Deus é um
imenso “inexistir”? (Jorge Hessen)
Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com
Brasília/DF
Ora, quando
refletimos sobre Deus e pensamos nele como “existente”, e ainda quando cremos
que ele “existe”, nossa ideia dele não aumenta nem diminui. Científica e
filosoficamente, Deus é impossível! Deus é um absurdo! No surto da Reductio ad
absurdum, o bispo Anselmo afirmava que “Deus é aquilo maior do que o qual nada
pode ser pensado ou o que é tal que não pode ser pensado algo maior.”[1]
Cada filósofo, cada
cientista tem uma visão diferente sobre a possibilidade da “existência” de um
“Deus”. Albert Einstein afirmava crer na visão de Deus de acordo com o definido
pelo filósofo Baruch Spinoza, na qual tudo e todos fazem parte da composição do
Criador. O genial cientista refutava a possibilidade de um Deus individual ou
antropomórfico e se definia como agnóstico, ou seja, reconhecia a possibilidade
da “existência” de um Deus – por mais difícil que fosse descobrir se isso é
verdade ou não. [2]
Carl Sagan negava
ser ateu, porque para ele um ateu é alguém que tem evidências persuasivas de
que não existe um Deus Judaico-Católico-Islâmico. Sagan dizia que não era tão
sábio, mas ao mesmo tempo não considerava que havia algo próximo a uma
evidência adequada para a “existência” de um Deus. O astrofísico americano Neil
Degrasse Tyson, o mais ativo divulgador da ciência depois de Carl Sagan, também
afirma que não enxerga evidências que corroborem a existência de Deus.[3]
Stephen Hawking se
definia como ateu. Acreditava que o universo era governado pela supremacia das
leis da ciência. Para ele, existia uma diferença fundamental entre a religião,
que é baseada na autoridade, e a ciência, que é baseada na observação e na
razão. A ciência é suprema porque ela funciona, afirmava Hawking.[4]
Deus “É” imaterial,
portanto incriado, porém criou a existência ou essência de tudo, logo, Deus não
pode ser a própria criação, ou seja, não
pode “existir”. Deus criou não só um Universo, mas infinitos universos. Nos
fenômenos materiais, tudo o que pode ser verificado, o cientista procura
encontrar os porquês do existente como possibilidade de ser raciocinado e
medido, entretanto, Deus “É” não existente como possibilidade de ser verificado
e mensurado.
É impossível provar a “existência” de Deus, isso apenas
porque sua inexistência é perfeitamente possível. Vale ressaltar aqui que nossa
reflexão não é provar a impossibilidade de Deus “existir”, mas apenas a
impossibilidade de se demonstrar Sua possível “existência”, até mesmo porque
Ele é o Criador da “existência”. Deus “existente” é coisa limitada; o Deus
“existente” é um ente restrito; o Deus “existente” é uma concepção da fé da
criatura; o Deus “existente” é uma
finitude; o Deus “existente” é adstrito ao pensamento do crente. Em verdade, Deus tem que SER, e não pode
“existir”, até porque tudo o que “existe” é o que d’Ele procede, pois Deus
simplesmente “É”. Se Deus “existisse”, teria criado a si mesmo.
A compreensão de
Deus alcançada por uma pessoa é aquela possível em face do seu conhecimento e
do conhecimento do seu grupo social. No entendimento do Espiritismo, Deus não
se relaciona ao mágico, ao místico, ao divinal, ao sacro, ao infinito, ao
absoluto. Deus não é matéria, nem energia: é imaterial. Para Kardec, não é
permitido ao homem sondar a natureza íntima de Deus. Se o homem não pode
penetrar na essência de Deus, sendo a existência divina dada como premissa, o
homem pode chegar pelo raciocínio ao conhecimento dos seus atributos
necessários; porque, vendo o que ele não pode ser sem deixar de ser Deus,
deduz-se daí o que ele deve ser.
Sem o conhecimento
dos predicados de Deus, seria impossível compreendermos a obra da criação. Deus
é a inteligência suprema e soberana. Se a imaginássemos limitada num ponto
qualquer, poderíamos conceber outro ser mais inteligente, e assim por diante
até ao infinito. [5]
Deus é eterno, isto
é, não teve começo e não terá fim. Se tivesse tido princípio, teria saído do
nada. Ora, não sendo coisa alguma, o nada não pode produzir nada. Deus é
imutável. Se ele estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo não
teriam nenhuma estabilidade. Deus é imaterial, de outro modo, não seria
imutável, pois estaria sujeito às transformações da matéria. Deus é
todo-poderoso. Se ele não possuísse o poder supremo, poderíamos imaginar um ser
mais poderoso e assim por diante, até encontrarmos o ser que nenhum outro pudesse
ultrapassar em potência, e então esse outro é que seria Deus. [6]
Deus é soberanamente
justo e bom. Deus não poderia ser ao mesmo tempo bom e mau, porque, não
possuindo qualquer dessas duas qualidades no grau supremo, ele não seria Deus.
Consequentemente, Ele não poderia deixar de ser ou infinitamente bom ou
infinitamente mau; se fosse infinitamente mal, não faria nada de bom; a
soberana bondade resulta na soberana justiça.
Deus é infinitamente
perfeito. É impossível concebermos Deus sem o infinito das perfeições. Para que
nenhum ser possa ultrapassá-lo, faz-se preciso que ele seja infinito em tudo.
Deus é único. Não poderia existir outro Deus, salvo sob a condição de ser
igualmente infinito em todas as coisas, visto que, se houvesse entre eles a
mais ligeira diferença, um seria inferior ao outro, subordinado ao seu poder, e
então não seria Deus.
Em resumo, Deus não
pode ser Deus senão sob a condição de não ser ultrapassado em nada por nenhum
outro ser, pois o ser que o superasse no que quer que fosse, ainda que apenas
na grossura de um cabelo, é que seria o verdadeiro Deus. Portanto, Deus é a inteligência suprema e
soberana, é único, eterno, imutável, imaterial, todo-poderoso, soberanamente
justo e bom, infinito em todas as suas perfeições, e não pode ser de outra
forma. Tal é a sustentação sobre a qual repousa o edifício universal. [7]
Em filosofia, em
psicologia, em moral, em religião, só há de verdadeiro o que não se afaste —
nem que seja um til — das qualidades essenciais da divindade. A religião perfeita
será aquela que não contenha entre seus artigos de fé nenhum que esteja em
oposição com aquelas qualidades, em que todos os seus dogmas suportem a prova
desse controle, sem sofrer nenhum dano. [8].
Referências
bibliográficas:
[1] ANSELMO. Proslogion. Universidade da
Beira Interior, Covilhã, 2008.
[2] Disponível em
https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2016/01/5-reflexoes-de-cientistas-sobre-ateismo-e-agnosticismo.html acesso em 17 de maio de 2020
[3] Disponível em
https://veja.abril.com.br/ciencia/nao-vejo-evidencias-que-corroborem-a-existencia-de-deus/ acesso 18/05/2020
[4] Disponível em
https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2016/01/5-reflexoes-de-cientistas-sobre-ateismo-e-agnosticismo.html acesso em 17 de maio de 2020
[5] KARDEC ,Allan. A Gênese,SP: Ed.
Portal Luz Espírita, 2018, item 8 cap.
II (versão digital da 1ª edição traduzido por
Louis Neilmoris )
[6] Idem
[7] Idem
[8] Idem
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