DOUTRINA ESPÍRITA TRES ARTIGOS DE ROBERTO CURY
DOUTRINA ESPÍRITA
Roberto Cury
robcury@hotmail.com
Tinham acabado de sair de mais uma reunião mediúnica na Casa Espírita, lá nos sertões de Pernambuco, quando travaram esse diálogo.
- Quem me dera ter mediunidade, disse Thiago para o seu companheiro de Doutrina na Casa Espírita, depois de uma reunião mediúnica. O outro, dedicado na Seara Bendita, era Hércules, humilde e sincero crente que jamais faltara a um culto evangélico ou às reuniões de evangelização dos adultos. Frequentava, também, com a sua humildade a Mesa por onde desfilavam espíritos necessitados todas as noites das terças-feiras.
Hércules sorriu e perguntou: - o irmão acha que não tem mediunidade?
- Acho sim, irmão. Do jeito que chego, eu saio. Nenhum espírito me usa pra nada! Só sei que me dá um sono e aí eu durmo. Quando acordo, o Presidente já está fazendo a prece de encerramento. Depois, ninguém comenta nada comigo. Assim eu perco toda a reunião. Sinto que não estou aproveitando bem o tempo, tornando-me um mau espírita, dormindo durante as reuniões mediúnicas. Tem vezes, continuou Thiago, quando estou transmitindo passe que chego a dormir em pé, como as galinhas e os galos quando tiram um cochilo durante o dia sem subirem no poleiro.
Hércules sorriu levemente e abraçando o companheiro, afirmou: - pois o irmão é um dos melhores médiuns que já vi atuar nas Casas Espíritas pelas quais já passei até “assentar praça” aqui neste Centro Espírita, tão acolhedor.
Thiago assustou-se: - O que? Como o irmão pode dizer um absurdo desses depois que eu confessei que durmo o tempo todo?
Novamente, Thiago: - pois o irmão não dorme, entra em transe.
- Como é que é? Transe?
- Sim, transe e como o irmão é médium inconsciente, não deve se lembrar de nada. E acrescentou: - o irmão nunca se deu conta de que recebe espíritos todas as vezes em que está presente nas reuniões?
- Tu ta ficando doido, é? Como recebo espíritos se estou dormindo e nem lembro de sonho?
- Essa é uma qualidade do médium inconsciente. Ele não se lembra de nada e se alguém lhe conta sobre a sua atuação, ele estranha e depois não consegue se recordar do acontecido porque os pensamentos que lhe ocuparam a cabeça, durante a manifestação, não foram dele, só do espírito. Por isso o médium não tem gravado no seu cérebro nada do que aconteceu. Importante é que ele serviu na Seara de Jesus fazendo o bem sem olhar a quem.
Thiago ficou estupefato e aturdido não sabia o que falar. Rapidamente, passou por seus introspectivos escaninhos mentais, os mais desencontrados pensamentos, mas, lembrou-se de quantas vezes estava estudando alguma obra espírita vindo-lhe idéias diferentes daquilo que lia e então buscava o Evangelho Segundo o Espiritismo, ou O Livro dos Espíritos ou O Livro dos Médiuns. Veio-lhe à mente que também consultava A Gênese, O Céu e o Inferno e até Obras Póstumas. Uma pontada na cabeça indicou-lhe que ansiava por ler os fascículos da Revista de Estudos Espíritas de Kardec que a Biblioteca da Casa mostrava enfileirados na prateleira mais alta, mas, que ainda não tivera coragem de pedir por empréstimo porque eram tantos que nem sabia por onde começar e morria de vergonha de admitir. Foi quando ouviu uma voz dentro do seu cérebro: “deixa de ser orgulhoso, a mediunidade para se boa deve ser instruída e lá na Revista Espírita você irá encontrar casos muito especiais para o seu desenvolvimento cada vez maior”.
De si para si mesmo, naquele instante, Thiago jurou que, no dia seguinte, iria consultar a bibliotecária, a irmã Ana Cláudia sobre qual fascículo deveria ser o primeiro a ser lido
e estudado, afinal o Espírito de Verdade já advertira: “Espíritas amai-vos uns aos outros e instruí-vos”. E, como todo ensinamento do Espírito de Verdade sempre teve a marca do amor, da justiça e da caridade, Thiago estava consciente de que assim estaria trilhando o caminho do Bem e se o irmão Hércules estava dizendo que ele era um médium inconsciente, precisava, então, estudar um pouco mais sobre esse assunto.
