente pelos “centros de força”, alcançam o corpo físico através dos “plexos”, proporcionando a renovação das células enfermiças. As energias psíquicas poderão ser espirituais, considerando o magnetismo advindo dos desencarnados que participam dos processos, e fluidos humanos, através do magnetismo animal pertencente aos passistas encarnados.
O passe é prece, concentração e doação. A oração é prodigioso banho de forças, tal a vigorosa corrente mental que atrai. Por ela, consegue o passista duas coisas importantes: primeiro, expulsar da mente os sombrios pensamentos remanescentes da atividade comum das lutas materiais diárias; segundo, sorver do plano espiritual as substâncias renovadoras a fim de conseguir operar com eficiência em favor do próximo.
Por questão de bom senso, o passe deverá sempre ser ministrado de modo silencioso, com simplicidade e naturalidade. Todo o potencial e toda a eficácia do passe genuinamente espírita dependem do espírito e da assistência espiritual do passista e não apenas do passista. Jesus utilizou o passe "impondo as mãos" sobre os enfermos, a fim de beneficiá-los. E ensinou essa prática aos seus discípulos e apóstolos, que também a empregaram largamente nos tempos apostólicos.
Vale relembrar aqui que apesar dos estranhos passistas que criam confusões ao aplicarem o passe, reconhecemos que muitos encarnados e desencarnados são beneficiados pela transfusão dos fluidos psíquicos, pois sabemos que é manifestação do amor de Deus, esse sentimento sublime que abarca a todos e os alivia.

Importa-nos lembrar, porém, um pensamento de Chico Xavier: o passe, tal como terapia, não modifica necessariamente as coisas, para nós, mas pode modificar-nos a nós em relação às coisas.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

A criança livre é a semente do malfeitor (Jorge Hessen)

A criança livre é a semente do malfeitor

Jorge Hessen

Bethany Thompson lutou contra um câncer no cérebro quando tinha apenas 3 anos de idade, e sobreviveu. A cirurgia que retirou o tumor foi um sucesso, mas deixou uma pequena sequela em seu rosto: a boca ficou levemente repuxada para a direita. Isso foi suficiente para ela se tornar alvo de comentários maldosos de outras crianças na escola. Bethany, 11 anos de idade, sofria bullying implacável na escola, até que chegou a um ponto em que não suportou mais e tirou a própria vida com um tiro. [1]

Caso semelhante ocorreu no Colégio Holy Angels Catholic Academy, em Nova York, Estados Unidos. Aí estudava Daniel Fitzpatrick, um aluno de 13 anos, que estava sofrendo bullying. Resultado: Daniel acabou se suicidando. Deixou uma carta de despedida e dentre outros bramidos de dor moral escreveu: "Eu desisto"! Disse ainda que os seus colegas da escola o atormentavam há muito tempo e a direção do colégio não fazia nada a respeito, mesmo após ele e os seus pais terem feito uma reclamação formal. A resposta do Holy Angels teria sido "Calma, tudo vai ficar bem. É só uma fase, vai passar".

Como esquecermos a chacina na Escola Municipal Tasso da Silveira, de Realengo, na cidade do Rio de Janeiro, em que meninos e meninas ficaram irmanados num trágico destino. Suas vidas foram prematuramente ceifadas num episódio de insonhável bestialidade. O assassino Wellington Menezes de Oliveira, embora com a mente arruinada e razão obliterada, fez sua opção de atirar contra os alunos que o incomodavam. Numa fita gravada, Wellington alegou ter sofrido bullying anos antes, na mesma escola; neste caso houve uma reação violentíssima.

O bullying é uma epidemia psicossocial e pode ter consequências graves. O que, à primeira vista, pode parecer um simples apelido inofensivo pode afetar emocional e fisicamente o alvo da ofensa. Crianças e adolescentes que sofrem humilhações racistas, difamatórias ou separatistas podem ter queda do rendimento escolar, somatizar o sofrimento em doenças psicossomáticas e sofrer de algum tipo de trauma que influencie traços da personalidade.

Os fatos, chocantes e tristes, trazem dois alertas a todos os pais e mães: o primeiro deles é estar atento às mudanças de comportamento dos filhos e buscar ajuda profissional sempre que necessário. O segundo alerta é falar com o filho sobre o respeito às diferenças. Ensinar sobre diversidade e tolerância. Essas lições, quando assimiladas desde cedo, formam pessoas mais empáticas e sensíveis à dor do outro – além, é claro, de evitar comportamentos agressivos como o bullying.

Urge estabelecer limites aos nossos filhos. Desde os primeiros anos, devemos ensiná-los a fugir do abismo da liberdade, controlando-lhe as atitudes e concentrando-lhe as posições mentais, pois que essa é a ocasião mais propícia à edificação das bases de uma vida. Os filhos, quando crianças, registram em seu psiquismo todas as atitudes dos pais, tanto as boas quanto as más, manifestadas na intimidade do lar. Por esta razão, os pais devem estar sempre atentos e, incansavelmente, buscando um diálogo franco com os filhos, sobretudo amando-os, independentemente de como se situam na escala evolutiva.

Crianças criadas dentro de padrões de liberalidade excessiva, sem limites, sem noções de responsabilidade, sem disciplina, sem religião e muitas vezes sem amor, serão aquelas com maior tendência aos comportamentos agressivos, tais como o bullying, pois foram mal-acostumadas e por isso esperam que todos façam as suas vontades e atendam sempre às suas ordens.

Por isso mesmo, importa ensinar a criança a fugir do abismo da liberdade, controlando-lhe as atitudes e concentrando-lhe as posições mentais, pois a infância é a ocasião mais propícia à edificação das bases de uma vida. A criança livre é a semente do malfeitor. A própria reencarnação se constitui, em si mesma, restrição considerável à independência absoluta da alma necessitada de expiação e corretivo.

Pensemos nisso!

Referência:

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

NÃO LER KARDEC ESTÁ A CONDUZIR O MOVIMENTO ESPÍRITA AO DESCALABRO



Margarida Azevedo
-Portugal-

”Por outro lado, creiam que se a verdade nem sempre é apreciada pelos indivíduos, ela é-o sempre pelo bom senso das massas, o que também é um critério. (…) repilam impiedosamente todos esses Espíritos que se apresentam como conselheiros exclusivos e pregam a divisão e o isolamento. São quase sempe Espíritos vaidosos e medíocres, que tentam impor-se às pessoas fracas e  crédulas, prodigalizando-lhes louvores exagerados, a fim de os fascinar e manter sob o seu domínio.(…) Por outro lado, tenham presente que quando uma verdade tem que ser revelada à humanidade, ela é, digamos, instantaneamente comunicada em todos os grupos sérios que possuam médiuns sérios, e não a  este ou àquele, por exclusão dos outros. (…) há claramente obsessão quando um médium só recebe comunicações de um determinado Espírito, por mais elevado que este pretenda colocar-se. Assim, todo o médium e todo o grupo que se tenham como privilegiados pelas comunicações que só eles podem receber, e que, por outro lado, estão sujeitos a práticas que tocam a superstição, estão, indubitavelmente, sob o efeito de uma obsessão bem evidente, (…).”(1)

Foram-se os tempos áureos do movimento espírita em Portugal. Instaurou-se um clima de desentendimento e desconfiança, totalmente antagónico às belas palavras das sessões de evangelização. Os clássicos da Doutrina são letra morta. Os tempos agora são outros. São aceites psicografias cheias de erros, tornando inquestináveis os seus textos, desenvolveu-se um clima de anti-criticismo incompatível com o convite à razão como fundamento da fé, o qual Kardec não se cansou de advertir: “A fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade.” (2). Com isto, cresce o número dos que têm medo de falar, os que, à boca pequena, rejeitam o que outros aceitam e tentam impor.

