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domingo, 15 de março de 2015

MATERIALISMO E ESPIRITISMO

Arnaldo Rocha

Do livro “Estante da vida”,
Por Chico Xavier psicografado,
E que pelo conhecido espírito
De Humberto de Campos foi ditado,

Relembraremos nas linhas a seguir
Um momento de grande brilhantismo
Protagonizado por Bezerra de Menezes
Que se chama: “Materialismo e Espiritismo”.

“Conta-se que o Dr. Bezerra de Menezes
Orientava em determinada ocasião,
Na cidade do Rio de Janeiro,
Uma bem freqüentada reunião

De estudos e reflexões espíritas
Sobre temas muito importantes,
Mantendo a palavra livre
Para todos os circunstantes.

Quando, após comentários diversos,
Ele perguntou se mais alguém,
Desejava naquele instante
Expressar-se nos temas da noite também.

Foi então que renovado materialista,
Seu grande amigo pessoal,
Lhe dirigiu veemente provocação
De forma totalmente intencional:

– Caro Bezerra, continuo ateu,
E não por meus colegas somente,
Mas também por mim,
Venho convidá-lo, pessoalmente,

A um debate público,
A fim de provarmos para todos,
A inexpugnabilidade do Materialismo
Contra as pretensões do Espiritismo.

E previno a você, meu amigo,
Que o Materialismo em seus fundamentos,
Já levantou extensa lista
De médiuns enganadores ou fraudulentos;

Dos chamados médiuns sensitivos
Que reconheceram, conscientemente,
Os seus próprios enganos
E deixaram o Espiritismo, prontamente;

Dos que largaram em tempo
O suposto desenvolvimento
De suas forças psíquicas
E em determinado momento,

Fizeram várias declarações,
Quanto às medidas piedosas
De que se viram envolvidos;
Dos ilusionistas que, há todas horas,

Operam em nome de poderes
Imaginários de nossa mente;
E, além dessa grande relação,
Apresentaremos presentemente

Outro rol de muitos nomes
Já reunidos pelo Materialismo,
Os nomes de experimentadores 
Que demonstraram com exclusivismo,

A inexistência da comunicação
Com os mortos em qualquer situação;
Dos sábios que não puderam
Verificar com exatidão,

As factícias ocorrências
Do que se chama mediunidade;
Dos observadores desencantados
De testemunhos que na verdade

Possam atestar a sobrevivência;
E dos estudiosos ludibriados
Por vasta súcia de espertalhões...
Esperamos muito determinados

Que você e os espíritas
Aceitem o nosso repto, então.
Bezerra por alguns instantes,
Concentrou-se em oração,

E, em seguida, respondeu,
Aliando energia e suavidade:
– Aceitamos esse desafio,
Com respeito e responsabilidade,

Mas tragam também ao debate
Aqueles que o Materialismo
Tenha soerguido moralmente no mundo;
Os adeptos do banditismo

Que ele tenha regenerado
Para a dignidade antes perdida;
Os infelizes aos quais
Haja devolvido o ânimo da vida;

Os enfermos da alma
Que tenha arrebatado
Às fronteiras da loucura;
Os que tenham sido vitimados

Pelas tentações escabrosas
Que haja restituído à paz do coração;
As mulheres infortunadas,
Envolvidas no manto da desilusão

Que terá arrancado ao desequilíbrio;
Os irmãos desventurados
De quem a morte veio a roubar
Os entes mais estimados,

A cujo sentimento sincero
Enregelado de tanta dor
Terá a doutrina materialista
Estendido a esperança e o amor;

As viúvas e os órfãos,
Cujas energias terá escorado
Para não desfalecerem de saudade,
Ante as cinzas dos seres amados;

Os caluniados aos quais
Terá o perdão ensinado
Em relação às afrontas;
Os que foram prejudicados

Por atos de selvageria social
Mascarados de legalidade,
A quem haverá proporcionado
Sustentação de verdade

Para que possam olvidar
Os ultrajes lhes direcionados;
Os acusados injustamente,
De cujos espíritos rebelados

Terá subtraído o fel da revolta,
Substituindo-o com boa-vontade
Pelo bálsamo da tolerância;
Os companheiros da humanidade

Que vieram desde o berço
Cegos ou mutilados,
Doentes ou paralíticos,
Aos quais terá tranqüilizado

Com princípios de justiça
Para que aceitem pacificamente
O quinhão de lágrimas
Que o mundo lhes reservou, diariamente;

Os pais incompreendidos 
A quem deu força e compreensão
Para abençoarem os filhos ingratos
Que lhes trouxeram dor e decepção,

E os filhos abandonados
Por aqueles exatamente
Que lhe deram a existência,
Aos quais tenha auxiliado diretamente

Para continuarem honrando e amando
Os genitores insensíveis
Que os atiraram em desprezo
E desvalimento incompreensíveis;

Os tristes que haja imunizado
Contra o suicídio iminente;
Os que foram perseguidos
Sem causa alguma aparente,

Cujo pranto terá enxugado
Nas noites de vigília e solidão,
Afastando-os da vingança
Da criminalidade e da sedição;

Os caídos de todas as procedências,
A cujo martírio tenha ofertado
Apoio para que se levantem
Nesse planeta atormentado...

Nesse instante da resposta,
O velho e sábio lidador parou,
Limpou as lágrimas  do rosto
E serenamente terminou:

– Ah! Meu amigo, meu amigo!...
Se vocês puderem trazer a esse ambiente
Um só dos desventurados do mundo
Que o Materialismo verdadeiramente

Terá dado socorro moral 
Para que se liberte do precipício
Do sofrimento e da amargura,
Nós, os espíritas, em princípio,

Aceitaremos realmente o repto.
Fez-se profundo silêncio, então,
Naquela pequena assembléia,
E porque o autor da proposição

Baixasse visivelmente a cabeça, 
Bezerra em prece comovente,
Agradeceu a Deus as bênçãos da fé
E encerrou a sessão humildemente.” 

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