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segunda-feira, 30 de maio de 2011

O CÉREBRO NÃO EXPLICA A MENTE

 Nos últimos anos, a neurociência sofreu uma explosão no campo da pesquisa. A cada dia, surgem novas técnicas, como mapeamentos cerebrais, que podem tirar fotos instantâneas do fluxo sangüíneo do órgão, e tubos de vidro microscópicos, que injetam poucas moléculas de um medicamento, diretamente, no neurônio. "Todas essas inovações ajudaram a revelar a organização do cérebro em detalhes." (1) Nosso cérebro representa, apenas, 2% do peso total do corpo, mas possui, segundo pesquisas atuais, aproximadamente, 100 bilhões de neurônios [células nervosas cerebrais], sendo que, em algumas de suas partes, para realizar suas funções, aglomera, até, 5 milhões de neurônios de uma só vez e é capaz de produzir cerca de 1.000 trilhões de conexões. Como os neurônios estão em atividade permanente, o consumo de energia é grande, motivo pelo qual o cérebro consome 20% do oxigênio diário, necessário para o corpo. Sabe-se, hoje, que o cérebro contém 78% de água, 10% de gordura, 8% de proteína, 1% de carboidrato, 1% de sal e 2% de outros componentes. Metade do cérebro é constituída de substância branca e, se essa substância de um único cérebro humano fosse desenrolada, formaria um cordão, longo o suficiente para dar duas voltas ao redor do globo terrestre.
Quando está ligado e consciente, o circuito gelatinoso se agita em um tráfego de pensamentos, impressões, anseios, conflitos, preocupações, curiosidades e intenções. Desde o pulsar do coração, o movimento do intestino, a produção de novas células sanguíneas e, até, o eriçar dos pêlos do nosso braço, quando nos assustamos, é controlado pelo sistema nervoso e, em última instância, pelo cérebro. "Nas reentrâncias de semelhante cabine, de cuja intimidade a criatura expede as ordens e decisões com que traça o próprio destino, temos, no córtex [corresponde à camada mais externa do cérebro], os centros da visão, da audição, do tato, do olfato, do gosto, da palavra falada e escrita, da memória e de múltiplos automatismos em conexão com os mecanismos da mente, configurando os poderes da memória profunda, do discernimento, da análise, da reflexão, do entendimento e dos multiformes valores morais de que o ser se enriquece no trabalho da própria sublimação." (2)
Nos planos dos "lobos frontais, silenciosos ainda para a investigação científica do mundo, jazem materiais de ordem sublime, que conquistaremos, gradualmente, no esforço de ascensão, representando a parte mais nobre de nosso organismo divino em evolução." (3) Apesar desse silêncio, atualmente, os neurocientistas não têm mais medo de falar, publicamente, sobre consciência e como o cérebro produz a mente. Segundo pesquisadores, a experiência espiritual das pessoas pode ser explicada pela "ausência" de atividade em uma das regiões do cérebro, mas, especialmente no lóbulo parietal direito, onde se processa as preferências e gostos pessoais, e onde se "reconhecem as habilidades e os interesses amorosos da pessoa, portanto, responsáveis pela afirmação da identidade individual, segundo Brick Johnstone, da Universidade de Missouri-EUA." (4) O estudo sugere que as pessoas que têm essa região menos ativa, com menos "definidores próprios", são as mais suscetíveis a levar vidas espiritualizadas. A descoberta também sugere que uma das principais características da experiência espiritual é a abnegação, um comportamento antiegoísta, segundo Johnstone. (5) Em verdade, "o cérebro é o instrumento que traduz a mente, manancial de nossos pensamentos. Através dele, pois, unimo-nos à luz ou à treva, ao bem ou ao mal." (6)
Embora tentem explicar (só pelos fenômenos físicos), pela prática dos neurologistas, toda a classe de fenômenos intelectuais, e, até, "espirituais", através das ações combinadas do sistema nervoso; e, em que pese a Ciência ter atingido certezas irrefutáveis, como, por exemplo, a de que uma lesão orgânica faz cessar a manifestação que lhe corresponde, e que a destruição de uma rede nervosa faz desaparecer uma faculdade, ela, porém, está infinitamente limitada para explicar os fenômenos do espírito. Em razão de semelhante situação, não podemos afastar a verdade da influência de ordem espiritual e invisível no cérebro. Se faz mister, também, compreender, não a alma insulada do corpo, mas ligada a esse corpo, o qual representa a sua forma objetivada, com um aglomerado de matérias imprescindíveis à sua condição de tangibilidade, animadas pela sua vontade e por seus atributos imortais.
Sobre a questão da mente, esta não pertence ao cérebro e o cérebro não explica a mente, embora exista uma interação entre os dois. A mente é uma entidade independente, é uma segregação cerebral. O cérebro é o meio que expressa a inteligência no mundo material. Por isso, a maioria dos estudiosos da mente humana faz da inteligência um atributo do cérebro. Há uma diferenciação significativa entre a pesquisa acadêmica com viés, nitidamente, materialista, e a ciência espírita, pois, enquanto a ciência humana faz do cérebro o excretor da inteligência, a ciência espírita faz do cérebro um instrumento do espírito, que é o ser inteligente individualizado. Destarte, é importante que o Espiritismo e a Ciência se complementem, até porque, as leis do mundo espiritual e as leis do mundo material são faces de uma realidade comum, - a vida.
O cérebro assemelha-se a complicado laboratório "onde o espírito, prodigioso alquimista, efetua inimagináveis associações atômicas e moleculares, necessárias às exteriorizações inteligentes." (7) Todo o campo nervoso da criatura constitui a representação das potências perispiríticas, vagarosamente, conquistadas pelo ser, através de milênios e milênios. "O cérebro real é aparelho dos mais complexos em que o nosso «eu» reflete a vida. Através dele, sentimos os fenômenos exteriores segundo a nossa capacidade receptiva, que é determinada pela experiência; por isso, varia ele de criatura a criatura, em virtude da multiplicidade das posições na escala evolutiva. "(8)
Existem os que recebem as sensações exteriores e os que recolhem as impressões da consciência. "Em todo o cosmo celular, agitam-se interruptores e condutores, elementos de emissão e de recepção. A mente é a orientadora desse universo microscópico, em que bilhões de corpúsculos e energias multiformes se consagram a seu serviço. Nosso mundo interno, do ponto de vista mental, não é estático, e as idéias não estão, rigidamente, estabelecidas. "A mente tem a dinâmica de um mosaico de luzes que se projetam pela consciência, que se contrai ou expande diante do que nos emociona."(9) Desse Universo abstrato, "emanam as correntes da vontade, determinando vasta rede de estímulos, reagindo ante as exigências da paisagem externa, ou atendendo às sugestões das zonas interiores." (10)
Nervos, zona motora e lobos frontais, no corpo carnal, traduzindo impulsividade, experiência e noções superiores da alma, constituem campos de fixação da mente encarnada ou desencarnada. "Para que nossa mente prossiga na direção do alto, é indispensável se equilibre, valendo-se das conquistas passadas, para orientar os serviços presentes, e amparando-se, ao mesmo tempo, na esperança que flui, cristalina e bela, da fonte superior de idealismo elevado; através dessa fonte, ela pode captar, do plano divino, as energias restauradoras, assim construindo o futuro santificante." (11)
A alma é o centro de tudo - emoções, pensamentos, etc.; o cérebro é seu instrumento, facilitando a coordenação do corpo e servindo de canal para as múltiplas manifestações da alma. A experiência de cada um de nós é medida pelo referencial de imagens mentais que criamos e armazenamos sobre o mundo onde vivemos. Cada objeto, cada palavra, cada sensação é carregada de um potencial simbólico que desencadeia em nós a capacidade de criar imagens vivas da realidade. A ciência, sobretudo a neurociência, apesar dos nítidos avanços, ainda não admite, integralmente, essa conclusão, insistindo que tudo está nas funções cerebrais: a linguagem, o pensamento, a coordenação motora, a emoção, e muito mais. Isso, porque insiste em tomar o efeito pela causa. Na questão 370 de "O Livro dos Espíritos", temos a solução para os problemas criados pelo reducionismo materialista: "Da influência dos órgãos se pode inferir a existência de uma relação entre o desenvolvimento do cérebro e o das faculdades morais e intelectuais? Indaga Kardec. Explicam-nos os Emissários do Cristo: "Não confundais o efeito com a causa. O Espírito dispõe sempre das faculdades que lhe são próprias. Ora, não são os órgãos que dão as faculdades, e sim estas que impulsionam o desenvolvimento dos órgãos." (12)
O homem não pode ser o cérebro. Inúmeras experiências de quase morte, de sonambulismo, de hipnose conduzida, de regressão a vidas passadas, e a extensa bibliografia dos fenômenos mediúnicos, desmentem, categoricamente, essa idéia de que os neurônios cerebrais respondem pelo ser humano. "Portanto, o pensamento, assim como a consciência, não moram nos neurônios, mas vivem no íntimo da alma imortal, que leva para todo o sempre, como conquista inalienável, o amor e a sabedoria." (13)
Jorge Hessen
http://jorgehessen.net/
jorgehessen@gmail.com
FONTES:
(1) Disponível no site http://www1.folha.uol.com.br/folha/publifolha/ult10037u318086.shtml, acessado em 22-07-09
(2) Xavier Francisco Cândido/ Vieira Waldo, Mecanismos da Mediunidade, Ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed. FEB, 2000, cap. IX,
(3) Xavier, Francisco Cândido. No Mundo Maior, Ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed.. FEB, 2001
(4) Publicado jornal científico "Zygon".SXC , novembro ,2008
(5) idem
(6) Xavier, Francisco Cândido. No Mundo Maior, Ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed.. FEB, 2001
(7) Xavier, Francisco Cândido. EMMANUEL, Ditado pelo Espírito Emmanuel, RJ: Ed. FEB, 2001
(8) Xavier, Francisco Cândido. No Mundo Maior, Ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed.. FEB, 2000
(9) Facure Nubor Orlando. Operações Mentais e como o Cérebro Aprende, disponível no Site www.geocities.com/Nubor_Facure
(10) Xavier, Francisco Cândido. No Mundo Maior, Ditado pelo Espirito André Luiz, RJ: Ed.. FEB, 1997, cap. 4
(11) idem
(12) Kardec, Allan. O Livro dos Espiritos, RJ: Ed. FEB, 1977
(13) De Mario Marcus Alberto artigo O Homem é o Cérebro? Disponível no site www.orientacaoespirita.hpg.ig.com.br/Artigo%2001.htm

