.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

AUTISMO, BREVE COMENTÁRIO SOB PRISMA KARDECIANO (21.06.09)


AUTISMO, BREVE COMENTÁRIO SOB PRISMA KARDECIANO
(21.06.09)

Há uma teoria para explicar a suposta genética da inteligência. Será que o Autismo (1) é o preço da inteligência, consoante afirma o descobridor da estrutura do DNA James Watson? "Os genes que predisporiam algumas pessoas a habilidades intelectuais elevadas seriam os mesmos que disparam doenças como Autismo, Esquizofrenia e, até, [pasmem!] "burrice". (2) É essa, também, a hipótese de um grupo de pesquisadores da Universidade do Colorado. Watson começou a desenvolver sua hipótese, depois de ter sido o primeiro ser humano a ter o genoma sequenciado. Descobriu que tinha mutações em três genes ligados ao reparo do DNA. "Pessoas com essas mutações tendem a ter filhos especiais" (3) - teoriza Watson - que tem um filho que sofre de uma deficiência cognitiva similar ao autismo, fato esse que não costuma abordar em público, mas que, certamente, teria influenciado suas opiniões sobre o tema. Ele afirmou, certa vez, que a "burrice" é genética e que seria, moralmente, necessário modificar genes humanos para eliminá-la. James já defendeu, no passado, além das terapias genéticas convencionais (injeção de genes "corrigidos" em pacientes com doenças metabólicas), a modificação de genes na linhagem germinativa de células humanas (gametas, como óvulos e espermatozóides). Isso faria com que a alteração fosse herdada pelos descendentes da pessoa.

Provavelmente, um pouco menos especulativa, é a ligação, entre cognição e doenças mentais, feita pelo grupo liderada por James Sikela, da Universidade do Colorado. O grupo descobriu uma correlação entre o alto número de cópias de um gene, numa certa região do DNA humano, e o desenvolvimento do cérebro. Essa região, dizem outros estudos mais heterodoxos, estaria, também, implicada com Autismo e Esquizofrenia. O perigo das afirmações científicas, muitas vezes, significa o materialismo, qual véu posto entre a realidade e os olhos dos cientistas.

"O Autismo continua sendo um desafio, um enigma, uma esfinge." (4) Todos os geneticistas e biotecnólogos, que se apoiam no determinismo genético,(5) não cedem espaço para a existência do Espírito, e, muito menos, para a reencarnação. Sabe-se que são mais de 3 bilhões as combinações genéticas possíveis no ser humano. Normalmente, nenhum cientista materialista pensa em existência de vida na dimensão do além-túmulo, e, muito menos, nas leis de Causa e Efeito. Contudo, sabem que há dificuldades nos dois aspectos, tanto no genótipo (genes que acarretariam uma característica), quanto no fenótipo (características, de fato, manifestadas no indivíduo).

O pesquisador Stephen Jay Gould, já desencarnado, também tinha um filho autista [Josh, um exímio calculista de calendários, capaz de dizer, em segundos, em que dia da semana cai uma data qualquer]. Paradoxalmente, Gould se tornou um estóico adversário do determinismo genético - "o que não deixa de ser uma indicação de que parece haver muito mais determinações entre genes e cultura do que pode supor a biotecnologia." (6) "Em verdade, o esquema 'um gene/uma doença' não é aplicável, nem mesmo a males com mecanismos mais imediatamente bioquímicos, como o câncer". (7) Menos ainda podem ser usados para entender e/ou controlar manifestações complexas como "inteligência" ou "burrice".