Seus pensamentos foram interrompidos por Hércules que sentenciou: - a mediunidade inconsciente é muito bonita, mas, é, também, a mais perigosa, pois se o médium não tiver educação mediúnica e deixar de controlar suas ações e até mesmo o comportamento dos espíritos que se manifestarem através dele, poderá se tornar obsidiado e colocar tudo a perder.
- Mas, o irmão é estudioso e sério, com certeza sempre se utilizará da mediunidade somente para o Bem.
Thiago, sorriu, alegre, afirmando: - podes ter certeza irmão Hércules. Agora que sei que tenho faculdades inconscientes vou estudar mais e me dedicar somente ao Bem que o Amado Mestre Jesus nos ensinou.
Então, abraçaram-se felizes e dando boa noite, cada um seguiu para o seu lar. (24/03/2010).
A pedagoga, escritora e conferencista Heloisa Pires, filha de José Herculano Pires, “o melhor metro que mediu Kardec”, no século passado e que, por isso, alguns dizem ter sido ele a reencarnação do grande Mestre de Lion, afirma: “todos nascemos para a vitória”.
Édo Mariani, do Movimento Espírita de Matão – SP: “Fomos criados para sermos felizes”.
Vitória é subjetiva e felicidade, impalpável.
Vitória e felicidade têm de estar juntas para obtenção do sucesso nas empreitadas da vida material e para a conquista das qualidades necessárias para a Vida Espiritual.
E a sorte?
Muitos dizem que não existe sorte e muito menos azar.
Pois eu digo que é preciso ter sorte para a felicidade e para vencer as paradas surgidas em cada encarnação.
- Caramba!, admira-se um dos leitores que conhece muito bem o conceito de que nada existe por acaso e de que tudo acontece por alguma razão.
Azar? Também não acredito nele porque seria fruto do acaso bem como a negação da Existência e da Justiça de Deus, nosso Criador.
Sorte? Sim, sorte.
S = Suor. Tudo neste Mundão de Deus depende do suor dos poros do corpo humano para a conquista das coisas, garantidoras da sobrevivência da espécie. Nada se consegue ao som de flautas. Todas as ações exigem a firmeza, a constância, o desprendimento, a fortaleza, a coragem, o denodo.
O = Organização. Tudo o que a humanidade faz, deve obedecer a uma ordem natural das coisas. O caos conduz às confusões, às incúrias, às maluquices, às intemperanças, à baderna, ao desequilíbrio. O planejamento, o preparo, o treinamento e a execução são componentes indispensáveis, dessa ordem, para que os objetivos sejam atingidos e os resultados positivos apareçam. E essa organização vitoriosa chega pela moral, pelos bons costumes, pela perseverança nos caminhos do Bem.
R = Resignação. Ninguém chega à vitória no lanço inicial, nem na escaramuça de começo, muito menos na primeira tentativa. Todas as derrotas, as negativas, os fracassos, os insucessos, não podem desanimar aquele que busca conquistar a felicidade de vencer, ou a vitória da felicidade. É preciso resignação e persistência. A resignação relaciona-se com a compreensão e com a submissão à grandeza da vida e a persistência está diretamente ligada à sabedoria e à alegria de jamais desistir das empreitadas até à conquista final da vitória.
T = Trabalho. O trabalho não se resume apenas nos esforços físico e mental despendidos em cada tarefa. O trabalho deve ser digno, envolver a honra, exercido com serenidade, com a certeza de que vale a pena, nutrido na alegria dos bens produzidos e na satisfação da colheita de frutos edificantes e realizadores.
