.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

PARA VENCER É PRECISO TER SORTE





Roberto Cury

robcury@hotmail.com


A pedagoga, escritora e conferencista Heloisa Pires, filha de José Herculano Pires, “o melhor metro que mediu Kardec”, no século passado e que, por isso, alguns dizem ter sido ele a reencarnação do grande Mestre de Lion, afirma: “todos nascemos para a vitória”.

Édo Mariani, do Movimento Espírita de Matão – SP: “Fomos criados para sermos felizes”.

Vitória é subjetiva e felicidade, impalpável.

Vitória e felicidade têm de estar juntas para obtenção do sucesso nas empreitadas da vida material e para a conquista das qualidades necessárias para a Vida Espiritual.

E a sorte?

Muitos dizem que não existe sorte e muito menos azar.

Pois eu digo que é preciso ter sorte para a felicidade e para vencer as paradas surgidas em cada encarnação.

- Caramba!, admira-se um dos leitores que conhece muito bem o conceito de que nada existe por acaso e de que tudo acontece por alguma razão.

Azar? Também não acredito nele porque seria fruto do acaso bem como a negação da Existência e da Justiça de Deus, nosso Criador.

Sorte? Sim, sorte.

S = Suor. Tudo neste Mundão de Deus depende do suor dos poros do corpo humano para a conquista das coisas, garantidoras da sobrevivência da espécie. Nada se consegue ao som de flautas. Todas as ações exigem a firmeza, a constância, o desprendimento, a fortaleza, a coragem, o denodo.

O = Organização. Tudo o que a humanidade faz, deve obedecer a uma ordem natural das coisas. O caos conduz às confusões, às incúrias, às maluquices, às intemperanças, à baderna, ao desequilíbrio. O planejamento, o preparo, o treinamento e a execução são componentes indispensáveis, dessa ordem, para que os objetivos sejam atingidos e os resultados positivos apareçam. E essa organização vitoriosa chega pela moral, pelos bons costumes, pela perseverança nos caminhos do Bem.

R = Resignação. Ninguém chega à vitória no lanço inicial, nem na escaramuça de começo, muito menos na primeira tentativa. Todas as derrotas, as negativas, os fracassos, os insucessos, não podem desanimar aquele que busca conquistar a felicidade de vencer, ou a vitória da felicidade. É preciso resignação e persistência. A resignação relaciona-se com a compreensão e com a submissão à grandeza da vida e a persistência está diretamente ligada à sabedoria e à alegria de jamais desistir das empreitadas até à conquista final da vitória.

T = Trabalho. O trabalho não se resume apenas nos esforços físico e mental despendidos em cada tarefa. O trabalho deve ser digno, envolver a honra, exercido com serenidade, com a certeza de que vale a pena, nutrido na alegria dos bens produzidos e na satisfação da colheita de frutos edificantes e realizadores.

E = Estudo. Suor, Organização, Resignação e Trabalho somente são conseguidos com o Estudo. Ou, por outras palavras, se o homem não busca o Estudo, não terá resignação diante dos erros cometidos, ou frente aos maus resultados. Da mesma forma, jamais o homem poderá se organizar porque não conhece os caminhos e os meandros que compõem as pesquisas, nem as missões desejadas, ausência de horizontes que só o Estudo é capaz de fornecer. Se lhe faltam as bases fundadas no Estudo, inútil todo o seu Suor e infeliz o Trabalho despendido que se arrebentará nas dificuldades que o tempo e as circunstâncias se lhe opuseram.

Então é preciso ter SORTE (Suor, Organização, Resignação, Trabalho e Estudo) para vencer a jornada terrena tanto quanto à vida material e principalmente pela conquista dos valores espirituais que elevam o espírito à condição de Vencedor.



Roberto Cury é advogado, professor universitário, ex-Procurador Geral da Assembléia Legislativa, articulista do jornal ONZE DE MAIO e colunista do jornal "O VETOR".

terça-feira, 27 de abril de 2010

COBRANÇA




... de graça recebestes, de graça daí.”

Jesus (Mt, 10: 8)

Vez por outra, discute-se no meio espírita a questão do pagamento de taxa de inscrição para participação em eventos doutrinários. É tema delicado, que envolve muitas situações particulares e, às vezes, se choca frontalmente com opiniões até apaixonadas de alguns irmãos. Por isso, merece a atenção e a preocupação daqueles que se propõem ao trabalho espírita, mantendo as atividades sob a sua responsabilidade dentro dos parâmetros saudáveis que não são facilmente verbalizáveis numa lista de “permitido/proibido”, mas intuitivamente sentidos por aqueles que buscam agir com equilíbrio e bom-senso.

É imprescindível tenhamos cuidado constante, muita vigilância e apoio na oração, na busca de diretrizes do Alto, a fim de não levarmos o Movimento Espírita a incidir nos mesmos desvios sofridos pelo Movimento Cristão que, vagarosa e imperceptivelmente se tornou uma religião institucionalizada, hierarquizada, na qual o trato com valores monetários passou, da contribuição espontânea para assistência aos mais necessitados, à fixação de taxas disfarçadas sob vários nomes, encaminhadas para a manutenção do profissionalismo, construção de prédios e acumulação de riquezas.