A rigor, não há um tratamento para o portador de psicose desintegrativa ou hipotonia profunda. O autista é como um corpo sem ninguém dentro, porém, recordemos que o espírito imortal está em sua plena consciência e percebe o que ocorre à sua volta, ainda que "encapsulado" em si mesmo. Para os espíritas, a causa pode ser "um sentimento de culpa não resolvido, suscitado por um desvio de comportamento, ocorrido em vidas anteriores. Mas, o Autismo não é um castigo, mas um instrumento de aprendizado, de "ajuste da consciência ética fustigada pelo arrependimento ou remorso e desejosa de se pacificar". (8) A doença é um transtorno invasivo do desenvolvimento, que se manifesta, normalmente, antes dos 3 anos de idade. Caracteriza-se por um desenvolvimento anormal e por mostrar alterações em três áreas: interação social, comunicação e comportamento. Na maioria das ocorrências, a causa é desconhecida. Noutros casos, fica a se dever a problemas médicos como as infecções intra-uterinas, das quais, as mais habituais são a rubéola, doenças congênitas como a síndrome do X Frágil, também conhecida como síndrome de Martin & Bell que, "por sua incidência, considera-se-lhe a primeira causa de deficiência mental hereditária" (9), e a síndrome Fetal Alcoólica, provocada pela gestante, que ingere bebidas alcoólicas durante a gravidez. Na maioria das vezes, as causas são desconhecidas , sendo, desse modo, um verdadeiro mistério para Ciência. Em termos médicos, pode dizer-se que não há um psicofármaco específico para se tratar o autismo. Os medicamentos que se usam são administrados, apenas, para controlar as agitações psicomotoras e as hetero e auto-agressões produzidas pelos autistas. É uma patologia de etiologia muito complexa, que requer, não somente, uma abordagem multidisciplinar que envolve educadores, psicólogos e terapeutas ocupacionais, mas, sobretudo, exige uma análise sob a Luz da Doutrina Espírita.

Nesse estado mental patológico, que leva a pessoa a se fechar em seu próprio mundo, alheando-se, em grande medida, do mundo exterior, há débitos passados muito graves, acompanhados, normalmente, pela consequente obsessão espiritual, pelo que o tratamento indicado pode ser o da desobsessão, da aplicação de passes e da utilização de água fluidificada. Há casos de autistas que conseguiram a cura completa, embora muito raros. No entanto, na literatura médica, há casos de pacientes que conseguiram certa autonomia e uma melhoria surpreendente, insólitos, incomuns.

Existem pessoas que estão dentro do chamado Autismo clássico, outras apresentam algumas das características autistas, aliadas a uma inteligência fora do comum, geralmente voltada a um assunto específico, sendo que essas pessoas têm extrema dificuldade de relacionamento inter-pessoal, grande rigidez nas rotinas do dia-a-dia, e aparente desprezo pelos sentimentos dos outros. Mas, ao menos, conseguem viver em sociedade... mesmo sendo chamados de difíceis, geniosos, ou termos menos elegantes.

Sabemos que há vida antes da vida, vida após a vida e vida entre as vidas. Quando houver maior integração da ciência, entendendo o ser humano de forma mais completa, com corpo, cérebro e espírito, creio que compreenderemos mais acerca das muitas psicopatologias desafiadoras. Nas obras da litero-médico-espírita, vamos encontrar inúmeros esclarecimentos sobre as suas causas e sobre o processo de formação dos sintomas, e que vêm lançar uma nova luz sobre estes mesmos sintomas, dado que, nas instruções kardecianas, cada pessoa é vista sob a óptica da reencarnação. "Mesmo quando os imperativos genéticos produzem situações orgânicas ou psíquicas constrangedoras no indivíduo, tais como: gêmeos siameses, síndrome de down, autismo, cegos e aleijados, esses se derivam da conduta pessoal anterior em vidas passadas, e devem ser considerados como estímulo ou métodos corretivos, educacionais, a que as Leis da Vida recorrem para o aprimoramento dos seres humanos." (10) Como se observa, do ponto de vista doutrinário, há esses aspectos determinantes da patologia, o autista é um ser que, por algum motivo, não "acordou" no mundo material. Permanece escondido, no patamar da existência carnal e espiritual. Muitas vezes, até, observa-se, nalguns casos, que não há propriamente autismo, mas espectros autísticos, graus e níveis de distúrbios mentais e emocionais. Destarte, o máximo que se poderia afirmar, em termos de consenso, seria dizer que, dentre os sintomas básicos atribuídos à síndrome, cada autista apresenta diferentes ênfases sobre esta ou aquela característica intrínseca. Até porque, "murado dentro de si mesmo, o autista vive em um mundo de isolamento. Os cientistas que buscam implodir essa barreira trabalham baseados em hipóteses diversas e conflitantes, utilizando uma gama imensa de abordagens e terapias. (11)

Podemos reafirmar, então, que o Autismo é uma corrigenda natural da vida imposta ao espírito, objetivando a restrição do seu relacionamento com os que o rodeiam. Isso, porém, não impede que o espírito receba as manifestações de afeto e carinho a ele endereçadas que, certamente, graças a essas impressões vigorosas do amor, contribuirão para minimizar a alienação temporária em que vive, e, quem sabe, acelerar a sua cura.

