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segunda-feira, 13 de abril de 2015

Carta do Chefe Seattle – versificada por Arnaldo Rocha


Arnaldo Rocha

Em 1854, "O Grande Chefe Branco" em Washington fez uma oferta por uma grande área de território indígena e prometeu uma "reserva" para os índios. 
A resposta do Chefe Seattle, aqui reproduzida na íntegra, tem sido considerada uma das declarações mais belas e profundas já feitas sobre o meio-ambiente:


O presidente, na cidade de Washington,
Informa que a nossa terra deseja comprar.
Mas como poderá ser possível,
O céu, a terra, comprar ou negociar?

A idéia nos é muito estranha.
Se não possuímos o frescor do ar
E a vivacidade da água,
Como vocês a poderão comprar?

Cada parcela dessa terra,
É, para meu povo, sagrada;
Cada arbusto brilhante do pinheiro,
Cada porção de praia amada,

Cada bruma na floresta escura,
Cada campina, cada inseto que zune.
Todos são sagrados na memória
E na experiência que a meu povo une.

Conhecemos a seiva 
Que circula nas árvores, interiormente,
Como conhecemos o sangue
Que circula em nossas veias, celeremente.

Somos, também, parte da terra
E ela é parte de nós, certamente.
As lindas flores perfumadas
São nossas irmãs, igualmente.

O urso, o gamo, e a grande águia
São, da mesma forma, nossos irmãos.
O topo das montanhas, o húmus das Campinas,
O calor do corpo do pônei, então,

Pertencem à mesma família.
A água brilhante que se move, ademais,
Nos rios e riachos, não é apenas água,
Mas o sangue de nossos ancestrais.

Se lhes vendermos a nossa terra,
Vocês deverão, de maneira tal,
Lembrar-se que ela é sagrada.
Igualmente cada reflexo espectral

Nas claras águas dos lagos,
Fala de eventos e de memórias
Na vida de meu nobre povo
Por intermédio de suas histórias.

O murmúrio da água cristalina
É a voz do pai do meu pai, realmente.
Os rios são nossos irmãos.
Eles saciam a nossa sede, totalmente,

Conduzem nossas canoas
E alimentam a nossa filiação.
Assim, é preciso dedicar aos rios
A mesma bondade e atenção

Que se dedicaria a um irmão.
Se nossa terra lhe vendermos,
Lembre-se de que o ar
É necessário para vivermos;

O ar partilha o seu espírito
Com a vida que ampara, e o vento
Que deu ao nosso avô
O seu primeiro alento,

Também, recebe seu último suspiro.
O vento também dá às nossas crianças
O espírito da vida, da luta,
Do progresso e da esperança.

Assim, se lhe vendermos nossa terra,
Vocês deverão conscientemente
Mantê-la à parte e sagrada,
Como um lugar onde, serenamente,

O homem possa ir apreciar o vento,
Pelas flores da campina, adocicado.
Ensinarão vocês às suas crianças
O que às nossas temos ensinado?

Que a terra é nossa mãe?
O que acontece a terra, certamente,
Acontece a todos os filhos da terra.
O que sabemos é isto, realmente:

Assim como o sangue nos une a todos,
Tudo está ligado fortemente.
O homem não teceu a rede da vida,
É um dos fios dela, somente.

O que quer que ele faça a rede,
Fará a si mesmo, consequentemente.
Contudo de uma coisa sabemos:
Nosso Deus é também o seu Deus, exatamente.

A terra é preciosa para Ele
E magoá-lo é acumular contrariedade
Sobre o seu Criador.
O destino de vocês, na verdade,

É um grande mistério para nós!
Quando forem sacrificados
Todos os búfalos, o que acontecerá?
E os cavalos selvagens todos domados?

Quando os quatros cantos 
Da floresta forem preenchidos
Pelo odor de muitos homens,
E a vista dos montes floridos

For bloqueada pelos fios que falam,
O que acontecerá, meu Deus?
Onde estarão as matas? Sumiram!
Onde estará a águia? Desapareceu!

E o que será dizer adeus
Ao pônei arisco e à caça.
Será o término da existência
E o início da sobrevivência.

Quando o último pele-vermelha
Vier a desaparecer, infelizmente,
Junto com a sua vastidão selvagem,
E a sua memória for, tão-somente,

A sombra de uma nuvem 
Sobre a planície se movendo...
Estas praias e estas florestas
Ainda estarão aí sobrevivendo?

Alguma coisa do espírito
Do meu povo ainda restará?
Amemos nossa terra
Como sempre amará,

Um recém-nascido, as batidas
Do coração materno adorado.
Assim, se lhes vendermos nossa terra,
Amem-na como a temos amado.

Cuidem dela como temos cuidado.
Gravem em suas mentes
A memória dessa terra
Quando a receberem, entrementes.

Preservem essa terra 
Para todas as crianças, totalmente,
E amem-na, como Deus,
Nos ama a todos, bondosamente.

Assim como somos parte da terra,
Vocês são parte dela igualmente.
Esta terra é preciosa para nós,
E é preciosa para vocês, certamente.

Existe apenas um Deus!
Nenhum homem, vermelho ou branco, então,
Pode sobreviver à parte.
Afinal somos todos irmãos!

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