Por outro lado, há uma subversão das leituras de outros autores, para quem as faz, procurando nelas um elo de continuidadade, e mesmo justificação, do que é dito no Espiritismo. Veja-se, por exemplo, a avaliação depreciativa das correntes filosóficas e da Teologia, o desconhecimento total de Exegese e Cristologia, rejeitando tais assuntos simplesmente porque não são de autores espíritas ou porque, o que é pior, nada têm a acrescentar à Doutrina.

Desconhecendo o que seja honestidade intelectual, subvertem conhecimentos fundamentais a qualquer crente, independentemente da sua fé, remetendo-os para o baú das inutilidades. Assim, consideram o Espiritismo auto-suficiente, as demais doutrinas como descabidas e, muito embora a Codificação diga que todos somos médiuns, só é verdadeiro o que acontece no Centro espírita. Nem o próprio Kardec o afirmou. Ao considerar o Espiritismo uma doutrina evolucionista, que se corrigirá onde estiver errada, defendeu humildemente que não estamos sós, quanto ao outro lado da vida, nem deste, entenda-se. Urge perceber que a sujeição de um texto a uma ideologia subverte, o que significa não ler o texto, no sentido de aprender com ele, mas esmagá-lo. Ora, fazer da nossa ideologia a única verdadeira é cair na armadilha do “já me encontrei; esta doutrina diz tudo.” É incompatível com o mundo pluralista de contágios ideológicos. O isolamento doutrinal e exclusivista conduz, inevitavelmente, à cegueira, remetendo o leitor para a mediocridade.

Há quem tenha dificuldade em perceber que: todas as doutrinas são feitas por Espíritos, deste e/ou do outro lado da vida; “ Os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos céus, como um imenso exército que se movimenta, ao receber a ordem de comando, espalham-se por toda a superfície da Terra.”(3).Não são as doutrinas que estão em causa, mas a Terra; o Paganismo foi a base espiritual dessas comunicações e, assim, a Dourina  Espírita tem raízes no Paganismo (importância dada a Sócrates e Platão, por exemplo) tal como o Cristianismo (o Cristianismo das origens debate-se com a articulação entre judeo-cristãos e pagano-cristãos) e o Judaísmo (a Bíblia Hebraica articula sabiamente as práticas pagãs com os ensinamentos da Tora/Lei); os problemas da humanidade não são pagãos, nem cristãos, nem de outra congregação qualquer, mas inerentes à natureza humana.; uma doutrina não se forma a partir do nada, tem que ter uma base sólida, e o Espiritismo não foge à regra (O Espiritismo encontra-se por toda a parte, na antiguidadde, e em todas as épocas da humanidade.”) (4),entende-se a manifestação dos Espíritos (a sua base); a “novidade” do Espiritismo está na  sua codificação, não nos fenómenos que lhe dão o mote para a mesma. Uma vidência será sempre uma vidência, seja qual for a fé do crente; os fenómenos são da humanidade e as doutrinas de grupos em particular. Qualquer médium, espírita ou não, tem na Codificação um códice bastante útil que o ajudará na sua prática mediúnica, mais, na sua vivência de fé… se assim o entender.

Mas outra questão mais incisiva se levanta. A confusão entre o Espírito de Verdade e os que comunicaram com os médiuns da Codificação. Vejamos: “(…) o Espiritismo não tem nacionalidade; está fora de todos os cultos particulares; não é imposto por nenhuma classe social, porque cada  qual pode receber instruções dos seus familiares e amigos  de além-túmulo.” (5), fantástico. Isto é, para lá de tudo o que se possa codificar, há um resíduo, sempre, de particularidades, subtilezas da nossa passagem por esta vida, que não são contempladas mas que são tão importantes como as outras. Por outras palavras, a Doutrina não é uma ditadura, mas, pelo contrário, um códice pleno de tolerância que não encara o não codificável como inaceitável. O individual e o particular têm lugar, voz, marcam presença.

 Por outro lado, se há diferentes categorias de mundos habitados, se o planeta terra está num dos mais elementares, provas e expiações, se não temos acesso aos Espíritos superiores, dada a nossa ignorância e natureza tão densa, então a Doutrina Espírita não é feita por altas potestades, directamente, como, aliás, nenhuma outra doutrina à face da terra. O Espírito de Verdade, essa falange grandiosa, presidiu e preside a toda e qualquer doutrina desde que para isso possua médiuns receptivos à prática do Bem. Se virmos atentamente quem são os Espíritos que comunicaram para a feitura da Codificação, temos, só para lembrar alguns, S. Luís e Sto. Agostinho; rainhas, por exemplo, uma rainha de França; Espíritos protectores, por exemplo, José; a condessa Paula, e tantos outros, basta passar os olhos pelo índice de O Céu e o Inferno(de Allan Kardec). Se fossem de uma elevação muito superior à nossa jamais poderiam comunicar com os médiuns e a própria Doutrina contradizer-se-ia a si mesma. Perceber isto passa por perceber o que é o fenómeno religioso e espiritual. Além disso, tomemos o seguinte exemplo: Uma pessoa desencarna. Porque a Espiritualidade assim o entende, seja qual for a razão, facto que nos escapa, é conduzida a um plano/planeta primitivo a fim de, juntamente com outros trabalhadores, ajudar os seus habitantes no progresso espiritual. Para estes, essa pessoa é considerada como uma Entidade de luz porque, comparativamente, possui algum esclarecimento que eles ainda não têm. Mas ele não é de luz, obedece a uma força superior que supervisiona o grupo. A pessoa que foi daqui pertence apenas a um grau acima, nada mais. Não é por acaso que aprendemos que “Não farás para ti imagem esculpida de nada que se assemelhe ao que existe lá em cima nos céus, ou embaixo na terra, ou nas águas que estão embaixo da terra. Não te prostarás diante desses deuses e não os servirás(…)”. (Bíblia de Jerusalém, Êx 20: 3-5). Ou seja, libertos de ídolos, não caímos na falsidade e na escravização da fé, prostrando-nos perante seres em tudo semelhantes a nós. A fé em Deus não é degradante nem esclavagista nem submissora.