Jorge Hessen
E-Mail: jorgehessen@gmail.com

Site: http://jorgehessen.net


FONTES:
(1) O termo Autismo foi utilizado pela 1 ª vez pelo psiquiatra suíço Eugen Bleuler, para designar não um quadro clínico, mas um dos sintomas da Esquizofrenia. Em 1911, Bleuler mudou o nome da então chamada "Demência precoce" para "Grupo das Esquizofrenias".
(2) Watson apresentou sua tese durante o 74º Simpósio de Cold Spring Harbor sobre Biologia Quantitativa
(3) Reportagem publicada na Folha Online em 03/06/2009 - "Autismo é o preço da inteligência, diz descobridor da estrutura do DNA" disponível no site <> acesso em 18-06-2009
(4) idem
(5) Tese de que tudo num organismo é prefixado pelos genes
(6) Disponível no site<>acesso em 19-06-2009
(7) Disponível no site http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u8580.shtml acesso em 17-06-2009
(8) Miranda, Hermínio. "Autismo - uma leitura espiritual"., São Paulo: Editora Lachâtre, 2003
(9) Cf. afirma a Federación Española del Síndrome X Fragil, disponível no site http://www.xfragil.org/ acesso em 19-06-2009
(10)disponível no site <> acesso em 15-06-2009
(11)Miranda, Hermínio. "Autismo - uma leitura espiritual"., São Paulo: Editora Lachâtre, 2003

sexta-feira, 5 de junho de 2009

MILAGREIROS DO ALÉM, POMADISMOS E CURANDEIRISMOS (15.09.05)



