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Arnaldo Rocha |
Do livro “Estante da vida”,
Por Chico Xavier psicografado,
E que pelo conhecido espírito
De Humberto de Campos foi ditado,
Relembraremos nas linhas a seguir
Um momento de grande brilhantismo
Protagonizado por Bezerra de Menezes
Que se chama: “Materialismo e Espiritismo”.
“Conta-se que o Dr. Bezerra de Menezes
Orientava em determinada ocasião,
Na cidade do Rio de Janeiro,
Uma bem freqüentada reunião
De estudos e reflexões espíritas
Sobre temas muito importantes,
Mantendo a palavra livre
Para todos os circunstantes.
Quando, após comentários diversos,
Ele perguntou se mais alguém,
Desejava naquele instante
Expressar-se nos temas da noite também.
Foi então que renovado materialista,
Seu grande amigo pessoal,
Lhe dirigiu veemente provocação
De forma totalmente intencional:
– Caro Bezerra, continuo ateu,
E não por meus colegas somente,
Mas também por mim,
Venho convidá-lo, pessoalmente,
A um debate público,
A fim de provarmos para todos,
A inexpugnabilidade do Materialismo
Contra as pretensões do Espiritismo.
E previno a você, meu amigo,
Que o Materialismo em seus fundamentos,
Já levantou extensa lista
De médiuns enganadores ou fraudulentos;
Dos chamados médiuns sensitivos
Que reconheceram, conscientemente,
Os seus próprios enganos
E deixaram o Espiritismo, prontamente;
Dos que largaram em tempo
O suposto desenvolvimento
De suas forças psíquicas
E em determinado momento,
Fizeram várias declarações,
Quanto às medidas piedosas
De que se viram envolvidos;
Dos ilusionistas que, há todas horas,
Operam em nome de poderes
Imaginários de nossa mente;
E, além dessa grande relação,
Apresentaremos presentemente
Outro rol de muitos nomes
Já reunidos pelo Materialismo,
Os nomes de experimentadores
Que demonstraram com exclusivismo,
A inexistência da comunicação
Com os mortos em qualquer situação;
Dos sábios que não puderam
Verificar com exatidão,
As factícias ocorrências
Do que se chama mediunidade;
Dos observadores desencantados
De testemunhos que na verdade
Possam atestar a sobrevivência;
E dos estudiosos ludibriados
Por vasta súcia de espertalhões...
Esperamos muito determinados
Que você e os espíritas
Aceitem o nosso repto, então.
Bezerra por alguns instantes,
Concentrou-se em oração,
E, em seguida, respondeu,
Aliando energia e suavidade:
– Aceitamos esse desafio,
Com respeito e responsabilidade,
Mas tragam também ao debate
Aqueles que o Materialismo
Tenha soerguido moralmente no mundo;
Os adeptos do banditismo
Que ele tenha regenerado
Para a dignidade antes perdida;
Os infelizes aos quais
Haja devolvido o ânimo da vida;
Os enfermos da alma
Que tenha arrebatado
Às fronteiras da loucura;
Os que tenham sido vitimados
Pelas tentações escabrosas
Que haja restituído à paz do coração;
As mulheres infortunadas,
Envolvidas no manto da desilusão
Que terá arrancado ao desequilíbrio;
Os irmãos desventurados
De quem a morte veio a roubar
Os entes mais estimados,
A cujo sentimento sincero
Enregelado de tanta dor
Terá a doutrina materialista
Estendido a esperança e o amor;
As viúvas e os órfãos,
Cujas energias terá escorado
Para não desfalecerem de saudade,
Ante as cinzas dos seres amados;
Os caluniados aos quais
Terá o perdão ensinado
Em relação às afrontas;
Os que foram prejudicados
Por atos de selvageria social
Mascarados de legalidade,
A quem haverá proporcionado
Sustentação de verdade
Para que possam olvidar
Os ultrajes lhes direcionados;
Os acusados injustamente,
De cujos espíritos rebelados
Terá subtraído o fel da revolta,
Substituindo-o com boa-vontade
Pelo bálsamo da tolerância;
Os companheiros da humanidade
Que vieram desde o berço
Cegos ou mutilados,
Doentes ou paralíticos,
Aos quais terá tranqüilizado
Com princípios de justiça
Para que aceitem pacificamente
O quinhão de lágrimas
Que o mundo lhes reservou, diariamente;
Os pais incompreendidos
A quem deu força e compreensão
Para abençoarem os filhos ingratos
Que lhes trouxeram dor e decepção,
E os filhos abandonados
Por aqueles exatamente
Que lhe deram a existência,
Aos quais tenha auxiliado diretamente
Para continuarem honrando e amando
Os genitores insensíveis
Que os atiraram em desprezo
E desvalimento incompreensíveis;
Os tristes que haja imunizado
Contra o suicídio iminente;
Os que foram perseguidos
Sem causa alguma aparente,
Cujo pranto terá enxugado
Nas noites de vigília e solidão,
Afastando-os da vingança
Da criminalidade e da sedição;
Os caídos de todas as procedências,
A cujo martírio tenha ofertado
Apoio para que se levantem
Nesse planeta atormentado...
Nesse instante da resposta,
O velho e sábio lidador parou,
Limpou as lágrimas do rosto
E serenamente terminou:
– Ah! Meu amigo, meu amigo!...
Se vocês puderem trazer a esse ambiente
Um só dos desventurados do mundo
Que o Materialismo verdadeiramente
Terá dado socorro moral
Para que se liberte do precipício
Do sofrimento e da amargura,
Nós, os espíritas, em princípio,
Aceitaremos realmente o repto.
Fez-se profundo silêncio, então,
Naquela pequena assembléia,
E porque o autor da proposição
Baixasse visivelmente a cabeça,
Bezerra em prece comovente,
Agradeceu a Deus as bênçãos da fé
E encerrou a sessão humildemente.”
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