sexta-feira, 27 de maio de 2011

A NOVA ORDEM MUNDIAL

pintura de Marcus Braga
Rubens Costa
Um dia que se velou,
O mundo se revelou.

Olhávamos o céu na sua vastidão,
E, o chão, na sua restrita dimensão.


Astrologia e Astronomia,
Unas, vasculhavam a suprema Anatomia.

O Homem e a Natureza.
A Natureza e o Homem.

Seres, vindo do lá,
Ensinavam aqui, livremente,

Instruindo e cuidando
Da sua herança genética.

Um dia que se velou,
O mundo se entrevou.



Pois migrou, ao nosso orbe,
Uma energia torpe.


E a treva se fez,
Minguando o ser, no sonho do ter.

Deu-se, então, o início
Da Nova Ordem Mundial

Aos poucos, e de forma planejada,
A nossa origem foi sendo apagada.

Aos poucos, e de forma orquestrada,
Uma nova ordem foi sendo implantada.

E tudo foi sendo esquecido...
E tudo foi sendo admitido...

2
pintura de Marcus Braga

A Natureza, sozinha ficou.
A Natureza, sofrida sangrou.

Um falso reino se instalou,
Pois, falso, era o seu mentor.

Visando comandar,
Dividiu para reinar.

Religiões foram criadas,
Fronteiras, devidamente, demarcadas.

Fomentaram as diferenças.
E, com elas, as guerras.

Ocultos, financiaram
Os dois lados, sempre!

Apresentando a conta aos vitoriosos,
Submetendo a conta aos derrotados.

Ricos, eleitos, superiores.
Pobres, classificados, inferiores.

Doenças, criadas, implantadas.
Curas, milagrosas, cobradas.

Reinados, esmagados.
Impérios, fomentados.

O tempo passou.
O Homem ficou.

Ficou distante da sua essência,
Divina e Imortal.

Agora, no momento final,
Do cronograma original,

A cartada final...
... A subversão dos valores.

3
pintura de Marcus Braga


Filhos, malcriados,
Matando pais desinformados.

Menores, assassinos,
Matando seres desprotegidos.

Traficantes, submetidos,
Viciando jovens perdidos.

Imprensa, dominada,
Vomitando, a verdade, manipulada.

E, na perda dos valores,
O terreno fértil...

Ocidente, contra Oriente.
Oriente, contra Ocidente.

E, na perda dos valores,
O terreno fértil...

Guerras éticas.
Guerras moralizantes.

O domínio do petróleo.
O domínio da água.

E, no ápice do caos,
Quando tudo parecer perdido...

Ela, finalmente, vai se apresentar,
Como a grande salvadora mundial.

Provendo a fome que ao mundo causou.
Provendo a mentira que ao mundo gerou.

Implantando, finalmente, uma única religião; agora oficial.
Implantando, finalmente, uma única moeda; agora oficial.

Implantando, finalmente, uma única língua; agora oficial.
Implantado, finalmente, o seu deus; agora oficial.

4
pintura de Marcus Braga

E todos vão sorrir,
E todos vão cantar,

E todos vão aclamar,
E todos vão idolatrar...

A Nova Ordem Mundial.

terça-feira, 24 de maio de 2011

O SENTIDO LITERAL DE WALDO VIEIRA




LUCIANO DOS ANJOS

Rio, 23.1.2011







Waldo Vieira vem estrelando o YouTube e, entre uma historieta e uma novela, resolveu contar que o André Luiz não é o Faustino Esposel e, sim, o Carlos Chagas. Faz sentido. Pela própria internet, em livros e entrevistas ele já disse que:


- Jesus-Cristo encarnou como uma mulher judia.

- "Jesus reencarnará ainda outras vezes para despojar-se do psicossoma".

- Jesus é um "serenão", tanto quanto Eurípedes Barsanulfo e outros. ("Serenão" e "serenona", em terminologia inventada na "Waldópolis" de Foz do Iguaçu, são seres altamente evoluídos).

- Jesus-Cristo prejudicou o cristianismo devido ao excesso de resignação.

- Jesus-Cristo é um “teólatra populista inamovível”, um “catequista inveterado e fanático” um “rezador de retiros espirituais”, um “autopromotor da autoidolatria cega”, um “doutrinador e repressor acrítico”, um “sectarista ginecófobo apaixonado”.

- "Tento discernir com lógica, com bom senso, além das palavras ensinadas por ele" (Jesus).

- "Não existe a Ciência Espírita".

- “Pobre do homem que se deixa levar pela religião.”

- "O Livro dos Espíritos contém: arcaísmos óbvios, termos obsoletos, expressões inadequadas, comparações errôneas, repetições desnecessárias, divergências de linguagem, influências religiosas dos meados do século XIX, assuntos superados, contradições aparentes, absurdos científicos ante a ciência atual".

- Santo Agostinho e São Luiz eram "guias cegos".

- O erro de Allan Kardec foi "apelar para Jesus-Cristo".

- A Codificação foi "escrita às pressas".

- O espiritismo é uma superstição e Kardec já está superado.

- "O espiritismo só serve para consolar as pessoas; A conscienciologia está aqui para instruir as pessoas".