Aprendemos na Bíblia Hebraica que Deus manifesta-se onde, quando e através de quem muito bem entende. Deus não procura os que, do ponto de vista humano, são os melhores. Somos a par e passo confrontados com a ilogicidade dos nossos raciocínios. A liberdade da fé é a antítese da idolatria (os profetas não são ídolos), e os nossos erros não nos vedam a Deus, conduzem-nos a Ele, tal como a doença ao médico (por isso Jesus disse que não são os sãos que precisam de médico - Mt 9:12; Mc 2:17; Lc 5:31). Os Espíritos que presidiram à Codificação, tal todos os que na humanidade se manifestaram ao longo da história, são em tudo iguais a nós. Eles viveram no mundo, são do mundo e compreendem o mundo; vieram dar testemunho de como algumas coisas funcionam do outro lado da vida, mas dentro da sua humanidade, obedecendo a ordens precisas. E nisto consiste a grande riqueza de ser humano: na nossa tão grande ignorância temos momentos em que somos capazes de altruísmo, partilha de experiências e, com isso, evoluir.
Não é de heróis que a espiritualidade se faz, nem adorar a Deus é um acto heróico. A procura de superioridades neste mundo já é, por si só, obsessiva. Temos direito às nossas opiniões, temos direito de seguir o nosso caminho, mas não temos o direito de excluir ninguém simplesmente porque nos faz pensar no que ainda não tínhamos pensado, veste outra roupagem, fala outra línguagem.
Quanto a nós, o Espírito de Verdade não se define. Assim, baseando-nos exclusivamente na Codificação, para os que defendem que é Jesus, o Cristo, dizer que se manifestou directamente aos médiuns é uma anedota; para os que dizem que é uma plêiade superior, a mesma coisa. Para nós, porque a História tal nos ensina, e fazendo jus à tradição, os Espíritos enviados falaram em nome de quem os enviou, tal como na Antiguidade os discípulos falavam/redigiam tomando o nome dos seus mestres. Na feitura da Codificação, alguém falou em nome de Alguém, não o próprio. Isto em nada Lhe retira mérito, pelo contrário, coloca-O no seu devido lugar: muito acima de nós. Grande é a Graça se conseguirmos fazer parte dos servos de Deus, aqui, neste planeta de… alguma humanidade. Kardec é um desafio para todos aqueles que querem humanizar-se na directa medida em que se sentem habitantes do cosmos em expansão, o multiverso incomensurável acima a para além das nossas cabeças. E de expansão permanente Allan Kardec aprendeu e transmitiu: “Há, entretanto, uma coisa que a vossa razão deve indicar: é que Deus, modelo de amor e de caridade, jamais esteve inactivo.” (6) Estude Kardec. Olhe que vale a pena.
Margarida Azevedo

 (1)“D´un autre côté, croyez bien que si la vérité n´est pas toujours apprécié pas les individus, elle l´est toujours par le bom sens des massses, et c´est encore là un critérium. (…) Repoussez impitoyablement tous les Esprits qui se donnent comme conseils exclusifs, en prêchan la division et l´isolement. Ce sont presque toujours des Esprits vaniteux et médiocres, qui tendent à s´imposer aux homes faibles et crédules, en leur prodiguant des louanges exagerées, afin de les fasciner et de les tenir sous leur domination. (…) D´un autre côté, croyez bien que lorsqu´une vérité doit être révélée à l´humanité, elle est pour ainsi dire instantanément communiquée dans tous les groupes sérieux qui possèdent de sérieux médiuns, et non pas à tels tels, à l´exclusion des autres. (…) et il y a obsession manifeste lorsqu´un medium n´est apte qu´à recevoir les communications  d´un Esprit special, si haut  que celui-ci  cherche à se placer lui-même. En conséquence, tout médium, tout group qui se croient privilégiés par des communications que seuls ils peuvent recevoir, et qui, d´autre part, sont assugettis à des pratiques  qui frisent la superstition, sont indubitablement sous le coup d´une obsession des mieux caractérisées, (…).”    KARDEC, A., L´Evangile selon le Spiritisme, cap. 21,10. Les faux prophètes de l´erraticité, pp. 320-321. (1)

 (2)”Il n´y a de foi inébranlable que celle qui peut regarder la raison face à face, à tous les ages de l´humnité.” Idem, p.0

(3)” Les Esprits du Seigneur, qui sont les vertus des cieux, comme una immense armée qui s´ébranle dès qu´elle en areçu le commandement, se répandent sur toute la surface  de la terr;” idem, Préface.
(4)” Le Spiritisme se retrouve partout, dans l´antiquité et à tous les âges de l´humanité, idem,“Introdution, I. But de cet ouvrage, p. 15
(5)“(…) le Spiritisme n´a pas de nationalité; il est en dehors de tous les cultes particuliers; il n´est pas imposé par aucune classe de la société, puisque chacun peut recevoir des instructions de ses parents  et de ses amis d´outre-tombe.”, idem, Introduction, II. Autorité de la doctrine spirite, Contrôle universel de l´enseignement des Esprits,  p. 17.
(6) “Cependant, il est une chose que votre raison doit vous indiquer, c´est que Dieu, type d´amour et de chrité, n´a jamais été inactif.” KARDEC, A., Le Livre des Esprits, Les Editions Philman, Saint-Amand-Montrond, 2002, cap. II, perg. 21, p. 71.
Nota: Tradução do texto em francês por Margarida Azevedo.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

A divulgação do Evangelho e a FEB

Vladimir Alexei

Belo Horizonte, 22 de novembro de 2017
Vladimir Alexei

É comum lermos críticas a respeito dos excessos cometidos por diversas religiões cristãs na divulgação do evangelho. Desde o surgimento de O Evangelho Segundo o Espiritismo, as críticas no movimento espírita também ocorrem.

Alguns livre pensadores atribuem “erro” a Allan Kardec em publicar essa obra. Partem do pensamento comum, materialista, que não separa a causa do efeito – fator fundamental para dirimir dúvidas e causa de muitos dissabores, segundo Nietzsche – atribuindo o insucesso da divulgação do evangelho a um planejamento malsucedido da parte do Codificador e consequentemente dos Espíritos Superiores que tutelaram seus trabalhos.

Outros, por sua vez, se embebedaram com o evangelho a ponto de turvar a razão e não saberem distinguir a vaidade da simplicidade. Esse fenômeno pode ser observado desde que a Federação Espírita Brasileira foi criada. Sua função era unir os espíritas em torno da Doutrina, entretanto, não é bem isso que ocorre e não é difícil entender porque.

A presente gestão da federação, ainda que bem intencionada como todas as gestões que lá estiveram, além da falta de planejamento e transparência em suas ações – já comentamos que a última publicação do planejamento das atividades da federação ocorreu em 2014, na gestão anterior –, insistem nos mesmos erros quanto a divulgação do Evangelho.

