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Arnaldo Rocha |
No livro de Roque Jacinto
“Kardec, na Intimidade”,
Encontramos algumas pérolas
Sobre esse obreiro da verdade.
Com o título de “O Prisioneiro”,
Iniciamos a narrativa
De uma linda história,
Mostrando sua vida ativa:
Os cabelos revoltos
Com a barba se confundiam.
No escuro da cela,
Somente ali se viam
Os seus olhos faiscantes,
Que destilavam rigor,
Com cintilações estranhas
De um profundo rancor.
- Vieste... para libertar-me?
Kardec, expressando serenidade,
Após observá-lo, agora o ouvia.
- Minha mãe... falou-me em liberdade!
- Que farás da tua liberdade? -
Kardec inicia a falar.
- Vou com ela completar
O que não pude antes terminar!
E, após uma pausa breve,
Ele completou ameaçador:
- Nenhuma ofensa ficará
Sem o justo revide, senhor!
- A tua voz ressoa ameaças, filho.
- É claro, fui ofendido!
- E quem um dia, meu filho,
Não terá sido?
- Do jeito que estás,
Mesmo que o diretor da prisão
Te concedesse a liberdade,
Seria uma liberdade de ilusão.
- Se tu pensas que voltarei
Depois de fazer justiça, te enganas?
Kardec o fitou com compaixão.
- Não me refiro à justiça humana -
Esclareceu prontamente, Kardec -
Digo que seguirás prisioneiro
Do ódio e de teus próprios erros!
E essa prisão, companheiro,
Será mil vezes pior,
Quando quem te passará a cobrar
Seja a voz de tua própria consciência
A cada dia que passar.
- Que vieste, então, fazer aqui,
Se não é para me dares a libertação?
- Após te ver, proponho-te que,
Antes de buscares com ambição
A luz do dia, fora desta cela,
Que faças luz em teu coração.
E, após pequena pausa,
Kardec indagou com consideração
Àquele irmão sofredor:
- Sabes ler?
- Sim... um pouco!
- Confio-te, com todo prazer,
Este livro que poderá ser
A chave da tua libertação
De ti mesmo, meu amigo.
Estendendo a sua mão
Ao jovem prisioneiro,
Deu-lhe naquele momento
O Evangelho de Jesus Cristo
E disse como complemento:
- Um dia, tenho certeza,
Nos encontraremos novamente!
O prisioneiro, com a mão livre,
Segurou o braço de Kardec firmemente
E num apelo-ameaça disse:
- Minha mãe falou, com sinceridade,
Que és um homem piedoso!
E... esta é a tua caridade?!
- A caridade, meu irmão,
Nem sempre é fazer a vontade
Daquele que nos pede.
Ela me aconselha, na verdade,
A dar-te tempo para refletires!
Este lugar te será
Um grande auxílio divino
No estado em que tu estás...
Algum tempo depois... à noite,
Estava Kardec trabalhando
Na revisão da Revista Espírita
E percebeu alguém entrando
No aconchego de seu escritório
E parando a seu lado silente.
- Sim... - Ofereceu-se Kardec atencioso,
Fitando o visitante educadamente.
- Venho pedir-te um favor.
- O que queres? - Kardec o olhava
Procurando assim reconhecer
Aquele com quem ele falava.
O homem suspirou...
- Um querido amigo
Está quase à morte.
Ele quer confidenciar-se contigo,
Para aliviar o coração.
- Eu conheço esse teu amigo?
- De certa forma sim!
Da última vez que esteve comigo
Eu lhe dei o livro que me destes.
Kardec fitou o visitante.
- És tu... aquele prisioneiro?
- Sim! - disse naquele instante -
Sou aquele prisioneiro do ódio,
Que um dia deixaste na prisão
E a quem libertaste
Quando fizeste aquela doação!
- E o teu amigo?...
- Ele era o meu ofensor,
O meu grande desafeto.
O Evangelho, porém, me ensinou
A vê-lo como um enfermo,
Torturado pela desilusão.
E, tão logo obtive a liberdade,
Saindo daquela prisão,
Fui procurá-lo e servi-lo.
- Oh! Deus de misericórdia!
- Ele era um homem obsediado,
E hoje, para o bem está renovado.
- Vamos vê-lo, companheiro!
E os dois saíram, na oportunidade,
Para dar a assistência da compaixão
A quem se renovara de verdade,
Pelos atos de fraternidade do ex-ofendido.
E Kardec, a cada momento,
Enquanto caminhava, noite adentro,
Elevava a Jesus o seu pensamento,
Agradecendo-Lhe a benção
De ser testemunha do poder renovador
Que envolve toda a humanidade
Com a Sua Doutrina do Amor.
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