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terça-feira, 14 de abril de 2015

A Queda Espiritual e a Codificação Kardequiana

Leonardo Marmo Moreira
A famosa frase “O átomo será arcanjo assim como o arcanjo começou pelo átomo”, que foi discutida em artigo de nossa autoria publicado em “Jornal de Estudos Espíritas (JEE)” (“Deus, espírito e matéria: Como podemos entender “o arcanjo começou pelo átomo”?”), demonstra, explicitamente, o caráter evolutivo do processo de Criação e desenvolvimento espiritual. 

Se o arcanjo pudesse deixar de ser arcanjo, ou seja, se um Espírito evoluidíssimo pudesse sofrer a chamada “queda espiritual”, que consiste em um “rebaixamento evolutivo”, a “Falange do Espírito de Verdade” possivelmente poderia teria acrescentado algo do tipo “...e pode, inclusive, voltar a ser átomo”. Tal complementação não existe nesta oração e nem em parte alguma de toda a Codificação Kardequiana, porque os Espíritos mentores do Espiritismo e de suas obras subsidiárias de elevado nível de conteúdo intelecto-moral foram e continuam sendo taxativos: “todos se tornarão perfeitos”, afirmativa que está inserta na resposta à questão 116 de (“O Livro dos Espíritos” (LE)), pois “...o homem deve progredir sem cessar...(grifos meus)” e “...pensar que ele pode retrogradar para a sua condição primitiva seria negar a lei do progresso” (que fazem parte da resposta à questão 778, inserta no capítulo VIII, da referida obra síntese da Doutrina Espírita, LE). E negar a lei de Progresso é negar um dos pontos capitais da Codificação Kardequiana e, portanto, negar o Espiritismo.

Aliás, a própria reencarnação (“pluralidade das existências”), também chamada por algumas correntes filosófico-espiritualistas “palingenesia”, somente existe como um processo para um objetivo maior, que é a “Lei de Progresso”. É interessante perceber que, em LE, fica claro que, entre as “Leis Morais”, existe a “Lei de Progresso”. A reencarnação não é propriamente uma “Lei Moral”, mas consiste em um mecanismo pelo qual várias Leis Morais se desenvolvem, com destaque para a “Lei de Progresso” e a “Lei de Justiça, Amor e Caridade”, as quais, obviamente, são centrais no pensamento espírita.

De fato, se fosse possível a retrogradação, a realidade espiritual seria um verdadeiro caos. O processo evolutivo seria uma espécie de movimento de “gangorra” sem fim. O Espírito evoluiria e, daqui a pouco, nessa hipótese, regrediria. Deus não conseguiria “ter segurança”, inclusive, na escolha de seus prepostos, principalmente, para tarefas de maior envergadura.

O pior é que dentro do espiritualismo, com inserções, inclusive, no próprio Movimento Espírita, visões dantescas de Deus podem ser inferidas com base em concepções espiritualistas, mas não espíritas, que asseveram que um Espírito que dirige mundos, como é o caso de Jesus de Nazaré, pode regredir, segundo alguns a “criptógamos carnudos” (espécies de “minhocas” ou “lesmas”, como queiram), caracterizando uma terrível “metempsicose”; e segundo outros à condição “atômica” (o quê?!). 

Aliás, retornar à condição “atômica” consiste em explicar um argumento anti-doutrinário e sem qualquer evidência científica (“a pressuposta regressão espiritual”) através de outro argumento também significativamente questionável, que seria a ligação entre o princípio espiritual e o princípio material, desde a fase atômica. De fato, a chamada “fase mineral” da evolução anímica ainda é tópico discutido doutrinariamente, pois existem opiniões respeitáveis a favor e contra a suposta fase e necessitamos de maior prudência para emitir um parecer definitivo sobre questão tão complexa.

Trata-se de especulação meramente filosófica (na melhor das hipóteses) e espiritualista (jamais espírita!) admitir a regressão espiritual, uma vez que não existe respaldo nenhum a esse princípio na natureza ou em obras de respeito da Doutrina Espírita. Pelo contrário, Kardec e a “Falange do Espírito de Verdade” por várias oportunidades refutaram enfaticamente tal ideia, como ocorreu, por exemplo, na Revista Espírita através do espetacular estudo kardequiano “Do Princípio da Não-Retrogradação do Espírito” (Revue Spirite/Junho de 1863)”.