A gestão atual, como uma de suas primeiras ações, interrompeu, cancelou, acabou com as atividades das oficinas de Estudo Minucioso do Evangelho. Atividade essa que teve como um de seus pilares na formação do conteúdo de estudos, o saudoso Honório Onofre de Abreu (presidente da União Espírita Mineira). Simplesmente descontinuaram os estudos e consequentemente o NEPE. Após dois anos sem ações dignas de nota, eis que a Federação ressurge com estudos do Evangelho Redivivo, citando, inclusive, trabalho desenvolvido por Honório Abreu – Luz Imperecível. Uai, por que perder dois anos de estudos para, em seguida lançar com uma outra roupagem o mesmo estudo? É só para dizer que fizeram alguma coisa? Que não sejam dois anos: o tempo que interromperam os estudos do NEPE, demonstram o quão despreparados estão para a união dos espíritas por meio dos estudos.

Aprimorar e aperfeiçoar modelos é importante. É o que os japoneses chamam de Kaizen (“melhoria gradual, contínua”). Entretanto, o que a FEB está fazendo é um retrocesso. Após dois anos de gestão, sem ações significativas para o movimento espírita brasileiro de unificação, a federação aparece com uma proposta de se estudar todos os livros da bíblia, da gênese mosaica ao apocalipse. E mais: ainda deve publicar esse material!

Divulgam como se existisse um diferencial: não são estudos soltos pois contarão com o auxílio de um “colegiado” formado por doze membros sob a supervisão direta do presidente da Federação, que não deve ter mais o que fazer e nem com o que se preocupar, para centralizar os estudos assim. Até nisso a divulgação febiana é mística e vaidosa: doze membros no colegiado para lembrar os doze apóstolos. É muita arrogância. Dizem ainda tratar-se de uma obra em que o principal é a evolução moral do indivíduo. Quase o mesmo que dizer o seguinte: esse é um estudo diferente de tudo que vocês já viram porque fomos nós que produzimos. Os outros “tentaram”, mas só nós conseguimos! Por que? Porque chegou a “hora de nos libertarmos das interpretações personalistas, institucionais, teológicas ou atávicas do Evangelho, condições que muito tem retardado a nossa marcha ascensional.”

Para recordar aos amigos, a palavra “atavismo” significa o “reaparecimento de uma certa característica no organismo depois de várias gerações de ausência”. Isso significa dizer que a FEB está abrindo mão do roustainguismo? Desde 2001 a FEB estava livre dessa pecha, quer dizer então que foi abolido? Derrubaram a cláusula pétrea? Pararam de publicar o “tal livro” e seus descendentes? Claro que não!!! É mais um discurso da cúria espírita!! É mais um material para “inglês ver”!!! Está aí, mais uma falácia! É isso que a Federação e os febianos precisam entender: acabou a era do discurso intelectualizado e elitista. É preciso simplicidade e união verdadeiras!

Se querem que o foco seja o desenvolvimento moral, e que os estudos anteriores eram personalistas, seria simples resolver: bastava trocar os atores e continuar com o estudo! Quem se melindrasse demonstraria despreparo para o trabalho. O que fizeram? Por vaidade, afastaram pessoas que estavam levando o Evangelho em sua essência espiritual para aqueles que não conheciam. Interromperam um trabalho porque não conversam mas com as pessoas, não aceitam mais a sua maneira de divulgar. E o pior: já beberam dessa fonte, já se alimentaram do prato que hoje sujam.

É surpreendente ver a acéfala federativa mineira, que um dia abrigou figuras ilustres do nosso movimento espírita, encabeçar uma proposta que, primeiro, ignora o que foi iniciado por seu presidente Honório Abreu, para depois, resgatar o trabalho que o próprio Honório Abreu havia desenvolvido na federativa. Infelizmente, estão querendo medir forças e demonstrar poder... político. Apenas isso: político. A federativa mineira está assessorada por discípulos de Maquiavel. O movimento espírita mineiro está decadentemente representado por aquela entidade que um dia nos abrigou com carinho e que hoje ignora todos os que pensam diferente.

Trocando em miúdos, além da Federação Espírita Brasileira ignorar completamente tudo que foi desenvolvido em torno do Evangelho desde quando Nestor Masotti assumiu a presidência daquela entidade (2001), a federativa mineira, foi na mesma esteira e simplesmente abandonou aquilo que um de seus mais representativos presidentes realizou. Nunca, na história do movimento espírita brasileiro de unificação, um presidente da federativa mineira foi convidado a produzir material para a FEB. Nem Antônio Lima, fundador daquela Casa! Ou seja, se era para resgatar a divulgação do Evangelho Redivivo, por que não aprimorar o que já havia sido construído, inclusive pelo Honório Abreu? Se era para fazer diferente, porque não expos com métodos claros o que seria construído?

Enfim, o que fica para a reflexão do movimento espírita brasileiro é o que todos já sabemos: o compromisso da Federação Espírita Brasileira é com o Evangelho. Mas não a divulgação do Evangelho e sim seu estudo aprofundado, sequenciado, metódico para que eles consigam perceber que, enquanto defenderem ideias controversas e alimentarem a vaidade de seus dirigentes, em nome do evangelho, esse cisma permanecerá entre nós e essa entidade não terá cumprido seu papel.

Mais uma vez, a Federação Espírita Brasileira mostra que, o golpe praticado em 1949, reverbera até hoje, com capilaridade maniqueísta, impedindo que seus adeptos tenham autonomia para pensar e desenvolver seus estudos, de acordo com as necessidades de cada região. Continuam citando Kardec, Emmanuel e outros, como a dizer-nos que suas atividades são respaldadas por essas entidades. Ledo engano. Conversa “pra boi dormir”. Quem estuda esses autores, sabe como eles pensam e por isso entenderiam que não há coerência e adesão diante do que tem sido proposto pela FEB, que, por vaidade de seus adeptos e por cumplicidade de suas federativas bajuladoras, cometem os mesmos erros.

Não sei o que é pior, a indiferença do movimento espírita ante o despreparo doutrinário das lideranças da Federação e Federativas ou a vergonhosa conivência de seus adeptos junto a cúria espírita. Seja como for, o Evangelho Redivivo da FEB é apenas para a FEB. O dia que ela aprender a dialogar com as casas espíritas e tiver uma plataforma de trabalho transparente, sem cláusulas pétreas, será o alvorecer de uma nova era. Até lá, acostumemo-nos com mais do mesmo.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Fábulas da carochinha e o ancestral “espiritismo” à brasileira (Jorge Hessen)


Jorge Hessen

Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com
.
Um belo dia, assisti a um vídeo (documentário) sobre as atividades de certa instituição espírita dirigida rigorosamente sob os preceitos da coerência doutrinária. Entretanto, no que pese o admirável trabalho assistencial efetivado por essa instituição, ela o realiza em sociedade (parceria) com outro “centro espírita”, que é administrado sem discernimentos e integral inobservância  dos princípios kardecianos.

Eis aí o nó da questão!

Para meu espanto, notei no vídeo que alguns trabalhadores do segundo centro espírita estavam trajados com camisetas brancas à guisa de uniformes e coruscantes manifestações de idolatrias ao “médium” protagonista que “incorpora” “doutores do além” e/ou “espíritos curadores”.