..... A revista Veja de 14/06/2000, pág. 68, traz longa reportagem intitulada "Não ajuda em nada", demonstrando que pesquisas confirmam uma realidade preocupante, que tratamentos alternativos (místicos) comprovadamente são ineficazes no restabelecimento da saúde de pacientes, especialmente com câncer.É lastimável acompanharmos a Imprensa comum dando notícias sobre "Espíritos" que têm fornecido dietas para regime de emagrecimento ou, ainda, divulgam que cirurgiões do "além" que vão retalhando corpos em nome de operações "espirituais", outros que prescrevem receitas com medicamentos alopáticos, fitoterápicos (ervas "milagrosas") e chás de "coisa nenhuma".O Espírito André Luiz adverte: "Aceitar o auxílio dos missionários e obreiros da medicina terrena, não exigindo proteção e responsabilidade exclusivos dos médicos desencarnados" (1)É atitude equivocada a tendência de subestimar a contribuição da medicina humana, entregando enfermidades aos Espíritos milagreiros do além (de preferência cirurgião com nome germânico ou hindu) para que "curem" complexos processos de metástases, por exemplo.Os conceitos espíritas nos remetem à certeza que a matriz das doenças está fincada no estado mental do enfermo, portanto, a rigor, não serão agentes externos que determinarão curas para os que teimam permanecer entorpecido na condição de revolta e dubiedades ante os códigos de justiça vigentes nos Estatutos Divinos, ou naqueles que só se refarão sob o guante dos legítimos processos de enfermidades em face dos dispositivos de causa e efeito, até porque "A doença pertinaz leva à purificação mais profunda" (2)Os Espíritos não estão a disposição para promoverem curas de patologias que não raro representam providências corretivas para nosso crescimento espiritual no buril expiatório. Nesse sentido, os dirigentes de núcleos espíritas deveriam promover bases de estudos e reflexões sobre as propostas filosóficas, científicas e religiosas do Espiritismo ao invés de encetarem trabalhos espirituais para os inócuos "curanderismos".Os preceitos doutrinários esclarecem-nos que devemos "Aproveitar a moléstia como período de lições, sobretudo como tempo de aplicação de valores alusivos à convicção religiosa. A enfermidade pode ser considerada por termômetro da fé".(3)São inoportunas certas manifestações de promessas de "curas" de obsessões com sessões da famosa corrente magnética brasiliense (prática "inventada" em Brasília, por grupos que seduzem empolgados "filantropômanos" através do apelo assistencialista, inoculando estranhas práticas doutrinárias) como a magnetização "desobsessiva" para afastar Espíritos aos moldes de como se espanta moscas das feridas expostas. Para consubstanciar esse objetivo recorrem ao auxílio da varinha de condão do chamado "choque anímico" com o qual os enfermos se "libertam" dos obsessores, conforme promete livro(4) publicado pelos seguidores desse movimento equivocado.Há, ainda outros núcleos que propõem aplicações de luzes coloridas (cromoterapias) para higienizar auras humanas e curar (pasmem): azia, cálculo renal, coceiras, dores de dente, gripes, soluços em crianças, verminose, frieiras, conforme propaga literatura específica.(5) Acreditem!! Se não bastasse recomenda-se até carvãoterapia (?!) para neutralizar "maus-olhados" nesse sentido, segundo crêem é só colocar um pedaço de tora de carvão debaixo da cama e estaremos imunes do grande flagelo da humanidade - o "olho comprido" !! Muitas instituições espíritas do DF têm distribuído o remédio (cura tudo do momento) uma tal pomada do "vovô fulano". O que se nota, a bem da verdade, é que ainda não há rigor suficiente das instituições espíritas para com a pureza doutrinária tão-necessária, pois não se viu bater em retirada de todos os rincões do meio espírita os sistemas divergentes, que teimam em se alojar aqui e ali, na tentativa de, pelo decurso do tempo, serem confundidos e aceitos como Espiritismo de fato: ramatisismo, roustainguismo, ubaldismo, armondismo, umbandismo etc, e mais os apometristas, cromoterapistas, pomadistas, cepistas etc. O que se quer é a transparência doutrinária no movimento espírita ou a confusão doutrinária? Se for transparência doutrinária, então, maior rigor para com os divergentes, a fim de que desanimem e se afastem de vez por todas. A vida moderna, globalizada ou não, está a pedir, isso sim, posicionamentos e comportamentos firmes e consentâneos com a proposta espírita. Como bem recomenda o ínclito Codificador, em Viagem Espírita 1862, pág. 33: "O excesso em tudo é prejudicial, mas, em semelhante caso, vale mais pecar por excesso de prudência do que por excesso de confiança". Sabemos que os que lêem estas linhas podem pensar que estamos revestidos de idéias ficcionais, mas podemos assegurar que não teríamos materiais tão imaginativos.Em recente entrevista ao jornal Alavanca - abril/maio-2000 - Divaldo Franco adverte sobre as "terapias alternativas", "curandeirismos" e a fascinação na prática mediúnica, apontando-as como fatores que têm desestabilizado o projeto da unidade doutrinária". É por essas e outras que a revista Veja, abril de 1999, registra que os médicos da ala conservadora da psiquiatria consideram os médiuns como dotados de neuroses, psicoses, desvios de personalidade, esquizofrenias. Se pararmos para refletir daremos uma certa razão para esses profissionais, até porque muitos adeptos do Espiritismo não conhecem os livros de Allan Kardec, Emmanuel, André Luiz, Joanna de Ângellis, Bezerra de Menezes, Vianna de Carvalho e outros consagrados expoentes da difusão doutrinária e lastimavelmente estão aguilhoados nas práticas que comprometem todo projeto doutrinário.O exercício dos Códigos Evangélicos nos impõe a obrigatória fraternidade e compreensão aos adeptos dessas esquisitas práticas, o que não equivale dizer que devemos nos omitir quanto à oportuna admoestação para que a Casa Espírita não se transforme em academia de andróides hipnotizados pela fantasia e ilusão.
Jorge Hessen



FONTES:

(1) Luiz, André, Conduta Espírita Cap.35. Editora FEB:RJ /1977-5ª edição(2) Idem(3) Idem(4) Colegiado dos Vínculos Fraternais, Desobsessão por Corrente Magnética, 1ª edição Sociedade de Divulgação Espírita "Auta de Souza"-1996.DF(5) Nunes, René. Cromoterapia.A Cura Através da Cor.Editora Asa Sul./Brasilia 1ª edição

segunda-feira, 1 de junho de 2009

SERÁ QUE OS ESPÍRITAS SÃO PESSOAS MAIS "PREPARADAS" E PODERIAM INGRESSAR NA POLÍTICA PARTIDÁRIA PARA SECUNDAR MUDANÇAS SOCIAIS?... (30.05.09)