Necessário se faz que nós, que abraçamos a Doutrina Espírita – e que temos a certeza inabalável da sua missão de reviver o Cristianismo na sua pureza, simplicidade e pujança originais – avaliemos as ações que estão na nossa esfera de decisão, com vistas aos reais objetivos do Espiritismo.

Entre os extremos de dar tudo de graça – inclusive livros – e cobrar entrada ou taxa de inscrição para palestras, simpósios, seminários, há um meio-termo ideal, ditado pelo bom-senso.

Mesmo no tocante ao livro, devemos tomar cuidado para que não se estabeleça uma comercialização exacerbada, em detrimento da qualidade das obras, como, lamentavelmente, já se vê. O produto da venda do livro espírita deve objetivar o ressarcimento dos custos, ou a manutenção de atividade social. Infelizmente, não é o que se constata em muitos casos, diante do alto preço de obras – algumas de qualidade duvidosa, sob o aspecto doutrinário – que têm sido lançadas no mercado ultimamente, muitas das quais vendidas em livrarias ou centros espíritas, cujos dirigentes, muitas vezes, tentados pela obtenção de recursos para melhoria de instalações para ou trabalho assistencial, deixam de examiná-las criteriosamente. Não estamos defendendo, com isso, o estabelecimento de um “index”. Só nos move a lembrança de que uma instituição espírita ao divulgar uma obra está – para a maioria das pessoas – dando-lhe aval doutrinário.

O ideal seria que as editoras fossem sociedades civis, dirigidas por conselhos não-remunerados, como acontece nos centros e outras entidades espíritas. Conforme as conveniências, os livros poderiam ser confeccionados em empresas especializadas e as entidades espíritas promoveriam a sua venda a preços capazes de apenas manter as editoras funcionando. Somente os profissionais dessas sociedades seriam assalariados para a prestação de serviços específicos, como existem em muitas entidades espíritas.

Quanto ao pagamento de taxa de inscrição, há pessoas que argumentam não terem as casas espíritas fundos suficientes para cobrir despesas com viagem de expositores, aluguel de auditório, material de trabalho. Daí, argumentam, a necessidade da cobrança de taxa de inscrição.

Será que não há outros meios de se resolver o problema? Sempre chamamos a atenção de companheiros de ideal, dirigentes de casas espíritas, para o fato de necessitarmos de colaboradores financeiros, a fim conseguir recursos para o pagamento de despesas, como água, luz, telefone, material de limpeza, conservação do imóvel, etc. Há grupos espíritas que têm excesso de escrúpulos no sentido de pedir ao público em geral, levando o ônus financeiro a alguns poucos. Neste particular, lembramos Emmanuel, que aconselhou: “As obras espíritas devem ser mantidas com o pouco de muitos e não o muito de poucos.”

Concordamos que determinados eventos demandam grande movimentação financeira, entretanto cremos que há outros meios, que não sejam o de pura cobrança de taxa de inscrição ou ingresso. São procedimentos mais trabalhosos, mas parece-nos serem mais féis à maneira espírita de agir.

Por exemplo: planeja-se um seminário para algumas centenas de pessoas. Sabemos que há custos: material para estudo, pastas, e, às vezes, aluguel de auditório, serviço de som, etc. Nesse caso, por que não fazer um levantamento prévio dos custos e solicitar a contribuição sigilosa e espontânea daquele que se inscreve, alertando que, se todos pudessem pagar, o custo “per capita” seria tal, mas como nem todos dispõem de recursos, pede-se um pouco mais daqueles que podem doar.

Não se estaria assim evitando uma seleção de participantes com base no poder monetário? Como ficaria a situação de uma família que, integrada no movimento espírita, não tivesse recursos para pagamento da taxa?

Alguém, num juízo apressado, poderá dizer que não dará certo, vez que as pessoas não estão preparadas para uma contribuição espontânea. Nesse caso, achamos que seria necessário inicialmente um longo trabalho educativo dessa comunidade, a fim de sensibilizá-la para o exercício da fraternidade cristã, o que significaria uma boa base para o posterior aproveitamento de seminários mais teóricos.

Se medidas como essas não derem certo, é porque aquela comunidade espírita ainda não está suficientemente madura para empreendimentos mais amplos. Carece-lhe base. Nesse caso, seria preferível a não-realização do evento. O prejuízo para a divulgação da Doutrina Espírita seria menor. Lembremo-nos de que Paulo divulgava o Cristianismo trabalhando em teares alugados, hospedando-se em casa de irmãos, falando diante de pequenos grupos. A divulgação do Cristianismo foi feita num trabalho de “contaminação” quase que de pessoa para pessoa. Não devemos perder isso de vista. Não desejemos trabalhos de “massificação” no Espiritismo. Divulgação doutrinária e evangelização é outra coisa. Lembremo-nos de que, durante mais de um século, o Espiritismo divulgou-se sem cobrança de inscrições e de ingressos e sem essa comercialização desvairada de livros... E divulgou-se muito, de maneira segura. E quando nos assalte a dúvida, é só olharmos para os imensos patrimônios que os nossos predecessores nos deixaram e imaginarmos como eles conseguiram isso tudo.