No documentário ainda percebi cenas em que são exibidas  substâncias acondicionadas  em diversas garrafas, supostamente contendo “remédios” prescritos por orientações de “pretos velhos”. Com obviedade estranhei sobre tal prática, considerando que o documentário foi exibido numa instituição de orientação genuinamente kardeciana. Por isso, deliberei escrever aqui sobre as inconsistências da segunda instituição. 

São raros, ainda, as instituições espíritas que se podem entregar à prática mediúnica, com plena consciência da tarefa que têm em mãos, deste modo, é aconselhável e prudente, a intensificação das reuniões de estudos sérios das obras de Kardec , a fim de que os trabalhadores de boa vontade  não venham a cair no desânimo ou na inércia, por causa de um antecipado e imaturo comércio com as energias do plano invisível.

Creio que os médiuns são úteis, mas não indispensáveis numa casa espírita. É evidente que a ausência de estudos de Kardec não é prudente nas instituições  espíritas, e é de se estranhar que médiuns estudiosos e sinceros, continuem com suas consciências escravizadas, incidindo no velho erro do misticismo e / ou da idolatria.

Quantos aos médiuns idolatrados é importante adverti-los  que o seu maior inimigo não é quem os adverte, mas o seu personalismo e sua pirraça no voluntário desconhecimento dos seus deveres à luz do Evangelho.  Há médiuns que se convenceram quanto aos fenômenos, sem se converterem ao Evangelho pelo coração, trazendo para as fileiras do Espiritismo os seus caprichos pessoais, opiniões cristalizadas no endurecimento do coração.

É importante prevenir fraternalmente que os Espíritos que se apresentam como “caboclos” e “pretos(as)-velhos(as)” nos terreiros ou noutros recintos possuem muito pouco ou quase nada de si mesmos para ensinar, em termos de filosofia espírita.

O princípio do ÓBVIO nos sussurra  que devemos ter respeito, atenção, carinho, amor, sincero desejo de ajudar tais entidades, porém essa não é uma recomendação isolada para Espíritos de “caboclos” e “pretos(as)-velhos(as)”. Isso vale para toda e quaisquer comunicação mediúnica.

Dizem que por trás desses estereótipos (“pretos(as)-velhos(as)” , “caboclos”) podem estar "médicos", "filósofos", "poetas", etc., que apenas se utilizam de tais "roupagens" para ensinarem melhor (!...). Conquanto exista obra mediúnica já consagrada nas hostes espíritas que afiance isso, particularmente, duvido sobre tal veridicidade. Nada mais precipitado do que se dar crédito a esses argumentos. Até porque, o PENSAMENTO é a linguagem, por excelência, no mundo espiritual e a forma e trejeitos no falar e agir são adicionais supérfluos e desnecessários.

Ora, não há eternos espíritos de  “pretos(as)-velhos(as)”, nem brancos(as)-velhos(as), até porque todos estão em processo de evolução e não podem permanecer nessas categorias. Por essa razão, devemos ter toda cautela com os seus atavismos primários. Até porque, essas entidades precisam descontruir tais psiquismos atávicos que, a rigor, mais assemelham-se aos mitológicos “deuses” do velho politeísmo.

A Doutrina dos Espíritos está estruturada nas Obras Básicas de Allan Kardec e não possui ramificações ou subdivisões com outras crenças. Seu corpo doutrinário está contido nos ensinos dos Espíritos Elevados (isso mesmo! Espíritos Superiores). Motivo pelo qual, não podemos nos acomodar com um Espiritismo "à moda brasileira" , ou seja, um Espiritismo umbandizado, catoliquizado, irracional, místico e mistificado por desajustados centros “espíritas” que insistem por difundir  as ingênuas fábulas da carochinha...

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Bezerra de Menezes. “Desligado!”


