.

segunda-feira, 9 de março de 2015

O Conceito de “Duplo Etérico”


Leonardo Marmo Moreira

O corpo vital, também chamado “duplo etérico”, seria uma espécie de interface entre o períspirito e o corpo físico propriamente dito, constituído de grande massa de fluido vital, o qual é formado e trabalhado a partir do princípio vital. Essa massa de fluido vital seria um dos principais fatores responsáveis pelo tempo de vida que temos na Terra, constituindo uma espécie de “tanque de combustível” para ser consumido durante nossa vida física. Além disso, essa massa de fluido vital estaria relacionada à constituição do chamado “cordão fluídico” que liga o perispírito ao corpo físico (cordão este que alguns autores denominam “cordão de prata” ou “cordão prateado”) e aos chamados centros vitais das interações entre corpo físico e perispírito. 

Essa massa de fluido vital estaria presente em todos os seres vivos e poderia ser exteriorizada (e uma vez exteriorizada; apenas essa parte projetada (e não a totalidade do fluido vital) seria o que Charles Richet denominou “ectoplasma”). Alguns indivíduos teriam uma predisposição maior para emanar tais fluidos vitais, e seriam os assim-chamados “magnetizadores”, podendo, inclusive, atuar como “médiuns de efeitos físicos” e “médiuns curadores” propriamente ditos, quando, além da liberação do próprio fluido vital, solicitassem séria e perseverantemente, a assistência de protetores espirituais (o que justificaria a identificação como “médiuns”, uma vez que seus fluidos estariam misturados e otimizados pelos fluidos originados por nossos protetores espirituais).

Uma das principais dúvidas a respeito do conceito de “corpo vital” ou “duplo etérico” gira em torno da constituição de um “corpo” propriamente dito. Alguns autores preferem considerar o “corpo vital” ou “duplo etérico” apenas uma espécie de “capa” sobre o períspirito, preferindo considerá-lo uma subdivisão do próprio períspirito (o que não deixaria de ser uma parte constituinte do períspirito ou corpo espiritual). Essa hipótese é bastante razoável, passível, apenas, de uma leve ressalva, uma vez que, a priori, o “corpo vital” ou “duplo etérico” estaria mais associado ao corpo físico do que ao períspirito (vale lembrar que André Luiz, no capítulo 19, Passes, de “Missionários da Luz”, chega a narrar um caso de passe com fluidos humano-espirituais, no qual a desnutrição de uma gestante e de seu bebê foi minimizada pela respectiva ação fluidoterápica. Portanto, André Luiz está sugerindo uma alta contribuição do magnetismo humano do médium passista (fluidos vitais, portanto, bastante materializados), o que poderia, a priori, “nutrir” a futura mãe e seu filho. Tal realidade explicita, com grande ênfase, a necessidade do médium passista evitar fumo, álcool, drogas, glutonaria etc., já que parte significativa dessas ingestões podem ser transmitidas para quem recebe o passe, em princípio porque o fluido vital dos alimentos assimilados passa a também integrar os fluidos vitais do médium). No entanto, ainda assim tal proposição parece muito razoável. Aliás, a supracitada proposta é bastante válida, pois, de fato, o duplo etérico não tem uma existência tão auto-estruturada e independente (de outros veículos de manifestação do princípio inteligente), como ocorre com outras “instrumentações” do Espírito, tais como o corpo físico e o perispírito propriamente considerado. 

Outros autores defendem que, seja tecnicamente, seja didaticamente (simplesmente para facilitar o entendimento da linguagem; uma espécie de “palavra-código” para passar mais facilmente o conceito), seria mais objetivo identificar a referida “massa de fluido vital presente na interface corpo/perispírito que pode ser exteriorizada com fins de materialização ou cura” com um nome mais sintético, mais objetivo, para facilitar a identificação da ideia logo em um primeiro momento. Daí, vale citar alguns nomes bastante consagrados pelo uso, os quais seriam, pela ordem de utilização, “duplo etérico”; “corpo vital; “halo energético”; e “energossoma”. Nesse caso, acho que “corpo vital” seria a expressão mais próxima dos termos relacionados que foram utilizados por Allan Kardec (princípio vital e fluido vital).