José Passini

Juiz de Fora MG

p

domingo, 25 de abril de 2010

SOBRE COBRANÇA DE TAXAS NOS CONGRESSOS ESPIRITAS

É preciso repensar o modelo dos congressos espíritas(*)



(*) Editorial da Revista Eletrônica O Consolador

Ano 4 -
N° 155 - 25 de Abril de 2010


Ninguém de bom senso, em nosso meio, negará a importância dos congressos espíritas para a vitalidade do movimento espírita, a permuta de experiências e o congraçamento entre pessoas que enfrentam nas suas cidades dificuldades e problemas semelhantes.

Anos atrás a imprensa espírita registrou uma interessante polêmica acerca de um dos pontos relacionados com a realização dos congressos: seu custo financeiro. Nos lugares onde eles se desenvolvem, as chamadas taxas de participação ou inscrição têm sido cada vez mais altas, fato que, segundo a opinião de muitos, impediria a participação nesses eventos dos companheiros menos aquinhoados. Os congressos restringir-se-iam então a um pequeno grupo com condições de adquirir passagens de avião, hospedar-se em hotéis caros e, ainda, pagar taxas cada vez mais elevadas.

A polêmica instalou-se e logo apareceram as vozes dos que defendem o modelo que vem sendo adotado, alegando que os custos financeiros para a organização desses eventos são muito altos e que cabe aos espíritas, somente aos espíritas, o dever de custeá-los. Se o fato impede a participação dos companheiros de menores posses – dizem eles –, o problema não decorre do montante desses gastos, mas, sim, do poder aquisitivo da população brasileira, porquanto a maioria dos brasileiros vive efetivamente com rendimentos bem diminutos.

Entendemos que ambas as proposições têm fundamento, mas é inegável a marginalização de confrades valorosos que, devido à impossibilidade de arcar com tais despesas, ficam e continuarão a ficar excluídos dos congressos espíritas, como os que têm sido realizados ultimamente por diversas federativas estaduais e mesmo pela FEB.

Qual seria, então, a solução?

Em primeiro lugar, seria interessante examinar o modelo adotado historicamente pelas chamadas Semanas Espíritas e pelos encontros estaduais de jovens espíritas, algo que marcou época nos anos 60 do século passado, especialmente no Sudeste do Brasil.

As acomodações em alojamentos improvisados em escolas públicas ou nas próprias residências dos espíritas, o transporte em ônibus fretado por grupos de participantes e uma maior simplicidade na organização dos encontros, aliados a campanhas promocionais em que nas diferentes cidades abrangidas pelo evento se buscavam recursos para custear parte dos gastos, eis ideias que poderiam, com toda a certeza, permitir a presença nos congressos de pessoas de reduzidas posses mas que, como participantes do trabalho efetivo realizado nos Centros Espíritas, muito têm a oferecer ao debate dos temas propostos.

O local poderia também ser mais singelo. Em vez de um centro de convenções que, além de caro, abriga poucas pessoas, por que não um ginásio de esportes bem equipado, como se vê, de ordinário, nas apresentações dos grandes artistas do país?

A entrada deveria franqueada ao público, sem cobrança alguma, aceitando-se evidentemente a contribuição financeira daqueles que, podendo fazê-lo, somariam ao fundo comum obtido nas campanhas seus próprios recursos.

Num ginásio de esportes, com capacidade para quatro, cinco mil pessoas, haveria sempre espaço para que o público simpatizante pudesse comparecer e também usufruir os ensinamentos transmitidos por nossos oradores.

A mensagem espírita veio, como sabemos, para todas as pessoas. Mas, como ela chegará a um maior número, se é tão difícil e oneroso participar dos seus eventos mais significativos?

Outro ponto que já se discutiu muito no passado, e continua atual, refere-se à seleção dos temas. Tem-se notado em alguns congressos uma preocupação excessiva com a imagem externa do movimento espírita, a única explicação capaz de justificar o nível de sofisticação de certas programações que chegam às vezes ao absurdo, parecendo até, em determinados casos, que não se trata de um congresso espírita, tal o distanciamento entre os assuntos programados e a realidade em que vivem o povo e as Casas espíritas.

Os temas deveriam ser levantados a partir dos Centros Espíritas, de suas carências e necessidades. Obviamente, deve haver lugar e tempo para tudo, mas não podemos dirigir os esforços de um congresso de grande porte para os interesses de um diminuto grupo, de uma pequena elite, única capaz de compreender a terminologia e os conceitos exarados em determinadas conferências, enquanto a maioria da população brasileira segue sem saber ao certo o que é Espiritismo e quais as suas diferenças em relação à Umbanda e às religiões africanistas.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

ESPETACULARIZAÇÃO DA FÉ


Vania Borges Camargo

vaniabc@brturbo.com.br




ESPETACULARIZAÇÃO DA FÉ



A questão do custo de inscrição em eventos espíritas, bem assim a de captação de recursos financeiros, em geral, para esses mesmos eventos, retorna à ordem do dia, pois está sendo motivo de sérias discussões, atualmente, no nosso meio.