Luiz Carlos Formiga
Na década de 1970 (#), o Espírito médico Bezerra de Menezes oferece resposta, resumida por Mário Tamassia (30/5/1979). Questão formulada: “por que, sendo médico, dirigindo no Além uma grande falange de irmãos dessa especialidade, no Espaço, cobrindo o vasto território do Brasil geográfico e espiritual, quando se comunica, por si ou por proposto em seu nome, mais discreteia sobre EvangelhoAmor, Jesus, do que nos adianta algo sobre terapêutica, diagnóstico, parecendo-nos desligado da área biomédica?
As mensagens mais novas dão a mesma impressão.
No Centro Espírita André Luiz, no Rio de janeiro, em 2008, Bezerra pergunta: “como podiam os carrascos nazistas matar no campo de concentração e, chegar ao lar, sorridentes, afetuosos, bons esposos e bons pais?”
Esclarece dizendo que “essa fragmentação da psique fazia que uma área do cérebro lhes desse a visão de estarem agindo corretamente, tanto nas câmaras de extermínio, nas experiências científicas perversas, como no doce aconchego da família.”
Em seguida orienta: “médiuns, que todos somos – do Bem ou das aflições; da Verdade ou da ignomínia –  busquemos a sintonia perfeita com Jesus e nos entreguemos às Suas Mãos, porque, na condição de Pastor de Misericórdia, guiar-nos-á no Seu rebanho ao aprisco da paz.”
Em Mentes Perigosas, que citamos em Tu me Amas?,  a médica psiquiatra faz alerta.
“Os psicopatas podem permanecer uma vida inteira sem serem descobertos. Eles transitam pelas ruas, cruzam nossos caminhos, frequentam as mesmas festas, dividem o mesmo teto, dormem na mesma cama.”
“A estatística é assustadora. São 4% da população: 3% são homens. Assim, a cada 25 pessoas, uma é psicopata. Seus atos criminosos provêm de um raciocínio frio e calculista combinado com a incapacidade de perceber pessoas como seres humanos.”(1)
Em 2010, Brasília, Bezerra recomenda: “Não repitam a experiência da mulher de Ló, o patriarca hebreu que, possuidora de fé frágil, olhou para trás em busca dos prazeres perdidos, transformando-se em estátua de sal, desiludida pela aridez das falsas ilusões. Façam brilhar a própria luz, meus filhos! Este é o clamor do Evangelho, hoje e sempre!"(2)
Há registro de uma aula de Jesus sobre o julgamento de Deus, lembrando o apego da mulher de Ló (Lucas 17: 20-37). A advertência é cheia de significado para os estudiosos do evangelho. Esse julgamento pode vir de forma repentina e, eventualmente, sem aviso prévio, embora justo.
Ló, órfão ligou-se ao tio Abraão que o orientou profissionalmente. Ricos, decidiram se separar. Ele se destinou às melhores terras, na direção de Sodoma, cidade má e imoral.
A região escolhida por Abraão e Sara, apontava noutra direção. Destaca-se no casal a fé e a confiança que depositavam nos desígnios do Alto.
Embora as terras de Canaã fossem menos atraentes para os negócios era a escolhida por Deus. Sara não se preocupou com uma habitação perfeita para os prazeres imediatos e a vida social. Era outra a prioridade.
Na Bíblia, não está claro se Ló se casou com uma mulher da nova região, ou se já era casado, sendo a esposa posteriormente influenciada pelo ambiente do Jordão.
Alguns anos passaram, e Deus resolveu destruir Sodoma e as cidades vizinhas. Ló foi à falência. Descrentes, os noivos de suas filhas ficaram na cidade condenada. A mulher de Ló, em desobediência aos mensageiros do Alto, olhou para trás e se tornou “estátua de sal”.
O abuso do vinho levou Ló e as duas filhas ao incesto. Este dá origem aos nômades que se tornaram inimigos do povo de Israel, descendentes do tio.
Com a mulher de Ló, Jesus lembra nossas tendências, olhar para trás, aquelas com que nos prendemos às coisas materiais, em detrimento das espirituais. (Lucas 17: 28). “Tendência” é domínio afetivo quando tudo fica por conta da emoção, por amor a Mamon.
“Onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mateus 6:19-34).
Na década de 1960, em “Problemas do Mundo” Bezerra diz:  
“O mundo está repleto de ouro. Ouro no solo, no mar, nos cofres. Mas o ouro não resolve o problema da miséria. O mundo está repleto de espaço. Espaço nos continentes, nas cidade, nos campos. Mas o espaço não resolve o problema da cobiça. O mundo está repleto de cultura. Cultura no ensino, na técnica, na opinião. Mas a cultura da inteligência não resolve o problema do egoísmo. O mundo está repleto de teorias. Teorias na ciência, nas escolas filosóficas, nas religiões. Mas as teorias não resolvem o problema do desespero. O mundo está repleto de organizações. Organizações administrativas, econômicas, sociais. Mas as organizações não resolvem o problema do crime.
Para extinguir a chaga da ignorância, que acalenta a miséria; para dissipar a sombra da cobiça, que gera a ilusão; para exterminar o mostro do egoísmo, que promove a guerra; para anular o verme do desespero, que promove a loucura, e para remover o charco do crime, que carreia o infortúnio, o único remédio eficiente é o Evangelho de Jesus no coração humano.
Sejamos, assim, valorosos, estendendo a Doutrina Espírita que o desentranha da letra, na construção da Humanidade Nova, irradiando a influência e a inspiração do Divino Mestre, pela emoção e pela ideia, pela diretriz e pela conduta, pela palavra e pelo exemplo e, parafraseando o conceito inolvidável de Allan Kardec, em torno da caridade, proclamemos aos problemas do mundo: fora do Cristo não há solução”. (3)
Há uma crescente preocupação internacional na identificação de princípios universais, tendo como base valores éticos compartilhados.  Nas Ciências Biomédicas importa não esquecer que a pessoa inclui em sua natureza diversas dimensões. Dimensão biológica, psicológica, social, cultural e espiritual. Suas interações nos fazem crer que a sensibilidade moral e a reflexão ética são partes do processo de desenvolvimento pessoal, científico e tecnológico.
As recomendações de Bezerra foram feitas por três médiuns diferentes. Na universidade, estimulou-nos a escrever sobre valores, aos pares da biomédica e do direito. (4)
No final da década de 1970, Bezerra nos fala através deIlse Hinz Passarelli, a mesma que recebeu comunicação do Espírito, ex-presidente do Brasil. Juscelino Kubitschek de Oliveira, em sessão intima realizada na residência do Jornalista Mário Tamassia. Esta foi primeiro publicada, com grande repercussão, pelo jornal "Desobsessão", órgão do Hospital Espirita de Porto Alegre, RGS. (5)
Com a médium Ilse, em transe inconsciente, Bezerra responde sobre “parecer desligado da biomédica”.
Tamassia informa que a resposta foi longa e que, no Jornal Espírita, estava apresentando apenas uma síntese. O escritor diz, ainda, que a mensagem de Bezerra lhe pareceu importante para médicos e mais ainda para os doentes.
Pessoas em transe hipnótico, quando são levadas pela regressão de memória, aos momentos iniciais da vida depois que atravessam o canal de parto, informam a sensação incômoda de “se verem comprimidas pelo corpo pequeno”. Estou me sentindo assim, ao tentar fazer uma síntese, da síntese de Tamassia, para o leitor.
Creio que uma frase utilizada pelo escritor, advinda do guia Silver Birch, Londres, pode acender um farol: “se uma cura qualquer não tocar a alma do indivíduo, de nada valeu ser curado.”
Isso aconteceu com o médico-paciente que não acreditou na cirurgia espiritual a que foi submetido, quando sua válvula defeituosa cardíaca foi substituída por uma nova, sem uso de anestesia, com o coração “batendo” e com desprezível hemorragia, na presença de vários médicos “vivos”. Após a melhora da “asma cardíaca” este paciente, que era professor de medicina, continuou incrédulo. Um dos médicos que assistiu “a troca do pneu do carro cardíaco andando”, disse que o paciente viveu bem, mais de sete anos, quando apresentou quadro súbito de intensa dor no peito e teve um infarto fulminante. Do outro lado da vida, este médico incrédulo deve ter ficado confuso: “serei eu, por acaso, um espírito?” (6)
Voltemos ao escritor Tamassia e Ilse Passarelli, para ouvir parte da resposta, da pergunta intrigante. O leitor que é muito curioso deverá me desculpar pelo “super-resumo”.
Diz Bezerra, Jornal Espírita. SP, novembro 1979, que “assistimos na Terra a luta do homem matéria versus o homem espírito. O ser humano está colocado entre dois poderosos imãs. Patenteia-se uma obliteração visual que o tornam um sonâmbulo inconsciente, levando-o a descaminhos. Alguns são convocados para o equilíbrio, mas quando lhe é lançada no imo a boa semente de que trata a parábola do Semeador, sufoca-a por medo ou orgulho. Estes dois geram as costumeiras evasivas, para fugir a compromissos.”
Um fruto, que não sei de que árvore, pode ajudar nessa hora: “só se encontra a saúde, a cura, a si mesmo, quando se descobre que é preciso optar pela vida, por amor à vida, e não por medo da morte.”
Bezerra diz: “quando encarnado militava na Medicina. Agora desencarnado, continuamos nesse mister, todavia com uma visão mais ampla.”
Em 1979, após o doutorado sentimos a vontade primeira de escrever sobre valores, para os meus colegas. Em 2010, mais amadurecido, publicamos o artigo. Um "Centro de Referência" na UERJ. Prevenindo demandas judiciais. Microbiologia In Foco, Ano 03, Nº 11: 10-16, São Paulo, SBM Antes tarde do que nunca! (7)
Como Paul Gibier e Lamartine Palhano,(*)  não abandonamos o Departamento de Microbiologia Médica, nem o de Patologia e Laboratórios. Agora, na terceira idade, estamos fazendo cursinho pré-vestibular, para tentar depois do desencarne, uma matricula como calouro na “Universidade da Alma”, Cidade Universitária do Espírito, como no Anuário Histórico. (8)
Que me perdoe o Tamassia, vou usar apenas mais um pequeno trecho de seu resumo.
Diz Bezerra: “o exercício desta Medicina de Outro Mundo, a que me filio aqui, aponta o progresso da alma como medicamentação básica. O doente necessita ser esclarecido: de que a cura depende de sua cooperação e que essa cooperação envolve um problema de crescimento espiritual. Eis, a razão, porque o nosso exercício profissional, na qualidade de Médicos do Além, se mistura a pregação evangélica, fortalecendo a nossa fraqueza, com Jesus no coração e insistindo na difusão de preceitos que conduzem o homem à reforma interior”. Bezerra fala de valores, de Ética.
Creio que o leitor aceitaria mais conteúdo, mas agora só desenhando.
Imagine três escadas. Uma chama-se QI, outra QE e uma terceira QS, com o escritor espírita Jorge Andréa examine as “Inteligências”. (9)
Na escada da afetividade, da emoção (10), destacaríamos ações, com palavras que sobem degraus: os verbos perceber, receber, escolher, concordar, ampliar, vibrar, aceitar, buscar, servir, converter, sublimar. Neste último estágio encontramos o Espírito Matilde. (11)
Espírito ainda mau, em determinado momento, Gregório se preparava para atacar um desafeto. Surge acompanhado de sua organização criminosa (Orcrim) e inicia a investida através de palavrões duros e violentos. Após a agressão aguarda a reação. Articula novos impropérios, demonstrando acentuado desapontamento, em face dos insultos sem resposta. O terrível diretor de legiões sombrias abeirou-se do adversário e bradou: “levantar-te-ei, por mim mesmo, usando os sopapos que mereces.”
Espirito de Luz Matilde, mãe generosa, havia verificado clima vibracional favorável para materializar-se e voltar aos olhos do filho, míope pelo ódio. Ela  se apresenta diante dele..
Gregório escuta a voz cristalina e terna de Matilde, exortando-o, com delicada firmeza.
Gregório não resistiu.
Dizem que as preces das mães chegam aos céus com carimbo de “prioridade”.
Na realidade, Bezerra não está desligado da biomédica, mas trabalha pela “cura real sustentada”. Para fazer a sua opção utilizou a terceira escada, a Inteligência Espiritual (QS). Ainda quando encarnado entre nós, percebeu a importância do Tratado de Imunologia ditado por Jesus, aquele que é o Coração da Bíblia.
Em novembro de 2017 (12), Bezerra continua o mesmo. Está ligado!