- “A conscienciologia já deixou para trás e ultrapassou, há muito tempo, o espiritismo, e oferece muito mais cabedais.”

- “O espiritismo é uma seita que inventa muitas coisas.”

- O espiritismo “é um estágio pré-natal”, “estreito demais”.

- Mediunidade “é um pré-maternal, uma bobagem”.

- Na "Waldópolis" de Foz do Iguaçu vige uma divertida terminologia própria, inventada para substituir encarnação, desencarnação, desdobramento, perispírito, etc. (Em psicologia, dá-se ao distúrbio o nome de síndrome de Asperger).

- Estava cansado do Chico, “tão frágil, tão suscetível, tão chorão” e do seu “populismo” das sopas diárias.

- Chico Xavier fraudava nas sessões de materializações, cujos frascos de perfume foram encontrados escondidos num armário. O Chico chorou muito na ocasião do flagrante (Encontrados pelo próprio Waldo).

- As fotos das materializações de Uberaba, em 1964, foram manipuladas.

- Chico Xavier mistificava nas mensagens recebidas nas reuniões públicas com recados de familiares e de amigos ali presentes, cujos dados ele obtinha, antes, junto aos parentes.

- Quando em viagem aos EUA, Chico Xavier não queria voltar para o Brasil e foi dissuadido a não abandonar a missão. (Dissuadido pelo Waldo.)

- Chico Xavier saiu de Pedro Leopoldo em meio a um grande escândalo e foi ajudado financeiramente pelo Waldo. (A história da saída do Chico foi mesmo muito desagradável, mas está sendo maldosamente escandalizada pelo Waldo.)

- O livro Há 2.000 Anos é uma ficção.

- Recebia André Luiz muito antes de conhecer Chico Xavier.

- Foi quem revelou para o Chico Xavier quem era o André Luiz. (O próprio Chico contou e publicou que foi apresentado ao André Luiz antes de iniciar a psicografia de Nosso Lar.)

- Nega tenha sido o poeta inglês Robert Browning, a despeito de pesquisa do insigne pesquisador Hermínio Corrêa de Miranda.

- Diz-se agora a reencarnação de Nostradamus.

- Esteve na Revolução Francesa. Conheceu Jean-Jacques Rousseau que, a partir de 1982, tornou-se adepto da conscienciologia.

- Reencarnou na China várias vezes. (A China agora é potência mundial; todo mundo quer ser chinês...).

- É a reencarnação de Zéfiro, guia familiar de Allan Kardec. (Se dizem que Chico Xavier é Allan Kardec, melhor e mais importante é ser o guia de Allan Kardec.)

- Ficou trezentos anos sem reencarnar, estudando na espiritualidade.

- André Luiz é Carlos Chagas.

Faz sentido. Tudo faz sentido.

(Nota: os parênteses são meus.)

LUCIANO DOS ANJOS

segunda-feira, 23 de maio de 2011

ATIRE A PRIMEIRA PEDRA


 Uma jovem desencarnou após ter recebido 80 chibatadas em Bangladesh, como punição por ter tido um relacionamento extraconjugal com um primo (casado). A sentença foi decretada por um tribunal religioso de Shariatpur, no sudoeste do país, a 56 quilômetros da capital, Daca. A adolescente desmaiou enquanto recebia as chibatadas e chegou a ser levada para um hospital local, mas não resistiu aos ferimentos, falecendo seis dias após ter sido internada.
O clérigo muçulmano Mofiz Uddin foi o responsável pela fatwah (sentença) contra Hena, que foi presa juntamente com outras três pessoas. Os religiosos disseram à polícia que Hena teria sido pega em flagrante. Porém, Dorbesh Khan, o pai da adolescente dissse: “Que tipo de justiça é essa? Minha filha foi espancada em nome do fanatismo religioso. Se tivesse sido julgada por um tribunal do Estado, minha filha jamais teria morrido”. Em verdade, punições realizadas em nome da sharia (legislação sagrada islâmica) e decretos religiosos foram proibidos em Bangladesh, por isso, um grupo de moradores de Shariatpur foi às ruas em protesto contra a fatwa e contra os autores da sentença.
Para comentar o fato sob o viés kardeciano, é importante destacar que em qualquer análise que façamos sobre o comportamento sexual dessa ou daquela pessoa, somos obrigados a lembrar sempre de Deus, “que julga em última instância, que vê os movimentos íntimos de cada coração e que, por conseguinte, desculpa muitas vezes as faltas que censuramos, ou reprova o que relevamos, porque conhece o móvel de todos os atos. Lembremo-nos de que nós, que clamamos em altas vozes anátemas, teremos quiçá cometido falta mais grave” (1) do que a pessoa que censuramos.
No caso Hena, alguns dizem que ela sofreu violência sexual, contudo há os que afirmam que houve o adultério cometido pelo primo. De qualquer modo, o episódio remete-nos aos Códigos de Jesus, que proclamou a sentença: “atire-lhe a primeira pedra aquele que estiver isento de pecado”(2). Essa advertência faz da comiseração uma obrigação para nós outros, porque ninguém há que não necessite, para si próprio, de indulgência. “Ela nos ensina que não devemos julgar com mais severidade os outros, do que nos julgamos a nós mesmos, nem condenar em outrem aquilo de que nos absolvemos. Antes de profligarmos a alguém uma falta, vejamos se a mesma censura não nos pode ser feita.”(3) É importante observar que Jesus, avaliando equívocos e quedas, nas aldeias do espírito, haja selecionado aquela da mulher, em falhas do sexo, para emitir a sua memorável sentença: "aquele que estiver sem pecado atire a primeira pedra".
O sábio Espírito Emmanuel explica que “no rol das defecções, deserções, fraquezas e delitos do mundo, os problemas afetivos se mostram de tal modo encravados no ser humano que pessoa alguma da Terra haja escapado, no conjunto das existências consecutivas, aos chamados "erros do amor".”(4) Penetremos cada um de nós nos recessos da própria alma, e, se conseguimos apresentar comportamento irrepreensível, no imediatismo da vida prática ante os dias que correm, indaguemo-nos, com sinceridade, quanto às próprias tendências. “Quem não haja varado transes difíceis, nas áreas do coração, no período da reencarnação em que se encontre, investigue as próprias inclinações e anseios no campo íntimo, e, em sã consciência, verificará que não se acha ausente do emaranhado de conflitos, que remanescem do acervo de lutas sexuais da Humanidade.”(5)
Por essas razões, personalizando na mulher sofredora a família humana, Jesus pronunciou a inesquecível sentença “atire-lhe a primeira pedra”, convocando os homens, supostamente puros em matéria de sexualidade, a lançarem sobre a mulher infeliz a primeira pedra.
Em verdade, quando respeitarmos nosso semelhante em seu foro íntimo, os conceitos de adultério se farão distanciados do cotidiano, de vez que a compreensão apaziguará o coração humano e a chamada desventura afetiva não terá razão de ser, ou seja, ninguém trairá ninguém em matéria afetiva.
Abstenhamo-nos, sob qualquer hipótese, de censurar e condenar seja lá quem for em matéria de comportamento sexual. Recordemos que estamos emergindo de um passado longínquo, em que estivemos mergulhados nos labirintos dos desequilíbrios na área afetiva, a fim de que as bênçãos do aprendizado se nos fixem na consciência a Lei do amor. Achamo-nos muito longe da pureza do coração , por isso mesmo, se alguém nos parece cair, sob enganos do sentimento, não critiquemos , ao invés disso silenciemos e oremos a seu benefício.
Para com qualquer pessoa que se nos afigura desmoronar em delito sentimental, sejamos caridosos!.Nenhum de nós consegue conhecer-se tão exatamente, a ponto de saber hoje qual a dimensão da experiência afetiva que nos espera no futuro. Silenciemos ante as supostas culpas do próximo, porquanto nenhum de nós, por agora, é capaz de medir a parte de responsabilidade que nos compete a cada um nas irreflexões e desequilíbrios dos outros.
Jamais esqueçamos que todos somos componentes de uma só família (encarnada e desencarnada), operando em dois mundos, simultaneamente. Somos incapazes de examinar as consciências alheias e cada um de nós, ante a Sabedoria Divina, é um caso particular, em matéria de amor, reclamando compreensão. “A vista disso, muitos de nossos erros imaginários no mundo são caminhos certos para o bem, ao passo que muitos de nossos acertos hipotéticos são trilhas para o mal de que nos desvencilharemos, um dia!... Abençoai e amai sempre. Diante de toda e qualquer desarmonia do mundo afetivo, seja com quem for e como for, colocai-vos, em pensamento, no lugar dos acusados, analisando as vossas tendências mais íntimas e, após verificardes se estais em condições de censurar alguém, escutai, no âmago da consciência, o apelo inolvidável do Cristo: "Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei.”(6)
Jorge Hessen
http://jorgehessen.net