No meu entendimento, essa questão apresenta dois aspectos mais relevantes, dentre outros.

Um primeiro aspecto, que, a igual tempo, constitui um tema de fundo, diz respeito à própria natureza religiosa de Igrejas, movimentos e correntes que, em comparação com a prática da Doutrina Espírita, na experiência brasileira atual, leva a reflexões comparativas dessa prática com a daquelas Igrejas, no campo da comunicação mercadológica, midiática e massiva, com cultos em grandes espaços abertos ou fechados, inclusive com a presença de artistas e músicos, pastores-âncoras, exibições com depoimentos de pessoas, supostamente beneficiadas com curas, conquistas materiais de toda sorte, a corrida ao ouro das contribuições ensacadas. É tudo a espetacularização da fé. É, nem tanto assim, a demonização do demônio. É a vitória na vida à custa da cegueira da crença e de um, progressivamente, elevado custo do prêmio do “seguro” da realização dos anelos materiais em calorosas e fortes manifestações de esperança-espiral-espiritual.

As mais fortes e consolidadas dessas Igrejas e movimentos usam e abusam da televisão própria ou de tempo de televisão alheia, locado com o dinheiro de crentes, irmãos e fiéis.

Nada disso faz parte do “show” dos espíritas e do Espiritismo. Ao contrário, estes primam pela discrição, pela reflexão silenciosa. Os “améns”, as “aleluias” e os “vivas” não reverberam nos Centros Espíritas, verdadeiros templos de estudos, orações, forças do pensamento, do sentimento, do sensorial, do cativo-sensitivo-humanista. Quer dizer, o Espiritismo é a pregação de pequenos cultos do homem pelo homem, enquanto homem feito carne, mas, conscientemente, pronto a se fazer Espírito.

A espetacularização disso é o antiespiritismo. Seria um Espiritismo, caminhando para viver de “shows” de comunicação em grandes auditórios. Cobra-se uma “contribuição compulsória” dos participantes; em tudo ele passaria a concorrer com as Igrejas do mercado, que sugam a fé, a esperança, pior, a necessidade de quem, por esta própria natureza, necessita mais do que não necessita. E quem seriam os “pastores” da comunicação? Os palestrantes, os conferencistas, doutrinadores nacionais e estrangeiros? Ora, que venham estes, se quiserem, trazer sua contribuição “superior” ao desenvolvimento do permanente processo de “superiorização” daqueles que se entregam às missões individuais e sociais espíritas.

Chegam a ser grosseiras algumas manifestações daqueles que propõem o caminho da tendência da espetacularização do Espiritismo. É a tendência para o “ter”, superando a inclinação para o “ser”.

Um segundo aspecto, que é um contraponto do primeiro, é a humildade, o despojamento, o desprendimento, a descida ao nível dos participantes, a interlocução, o diálogo, tudo isso é o Espiritismo, praticado e ensinado, principalmente, pelos cultores e divulgadores da Doutrina Espírita, à voz surda dos livros, ou à voz baixa das pregações.

Aliás, o verdadeiro espírita tende a ser um pobre rico. Os espíritas vaidosos, orgulhosos, que adotam o lema do “custe o que custar”, tendem a ser ricos pobres. Nenhum espírita convicto, nenhum médium verdadeiro, nenhum teórico da doutrina pode ou, ao menos, deve discrepar dessa realidade na qual seu perfil de espiritista e espiritualista está traçado.

Se preferirem uma posição mais encorpada de adeptos espíritas, não completamente desafetos de poucas e específicas alternativas de custeio a eventos espíritas, creio que a posição adotada pela Federação Espírita do Paraná seja, plenamente, aceitável.

Nada além disso, sob pena de desconstruirmos, aos poucos, o Espiritismo no Brasil. Nossos crentes podem vir a se transformar em descrentes.

Estejamos, pois, de prontidão para agir contra idéias que denigram a pureza doutrinária espírita, pois atrás de nós vêm nossos herdeiros, a enfrentar um mundo em momentos de grande e maior inquietação moral, e, para esse enfrentamento, deverão estar bem apoiados na fé raciocinada, ou seja, na Doutrina Espírita, única com texto religioso, filosófico e científico capaz de elevar as consciências em desajuste a planos superiores.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O CLONE HUMANO É UMA UTOPIA PATÉTICA? ALGUMAS ANOTAÇÕES KARDECISTAS