Após ler um certo artigo sobre a necessidade de o espírita ingressar na política", fui instado a contrapor os argumentos lidos que, na minha opinião, não se sustentavam numa análise rápida. Sabemos que nas proximidades dos debates para eleições políticas a discussão "esquenta" sobre o tema se o espírita deve ou não participar da política partidária. Não há a mínima necessidade de espíritas ingressarem forçosamente no campo da política partidária para as proposições de reformulações sociais através de novos conceitos de vida, de convivências e outras relações sociais que possam ser convertidos em hábitos consagrados pela massa para que ulteriormente sejam transformados em leis que regulem a vida em sociedade. Dizer que os espíritas, por serem "as pessoas mais preparadas" para secundar as mudanças sociais em favor de um mundo mais justo e fraterno e que não podem se omitir dessa tarefa é no mínimo presunção e vaidade aguçada ao limite do insuportável.Pela transformação de comportamento individual, lutando pelo ideal do bem , em nome do Evangelho, os espíritas não estão alheios à Política, enganam-se quem pensa o contrário. Os espiritas honestos, fieis à família, aos compromissos morais são integralmente cidadãos ativos, que exercem o direito e/ou obrigação (depende do ponto de vista) de votar , porém sem vínculos com as querelas e questiúnculas partidárias. Há três escrevemos um artigo no site http://jorgehessen.net (vide item 22/2006) lembrando que que não há representantes oficiais do Espiritismo em setor algum da política humana. O trabalhador da casa espírita, seja ele atuante em área mediúnica, doutrinária ou administrativa, sabe, perfeitamente, que centro espírita não é lugar de se fazer campanha política, em qualquer época, sobretudo próximo às eleições. O espírita, definitivamente, não pode confundir as coisas. Se estiver vinculado a alguma agremiação partidária, se deseja concorrer como candidato a cargo eletivo, que o faça bem longe das hostes espíritas, para que tudo que fizer ou disser, dentro da casa espírita, não venha a ter uma conotação de atitude de disfarçada intenção, visando a conquistar os votos de seus confrades.Há necessidade de distinguir a política terrena, da política do Cristo. Cada situação, na sua dimensão correta. Política partidária, aos políticos pertence, enquanto que religião é atividade para religiosos. O argumento de que os parlamentares se servem, com o pretexto de "defender" os postulados da Doutrina, ou aliciar prestígio Social para as hostes espíritas, ou, ainda, ser uma "luz" entre os legisladores, é argumento falacioso, inverossímil.A título de tolerância, muitas vezes fechamos os olhos para essas questões, mas a experiência demonstra que, às vezes, é conveniente até fechar um olho, porém, nunca os dois.Considerando que nosso mundo é a morada da opinião, é normal que tenhamos divergências sobre esse assunto. Inaceitável, porém, tendo em vista a própria orientação da Doutrina Espírita, o clima de imposições que se estabelece, não raro, envolvendo companheiros que confundem veemência com agressividade, ou defesa da verdade com hostilidade.É inadmissível a utilização da tribuna espírita, como palanque de propaganda política. O Espiritismo não pactua com irrelevantes e transitórios interesses terrenos. Por isso, não pode alguém se escravizar à procura de favores de parlamentares, a ponto de, este, exercer infausta influência nos conceitos espíritas. Não tem cabimento, um líder de partido, no púlpito da casa espírita, palestrando e dirigindo o culto místico de uma fé. Por outro lado, também não tem o menor sentido, um espírita nas ruas e nos palanques, implorando votos, qual mendigo, com sofismas e simulação de modéstia, de pobreza, de humildade, de desprendimento, de tolerância, etc., com finalidade demagógica, exaltando suas próprias "virtudes" e suas "obras" beneficentes. Pode essa advertência se caracterizar num açoite no dorso dos sutis cânticos da sereia, que arrastam alguns desatentos líderes para a militância político-partidária, porém, é um alerta oportuno. OPORTUNÍSSIMO, EU DIRIA!!!Bom seria se esses "espíritas" (!?), que mendigam votos, optassem por outro credo, para que seja assegurada a não-contaminação desse politiquismo em nossas hostes, até porque, "A RIGOR, NÃO HÁ REPRESENTANTES OFICIAIS DO ESPIRITISMO EM SETOR ALGUM DA POLÍTICA HUMANA".