(#) Jornal Espírita, SP. Novembro de 1979

Leia Mais
1. https://rinconespirita.wordpress.com/dr-luiz-carlos-formiga/
http://issuu.com/merchita/docs/tu_me_amas_dr_luiz_carlos_formiga_
http://passiniehessen.blogspot.com.br/2016/01/tu-me-amas.html
http://orebate-jorgehessen.blogspot.com.br/2016/01/tu-me-amas.html
http://paespirita.blogspot.com.br/2016/01/tu-me-amas.html
http://pointier.blogspot.com.br/2016/01/luiz-carlos-formiga-existencia-da-alma.html
2. http://casadocaminhobm.blogspot.com.br/2011/02/os-proximos-50-anos.html
3. http://www.mensagemespirita.com.br/mensagem-em-audio/18
/problemas-do-mundo-chico-xavier-bezerra-de-menezes
https://br.pinterest.com/pin/315603886372375748/?autologin=true
4. https://jus.com.br/artigos/17015/um-centro-de-referencia
-na-uerj-prevenindo-demandas-judiciais/2
http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/um-centro-de-refer
%C3%AAncia-na-uerj-prevenindo-demandas-judiciais
http://www.espiritualidades.com.br/Artigos/F_autores_
FORMIGA_Luiz_textos/FORMIGA_Luiz_tit_Um_Centro
_de_referencia_prevenindo_demandas_judiciais.htm
http://orebate-jorgehessen.blogspot.com.br/2012/03/reference-center-at-uerj-preventing.html
http://orebate-jorgehessen.blogspot.com.br/2012/03/bioetica-biodireito-e-microbiologia.html
5. http://memoria.bn.br/pdf/761869/per761869_1978_04034.pdf
6. http://www.aeradoespirito.net/ArtigosLCF/DR_FREDERICK
_VON_STEIN_A_CURA_E_A_MUD_NECES.html
http://www.oconsolador.com.br/ano8/369/especial.html
7. https://jus.com.br/artigos/17015/um-centro-de-referencia-na-uerj
-prevenindo-demandas-judiciais#ixzz3evPaAqEc
http://sbmicrobiologia.org.br/
http://orebate-jorgehessen.blogspot.com.br/2012/03/um-centro-de-referencia-na-uerj.html
http://www.espiritualidades.com.br/Artigos/F_autores_FORMIGA_
Luiz_textos/FORMIGA_Luiz_tit_Um_Centro_de_referencia_prevenindo_demandas_judiciais.htm
8. https://espirito.org.br/artigos/universidade-da-alma-cidade-universitaria-do-espirito-2/
http://www.aeradoespirito.net/ArtigosLCF/UNIVERSIDADE_DA_ALMA_LCF.html
9. http://aumagic.blogspot.com.br/2013/06/drogasmediunidadeinteligencia-e-chico.html
10. http://orebate-jorgehessen.blogspot.com.br/2012/08/lacos-afetivos.html
http://www.aeradoespirito.net/ArtigosLCF/LACOS_AFETIVOS_LCF.html
11. http://orebate-jorgehessen.blogspot.com.br/2015/05/o-imbativel
-amor-materno-o-imbativel.html?view=snapshot
http://www.aeradoespirito.net/ArtigosLCF/O_IMBATIVEL_AMOR_MATERNO_LCF.html
https://issuu.com/merchita/docs/jesus_tomas_y_nosotros_dr_luiz_carl
12. https://www.facebook.com/federacaoespiritars/videos/1521836691217630/