A clonagem humana é defensável? Eis a questão! O assunto é intrigante e impõe debate mais amplo. Não há respostas definitivas para o problema. Qual a melhor atitude bioética diante dela? A resposta não é fácil. O tema ainda é assustador, todavia, invariavelmente, será uma prática rotineira nos séculos futuros, atendendo a cuidadoso planejamento que envolverá Espíritos encarnados e desencarnados. Atualmente, é complexo o assunto, por isso, suscita problemas e dúvidas.
Para alguns, o clone (1) humano é uma utopia patética. Para os estressados, há um certo delírio que faz com que algumas pessoas pensem na possibilidade de se criarem indivíduos descerebrados na clonagem e depois armazenados para transplantes de órgãos. É uma sandice! Isso não nos deve preocupar. Outros acreditam que podem interferir no gene, no DNA e retirar a sensibilidade para fazerem indivíduos, totalmente, imunes à dor, mas, em verdade, isso não passa de "ciência-ficção. Contudo, “a busca de conhecimento é característica fundamental do Homem, ainda que muitas vezes proceda como um aprendiz de feiticeiro, sem domínio sobre suas próprias conquistas, em virtude de seu subdesenvolvimento moral.” (2)
O geneticista Panayiotis Zavos tem, insistentemente, afirmado que implantou 11 embriões clonados em quatro mulheres e crê que, se ampliar os esforços atuais, poderá chegar ao primeiro bebê clonado em um ano ou dois. Para algumas autoridades, o procedimento de Zavos é um “brutal desvio de ciência genética”, por isso, o método é ilegal em vários países. Há alguns anos, Panayiotis não apresentou qualquer evidência da técnica e foi condenado como “irresponsável” por dar falsas esperanças a mulheres que não podiam ter filhos.
Considerando-se que há um descarte de gigantesca quantidade de embriões, o método é, ainda, algo muito arriscado. A cada 100 tentativas, no mínimo 95 não prosperarão, deixando um rastro de abortos e mortes de gestantes; as cinco gestações que, eventualmente, prosperarem, provavelmente, não garantirão vida saudável para os clones, a começar pelo previsível envelhecimento celular precoce.
Os métodos, ainda, estão muito distantes de êxito real; há, ainda, muito espaço a percorrer, haja vista os impedimentos éticos e legais que obstam os experimentos. Contudo, chegará o dia em que a clonagem será factível. Se não hoje, sem dúvida alguma no futuro. Os espíritas sabem que é o Espírito que dá vida inteligente ao corpo. Se um corpo humano for clonado a partir de uma célula de alguém já desencarnado, certamente será designado um Espírito para dar vida àquele corpo, mas é pouco provável que seja o do doador da célula. Mesmo que fosse o Espírito deste, seria uma nova vida e com nova missão. A vida não se repete.
Os clones já existem de forma natural. Os gêmeos univitelinos, por exemplo, são uma clonagem da Natureza. Nesse caso, só um óvulo dará origem a dois seres, geneticamente, idênticos, mas com impressões digitais diferentes. São idênticos no ponto de vista genotípico, porque têm a mesma carga genética, mas não são iguais quanto à fenotipia. Um corpo poderá ser clonado perfeitamente igual, contudo, não se pode realizar o mesmo com a personalidade, raciocínio, lucidez e outros itens psicológicos, porque são do espírito. Na clonagem de seres humanos, teremos uma cópia de gens, absolutamente igual. Mas, quanto à sua personalidade, caráter, inteligência, índole, e tudo o que distingue um ser humano de outro, será, invariavelmente, diferente, guardando conformidade com o estágio evolutivo e a maneira de ser do Espírito reencarnante.
Toda criança que vive “após o nascimento, tem, forçosamente, encarnado em si um Espírito, do contrário, não seria um ser humano”. (3) Assim, se a clonagem humana for sucesso, certamente, não produzirá robôs, mas seres autênticos. Pode o homem manipular óvulos e espermatozóides, mas jamais poderá determinar que alma irá habitar em um eventual clone. Nenhum pesquisador poderá “escolher” a alma que irá habitar no resultado de uma clonagem humana reprodutiva.
Se nos basearmos, apenas, na palavra clonagem, nada encontraremos em Kardec, especificamente. Mas, com o Codificador, sem a menor dificuldade, deduzimos o quanto o Espiritismo tem de sabedoria, no seu tríplice aspecto de Ciência, Filosofia e Religião: os desdobramentos científicos, filosóficos e religiosos da clonagem lá estão. “Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará” (4)
O Livro dos Espíritos esclarece que na reencarnação o “espírito se une ao corpo no momento da concepção, isto é, no instante da formação do zigoto ou célula-ovo.” (5) Segundo o Gênio de Lyon “essa célula inicial exerce sobre o espírito uma atração tão irresistível, que ele, geralmente, une-se a ela, instantaneamente, através de “um laço fluídico” do seu perispírito ou corpo sutil.”(6) André Luiz descreve “o instante da concepção ou fertilização como sendo o das primeiras movimentações do espírito na matéria, quando começa, então, a estruturar o novo corpo. Ele atua sobre a célula-ovo como um vigoroso modelo, como se fosse um ímã entre limalhas de ferro.” (7)
Não há como duvidar que chegará o momento em que a genética encontrará recurso para clonar o ser humano, mas quando isso for possível, evidentemente o espírito reencarnará. Quando a ciência conseguir meios que facultem a reencarnação, o espírito se fará presente. Observemos que a fecundação "In Vitro" substituiu perfeitamente o organismo humano. Detalhe: Kardec não confirma que, apenas, no momento da fecundação o espírito pode se unir ao corpo. Ele afirma que no momento da fecundação isso ocorre, mas não somente neste. Este raciocínio deve ser aplicado caso a clonagem humana seja fatível.
A reprodução humana, certamente, passará por mudanças consideráveis ao longo dos próximos séculos, por isso, não devemos nos surpreender com a clonagem reprodutora (8) e mesmo com as gestações em ambientes extra-uterinos. Destarte, novos conhecimentos espíritas precisam ser incorporados à Doutrina sobre um momento alternativo que o Espírito possa se unir ao corpo. Também, entendemos que o fato de a fecundação se dar fora do útero, em nada interferirá no processo de encarnação, pois este ovo gerado será implantado no útero materno e se desenvolverá normalmente.
Para os especialistas espíritas, as indagações bioéticas continuam em aberto, aguardando progressos tecnológicos na área da pesquisa espiritual e, sobretudo, avanços humanos, no campo do amor e da misericórdia. Portanto, a clonagem humana será importante quando a Ciência estiver iluminada pelo conhecimento do espírito e trabalhando pelo engrandecimento espiritual da Humanidade.

