A força criativa do Movimento Espírita e os seus frutos
“E,
avistando uma figueira perto do caminho, dirigiu-se a ela, e não achou nela
senão folhas. E disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti! E a figueira secou imediatamente.”
[1]
Há séculos as anotações do apóstolo
Mateus tira a paz de muitos estudiosos e pesquisadores das novas escrituras. Descreve-nos
ainda o evangelista que “Jesus entrou no templo de Deus, e expulsou
todos os que vendiam e compravam no templo, e derribou as mesas dos cambistas e
as cadeiras dos que vendiam pombas”.[2] Teria de fato acontecido esse episódio?
Jesus de fato teria feito “secar” a figueira e expulsado os vendilhões do
templo?
Questionamentos como esses são válidos
para que possamos extrair as lições espirituais das anotações que descrevem a
história religiosa de um povo, o seu relacionamento ante as questões humanas e
as percepções em torno das normas de conduta num determinado contexto.
Causa-nos estranheza defrontar com algumas
reflexões que apontam a indignação do mestre perante os cambistas do templo no
período das comemorações consagradas pela tradição, como por exemplo, na
ocasião que antecedia a Páscoa dos judeus.
Será que Jesus se indignava?
Talvez ainda não meditamos a respeito
das diferentes faces de Jesus. A postura
de indignação do Mestre nos revela seu lado enérgico, justo, amoroso e incorruptível.
Postura de quem não se coaduna com as peripécias do mal.
No período da Páscoa judaica os peregrinos
deslocavam-se à Jerusalém com a preocupação de cumprir os rituais de
purificação no Templo e assim ficar nas “graças” de Deus. Ao chegarem, deparavam-se
com imensos balcões de negócios comerciais (feiras), explorados por mercadores e
sacerdotes inescrupulosos, fazendo com que muitos peregrinos não pudessem
cumprir os ritos tradicionais da festa em face da majoração exorbitante do
preço dos animais que eram utilizados para a oferenda do sacrifício.
Jesus nos ensina que é preciso o forte
tomar a defesa do fraco, por isso age de maneira a ensinar, através de um
recurso didático, intitulado na cultura judaica como “parábola de ação” ou “mímica
judaica”. Lição que os homens guardariam na memória. Era comum um profeta
registrar um ensinamento através de “parábolas de ações” ou “mímicas judaica” .
Recursos esses tradicionalmente utilizados pelos profetas do antigo testamento.
Jesus nunca foi condescendente com o
erro. Condescendência é atitude de quem concorda com algo embora tenha vontade
de recusar, mas não o faz por medo, fraqueza ou para manter-se numa zona de
conforto.
O episódio da expulsão dos vendilhões do
templo e a passagem da figueira que secou são representações simbólicas de um
ensinamento, ou seja, Jesus ao verificar que o templo (figueira) não produzia
os frutos da vida e salvação transmite um ensinamento precioso para os homens,
utilizando a “mímica judaica”.
A lição proposta aos discípulos refere-se
que não basta a beleza e a suntuosidade das folhas, mas a árvore tem que
produzir frutos, ou seja, o templo só tinha aparência de sagrado ou de casa de
Deus, porém tornara-se um ambiente improdutivo ou como advertido por Ele “um
covil de ladrões”, [3]desprovido de frutos de amor ,vida e salvação. Ele
ainda reforça que: “Não nasça de ti nenhum fruto” ou seja, para continuar a
reproduzir esses padrões melhor que se extermine com essa estrutura e não reste
pedra sobre pedra.
Jesus tinha fome!
Desejava o Mestre alimentar-se das obras
de Deus. O templo, que era a única árvore do caminho, não estava produzindo o
alimento para as almas, que não mais ignoramos ser o amor.
Entretanto Jesus é visto por nós como o
Filho de Deus, o Messias, o Cordeiro, o Mestre, o Senhor, o Rei ,o Mito! Porém,
no século XIX , Jesus ganha outra característica singular na Terceira Revelação:
a de “Modelo e Guia” da humanidade conforme resposta dos espíritos a Allan
Kardec na questão 625 de O Livro dos Espíritos.[4]
O Movimento Espírita orgulha-se dessa
percepção avançada e verdadeira, mas seria importante refletir se os frutos da
figueira têm alimentado a fome de amor daqueles que procuram os “templos”
(instituições espíritas) com o intuito de saciar–se de abrigo acolhedor ,consolação
,esclarecimento e orientação espiritual.
Preocupar-se com o comércio, oferendas e
sacrifícios simbólicos e ou materiais ainda estão na pauta das aflições
humanas, porém há que se aferir qual o grau de envolvimento com estas questões que
embaraçam o crescimento espiritual.
Não resta dúvida que as folhas da nossa figueira
são exuberantes, porém é ocasião de aferição dos valores morais e época de
saciar nossa fome de amor e consolação. Em verdade, frutos estes que já
deveríamos colher em todas as árvores espalhadas nas hostes espíritas aqui do
Brasil e d’outros países.
Ao longo de décadas o Movimento Espírita
tem contribuído para minorar a fome de pão, as agruras do frio, as agonias da
ignorância espiritual. Reuniões mediúnicas têm aliviado o fardo psicoemocional
de muitas criaturas obsidiadas, atormentadas, desequilibradas.
Campanhas pela fraternidade, pela paz e
pela vida extrapolam as fronteiras do Brasil e multiplicam-se num crescente
clamor pela dignidade humana. Hospitais, sanatórios ,educandários, escolas têm sido
erigidos buscando contribuir para a diminuição do sofrimento atendendo a
demanda aflitiva do momento. Mães, pais e familiares têm se beneficiado com as
psicografias das mensagens advindas dos entes amados que os antecederam na
grande viagem.
Homens da Ciência, da filosofia e da
religião têm doado seu tempo para levar instrução e motivação aos seus pares em
vários lugares do mundo. Em suma, a força criativa do Movimento Espírita é concreta,
apetecedora, profundamente consoladora. É importante que esses frutos de vida e
amor sejam apetitosos e acessíveis a todos.
Com Jesus e Kardec avançaremos rumo à
alvorada de uma Nova Era após a longa madrugada das incoerências religiosas
nutridas pela ignorância espiritual.
Referências bibliográficas:
[1] Mt.
21:19
[2] Mt. 21:12
[3] Mt.
21:13
[4] Kardec
Allan. O Livro dos Espíritos, questão 625, RJ: Ed. FEB, 2002
Jane Maiolo - Professora,
Gestora na Educação Infantil, Psicopedagoga. Psicanalista, Colaboradora da
Sociedade Espírita Allan Kardec de Jales. Pesquisadora dos textos do Evangelho.
Colaboradora da Agenda Brasil Espírita- Jornal O Rebate /Macaé /RJ – Jornal
Folha da Região de Araçatuba/SP -Jornal de Jales–Blog do Bruno Tavares
–Recife/PE - colaboradora do site www.kardecriopreto.com.br- Revista Verdade e
Luz de Portugal, Revista Tribuna Espírita de João Pessoa, Apresentadora dos
Programas Sementes do Evangelho e Evangelho e saúde emocional da Rede Amigo
Espírita. Janemaiolo@bol.com.br -