Referências bibliográficas:
(1) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, item 16, do Cap. X, Rio de Janeiro: Ed FEB, 1991
(2) João Cp. 8:7
(3) ______, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, item 13, do Cap. X, Rio de Janeiro: Ed FEB, 1991
(4) Xavier, Francisco Cândido. Vida e Sexo, ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2000, Cap. 22
(5) Idem
(6) Idem Cap. 26

sábado, 21 de maio de 2011

RESGATES COLETIVOS ANTE A LEI DE AÇÃO E REAÇÃO

 jovem Baya Bakari, de 14 anos, foi a única sobrevivente do Airbus A310, da empresa Yemenia Air, que caiu no Oceano Índico, pouco antes do pouso nas Ilhas Comores, com 153 pessoas a bordo. Temos notícia de outros acidentes aéreos que tiveram, também, um único sobrevivente, a exemplo de Vesna Vulovic, aeromoça sérvia, que, no momento em que a aeronave sobrevoava a ex-Tchecoslováquia, resistiu à explosão, supostamente, causada por atentado terrorista, em janeiro de 1972. (1) Dias antes, na véspera do Natal de 1971, um avião de passageiros, também, explodiu, depois de ser atingido por um raio, ao sobrevoar a Amazônia peruana. Todos morreram, à exceção da jovem Juliane Koepcke, de 17 anos, que caiu de uma altitude de 3 mil metros, aproximadamente, ainda presa ao seu cinto de segurança. (2) História semelhante é a de George Lamson Jr, que tinha 17 anos, quando sobreviveu à queda do Lockheed L-188, Electra da Galaxy Airlines, matando outras 70 pessoas a bordo, em janeiro de 1985. Os episódios de sobreviventes nessas circunstâncias incluem o de uma criança, de quatro anos, que escapou da queda do voo 255, da Northwest Airlines, em agosto de 1987, em que mais de 150 pessoas morreram no acidente, segundo os organizadores de um memorial pelas vítimas da catástrofe. Em 1995, uma menina, de nove anos, foi a única sobrevivente da explosão, em pleno ar, de um avião, na Colômbia. Em 1997, um menino tailandês escapou de um acidente, que matou 65 pessoas, durante um voo da Vietnam Airlines. Em 2003, uma criança, de três anos, foi a única sobrevivente de um acidente aéreo, no Sudão, que matou 116 pessoas. Lamentemos, sem desespero, quantos se fizerem vítimas de desastres que nos confrangem a alma, pois nada acontece sem que Deus consinta.
Esses fatos nos remetem a refletir sobre as idéias dos cientistas materialistas que creem que a sobrevivência “não é uma questão de destino”, pois mais de 90% dos acidentes aéreos têm sobreviventes, hoje em dia, graças aos “avanços tecnológicos” (!!!...). Mas, a justificativa de “avanços tecnológicos” não explica as causas de uns morrerem e outros sobreviverem na mesma cena trágica.
Como se processa a convocação de encarnados para uma desencarnação coletiva? Qual a explicação espiritual para o fato de pessoas saírem ilesas das catástrofes, algumas, até mesmo, desistindo da viagem ou, então, perdendo o embarque, em transportes a serem acidentados? As respostas são baseadas nas premissas de que o acaso não pode reger fenômenos inteligentes e na certeza da infalibilidade da Lei Divina, agindo por conta de espíritos prepostos, sob a subordinação das entidades superiores. “A cada um será dado segundo as suas obras”. Ensinam os espíritos, mediante comparação simples, mas de forma altamente significativa, que justiça sem amor é como terra sem água. O pensamento da espiritualidade superior sobre o tema significa que a justiça é perfeita, porque Deus a fez assistida pelo amor, para que os endividados não sejam aniquilados.
A Doutrina dos Espíritos, embasada em O Livro dos Espíritos, não respalda a idéia de fatalidade, tratando especificamente do assunto, merecendo, por isso, leitura e reflexão. (3) Então, qual a finalidade desses acidentes que causam a morte conjunta de várias pessoas? Como a Justiça Divina pode ser percebida nessas situações? Por que algumas pessoas escapam, como vimos acima? Lembrando que fatalidade, destino e azar são palavras sempre citadas em situações como essas, vejamos como os Espíritos nos esclarecem: “Fatalidade”, “Destino” e “Azar” são palavras que não combinam com a Doutrina Espírita, da mesma forma a palavra “sorte”, usada para aqueles que escapam desse tipo de situação. Que conceitos estão por trás dessas palavras? O Livro dos Espíritos explica, dentre outras informações a respeito, que “a fatalidade só existe no tocante à escolha feita pelo Espírito, ao encarnar, de sofrer esta ou aquela prova; feita a escolha, ele traça, para si mesmo, uma espécie de destino, que é a própria conseqüência da posição em que se encontra. Em verdade, “fatal”, no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte. Chegado esse momento, de uma forma ou de outra, a ele não podemos fugir”. (4) Em chegando a hora de retornar ao Plano Espiritual, nada nos livrará e, inconscientemente, guardamos em nós o gênero de morte que nos aguarda, pois isso nos foi revelado quando fizemos a escolha desta ou daquela existência. Não nos esqueçamos de que somente os acontecimentos importantes, e capazes de influir nossa evolução moral, são previstos por Deus, porque são úteis à nossa purificação e à nossa instrução.
Nas mortes coletivas, como os casos tão dramáticos ocorridos nos recentes desastres aéreos, somente encontraremos uma justificativa lógica para os respectivos acontecimentos, se analisarmos, atentamente, as explicações que só a Doutrina Espírita nos fornece, para confirmar que, até mesmo nesses DESASTRES, a Lei de Justiça se faz presente, pois, como nos afirma o Codificador, não há efeito sem que haja uma causa que o justifique.
Todos os nossos irmãos que pereceram, em desastres aéreos, carregavam, na alma, motivos para se ajustarem com a Lei Maior, a fim de quitar seus débitos com a Justiça Divina, que não falha jamais, encontrando, aí, a oportunidade sublime do resgate libertador. “Salvo exceção, pode-se admitir, como regra geral, que todos aqueles que têm um compromisso em comum, reunidos numa existência, já viveram juntos para trabalharem pelo mesmo resultado, e se acharão reunidos ainda no futuro, até que tenham alcançado o objetivo, quer dizer, expiado o passado, ou cumprido a missão aceita”. (5)
Vamos encontrar em o livro Chico Xavier Pede Licença, no capítulo 19, intitulado “Desencarnações Coletivas”, as sábias explicações para o fenômeno das mortes coletivas, quando o benfeitor Emmanuel responde pergunta endereçada a ele, por algumas dezenas de pessoas, em reunião pública, realizada na noite de 22/08/1972, em Uberaba, MG, e que aqui transcrevemos: “Sendo Deus a Bondade Infinita, por que permite a morte aflitiva de tantas pessoas enclausuradas e indefesas, como nos casos de incêndios (e de quedas de aeronaves)? Responde Emmanuel -” Realmente, reconhecemos em Deus o Perfeito Amor, aliado à Justiça Perfeita. “E o Homem, filho de Deus, crescendo em amor, traz consigo a Justiça imanente, convertendo-se, em razão disso, em qualquer situação, no mais severo julgador de si próprio”. (6)
Como se processa a provação coletiva [resgate]? O mentor do Chico esclarece: “Na provação coletiva, verifica-se a convocação dos Espíritos encarnados, participantes do mesmo débito, com referência ao passado delituoso e obscuro. O mecanismo da justiça, na lei das compensações, funciona, então, espontaneamente, através dos prepostos do Cristo, que convocam os comparsas da dívida do pretérito para os resgates em comum, razão porque, muitas vezes, intitulais “doloroso caso” às circunstâncias que reúnem as criaturas mais díspares no mesmo acidente, que lhes ocasiona a morte do corpo físico ou as mais variadas mutilações, no quadro dos seus compromissos individuais”. (7) Diante de tantos lúcidos esclarecimentos, não mais podemos ter quaisquer dúvidas de que a Justiça Divina exerce sua ação, exatamente, com todos aqueles que, em algum momento, contrariaram a harmonia da Lei de Amor e Caridade e, por isso mesmo, cedo ou tarde, defrontar-se-ão, inexoravelmente, com a Lei de Causa e Efeito, ou, se preferirem, com a máxima proferida pela sabedoria popular: “A semeadura é livre, mas, a colheita é obrigatória”.
É importante destacar que, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, o mestre lionês assinala: "Não se deve crer, entretanto, que todo sofrimento, porque se passa neste mundo, seja, necessariamente, o indício de uma determinada falta: trata-se, freqüentemente, de simples provas escolhidas pelo Espírito para sua purificação, para acelerar o seu adiantamento”. (8). Diante do exposto, afirmamos que a função da dor é ampliar horizontes, para, realmente, vislumbrarmos os concretos caminhos amorosos do equilíbrio. Por isso, diante dos compromissos “cármicos”, em expiações coletivas ou individuais, lembremo-nos sempre de que a finalidade da Lei de Deus é a perfeição do Espírito, e que estamos, a cada dia, caminhando nessa direção, onde o nosso esforço pessoal e a busca da paz estarão agindo a nosso favor, minimizando, ao máximo, o peso dos débitos do ontem.