Jorge Hessen
http://jorgehessen.net
jorgehessen@gmail.com


FONTES:
(1) A palavra clone, tem origem etimológica grega – klón – que significa broto, ramo. O clone é um ser VIVO, que tem a mesma constituição genética de outro; é o “broto” da planta que, ao ser destacado, pode se desenvolver como a planta-mãe.
(2) Simonetti , Richard. Reencarnação: Tudo o que você precisa Saber, Bauru-SP: Editora: CEAC, 2001
(3) Kardec, Allan. Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed FEB, 1991, perg 356
(4) Kardec, Allan. A Gênese, Rio de Janeiro: Ed FEB, 1978, cap. 55
(5) Kardec, Allan. Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed FEB, 1991, perg 344
(6) Kardec, Allan. A Gênese, Rio de Janeiro: Ed FEB, 1978, cap. 11
(7) )Xavier, Francisco Cândido. Missionários da Luz, ditado pelo espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1992, cap. 13
(8) Alguns espíritas defendem que a utilização dos métodos de clonagem deve ser exclusivamente para fins terapêuticos, jamais, reprodutivos.

Leia mais: http://jorgehessenestudandoespiritismo.blogspot.com/#ixzz0kRRYnDRT

sexta-feira, 2 de abril de 2010

DOUTRINA ESPÍRITA TRES ARTIGOS DE ROBERTO CURY





DOUTRINA ESPÍRITA

Roberto Cury

robcury@hotmail.com

PRIMEIRO ARTIGO
MEDIUNIDADE A SERVIÇO DO BEM

Tinham acabado de sair de mais uma reunião mediúnica na Casa Espírita, lá nos sertões de Pernambuco, quando travaram esse diálogo.

- Quem me dera ter mediunidade, disse Thiago para o seu companheiro de Doutrina na Casa Espírita, depois de uma reunião mediúnica. O outro, dedicado na Seara Bendita, era Hércules, humilde e sincero crente que jamais faltara a um culto evangélico ou às reuniões de evangelização dos adultos. Frequentava, também, com a sua humildade a Mesa por onde desfilavam espíritos necessitados todas as noites das terças-feiras.

Hércules sorriu e perguntou: - o irmão acha que não tem mediunidade?

- Acho sim, irmão. Do jeito que chego, eu saio. Nenhum espírito me usa pra nada! Só sei que me dá um sono e aí eu durmo. Quando acordo, o Presidente já está fazendo a prece de encerramento. Depois, ninguém comenta nada comigo. Assim eu perco toda a reunião. Sinto que não estou aproveitando bem o tempo, tornando-me um mau espírita, dormindo durante as reuniões mediúnicas. Tem vezes, continuou Thiago, quando estou transmitindo passe que chego a dormir em pé, como as galinhas e os galos quando tiram um cochilo durante o dia sem subirem no poleiro.

Hércules sorriu levemente e abraçando o companheiro, afirmou: - pois o irmão é um dos melhores médiuns que já vi atuar nas Casas Espíritas pelas quais já passei até “assentar praça” aqui neste Centro Espírita, tão acolhedor.

Thiago assustou-se: - O que? Como o irmão pode dizer um absurdo desses depois que eu confessei que durmo o tempo todo?

Novamente, Thiago: - pois o irmão não dorme, entra em transe.

- Como é que é? Transe?

- Sim, transe e como o irmão é médium inconsciente, não deve se lembrar de nada. E acrescentou: - o irmão nunca se deu conta de que recebe espíritos todas as vezes em que está presente nas reuniões?

- Tu ta ficando doido, é? Como recebo espíritos se estou dormindo e nem lembro de sonho?

- Essa é uma qualidade do médium inconsciente. Ele não se lembra de nada e se alguém lhe conta sobre a sua atuação, ele estranha e depois não consegue se recordar do acontecido porque os pensamentos que lhe ocuparam a cabeça, durante a manifestação, não foram dele, só do espírito. Por isso o médium não tem gravado no seu cérebro nada do que aconteceu. Importante é que ele serviu na Seara de Jesus fazendo o bem sem olhar a quem.