Ainda sobre a questão do uso de uma determinada nomenclatura, talvez limitada tecnicamente, mas útil didaticamente, Herculano Pires comenta sobre a palavra “carma”, dizendo que tal substantivo, e principalmente seu termo derivado “cármico(a)”, foi consagrado pelo uso no movimento espírita por dois motivos básicos: 1) a influência de doutrinas exógenas (sem dúvida, um ponto negativo- esse comentário é meu e não do Professor Herculano); e 2) por ser mais direto, mais sintético do que, por exemplo, “fatores associados à Lei de Causa e Efeito envolvendo reencarnações anteriores” (considero positivo tal tópico). Entretanto, no conjunto da obra (analisando, conjuntamente, os dois fatores), talvez a inserção tenha sido realmente indébita, ou seja, talvez o saldo seja negativo. O fato é que, na falta de um “neologismo” mais apropriado, os autores espíritas do início do século XX utilizaram tal palavra e seus termos derivados. Aliás, o próprio professor Herculano aparentemente não explicita um veredito definitivo, embora seja razoável conjecturar que ele não aprovasse tal emprego (pessoalmente, não estou defendendo o respectivo uso, só estou constatando o fato, assim como o professor Herculano fizera).

No caso de “duplo etérico”/”corpo vital”, seria difícil utilizar uma outra expressão que passasse tão diretamente a ideia de conjunto de fluido vital associado à toda a conexão entre corpo físico e períspirito. Se não houvesse tais expressões, acho que teríamos que, para fins didáticos, cunhar alguma coisa do tipo. Talvez, realmente, essa segunda proposta fosse a melhor opção. Mas ninguém tomou tal medida. De qualquer maneira, mesmo que admitíssemos que André Luiz não tenha empregado a expressão mais adequada, no caso “duplo etérico”, não acredito que tenha se equivocado com relação ao conteúdo associado a essa expressão.

Os vegetais, em geral, possuem grande quantidade de fluido vital (André Luiz e Narcisa, em “Nosso Lar” aplicam passes sobre Ernesto, o segundo marido de Zélia, a viúva de André Luiz, utilizando essências de mangueira e eucalipto). Portanto, admitindo esse fato, poderíamos dizer que todos os fluidos vitais de cada vegetal constituiriam, em conjunto, uma espécie de “corpo vital” ou “duplo etérico” (Chico Xavier já contou casos de Espíritos desencarnados comendo bananas! Obviamente, a parte física da banana permaneceu intacta, mas os fluidos vitais teriam sido ingeridos por Espíritos desencarnados ainda apegados à matéria). Entretanto, em princípio, os vegetais ainda não possuiriam um períspirito propriamente dito (ainda não teriam um períspirito definido), pois ainda não terminaram etapas de evolução anímica que abrangem a chamada individualização. 

Portanto, a priori, o conceito de “duplo etérico”/”corpo vital”/”halo energético”, levantados por André Luiz em “Nos Domínios da Mediunidade” e “Evolução em Dois Mundos” não são necessariamente discordantes de Allan Kardec (os quais seriam, em princípio, corroborados por estudos posteriores de Waldo Vieira e do Projeto Manoel Philomeno de Miranda). No entanto, talvez a escolha da respectiva terminologia pode não ter sido a mais técnica e estruturada no jargão kardequiano.

De qualquer maneira, vale lembrar que a própria Codificação utiliza expressões/titulações católicas como o título de “Santo” (Ex: Santo Agostinho; São João Evangelista), o que, a priori, também poderia ser questionável (e que não me incomoda de maneira nenhuma, mas incomoda muitos confrades!). O Apóstolo Paulo, por outro lado, preferiu identificar-se como Paulo, Apóstolo. De repente, as questões culturais, o problema da concreta identificação do Espírito e a necessidade de objetividade didática, entre outros fatores, podem ter prevalecido em relação a uma precisão técnica e à utilização de um neologismo verdadeiramente espírita (em “O Livro dos Médiuns”, os Espíritos explicam para Kardec que os Espíritos consideram nossos preconceitos quando enviam mensagens para que não percamos todo o conteúdo. Por conseguinte, podem, digamos, “fazer aproximações”, para que possamos aproveitar, pelo menos parcialmente, o conteúdo que os Amigos Espirituais querem enviar). O que pode ter valido para Kardec no século XIX, talvez, pode ter estar relacionado à escolha de termos feita por André Luiz no século XX. 

Sobre o pensamento de Kardec a respeito do períspirito, vale lembrar que Camille Flammarion afirma, no discurso que fez quando eram enterrados os despojos carnais do Codificador (vide Obras Póstumas), que Kardec planejava escrever um novo livro que seria sobre magnetismo (de fato, nosso mestre lionês teve menos de 14 anos para realizar sua gigantesca obra!). Podemos supor que ele não teve tempo para avançar em algumas nuanças perispirituais, como possivelmente seria de seu interesse, uma vez que tal tópico não é trivial, e, sendo assim, demandaria grande vitalidade física e dispêndio de tempo, que nosso mestre, já bem doente, sabia não possuir.

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home