Jorge Hessen
http://jorgehessen.net
jorgehessen@gmail.com



Fontes:
(1) Vesna, que recebeu um prêmio da organização Guinness World Records pela "mais alta queda do espaço sem paraquedas", despencou de mais de 10 mil metros de altitude junto com uma parte da fuselagem do avião, para cair nos montes nevados da hoje República Checa.
(2) Acredita-se que os fortes ventos que sopravam de baixo para cima suavizaram a queda, fazendo o assento descer em espiral e não em queda livre. A adolescente alemã passou 11 dias vagando na selva, sem comida, em busca de civilização.
(3) Kardec, Allan. O Livros dos Espiritos, RJ: ed Feb, 1999, questões 851 a 867, do Livro III, capítulo X
(4) idem
(5) Kardec, Allan. Obras Póstumas, RJ: Ed Feb, 1993, Segunda Parte, pág. 215, no Capítulo: Questões e problemas
(6) Xavier F Candido / Pires j. Herculano. Chico Xavier pede Licença, no capítulo 19, “Desencarnações Coletivas”, SP: Ed GEEM, 1972
(7) Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, Ditado pelo Espírito Emmanuel, RJ: Ed Feb 1972, perg. 250

sexta-feira, 20 de maio de 2011

A FALA E A ESCRITA ESPIRITA: UMA REFLEXÃO



Claudia Gelernter

claudiagelernter@uol.com.br






Temos em "Nosso Lar", no que concerne à literatura, uma enorme vantagem; é que os escritores de má-fé, os que estimam o veneno psicológico, são conduzidos imediatamente para as zonas obscuras do Umbral. Por aqui não se equilibram, nem mesmo no Ministério da Regeneração, enquanto perseveram em semelhante estado d’alma”.

André Luiz, no livro Nosso Lar, pagina 98.

O Apóstolo Paulo, na parte final de O Livro dos Espíritos, questão 1009, comenta que nosso objetivo final é o de gravitarmos em torno do Criador. É o mesmo que dizer que, em determinado tempo de nossa evolução, quando conseguirmos nos libertar de todas nossas imperfeições, seremos tão sábios que, felizmente, comungaremos com o Pai. Será o tempo de compreender toda a verdade e seguirmos adiante, realizando a arte da co-criação, trabalhando pelo Universo, num espírito de total irmandade, auxiliando aos que ainda não atingiram tal patamar.

Falando sobre o processo de evolução da humanidade, o Espírito Lázaro comenta que “no seu ponto de partida, o homem só tem instintos; mais avançado e corrompido, só tem sensações; mais instruído e purificado, tem sentimentos; e o amor é o requinte do sentimento”. (LÁZARO, p. 111)

Aprendemos a pensar e nos tornamos humanos. Quando aprendermos a amar, teremos atingido a grande meta. Nesta escada que nos leva à perfeição, ocupamos degraus variados, mas com características em comum: todos estamos ainda distantes do topo, apresentando, portanto, inúmeras dificuldades, exteriorizando desequilíbrios, complicações, próprios de nossa personalidade ainda imperfeita. Uns mais adiantados, já conseguem dominar suas más tendências, numa luta intima constante. Outros demoram-se nas atitudes recalcitrantes, promovendo desequilíbrios em torno de si, graças a seus próprios desequilíbrios.

“A boca fala daquilo que o coração está cheio”, disse-nos Jesus. (Mt 15,18). Pois bem. E do que está cheio nosso coração? Para obtermos a resposta, analisemos nossa forma de nos comunicar. No caminho da evolução é imprescindível passarmos pela esquina do autoconhecimento. Se existe tanta morosidade em nossa caminhada, é por conta de nossa falta de reflexão existencial.

Santo Agostinho, o bispo argeliano, em seu tempo já refletia sobre este problema: "os homens se vão a contemplar os topos das montanhas, as vastas ondas do mar, as amplas correntes dos rios, a imensidão do oceano, o curso dos astros, e não pensam em si mesmos." (AGOSTINHO, 1955).

“Conseguimos fotografar Marte, mas ainda não deciframos nossos defeitos. Descobrimos novas espécies, mas não descortinamos nossas tendências. O exterior nos deslumbra, o interior nos atemoriza. E com isso seguimos, muita vez pronunciando palavras ásperas, verbos envenenados, difamação irresponsável – facetas de uma mesma causa”. (GELERNTER, 2007)

Se por um lado temos responsabilidades diante da palavra e de acordo com a forma com que realizamos a comunicação de nossas idéias, temos, quando conhecedores da Doutrina Espírita, tais responsabilidades muito mais ampliadas. Reconhecemos, ao estudarmos Espiritismo, que toda a pedagogia Espírita é voltada para o amor. Sua metodologia prevê o foco no educando, promovendo, através da empatia, a construção do conhecimento. Neste campo não cabe a forma agressiva de se comunicar.

Diz-nos Kardec que se reconhece o verdadeiro espírita “pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para domar as suas más inclinações" (KARDEC, p. 171).

Vale citar que, buscando desculpar tais atitudes, costumamos explicar nossa agressividade verbal como sendo resultado de uma ‘vontade boa’: a de nos fazermos compreender pelos que “pensam de forma errada”. Ledo engano. Impossível impulsionar algo para o bem utilizando-nos do mal.

Toda expressão desequilibrada reflete a essência daquele que a pronuncia. E não há aprendizagem positiva com ações negativas. A única aprendizagem possível, através de exemplos deploráveis, é a imitação dos mesmos métodos, o que promove a manutenção do problema.