Thiago ficou estupefato e aturdido não sabia o que falar. Rapidamente, passou por seus introspectivos escaninhos mentais, os mais desencontrados pensamentos, mas, lembrou-se de quantas vezes estava estudando alguma obra espírita vindo-lhe idéias diferentes daquilo que lia e então buscava o Evangelho Segundo o Espiritismo, ou O Livro dos Espíritos ou O Livro dos Médiuns. Veio-lhe à mente que também consultava A Gênese, O Céu e o Inferno e até Obras Póstumas. Uma pontada na cabeça indicou-lhe que ansiava por ler os fascículos da Revista de Estudos Espíritas de Kardec que a Biblioteca da Casa mostrava enfileirados na prateleira mais alta, mas, que ainda não tivera coragem de pedir por empréstimo porque eram tantos que nem sabia por onde começar e morria de vergonha de admitir. Foi quando ouviu uma voz dentro do seu cérebro: “deixa de ser orgulhoso, a mediunidade para se boa deve ser instruída e lá na Revista Espírita você irá encontrar casos muito especiais para o seu desenvolvimento cada vez maior”.

De si para si mesmo, naquele instante, Thiago jurou que, no dia seguinte, iria consultar a bibliotecária, a irmã Ana Cláudia sobre qual fascículo deveria ser o primeiro a ser lido

e estudado, afinal o Espírito de Verdade já advertira: “Espíritas amai-vos uns aos outros e instruí-vos”. E, como todo ensinamento do Espírito de Verdade sempre teve a marca do amor, da justiça e da caridade, Thiago estava consciente de que assim estaria trilhando o caminho do Bem e se o irmão Hércules estava dizendo que ele era um médium inconsciente, precisava, então, estudar um pouco mais sobre esse assunto.

Seus pensamentos foram interrompidos por Hércules que sentenciou: - a mediunidade inconsciente é muito bonita, mas, é, também, a mais perigosa, pois se o médium não tiver educação mediúnica e deixar de controlar suas ações e até mesmo o comportamento dos espíritos que se manifestarem através dele, poderá se tornar obsidiado e colocar tudo a perder.

- Mas, o irmão é estudioso e sério, com certeza sempre se utilizará da mediunidade somente para o Bem.

Thiago, sorriu, alegre, afirmando: - podes ter certeza irmão Hércules. Agora que sei que tenho faculdades inconscientes vou estudar mais e me dedicar somente ao Bem que o Amado Mestre Jesus nos ensinou.

Então, abraçaram-se felizes e dando boa noite, cada um seguiu para o seu lar. (24/03/2010).



SEGUNDO ARTIGO
PARA VENCER É PRECISO TER SORTE



A pedagoga, escritora e conferencista Heloisa Pires, filha de José Herculano Pires, “o melhor metro que mediu Kardec”, no século passado e que, por isso, alguns dizem ter sido ele a reencarnação do grande Mestre de Lion, afirma: “todos nascemos para a vitória”.

Édo Mariani, do Movimento Espírita de Matão – SP: “Fomos criados para sermos felizes”.

Vitória é subjetiva e felicidade, impalpável.

Vitória e felicidade têm de estar juntas para obtenção do sucesso nas empreitadas da vida material e para a conquista das qualidades necessárias para a Vida Espiritual.

E a sorte?

Muitos dizem que não existe sorte e muito menos azar.

Pois eu digo que é preciso ter sorte para a felicidade e para vencer as paradas surgidas em cada encarnação.

- Caramba!, admira-se um dos leitores que conhece muito bem o conceito de que nada existe por acaso e de que tudo acontece por alguma razão.

Azar? Também não acredito nele porque seria fruto do acaso bem como a negação da Existência e da Justiça de Deus, nosso Criador.

Sorte? Sim, sorte.

S = Suor. Tudo neste Mundão de Deus depende do suor dos poros do corpo humano para a conquista das coisas, garantidoras da sobrevivência da espécie. Nada se consegue ao som de flautas. Todas as ações exigem a firmeza, a constância, o desprendimento, a fortaleza, a coragem, o denodo.

O = Organização. Tudo o que a humanidade faz, deve obedecer a uma ordem natural das coisas. O caos conduz às confusões, às incúrias, às maluquices, às intemperanças, à baderna, ao desequilíbrio. O planejamento, o preparo, o treinamento e a execução são componentes indispensáveis, dessa ordem, para que os objetivos sejam atingidos e os resultados positivos apareçam. E essa organização vitoriosa chega pela moral, pelos bons costumes, pela perseverança nos caminhos do Bem.

R = Resignação. Ninguém chega à vitória no lanço inicial, nem na escaramuça de começo, muito menos na primeira tentativa. Todas as derrotas, as negativas, os fracassos, os insucessos, não podem desanimar aquele que busca conquistar a felicidade de vencer, ou a vitória da felicidade. É preciso resignação e persistência. A resignação relaciona-se com a compreensão e com a submissão à grandeza da vida e a persistência está diretamente ligada à sabedoria e à alegria de jamais desistir das empreitadas até à conquista final da vitória.