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

A GRANDE CONQUISTA


Luiz Carlos Formiga

Lemos, na Revista Fraternidade. Lisboa. Portugal. Nº 454, abril, 2001, “O Compromisso Com a Paz Global”. Encontro de Cúpula Mundial de Líderes Religiosos e Espirituais pela Paz Mundial e por Bawa Jain, Secretário-Geral do “Millenium Worl Peace Summit”.
Agora recebemos convite para, numa reunião pública, desenvolver o tema “A Paz. A Grande Conquista da vida”.(*)
Hoje, corremos atrás desta felicidade, ainda que relativa, na Terra.
Qual o perfil da pessoa feliz?
Lembramos Gandhi, não no “Bloco do Afoxé”, um dos mais tradicionais do carnaval de Salvador, Bahia, Brasil, mas em “A Saga do Amor na Terra”. Nos exemplos de vida cristã, amar e se desarmar, vencer a solidão e reviver o Evangelho primitivo. (1)
Sabemos da admiração de Gandhi pelas Bem-aventuranças (Mateus 5: 3). Ali recolhemos o perfil.
Felizes os mansos, os misericordiosos, os pacificadores, os puros de coração, os que têm fome e sede de justiça.
A paz é realmente a grande conquista da vida. Mas como promover a paz global?
O leitor concordará que a criança é a esperança do futuro, que homens e mulheres são parceiros iguais em todos os aspectos da vida, que o nosso mundo está assolado pela violência e que a guerra por vezes é feita em nome da religião. Pela paz, necessitamos de compromisso pessoal.
Assim, sejamos liderança espiritual para ajudar a estabelecer novos rumos para a sociedade. Devemos reconhecer nossa responsabilidade para o bem-estar da humanidade e para a paz na Terra.
O leitor também vai concordar que o conflito armado é uma terrível tragédia para as vidas humanas, não só para as vidas perdidas, mas arruinadas; que essa tragédia é péssima para o futuro das tradições religiosas e espirituais e também que as religiões têm sido usadas para criar a divisão e produzir hostilidades. Assim, no nosso compromisso com a paz, podemos trabalhar juntos para promover as condições internas e externas que propiciem a paz, bem como administrar a resolução não violenta dos conflitos.
Já sabemos que as religiões têm em comum o interesse pela dignidade humana, pela justiça e pela paz, que nossa ação tem impacto sobre os outros e na comunidade global e que num um mundo interdependente a paz vai necessitar de valores éticos fundamentais.
Que são valores ético-espíritas? (2)
Paulo de Tarso leciona sobre valores cristãos e Emmanuel recorda que: “aquele homem sábio e vigoroso, que se rendera a Jesus, incondicionalmente, às portas de Damasco, revela à comunidade cristã a sublime qualidade de sua fé. Não se afirma detento dos romanos nem se refere às sentinelas que o acompanham de perto. Compreendendo que permanece a serviço do Cristo e cônscio dos deveres sagrados que lhe competem, dá-se por prisioneiro da Ordem Celestial e continua tranquilamente a própria missão.”
“Andeis como é digno da vocação com que fostes chamados.” (Efésios, 4.1).
 Emmanuel fala da obediência construtiva e nos aponta o futuro: “quando predominarem, nos quadros da evolução terrestre, os discípulos que se sentem administradores do Senhor, operários do Senhor e cooperadores do Senhor, a Terra alcançará expressiva posição no seio das esferas”.(3)
As tradições religiosas  podem e devem colaborar na construção de sociedades pacíficas, procurando a compreensão mútua, através do diálogo, onde existam diferenças.  Podem abster-se da violência, praticar a compaixão e defender a dignidade de todas as formas de vida. Não haverá paz até que grupos e comunidades reconheçam a diversidade de culturas e religiões havendo respeito e compreensão.
Pertinente lembrar que construir a paz requer atitude de reverência pela vida, erradicação da pobreza e proteção do meio ambiente.(6)
O Espírito Dolores, através do “dom” da mediunidade de Brunildes (*),  também nos fala da esperança no futuro: “se quiseres sentir a paz dentro de ti,  faze silêncio, espera que volte a primavera na força da oração. Transforma o teu soluço em riso de esperança  no amanhã que vem. Depois da tempestade surge sempre a bonança agora ou mais além”.
Muitos gostariam de estar de posse do “dom mediúnico”, para poder ajudar a educar a sociedade, onde está inserido. No entanto, a mediunidade educada é fatalidade evolutiva. Devemos continuar a trabalhar os valores ético-morais e aguardar o crescimento geral e pessoal.
Diz Emmanuel que existem muitas pessoas inquietas, por não serem portadores desta mediunidade (ostensive). No entanto, lembra que “diariamente, haverá mais farta distribuição de luz espiritual em favor de quantos se utilizam da luz que já lhes foi concedida, no engrandecimento e na paz da comunidade, pois podemos ser o intermediário do Mestre, em qualquer parte”. Para tanto basta que compreendamos a obrigação fundamental, no trabalho do bem, e atendamos à Vontade do Senhor, agindo, incessantemente, na concretização dos Celestes Desígnios”
Lembra Emmanuel que somos Espírito imortal, temporariamente na Terra, com o dever de aplicar o sublime dom de server, que há em nós.
“Não desprezes o dom que há em ti”. I Timóteo, 4:14.  (4)
O leitor concordará que uma cultura de paz deve ser baseada no cultivo da paz interior que é a herança das tradições religiosas e espirituais. Que as tradições religiosas e espirituais são a fonte central na construção de uma vida melhor para a família e toda a vida na Terra. Enfatizamos, como podemos individualmente colaborar na busca da paz?
Conduzir, os mais próximos, a um renovado compromisso com os valores éticos e morais, resolver sem violência os conflitos gerados pelas diferenças e conduzir ao respeito pelo direito à liberdade religiosa.
Na busca da paz global, despertar o senso de responsabilidade compartilhada entre todos e conduzir ao reconhecimento de que todos temos direito a educação e a saúde. Ajudar a promover uma distribuição de riqueza equitativa, não só quando nos postos de comando e reconhecer a necessidade urgente de cuidar do sistema ecológico. (5, 6)
Pela paz, devemos combater práticas que degradem a qualidade da vida humana, promover os valores da paz interior, incluindo o estudo e a prece, a meditação e a noção do sagrado, a humildade e o amor, a compaixão, a tolerância e o espírito de serviço.
Emmanuel diz que “todos os que surgem, aflitos ou desesperados, coléricos ou desabridos, trazem chagas ou ilusões. Prisioneiros da vaidade ou da ignorância, não souberam tolerar a luz da verdade e clamam irritadiços”.
“Unge-te de piedade e penetra-lhes os recessos do ser, e identificarás em todos eles crianças espirituais que se sentem ultrajadas ou contundidas.Recorda-te de que a Natureza, sempre divina em seus fundamentos, respeita a lei do equilíbrio e conserva-a sem cessar.”
“Ainda mesmo quando os homens se mostram desvairados, nos conflitos abertos, a Terra é sempre firme e o Sol fulgura sempre. Viver de qualquer modo é de todos, mas viver em paz consigo mesmo é serviço de poucos”. (7)
Dolores Duran/médium Brunilde M. do Espírito Santo (8), deixa uma Cantiga de Paz:
“Olhando ao teu redor verás que almas tristes te pedirão amor”.
“Tua tristeza esquece, sorri, ampara e aquece, seja o irmão quem for. Sofrendo chuva e vento o trigo doura o campo, sem falar de sua dor e assim, que a nuvem passa, a terra generosa desabotoa em flor. Imita a natureza que se desfaz em luz até o entardecer e quando a noite chega, o céu acende estrelas, até o amanhecer”.
O Evangelho é o coração da Bíblia, roteiro para promover a Paz Global.

(*)  GPELA “Valorização da Vida”

(**)  Vontade, Trabalho e Êxito. Louis Pasteur

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