E é nesta linha de pensamento que vários Benfeitores Espirituais, através de Médiuns idôneos, nos esclarecem:

“Desta feita, destaca-se, no e do mundo, a literatura espírita que, embora inserida no âmbito da arte, pode ser levada à arte divina, uma vez que seu conteúdo é a Revelação. Com isso, não se consorcia senão à Verdade e seu estilo é, e precisa ser, elegante, instrutivo, lúcido, pacificador, consolador, moralizante e respeitador”. (PEREIRA, p. 28)

Toda obra Espírita, todos os textos redigidos dentro do âmbito Espírita, devem ser revestidos de amor, mesmo que seja para tratar de assuntos da mais alta gravidade, ou ainda para a defesa de idéias ou pessoas.

Não podemos admitir que a palavra, articulada ou escrita, promova o mal, a desarmonia, o desequilíbrio, pois “torna-se inútil a elevação dos objetivos, sempre que haja rebaixamento moral nos meios”. (EMMANUEL, p.24).

Salientemos ainda, que a firmeza nas idéias não se traduz por ataques. Podemos ser firmes em nossas opiniões sem, contudo, sermos deselegantes, deseducados.

“(...) o expositor espírita representa o próprio Espiritismo bem como o movimento espírita. Assim, tudo que o expositor disser ou fizer repercutirá, ante o público, em favor ou descrédito para a Doutrina e a coletividade espíritas. Se realiza bem o seu trabalho, consegue, junto ao público, os objetivos visados pela divulgação doutrinária. Se sua atuação se ressente de graves falhas (doutrinárias, morais ou técnicas), deixa de agradar aos ouvintes, não lhes passa a mensagem espírita corretamente e não os motiva ao progresso moral”. (LUZ, p. 3).

Compreendemos, portanto, que todo aquele que abraça a Doutrina ensinada pelos Espíritos Superiores e codificada por Allan Kardec, deve buscar se comportar de acordo com o conhecimento doutrinário que possui, ou seja, não deve tentar ensinar algo, atuando de forma equivocada.

Finalizando, destacamos, novamente em Emmanuel: “A imprensa espírita cristã representa um veículo de disseminação da verdade e do bem”. (EMAMNUEL, p. 26). Não devemos abrir mão destes cuidados quando nos comunicamos com o mundo a nossa volta. Recordemos que a responsabilidade está de acordo com nossos conhecimentos e que, quanto maior o nosso conhecimento, maior nosso compromisso diante de Deus.



Referências Bibliográficas

AGOSTINHO, Santo. Confissões . Tradução de J. Oliveira e A. Ambrósio de Pina. Livraria Apostolado da Imprensa, 5ª edição. Porto, Portugal, 1955

CRISTIANO, E./ pelo Espírito de Yvonne Pereira; A Pena e o Trovão; A Importância do Conhecimento Espírita; Campinas, SP, Ed. Allan Kardec, 2010

GELERNTER, C. Estudo do Falatório, artigo disponível no site Somos Todos Um, no link: http://www.stum.com.br/clube/artigos.asp?id=9662, acessado em 15 de maio de 2011.

KARDEC, A.; O Evangelho Segundo o Espiritismo; pelo Espírito de Lázaro A Lei de Amor, tradução de Salvador Gentile, IDE, 365ª edição, Araras, SP, 2009.

____________ O Evangelho Segundo o Espiritismo; capítulo XVII, Sede Perfeitos, tradução de Salvador Gentile, IDE, 365ª edição, Araras, SP, 2009.

LUZ, C.E.C; artigo O que É uma Exposição Espírita, disponível no site Portal do Espírito, através do link: http://www.espirito.org.br/portal/artigos/celuz/cursos/como-fazer-palestra.html, acessado em 16 de maior de 2011.

XAVIER, F. C.; Conduta Espírita, por Emmanuel, Ed FEB, Rio de Janeiro, 21ª edição, 1998.

_____________ Nosso Lar, Espírito Andre Luiz, Ed. FEB, Rio de Janeiro, 2005.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

FIDELIDADE DOUTRINÁRIA






José Passini

Juiz de Fora

passinijose@yahoo.com.br

Há pessoas que estão sempre a buscar atalhos, soluções prontas, para agirem sem o esforço da análise, do exame cuidadoso, conforme recomenda o Apóstolo Paulo: “Examinai tudo; retende o bem.” (I Ts, 5: 21). Essas pessoas, por certo, ainda não entenderam a inspirada assertiva do Codificador, ao grafar na folha-de-rosto do primeiro livro eminentemente religioso da Doutrina, O Evangelho segundo o Espiritismo: “Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.” O esforço para a construção dessa fé inabalável é penoso para aqueles que desejam receber tudo pronto. Os que assim se posicionam têm muitas dúvidas no terreno da fidelidade doutrinária. Seria do seu agrado o estabelecimento de um index para orientar o que deveriam ler, de um manual de procedimentos para as atividades desenvolvidas nos centros espíritas e, também, de uma cartilha de orientação para o seu próprio procedimento em sociedade.

Em relação à fidelidade doutrinária, há posições as mais variadas assumidas pelas pessoas. Há aquelas que desejariam houvesse uma lista de obras “condenadas”, o que lhes facilitaria a escolha para a leitura de informações seguras, sem terem que “esquentar a cabeça”. No outro extremo, outras há que reagem negativamente a qualquer tipo de avaliação ou de juízo formulado sobre uma publicação, tachando tal ato como estabelecimento de um index.

Nesse contexto, deve ser lembrado que uma das características marcantes do Espiritismo é exatamente a liberdade que confere aos seus profitentes. Liberdade aprendida com Jesus, que nunca constrangeu ninguém a fazer ou deixar de fazer algo, simplesmente porque lhe fora ordenado. O Mestre sempre buscava levar o ouvinte a entender os seus ensinamentos, raciocinando sobre eles, o que obtinha através dos diálogos que estabelecia.

Muitas passagens discutíveis do Novo Testamento, muitas palavras e frases atribuídas a Jesus, lá estão porque o Alto o permitiu. Apesar de muitos cortes, acréscimos e adaptações, o essencial foi conservado intacto. O que se tornou objeto de discussão serve para aprendermos a raciocinar em termos de fé e exercitarmos o bom-senso. Se Jesus tivesse vindo para trazer-nos fórmulas acabadas de salvação – tão a gosto dos simplistas – não teria sido carpinteiro, mas sim canteiro, pois trabalhando com pedras teria oportunidade de deixar seus ensinamentos insculpidos em lajes, como verdadeiras “receitas” de salvação, a serem seguidas ipsis verbis pelos séculos afora. Esse desejo do Mestre, de conduzir seus discípulos ao estudo e à reflexão, fica muito claro quando recomenda: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (Jo, 8: 32).

Dentro dessa perspectiva, como encontrar o ponto de equilíbrio entre os que querem um index e um manual de procedimentos, e aqueles que advogam liberdade ampla, total e irrestrita? Avaliar se uma obra ou uma prática está em consonância com os princípios doutrinários é tarefa para quem conhece realmente a Doutrina. Daí, a necessidade do estudo, da reflexão, da análise serena e desapaixonada, a fim de que se chegue à conclusão do que está de acordo e do que está em confronto com as verdades que o Espiritismo esposa.

A preservação da fidelidade doutrinária no que diz respeito às práticas desenvolvidas numa entidade espírita é mais fácil, pois ninguém usaria velas, bebidas, fumaça, roupas especiais, imagens, rituais, etc. Entretanto, quando se trata do uso da palavra, seja oralmente, seja por escrito, a tarefa de verificação se torna mais difícil. Mais difícil porque esbarra, quase sempre, no personalismo camuflado numa capa de inovação, renovação, atualização, etc.

A mediunidade tem sido veículo para a divulgação de muitas “novidades” que deveriam ter merecido acurado exame antes de se terem transformado em folhetos e, principalmente, em livros. Infelizmente, o encantamento provocado pelo fenômeno ainda oblitera a visão de muitos, conduzindo-os a entendimentos equivocados.