As obras básicas da Doutrina Espírita assim como relevantes obras subsidiárias enfatizam que a memória espiritual é total, e é por isso que, utilizando de ensinamento evangélico que diz: "Enquanto não passar o céu e a terra, de modo nenhum passará da lei um só iota ou um só til, sem que tudo se cumpra" (Mateus 5:18). Somente com um registro total de nossas experiências, mesmo que conscientemente não percebamos isso em um primeiro momento (sobretudo, quando encarnados), é que a Justiça Divina pode ser absoluta e inquestionável.

Admitindo que a memória espiritual seja total, não seria possível a “regressão espiritual”, pois o Espírito (ainda mais quando já tenha chegado à condição de ser chamado “arcanjo”) não poderia perder aquilo que, pelo seu próprio esforço, ele adquiriu (Vide Jesus: “A cada um segundo suas obras”; e Paulo de Tarso: “E manifesto é que cada um dará conta de si mesmo a Deus”).

Por outro lado, se não admitirmos a memória espiritual total (o que também contrasta com o que se pode inferir da famosa Questão 621 de LE: “Onde está escrita a Lei de Deus? R. Na consciência.”), então, a Justiça Divina estaria comprometida, o que, para nós Espíritas é inadmissível, pois sabemos que o Pai é “soberanamente justo e bom”(LE).

Muitos, em uma espécie de sincretismo “católico-espírita” ou “espiritólico” como queiram, recorrem, em pleno século XXI, ao livro primeiro do Velho Testamento, ou seja, ao “Gênesis” para tentar explicar (sem jamais justificar!), em uma espécie de “malabarismo teológico-espiritualista” a tese da “queda espiritual”. Obviamente, trata-se de interpretação “literal” amplamente explorada e rejeitada por um incontável número de célebres autores cristãos (vide Paulo: “A letra mata e o Espírito vivifica”) e espíritas. Tal recurso, por exemplo, já foi muito criticado por Léon Denis em “Cristianismo e Espiritismo” e também por autores altamente respeitáveis de atuação atual e recente, respectivamente, Severino Celestino da Silva e Pastor Nehemias Marien. De qualquer maneira, vale citar, a título de ilustração, a excelente palestra do confrade Paulo Neto sobre a visão bíblica, sobretudo do velho testamento (com destaque para o “Gênesis”), a respeito da mulher (vide You tube “A Mulher na Bíblia – Palestra de Paulo Neto - https://www.youtube.com/watch?v=RLkkEsAILg4). Fica evidente que interpretações literais do velho testamento, com destaque para o “Gênesis”, estão muitíssimo defasadas em relação ao Evangelho de Jesus e ao Espiritismo.

Lembrando do famoso conselho de Gamaliel a Saulo de Tarso (antes da conversão, portanto), estudemos com um pouco mais de cuidado, sobretudo quando nossas propostas forem supostamente revolucionárias e claramente antidoutrinárias, para que, futuramente, não nos reconheçamos lutando, sem querer, contra Kardec e, consequentemente, contra Jesus e contra Deus. 

Como disse Emmanuel na mensagem número 1 do livro “Opinião Espírita” intitulada “O Mestre e o Apóstolo”: “Jesus, a porta; Kardec, a chave”.

1 Comentários:

  • MUITO BOM TEXTO.
    ENTRETANTO, NÃO CONHECEMOS TUDO DO ESPIRITISMO, E, MAIS RECENTEMENTE,
    PRODUZI UM PEQUENO, MAS INSTIGANTE E.BOOK, INTITULADO:

    "O LIVRO DOS ESPÍRITOS E QUEDA ESPIRITUAL"

    A QUEM POSSA INTERESSAR: BLOG - FILOSOFIA DO INFINITO, OU:
    fernandorosembergpatrocinio.blogspot.com.br

    Por Blogger Filosofia do Infinito, às 11 de outubro de 2016 às 17:15  

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