¹Nada obsta, repelir as atitudes extremas. Não podemos abrir mão da vigilância exigida pela pureza dos postulados espíritas e não hesitemos, quando a situação se impõe, no alerta sobre a fidelidade que devemos a Jesus e a Kardec. É importante lembrarmos que, nas pequeninas concessões, vamos descaracterizando o projeto da Terceira Revelação.Urge que façamos uma profunda distinção entre Espiritismo e Política. Somos políticos desde que nascemos e vivemos em sociedade, sim, e daí? A Doutrina Espírita não poderá, jamais, ser veículo de especulação das ambições pessoais, nesse campo. Se o mundo gira em função de políticas econômicas, administrativas e sociais, não há como tolerar militância política dentro da religião. Não se sustentam as teses simplistas de que só com a nossa participação efetiva nos processos políticos ao nosso alcance, ajudaremos a melhorar o mundo.Recordemos que Jesus cogitou muito da melhora da criatura em si. Não nos consta que Ele tivesse aberto qualquer processo político partidário contra o poder constituído à época. Nossa conduta apolítica não deve ser encarada como conformismo. Pelo contrário, essa atitude é sinônimo de paciência operosa, que trabalha sempre para melhorar as situações e cooperar com aqueles que recebem a responsabilidade da administração de nossos interesses públicos. "Em nada nos adianta dilapidar o trabalho de um homem público, quando nosso dever é prestigiá-lo e respeitá-lo tanto quanto possível e também colaborar com ele, para que a missão dele seja cumprida. Porque é sempre muito fácil subverter as situações e estabelecer críticas violentas, ou não, em torno das pessoas. (...) Não que estejamos batendo palmas para esse ou aquele, mas porque devemos reverenciar o princípio da autoridade".² Estamos investidos de compromisso mais imediato, ao invés de mergulharmos no mundo da política saturada, por equívocos lamentáveis. Por isso, não devemos buscar uma posição de destaque, para nós mesmos, nas administrações transitórias da Terra. Se formos convocados pelas circunstâncias, devemos aceitá-la, não por honra da Doutrina que professamos, mas como experiência complexa, onde todo sucesso é sempre muito difícil. "O espiritista sincero deve compreender que a iluminação de uma consciência é como se fora a iluminação de um mundo, salientando-se que a tarefa do Evangelho, junto das almas encarnadas na Terra, é a mais importante de todas, visto constituir uma realização definitiva e real. A missão da doutrina é consolar e instruir, em Jesus, para que todos mobilizem as suas possibilidades divinas no caminho da vida. Trocá-la por um lugar no banquete dos Estados é inverter o valor dos ensinos, porque todas as organizações humanas são passageiras em face da necessidade de renovação de todas as fórmulas do homem na lei do progresso universal."³O Espiritismo traz-nos uma nova ordem religiosa, que precisa ser preservada. Nela, o Cristo desponta como excelso e generoso condutor de corações e o Evangelho brilha como o Sol na sua grandeza mágica. Uma doutrina que cresceu assustadoramente nos últimos lustros, em suas hostes surgiram bons líderes ao mesmo tempo em que, também, apareceram imprudentes inovadores, pregando essas idéias de militância política.Se abraçamos o Espiritismo, por ideal cristão, não podemos negar-lhe fidelidade. O legado da tolerância não se consubstancia na omissão da advertência verbal diante das enxertias conceituais e práticas anômalas, que alguns companheiros intentam impor no seio do Movimento Espírita. Mantenhamos o espírito de paz, preservando os objetivos abraçados e, se houver necessidade de selar nosso compromisso com testemunho, não titubeemos e não nos omitamos, jamais.


Jorge Hessen




FONTES:1- VIEIRA, Valdo. Conduta Espírita, Ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de janeiro: FEB, 2001, Cap. 10. 2- Xavier, Francisco Cândido. Entender Conversando, ditada pelo Espírito Emmanuel, São Paulo: Ed. IDE, 3 ª edição, 1984.3- Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1984, pergunta 60.