Se houvesse mais estudo da Codificação, por certo o número de obras anti-doutrinárias existentes, tanto pela ação de médiuns quanto de leitores seria bem menor, para não dizermos nulo. Temos o exemplo maior em Kardec, que se conservou sereno e judicioso, embora a imensa emoção que deve ter sentido ao comprovar a imortalidade da alma, ao “descobrir” o Mundo Espiritual, e ao verificar o relacionamento efetivo entre encarnados e desencarnados. É oportuno seja lembrada a sempre atual advertência de Erasto, que Kardec inseriu em O Livro dos Médiuns : “Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea.” (item 230).

A necessidade do uso do bom-senso no campo da mediunidade é evidenciada desde os tempos apostólicos, conforme se aprende com o Apóstolo Paulo – seguramente a maior autoridade em assuntos mediúnicos no Cristianismo nascente – que recomenda: “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.” (I Co, 14: 29). O mesmo cuidado é recomendado por João: “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus; porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo”. (I Jo, 4: 1).

Essas recomendações continuam atualíssimas, diante do momento que vivemos, pois atravessamos um período que nos requer muita atenção relativamente à fidelidade doutrinária, principalmente no campo mediúnico voltado à produção de livros. Note-se que o vocábulo produção é intencionalmente usado aqui para substituir publicação , pela verdadeira avalancha de obras mediúnicas que invadem as prateleiras das livrarias.

Há uma ânsia desenfreada de se publicar tudo o que médiuns invigilantes produzem, sequiosos de verem seus nomes em capas de livros. Há editoras que descobriram um verdadeiro filão de ouro no meio espírita. Muitos dos que adquirem livros pensando estarem ajudando instituições de amparo a necessitados não são informados do que resta no final, depois de deduzidas as despesas e os ganhos das editoras... Se há grande profissionalismo editorial, felizmente, o profissionalismo mediúnico, no que se refere à literatura espírita ficou restrito a conhecida família, que não mais se pode dizer espírita, mas sim praticante de mediunidade apenas.

Os adversários do Espiritismo de há muito desistiram de combatê-lo através de ataques exteriores. Agora, eles se imiscuem no nosso meio, onde quase que imperceptivelmente, valendo-se da invigilância de muitos, buscam lançar o descrédito através de mensagens fantasiosas, quando não ridículas. Por isso, no quadro atual, mais que nunca, os médiuns devem pôr em prática o “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação (...)”. (Mt, 26: 41).

Diante do exposto, fica claro que não se pode nem estabelecer um manual de procedimentos, nem elaborar um index, objetivando a preservação da fidelidade doutrinária. Mas, então, como proceder diante dessa quantidade imensa de obras inovadoras e de posicionamentos inusitados, cujas “revelações” e “modernizações” vão desde o simplesmente discutível ao claramente antidoutrinário?

Em atitudes discretas, equilibradas, ao amparo da oração sincera, cada espírita consciente deve constituir-se em guardião fiel dos princípios doutrinários, o que conseguirá através do estudo, da reflexão, do uso do bom-senso.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

IMENSA É A LUTA


Jesus Cristo nos trouxe uma mensagem de paz, de amor, de justiça e de tolerância;uma mensagem de caráter permanente;uma mensagem cujos postulados soergue e anima. A partir de Sua mensagem o deus parcial, rancoroso e vingativo que extravazava o delírio da sua cólera, passou a ser suplantado pelo Criador de infinita misericórdia, de justiça e de perdão. Porém, Sua mensagem, que exonerou dos altares o racoros deus Jeová, Senhor dos Exércitos, que punia inclusive os erros dos pais nos filhos durante muitas gerações, tempos depois, transformou-se num guante pesado. A História o demonstra.
No século treze, ao Sul da França, nos arredores da cidade de Albi, propagava-se uma seita religiosa de origem eslava considerada herética pela religião dominante. Seus adeptos eram denominados albigenses (naturais de Albi) ou mais propriamente, cátaros, que em grego quer dizer puros. Nesse contexto, Gregório IX organizou um tribunal especificamente dedicado a tratar a heresia dos albigenses. Um dos movimentos que mais tinha certas ligações com os cátaros era a Ordem dos Templários, criado na Terra Santa, e que representavam uma associação militar cristã, oficialmente protetora das peregrinações religiosas e responsável pela guarda e câmbio de bens, mas igualmente aberta ao estudo e discussão de assuntos místicos. Mas, a Ordem de São Domingos foi convocada para dizimar os Cátaros e os dominicanos fizeram com que a ação desse famigerado tribunal se propagasse a todo mundo cristão impiedosamente. Sobretudo na Itália e na Espanha o tribunal tomou o conhecido nome do Santo Ofício, que transformou-se uma instituição poderosíssima onde se distinguiram pela crueldade os inquisidores TORQUEMADA E XIMENES.
Mais tarde ocorreram as cruzadas, onde milhões de "bravos soldados do Cristo", partindo da França, da Inglaterra, da Itália, da Espanha sob o comando de Urbano II, que propunha aos seus seguidores banharam-se no sangue dos "infiéis" (violadores dos lugares santos da Palestina).
Movimento que esse que prenunciou a terrível Cruzada ulterior contra as CONSCIÊNCIAS – a ignóbil "INQUISITIONE". Os escritos históricos registram suas bárbaras atrocidades: GIORDANO BRUNO é queimado vivo em Roma no campo Fiore. GALILEU teve que negar a tese heliocêntrica e torna-se um prisioneiro em seu próprio domicílio, TOMMASO CAMPANELLA é ´perseguido durante 27 anos, sofre numa masmorra pelo terrível crime de querer pensar em LIBERDADE! JOÃO HUSS foi condenado à fogueira por ter proposto trinta e nove questões religiosas que o Concílio de Constança julgou heréticas. JERÔNIMO DE PRAGA, VANINI e SAVANAROLA tiveram a mesma sorte que HUSS. Muitos outros mártires mantiveram a luta pela emancipação do pensamento. Até que na Renascença bradou-se o grito de liberdade intelectual do homem. Essa aurora alvissareira ofuscava os monstros do obscurantismo e da tirania do cristianismo da época.
Tendo sedimentado seu total controle na Europa ocidental, a Igreja dominante constituia-se em uma instituição poderosa econômica, política e militarmente. Equiparava-se a um gigantesco feudo, e sua organização impunha uma violenta censura e controle espiritual e intelectual (ou crer ou morrer), submissão total à autoridade eclesiástica, etc. Em brutal e explícita oposição ao socialismo humanista dos primeiros cristãos, a Igreja de Roma punha-se com toda a violência que dispunha contra todos os que questionassem a legitimidade cristã de tais atitudes.
Enfim, difícil, dificílimo mesmo é compreendermos esses testemunhos históricos do cristianismo, porquanto Jesus ensinou-nos o amor ao próximo como a nós mesmos, inclusive aos inimigos. A fazermos o bem aos que nos odeiam. Orarmos pelos que nos perseguem e caluniam. Por tudo isso afirmamos que A MISSÃO do Espiritismo, tanto quanto o ministério do Cristianismo, não será destruir as escolas de fé, até agora existentes. Jesus acolheu a revelação de Moisés. A Doutrina dos Espíritos respeita os princípios superiores de todos os sistemas religiosos. Jesus respeitou os Profetas do Velho Testamento. O Consolador Prometido não vem para perseguir os pioneiros dessa ou daquela forma de crer em Deus até porque o Espiritismo é, acima de tudo, o processo libertador das consciências, a fim de que a visão do homem alcance horizontes mais altos.


Jorge Hessen
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terça-feira, 17 de maio de 2011

Puritanos ou Vendilhões? Eis a grave questão!



