LEONARDO MARMO MOREIRA
leonardomarmo@gmail.com
São João Del Rei, MG (Brasil)
Uma confreira enviou-me um questionamento a respeito do mecanismo de transmissão mediúnica em língua estrangeira. Nossa amiga queria saber se seria possível a obtenção de uma comunicação mediúnica por “incorporação” (psicofonia), mesmo que o respectivo médium não conhecesse o idioma da mensagem, no caso o espanhol.
Bom, seria realmente possível a ocorrência da comunicação. Mas não seria algo trivial.
De fato, o fenômeno mediúnico pode ocorrer apesar do médium não dominar o idioma do Espírito comunicante, o que não significa que o fenômeno seja facilmente obtido. Também não significa que a "filtração" da mensagem vai estar isenta de significativa contribuição anímica e muito menos garante a qualidade do conteúdo da mensagem recebida.
A chamada "telepatia", isto é, a transmissão do pensamento, é a base do fenômeno em questão, mas, segundo André Luiz, no nível evolutivo médio atual da humanidade, a necessidade de utilização da linguagem somente pode ser superada (prescindida) se houver uma afinidade espiritual total entre Espírito comunicante e médium. E essa afinidade espiritual absoluta não é, normalmente, fácil de ser encontrada. Na verdade, é bem difícil de ser obtida. Daí, uma linguagem convencional, como o português, por exemplo, para a grande maioria dos casos, representará um papel de destaque no mecanismo de transmissão mediúnica, pois nós pensamos utilizando de linguagem. A linguagem é ferramenta importantíssima para o nosso pensamento.
É claro que o Espírito comunicante pode transmitir emoções, sensações e sentimentos para o médium, o que, a priori, dispensaria a linguagem convencional (realmente, o médium pode sentir isso e até se emocionar, sem uma linguagem determinada) e o Espírito ainda pode, em uma "incorporação", transmitir por gestos e atitudes um pouco da mensagem que ele deseja passar (Allan Kardec comenta um pouco sobre isso em “O Livro dos Médiuns” (vide Segunda Parte, capítulo 13, intitulado "Psicografia". No item 155 do referido capítulo, por exemplo, o Codificador do Espiritismo afirma que o Espírito...."se quer demonstrar cólera ou impaciência, dá repetidas pancadas com o lápis, quase sempre quebrando-lhe a ponta"). De fato, os Espíritos que se manifestavam pela "cesta de bico" faziam vários gestos bem humanos com o lápis e a cesta para transmitir, com ênfase, a ideia de que eram portadores. Entretanto, mesmo considerando que realmente existe mediunidade sem utilização significativa de "linguagem convencional", o registro da mensagem em termos de conteúdo técnico-explicativo fica, sem dúvidas, muito comprometido (limitado mesmo).
A priori, o médium que recebe um Espírito que utiliza outro idioma precisa ter algum conhecimento desse idioma, seja para a psicofonia (mediunidade falada) ou para a psicografia (mediunidade escrita), o que também é discutido em “O Livro dos Médiuns” de Allan Kardec. Se, atualmente (nessa encarnação), o médium não tem nenhum conhecimento sobre o idioma, deveria tê-lo de encarnações passadas, pois as estruturas da língua ainda permaneceriam no subconsciente e o Espírito comunicante poderia utilizá-las.
Um Espírito que traga uma comunicação em alemão para um médium brasileiro que não conheça nenhuma palavra em alemão (e nem tenha tido contado com a língua alemã em outra encarnação) terá, em se tratando de psicografia, de escrever letra a letra. Se for mediunidade de audiência, o Espírito comunicante literalmente ditará a sequência de letras para a construção da frase, que é o que fazemos quando escrevemos uma palavra de idioma que não dominamos. É óbvio que o processo fica extremamente lento e acaba não sendo muito eficiente para transmissão de mensagens maiores, envolvendo discussões de maior "fôlego" em termos de conteúdo. Tal recurso é válido principalmente para comprovações da imortalidade da alma e evidenciação da legitimidade do fenômeno mediúnico em questão (comunicabilidade dos Espíritos).
Entretanto, a questão em tela parece ser um pouco mais complexa, pois como o espanhol é uma língua latina ibérica e, portanto, mais próxima em termos de estruturas e vocábulos do português do que outros idiomas, talvez a limitação idiomática entre Espírito comunicante e médium possa ser atenuada (em relação à línguas mais difíceis para um brasileiro). O Espírito poderia comunicar-se em uma espécie de “portunhol”, buscando, dentro das limitações de seu veículo mediúnico, transmitir o conteúdo para o receptor-destinatário da mensagem. De qualquer maneira, não daria, em princípio, para sabermos se o médium já teve conhecimento prévio de espanhol em encarnações passadas.
Teríamos, como sempre, de seguir as recomendações de Allan Kardec, e avaliar a qualidade da comunicação recebida. No caso da psicografia é mais fácil, pois, como a mensagem fica registrada no papel, podemos promover o seu estudo posterior e até muitas vezes, se necessário. Entretanto, o caso da psicofonia é, obviamente, mais difícil, pois não lembraremos com precisão de todos os detalhes (e, como diz o vulgo, “quem conta um conto, aumenta um ponto”, principalmente com o passar do tempo e as eventuais falhas de memorização do conteúdo específico transmitido). É justamente em função desse tipo de dificuldade que Chico Xavier e Divaldo Pereira Franco, entre outros, sempre gravavam (e o Divaldo ainda grava as reuniões mediúnicas) em gravadores comuns para poderem analisar posteriormente, em outros momentos de estudo e avaliação, o conteúdo da mensagem.
Muitos confrades podem argumentar que em comunicações psicofônicas espontâneas, dependendo da situação, não dispomos de um gravador para avaliações posteriores. E é verdade. Nesse cenário, nossa necessidade de atenção, perspicácia e memorização do conteúdo da mensagem torna-se redobrada. De qualquer maneira, fica evidente que nas referidas mensagens sem registro, devemos ter um cuidado ainda maior nas inferências e conclusões doutrinárias, pois podemos estar negligenciando detalhes por falhas auditivas, mnemônicas, interpretativas, entre outras.
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