“A Esperança na vida versus a cultura do medo”
“Há tanto tempo estou convosco, e tu não me tens conhecido?” [1]
Há tempos os manuais da psicologia
humana registram um sintoma comum a grande parte dos homens, o medo.
De
onde vem o sentimento do medo? Por que temos medo de sentir medo? O que desperta
a inquietação na alma ante o perigo, até mesmo imaginário?
Questiona-se apenas o medo comum, o “medo
nosso de cada dia” e não o medo sintomático, o medo patológico, o pânico fóbico
sob um cortejo de desordens psicossomáticas.
Grandes personagens da humanidade admitem que têm
medos ou já passaram por situações que desencadearam fobias importantes,
atrofiantes e limitantes.
A cultura do medo obstrui a espontaneidade humana,
impedindo o homem de viver sem as persistentes repressões delimitadoras da
liberdade relativa. Temos medos das misteriosas circunstâncias do porvir. Receamos
falar, ouvir, pensar, aproximar, sentir. São pavores incompreensíveis que sequer
ousamos buscar as explicações razoáveis. Em face disso, atrofiamos os sentidos sob
o jugo do temor.
Internalizamos até mesmo o receio de outrem. Atemorizamo-nos
ante os assaltos, os sequestros relâmpagos, os projeteis “perdidos”, a ameaça
da enfermidade, a contaminação por um vírus, dentre outros. Ficamos ruborizados
diante do “estouro” do cheque especial, tememos trajar os vestuários mais
simples a fim de escapar da crítica alheia. Intimidamo-nos diante da probabilidade
de errar, tememos viver e nos assombramos diante da morte.
Somos assim, seres amedrontados diante das
críticas, preferimos passar uma vida inteira no anonimato a nos arriscar a uma
situação que nos colocaria em evidência.
Entretanto, se o ditado popular profere: filho de
peixe, peixinho é, então devemos, por convicção, entender que filho de Deus... grandioso
é. Somos isso! Grandiosos e capazes de nos livrar dos medos, dos preconceitos,
do egoísmo, do orgulho, enfim, dos terrores limitantes a fim de superar as fragilidades
e deficiências psicológicas diante das vindouras experiências.
A cultura do medo é instalada desde o berço, observemos:
quando embalamos nossos filhos para niná-los, cantamos as cantigas: “boi-da-cara-preta”, “nana nenê que a cuca vem pegar”, desde pequenos somos
educados, condicionados, consciente ou inconscientemente, que devemos temer
algo, alguém ou alguma coisa. Tememos até mesmo o Criador da vida, pois o temor
a Deus sempre foi ensinado em algumas culturas.
Mas não é esse o sentido da vida, deveríamos propor,
desde o berço, a prudência eivada de esperanças, confianças, afetos e coragens,
pois recordemos que filho de Deus... grandioso é!
Somos criaturas com incomensurável potencial
afetivo. Basta acionarmos o start para potencializarmos o amor, a vida, e o encanto pelas
coisas, pelas pessoas, para esse desiderato basta encontrarmos um caminho de
equilíbrio para que a vida tenha maior significação.
A cultura do medo deve ser banida da sociedade,
assim como a corrupção, a ironia, a desvalorização do ser humano.
Não é esse um ponto de vista ingênuo, romântico, e
utópico, mas uma concepção essencialmente corajosa, próspera e idealista. Vale
a pena investir nos princípios, crenças, conceitos, valores e atitudes do ser
humano, um ente incrível, admirável e curioso na essência.
A cultura da esperança principia no direito à liberdade,
no sorriso amistoso, no gesto de confiança e no aceno de parceria.
A teoria de Erickson, psiquiatra norte-americano,
pesquisador da neurolinguística e métodos de trabalho, revela que “nos
primeiros meses de vida, o bebê adquire a confiança ou o medo que perdurarão
pela vida toda”, assim sendo a criança maltratada cresce rancorosa e agressiva.
Humilhada, acumula sentimento de culpa, revolta e inferioridade e lembrem-se
que no futuro serão adultos e essas características poderão acompanhá-la.
Quando instalamos a cultura da esperança e tratamos
com justiça e afeto nossas crianças, elas desenvolvem o respeito, a confiança,
o sentimento de amizade, aprende a gostar de si e dos outros e são muito
afetuosas.
Falar em esperança é alimentar a confiança de que algo bom acontecerá,
é acreditar que somos capazes e podemos mudar nossas histórias. Muitos desejariam
mutilar os nossos sonhos, enlameando nossa história sob as infaustas auras das
corrupções, escândalos e despautérios, entretanto urge acreditar que é chegado
o momento da transição, em que a esperança subjuga o medo e não se pode mais arruinar
a esperança da criatura que aprendeu a receber os medos, adversidades e
pluralidades. Somos grandiosos e não podemos desistir nunca.
Nos paradoxos da vida quando jovens perdemos a
saúde correndo atrás do dinheiro e na decrepitude consumimos todo o dinheiro
correndo atrás da saúde. Realmente não entendemos a nossa proposta para a vida,
carece-nos a conexão com a esperança!
Não lemos nas bulas dos remédios a inscrição de medicamentos
que alarguem a esperança, porque esse sentimento, por excelência, não se deixa
capturar pelos instrumentos laboratoriais da Terra. Um certo pensador já proferiu: “Se quiser
matar um homem, rouba-lhe a esperança”. O único remédio capaz de acrescer nossa
esperança é aquele que encontramos na intimidade da consciência. Portanto, o
medo não deve ser matriz do nosso insucesso.
A esperança significa luta, expectativa de mudança,
de fé em conseguir o que se deseja. Recusar o abrigo do alento da esperança
em nós mesmos é atitude de clara fraqueza moral.
Redescobrir a avenida do correto sentido da vida é
dar-nos a chance de um futuro intimorato e venturoso e isso é expectativa
positiva e seguramente transitável.
Valorizemos cada momento da vida e optemos pela
melhor circunstância, amando, perdoando, sorrindo, lutando, pois, o amanhã
sempre será um outro dia.
Sejamos felizes nas fronteiras dos merecimentos e
abriguemos a esperança como marca de quem optou pela vitória.
Referência bibliográfica:
1- João 14:9