E = Estudo. Suor, Organização, Resignação e Trabalho somente são conseguidos com o Estudo. Ou, por outras palavras, se o homem não busca o Estudo, não terá resignação diante dos erros cometidos, ou frente aos maus resultados. Da mesma forma, jamais o homem poderá se organizar porque não conhece os caminhos e os meandros que compõem as pesquisas nem as missões desejadas pela falta de horizontes que só o Estudo é capaz de fornecer. Se lhe faltam as bases fundadas no Estudo, inútil todo o seu Suor e infeliz o Trabalho despendido que se arrebentará nas dificuldades que o tempo e as circunstâncias se lhe opuseram.
Então é preciso ter SORTE (Suor, Organização, Resignação, Trabalho e Estudo) para vencer a jornada terrena tanto quanto à vida material e principalmente pela conquista dos valores espirituais que elevam o espírito à condição de Vencedor. (09/04/2009).
Ele chegou pela primeira vez na Casa Espírita. Sorridente, calmo, diria alegre. Parecia que nenhum problema o afetava. Disse que seu nome era Luiz Antonio e que tinha um irmão chamado José Augusto. Logo em seguida, contou essa história interessante.
“Meu pai sempre foi um católico dedicado. Estudioso, leu alguns livros espíritas de fundo filosófico e moral, mas nenhuma obra da Codificação. Assim, não chegou a conhecer os fundamentos básicos da Doutrina dos Espíritos. Desencarnou em 1985, 3 dias após a morte de Tancredo Neves. Em novembro de 1982, ainda se encontrava entre nós e alguns dias antes da desencarnação de Carlinhos, filho de meu irmão, trocava conversa com um grande amigo que até hoje meu irmão considera como um segundo pai e que, também, não é versado na Doutrina Espírita. Perguntou-lhe: - Professor (o amigo de meu irmão foi professor no interior de Goiás), não entendo esse menino meu filho, o Zé Augusto. Aconteceram tantas coisas com ele: morte do sogro, doença prolongada e morte da esposa, agora o filho Carlinhos com essa doença terrível que é o câncer. Mesmo assim, diante de tudo isso, ele está sempre sério. Qualquer um estaria chorando pelos cantos ou vociferando contra Deus. O Zé nunca reclamou de nada, nem de cansaço. Por que será?
O segundo pai respondeu: - Sêo Nicomedes, conheço o Zé Augusto a muitos anos e também nunca ouvi qualquer reclamo dele. Está sempre alegre, sorridente como se o mundo estivesse isento de problemas, com todas as pessoas vivendo em paz e harmonia. Uma vez perguntei-lhe por que ele estava sempre assim, por que eu não o tinha visto chorar nunca. Ele me disse que chorava sim, que era emotivo. Que mais parecia uma manteiga derretida. Então insisti pra ele contar-me porque parecia ver o mundo cor-de-rosa, se ele não sofria com a dor. Ele me respondeu que não sofria. Que tinha compreendido, com o passar dos anos que tudo que aconteceu ou acontecia na vida dele foram e eram bênçãos de Deus pra que ele progredisse na sua encarnação, ficando mais perto dos bons espíritos. Então você é frio? Insensível – insisti. Ele, novamente, “não, sou como qualquer outra pessoa só que não sofro porque compreendo que sofrimento pode ser confundido com egoísmo. Que Deus poderia pensar – dei tantas oportunidades pro Zé Augusto progredir e ele fica choramingando pelos cantos como um bebê abandonado! E completou, sêo Nicomedes – “aprendi que a gente sofre como quer, quanto quer e pelo tempo que quiser”. Então concluí: pra que sofrer?”
Pois foi assim sêo Nicomedes.
Luiz Antonio sorriu e contou que, recentemente, encontrou Zé Augusto e foi logo dizendo que o admirava como seu ídolo, pois era pobre e nunca reclamara de nada, nem de ninguém, estava sempre de alto astral. Zé Antonio, então, comovido, chorou, sereno, enquanto lágrimas escorreram pela face.
Luiz Antonio continua freqüentando a Casa Espírita. É calado, raramente, interrompe os coordenadores das reuniões públicas pra perguntar alguma coisa. Não parece agoniado, mas, sequioso de aprendizado. De vez em quando conta alguma coisa a respeito de Zé Augusto, sempre muito interessante, como se seu irmão nunca demonstrasse sofrimento ou que sofrer seja uma questão pessoal – só sofre quem quer, como quer, quanto quer e durante o tempo que quiser.
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