T = Trabalho. O trabalho não se resume apenas nos esforços físico e mental despendidos em cada tarefa. O trabalho deve ser digno, envolver a honra, exercido com serenidade, com a certeza de que vale a pena, nutrido na alegria dos bens produzidos e na satisfação da colheita de frutos edificantes e realizadores.

E = Estudo. Suor, Organização, Resignação e Trabalho somente são conseguidos com o Estudo. Ou, por outras palavras, se o homem não busca o Estudo, não terá resignação diante dos erros cometidos, ou frente aos maus resultados. Da mesma forma, jamais o homem poderá se organizar porque não conhece os caminhos e os meandros que compõem as pesquisas nem as missões desejadas pela falta de horizontes que só o Estudo é capaz de fornecer. Se lhe faltam as bases fundadas no Estudo, inútil todo o seu Suor e infeliz o Trabalho despendido que se arrebentará nas dificuldades que o tempo e as circunstâncias se lhe opuseram.

Então é preciso ter SORTE (Suor, Organização, Resignação, Trabalho e Estudo) para vencer a jornada terrena tanto quanto à vida material e principalmente pela conquista dos valores espirituais que elevam o espírito à condição de Vencedor. (09/04/2009).



TERCEIRO ARTIGO

SOFRER É UMA QUESTÃO PESSOAL

Ele chegou pela primeira vez na Casa Espírita. Sorridente, calmo, diria alegre. Parecia que nenhum problema o afetava. Disse que seu nome era Luiz Antonio e que tinha um irmão chamado José Augusto. Logo em seguida, contou essa história interessante.

“Meu pai sempre foi um católico dedicado. Estudioso, leu alguns livros espíritas de fundo filosófico e moral, mas nenhuma obra da Codificação. Assim, não chegou a conhecer os fundamentos básicos da Doutrina dos Espíritos. Desencarnou em 1985, 3 dias após a morte de Tancredo Neves. Em novembro de 1982, ainda se encontrava entre nós e alguns dias antes da desencarnação de Carlinhos, filho de meu irmão, trocava conversa com um grande amigo que até hoje meu irmão considera como um segundo pai e que, também, não é versado na Doutrina Espírita. Perguntou-lhe: - Professor (o amigo de meu irmão foi professor no interior de Goiás), não entendo esse menino meu filho, o Zé Augusto. Aconteceram tantas coisas com ele: morte do sogro, doença prolongada e morte da esposa, agora o filho Carlinhos com essa doença terrível que é o câncer. Mesmo assim, diante de tudo isso, ele está sempre sério. Qualquer um estaria chorando pelos cantos ou vociferando contra Deus. O Zé nunca reclamou de nada, nem de cansaço. Por que será?

O segundo pai respondeu: - Sêo Nicomedes, conheço o Zé Augusto a muitos anos e também nunca ouvi qualquer reclamo dele. Está sempre alegre, sorridente como se o mundo estivesse isento de problemas, com todas as pessoas vivendo em paz e harmonia. Uma vez perguntei-lhe por que ele estava sempre assim, por que eu não o tinha visto chorar nunca. Ele me disse que chorava sim, que era emotivo. Que mais parecia uma manteiga derretida. Então insisti pra ele contar-me porque parecia ver o mundo cor-de-rosa, se ele não sofria com a dor. Ele me respondeu que não sofria. Que tinha compreendido, com o passar dos anos que tudo que aconteceu ou acontecia na vida dele foram e eram bênçãos de Deus pra que ele progredisse na sua encarnação, ficando mais perto dos bons espíritos. Então você é frio? Insensível – insisti. Ele, novamente, “não, sou como qualquer outra pessoa só que não sofro porque compreendo que sofrimento pode ser confundido com egoísmo. Que Deus poderia pensar – dei tantas oportunidades pro Zé Augusto progredir e ele fica choramingando pelos cantos como um bebê abandonado! E completou, sêo Nicomedes – “aprendi que a gente sofre como quer, quanto quer e pelo tempo que quiser”. Então concluí: pra que sofrer?”

Pois foi assim sêo Nicomedes.

Luiz Antonio sorriu e contou que, recentemente, encontrou Zé Augusto e foi logo dizendo que o admirava como seu ídolo, pois era pobre e nunca reclamara de nada, nem de ninguém, estava sempre de alto astral. Zé Antonio, então, comovido, chorou, sereno, enquanto lágrimas escorreram pela face.

Luiz Antonio continua freqüentando a Casa Espírita. É calado, raramente, interrompe os coordenadores das reuniões públicas pra perguntar alguma coisa. Não parece agoniado, mas, sequioso de aprendizado. De vez em quando conta alguma coisa a respeito de Zé Augusto, sempre muito interessante, como se seu irmão nunca demonstrasse sofrimento ou que sofrer seja uma questão pessoal – só sofre quem quer, como quer, quanto quer e durante o tempo que quiser.