Jorge Hessen
Será que é
legítimo analisarmos o conflito entre judeus e palestinos seguindo o pleito de
quem chegou primeiro à região? Historicamente, os palestinos (antigos filisteus)
estão naquelas terras muito antes de Isaque. Por
esse aspecto, os judeus deveriam abandonar a Palestina e voltar a ser um povo
errante, como era Jacó (Israel) e seus filhos, ou então deveriam pedir
cidadania iraquiana e se fixarem no Iraque, local onde ficava a cidade de Ur,
de onde saiu Abraão.
A questão de
utilizar o critério de quem chegou primeiro à região pode gerar dúvidas, pois
em que pese os filisteus (antepassados dos atuais palestinos) habitarem aquela
terra muito antes dos israelitas, é possível que outros povos tenham sido
expulsos pelos filisteus a fim de tomarem o seu lugar. Destarte, os palestinos podem se
basear no argumento, não de quem estava primeiro na terra, mas de quem a
conquistou há mais tempo. O imbróglio da questão está aí, pois nesse caso, o
direito passou para os judeus atuais, que conquistaram a terra após a Segunda
Guerra tal como fizeram os palestinos no passado.
De que maneira a
humanidade atual poderá ajudar palestinos e Judeus a solucionar esses dilemas
históricos? Seria através dos canais diplomáticos da ONU, da ação dos que lutam
pela Justiça, pela Dignidade Humana, pela Paz? Enquanto não há solução imediata, eis quena
pequena vila de Bilin, perto da capital Ramallah (Palestina), foi criado
um jardim para homenagear os civis mortos durante os conflitos entre
Israel e a Palestina. As flores
são plantadas em granadas desativadas. Mohammed Khatib, um dos organizadores
da vila onde o jardim foi construído, afirma que o objetivo é mostrar
que a vida pode nascer também da morte. O
uso de uma granada desativada como recipiente para plantas é uma
ótima forma de chamar a atenção para uma região cansada de guerra e
de perdas humanas dos dois lados.1
Recordo que no
dia 25 de maio de 1982, o Skyhawk, um caça-bombardeiro da Força Aérea
Argentina, pilotado por Mariano Velasco, investiu contra uma embarcação militar
inglesa deixando um saldo de 19 mortos. Dois dias depois, o também Skyhawk pilotado por
Velasco foi abatido no Estreito de São Carlos, arquipélago no Atlântico Sul,
por Neil Wilkinson, artilheiro antiaéreo no navio de combate HMS Intrepid da
Inglaterra. O argentino
sobreviveu ao saltar de paraquedas poucos minutos após ser atingido.
Quase três
décadas após o fim do confronto entre Argentina e Grã-Bretanha pelas ilhas
Malvinas2, os dois ex-inimigos de guerra viveram um encontro
emocionante. "Meglio tardi che mai” – como
diz o provérbio italiano ("Antes tarde do que nunca"), Mariano
Velasco recebeu em sua casa na província de Córdoba, para um magnificente
banquete, o veterano artilheiro inglês Neil Wilkinson. Atualmente são amigos e
se correspondem com certa frequência por e-mail, Facebook ou Skype.
O episódio
inevitavelmente nos remete para reflexões sobre a guerra. Qual a base lógica
que justifica uma guerra? Os
Benfeitores do Além admoestam que a guerra é a “predominância da natureza
animal sobre a natureza espiritual e satisfação das paixões”.3 No transcurso da guerra, predominou
entre Velasco e Wilkinson a índole selvagem sobre a espiritual. Hoje, 30 anos depois, a situação é
inversa entre os dois ex-combatentes inimigos do front de batalha.Infelizmente,
o “caso Velasco/Wilkinson” é uma raríssima exceção, pois nem sempre esse é o
desfecho entre ex-inimigos de guerra.
Onde se encontram
os valores morais da sociedade contemporânea? Muitas religiões estão
amordaçadas pelas injunções de ordem econômica e política. A Doutrina dos
Espíritos tem efetuado o esforço hercúleo de sustentar acesa a luz da crença
nas plagas iluminadas da razão, da cultura e do direito. Embora seja “o esforço do Espiritismo quase
superior às suas próprias forças,
o mundo não está à disposição dos
ditadores terrestres. Jesus é o seu único diretor no plano das realidades
imortais.”4
Cremos que judeus
e palestinos podem conviver, no respeito recíproco, trocando o fuzil pelo
magnificente banquete, transmutando a exclusão pela partilha, alterando a
incompreensão pela tolerância. Quem
sabe a Doutrina dos Espíritos, nessa conjuntura, possa levar-lhes a Mensagem do
Evangelho, consubstanciada na lei do amor, da fraternidade, do perdão, da
reencarnação, da comunicabilidade dos desencarnados, transformando gradualmente
as leis de Moisés e Maomé, justificados pela lei de talião (olho por olho,
dente por dente), que têm gerado cada vez mais ódio sobre ódio, tal como
estamos assistindo no proscênio dessa estúpida guerra do Oriente Médio!
Anota Emmanuel
que "épocas de lutas amargas, desde os primeiros anos do século XX, a
guerra se aninhou com caráter permanente em quase todas as regiões do planeta. A Liga das Nações, o Tratado de
Versalhes, bem como todos os pactos de segurança da paz, não têm sido senão
fenômenos da própria guerra.”5 Sem
tolerância, toda fé se resume em adoração inútil; a paz não passa de uma flor
incapaz de frutescência e a própria solidariedade se circunscreve a um jogo de
palavras brilhantes, em torno do qual judeus e árabes costumam parecer
pronunciando maldições. Jesus, um excelso filho da região, declarou que nos
daria a sua paz, que deixaria para nós a sua paz, e neste instante em que
filhos de Abraão se destroçam, são
válidas todas as fórmulas
(políticas, econômicas, sociais, religiosas) para a busca da paz entre eles.
Referências
bibliográficas:
[2] Falklands (para
os britânicos)
[3] Kardec, Allan. O
Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2000 Perg. 742
[4] Xavier, Francisco
Cândido. A Caminho da Luz, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed
FEB, 1976
[5] idem
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