Assistimos pelo youtube uma entrevista de um médium espírita e ficamos estupidificados com as suas declarações. Primeiro, pela maneira presunçosa de como foram tratados os confrades que se posicionam contra a INDUSTRIALIZAÇÃO DE EVENTOS “ESPÍRITAS”; depois, pela forma desdenhosa de como se referiu aos espíritas de baixo salários e os desempregados (pobres), dizendo que na instituição que dirige são realizadas semanal e “gratuitamente” 4 (quatro) reuniões públicas doutrinárias, 8 (oito) reuniões mediúnicas, 8 (oito) módulos de estudos espíritas, além de outros trabalhos de grande relevância doutrinária. Todavia, muitos espíritas simplisinho (pobres) não participam, porque não querem. Contudo, referindo-se ao evento que será realizado no hotel luxuoso sob sua coordenação, afirmou que quem não pode pagar também não pode frequentar. Sabe por quê? Porque os eventos são negociados através de “pacotes fechados” entre a instituição que dirige e os hotéis promotores. O médium esqueceu-se de que a lídima divulgação não exclui pessoas, não impõe condições, não faz peditórios, justamente para fugirmos dos equívocos cometidos por outras religiões e credos.
Martinho Lutero dizia que “não são as boas obras que tornam o homem bom, o homem bom é que faz as boas obras.”(1) O sistema elitista e o assistencialismo cego assememelham-se à dança em torno do bezerro dourado a que se entregou o povo hebreu, quando a caminho do paraíso prometido.
Durante a entrevista, o médium procurou relativizar a advertência de Jesus – “dai de graça o que de graça recebeste”. Para ele, o que importa é dar um ar de grandiosidade à divulgação espírita, como se a importância da mensagem espírita estivesse atrelada às exterioridades, a títulos, aos locais elegantes onde ela é pronunciada.
A mediunidade com Jesus não se relativiza. O "dai de graça ao que de graça recebemos" não pode ser deformado. O Espiritismo é a disseminação da palavra de consolo tal como Jesus nos ensinou, tal como Ele pregava, tal como Kardec esperava, tal como Chico Xavier exemplificou, para todos e ao alcance de todos. O entrevistado enfatizou a palavra “colaboração” para justificar o pagamento das taxas de ingresso, alegando que, se o interessado declarar que é pobre, não é restringido o seu acesso por causa do fator financeiro. Sabemos que isso não é verdade! Ou pelo menos é meia verdade. (Ora! Será que um espírita desempregado precisará apresentar atestado de pobreza?).
E, para justificar seus arrazoados na entrevista, sempre em intransigente defesa do comércio dos eventos “espíritas”, classificou de puritanos(?!...) os que discordam da cobrança de taxas para os eventos destinados à divulgação do Espiritismo. Mas , os “puritanos”, não podemos nos intimidar com os sofismas das sombras. Devemos caminhar de olhos voltados para as coisas do firmamento, e mãos operosas na Terra, lembrando que menos pesa na consciência o epíteto de puritanos do que de vendilhões das coisas santas!
O Cristianismo primitivo, pela simplicidade dos primeiros núcleos cristãos, foi conquistando integralmente a sociedade de sua época, mas, com o passar dos séculos, desgastou-se doutrinariamente. Conspurcou-se por imposição dos interesses políticos, institucionais e principalmente financeiros (industrialização da cruz).
É bastante preocupante e gravíssimo o ideal dos festivais de ofertas de pacotes para tour doutrinários. Para quem desconhece o fato, informamos (de graça) que há encontros “espíritas” realizados em instalações de luxuosos hotéis 5 estrelas ao “irrisório” preço de R$. 1.600,00 (em média). Se colocarmos na ponta do lápis a arrecadação final, considerando a participação de 300 pessoas (por baixo), chegaremos ao montante de quase meio milhão de reais. Isso apenas para um evento de três dias.
Fomos instados a procurar pela Internet outros eventos “espíritas” para 2011. Encontramos congressos, seminários, fóruns, cursos espíritas, simpósios de profissionais “espíritas” etc, todos eles com fichas de inscrição caracterizadas por ENTRADAS NÃO GRATUITAS.
É evidente que essas práticas, em nome de Kardec, têm fragilizado as bases da Doutrina dos Espíritos, provocando rachaduras no edifício doutrinário. Há desmesurada distância entre aqueles simples bancos e cadeiras de madeira do Grupo Espírita da Prece de Uberaba e os soberbos hotéis que servem de tablado para espetáculos de oradores que, absortos em suas insânias dinásticas, veiculam temas decorados apoiados nas suas memórias privilegiadas.

Na imprudência, disfarçada por envernizada prática assistencialista, pregam "Espiritismo" com rebuscadíssimos verbos e palavras, e ainda contam as moedas douradas arrecadadas, de mãos unidas com "Mamon". As extravagantes taxas cobradas nesses eventos evidenciam uma grave metástase doutrinária, com fulminantes consequências para o futuro do Espiritismo na Pátria do Evangelho.
Nem é necessário fazermos um esforço descomunal para identificar o abismo existente entre o "Espiritismo" e o "movimento espírita". É lamentável que o movimento doutrinário atual esteja navegando nas mesmas águas que transferiram o cristianismo primitivo das casas de simples pescadores, lavadeiras, operários, para a suntuosidade dos hotéis, centros de convenções e outros grandes edifícios religiosos.
Os defensores da não gratuidade dos eventos espíritas escudam-se na alegação de que há confrades que frequentam o centro espírita anos a fio e nem perguntam como contribuir com a conta de luz ou com os gastos com o papel higiênico e ficam esperando receber sem nada retribuir. Proclamam o argumento de que a comunidade espírita é o segundo maior PIB entre os religiosos (de acordo com o IBGE), perdendo apenas para os judeus, e os espíritas não gostam de colocar a mão no próprio bolso para a obra espírita. Será esse o real motivo para a cobrança dos eventos doutrinários?
Infelizmente, o Espiritismo das origens, tal como Chico pregava, parece não mais fazer sentido, mormente para os mais afamados representantes do movimento. Assistimos ao sepultamento da simplicidade da Terceira Revelação no jazigo dourado da espetacularização da oratória, dos aplausos provindos da massa entusiasta e inconsciente, das ovações delirantes, dos elogios soberbos e extravagantes. Por essas e outras razões disse o Mestre: “ouça quem tem ouvidos de ouvir e veja quem tem olhos de ver”.(2)
Chico Xavier advertia há 30 anos "é preciso fugir da tendência à ‘elitização’ no seio do movimento espírita (...) o Espiritismo veio para o povo. É indispensável que o estudemos junto com as massas mais humildes, social e intelectualmente falando, e delas nos aproximemos (...). Se não nos precavermos, daqui a pouco estaremos em nossas Casas Espíritas, apenas, falando e explicando o Evangelho de Cristo às pessoas laureadas por títulos acadêmicos ou intelectuais (...).”(3)
Quando escrevemos o artigo “INDUSTRIALIZAÇÃO DE EVENTOS ESPÍRITAS "GRANDIOSOS", o ex-reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora, e escritor espírita, José Passini, afirmou: “Seu artigo, Jorge Hessen, deveria ser eternizado em placa de bronze e distribuído às instituições espíritas. Você acertou em cheio no monstro que desgraçadamente cresce em nosso meio.”(4) Talvez a espiritualidade, consciente dos despropósitos dos eventos pagos esteja de alguma forma nos alertando para um tempo de profundas mudanças. Que seja assim!
Jorge Hessen
http://jorgehessen.net



Referências:
(1) Disponível no site http://pensador.uol.com.br/frase/NTg0MzY0/.acesso em 11/05/2011
(2) Lucas 8:8
(3) Entrevista concedida ao Dr. Jarbas Leone Varanda e publicada no jornal uberabense O Triângulo Espírita, de 20 de março de 1977, e publicada no Livro intitulado Encontro no Tempo, org. Hércio M.C. Arantes, Editora IDE/SP/1979.
(4) Disponível em http://jorgehessenestudandoespiritismo.blogspot.com/.../jose-passini-apoia-nossos-argumentos.html, acesso em 11-05-2011