"Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que
permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; pois neste,
Deus, o Pai, imprimiu o seu selo". (João, capítulo 6, versículo 27)
Santo Agostinho, em resposta à questão 919 de O Livro dos
Espíritos, esclarecendo sobre o autoconhecimento, meio prático mais eficaz para
se melhorar nesta vida e resistir ao arrastamento do mal, sugere: "Fazei o
que eu mesmo fazia, quando vivi na Terra: no final do dia, interrogava minha consciência,
passava em revista o que tinha feito e me perguntava se não havia faltado a
algum dever, se ninguém tivera motivo de se queixar de mim. Foi assim que
cheguei a me conhecer e a ver, em mim, o que precisava de reforma. Aquele que,
todas as noites, relembrasse todas as suas ações do dia e se perguntasse o que
fez de bem ou de mal, rogando a Deus e ao seu anjo guardião que o
esclarecessem, adquiriria uma grande força para se aperfeiçoar, pois, crede-me,
Deus o assistiria". Esta resposta é enriquecida com aprofundamentos quanto
aos procedimentos desta autoanálise: "perguntai, portanto, a vós mesmos e
interrogai-vos sobre o que tendes feito, e com que objetivo agistes em tal
circunstância; se fizestes alguma coisa que censuraríeis, da parte de outrem; se
praticastes uma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai ainda isto: Se
aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, teria eu que temer o olhar de
alguém, ao retornar ao mundo dos Espíritos, onde nada fica oculto? Examinai o
que podeis ter praticado contra Deus, depois, contra o vosso próximo e,
finalmente, contra vós mesmos". O amigo espiritual ainda alerta:
"quando estiverdes indeciso sobre o valor de uma de vossas ações,
perguntai a vós mesmos como a qualificaríeis, se ela fosse praticada por uma
outra pessoa; se a censurais em outrem, ela não poderia ser legítima em vós,
pois Deus não tem duas medidas de justiça. Procurai também saber o que dela
pensam os outros e não desprezeis a opinião dos vossos inimigos, pois estes
nenhum interesse têm em mascarar a verdade, e Deus freqüentemente os coloca ao
vosso lado, como um espelho, para vos advertir, com mais franqueza, do que o
faria um amigo. Que aquele que tem a vontade séria de melhorar-se, explore,
portanto, a sua consciência, a fim de arrancar dela os maus pendores, como
arranca as ervas daninhas do seu jardim; que faça o balanço do seu dia moral,
como o comerciante faz o de suas perdas e de seus lucros, e vos asseguro que um
lhe renderá mais do que o outro".
Estas orientações constituem claramente um dos roteiros para o
desvendamento das causas e consequências do nosso proceder diário. A partir
daí, entretanto, ficamos com uma indagação de extrema importância: como
alcançar o ponto de equilíbrio no comportamento e decisões? Martins Peralva, no
livro Estudando a mediunidade, faz referência à três importantes componentes
deste processo: estudo, meditação e trabalho no bem. Com o objetivo de
facilitar a memorização, reduzimos a nomeação particularizada de tais
componentes à sigla ESMETRA e foi elaborada uma equação na qual: Equilíbrio=
estudo + meditação + trabalho (no bem) ou, então, equilíbrio=ESMETRA. Este
equilíbrio não será provavelmente alcançado com o desenvolvimento destes três
elementos de forma isolada ou sempre transatuantes, porém, didaticamente cada um
deles será apresentado em destaque a fim de esmiuçarmos o seu mecanismo
interno.
O estudo, por algum motivo, é frequentemente banido, subutilizado
ou considerado algo especialmente teórico. Entretanto, ele representa bem mais
do que o manuseio e a assimilação do conteúdo do livro, da apostila, do
documento. Sua amplitude se traduz igualmente na interpretação e decodificação
das constantes mensagens ostensivas e subliminares entrelaçadas em nossos
comportamentos; refere-se também à observação contínua ou intervaladas para a
identificação de determinada situação, ato ou circunstância; diz respeito à
pesquisa de possíveis causas, ao seu desmembramento, combinação e análise das
)correlações. Este estudo amplia-se para uma atitude investigativa do mundo externo
e daquele interno, tão bem guarnecido das nossas próprias percepções - do qual
ficamos muitas vezes conscientes somente quando um forte abalo provoca sua
emersão. Para esta leitura ou para este diálogo interno, contudo, precisamos
desejar nos conhecer, nos "disponibilizar a", ter a "curiosidade
de", ou seja, tomar a postura do cientista que observa, formula e descarta
hipóteses ou construtos, provoca a composição e decomposição para o encontro
das causas de (des)afetividades; encadeia e desencadeia reações e
comportamentos, equilibra e desequilibra sentimentos para o crescimento e
avaliação do amadurecimento.
A meditação não abrange aqui, ou pelo menos não somente abarca, a
prática da concentração e da contemplação, mas vincula-se à reflexão
propriamente dita. Ela representa o momento da ponderação, da legitimação de
continuidade ou da necessidade de mudança, do exame das nossas limitações e
habilidades para a consolidação da escolha feita, da ordenação minuciosa de
alternativas e proposições, dentre o conjunto de possibilidades, dos recursos e
ajudas a serem buscadas, para além da prece porque a oração permeia todo o
processo do viver.
O trabalho no bem vai aquém e além da ação material,
considerando-se trabalho algo gerador de conhecimento, satisfação,
desenvolvimento, aperfeiçoamento e, como podemos encontrar na resposta da
questão 675 de O Livro dos Espíritos, toda ocupação útil. Tal qual o conceito
da Física, onde trabalho relaciona-se à força e movimento (ou distância de
deslocamento), no Bem ele envolve vontade, esforço e atividade. Ele não está
restrito à ação caritativa ao próximo, ao outro social, mas inicia-se em nós
mesmos, na tarefa da (re)construção íntima pelo esforço e cuidado dinâmico da
nossa melhoria individual e coletiva, na (re)educação do "homem
velho" que todos trouxemos ou ainda abrigamos em nós, deixando-se
expressar nos comportamentos retrógrados, arcaicos. Para isto, é necessário ter
como aliados o empoderamento, a disciplina, a vigilância constante ao plano de
mudança e aos acontecimentos intervenientes diários. O significado de
empoderamento, neste contexto, é o de conquista de condições e desenvolvimento
de autoridade, força, para a realização de ações e tarefas conectadas ao senso
de responsabilidade no e pelo trabalho, pela aquisição e distribuição de
conhecimento e pela capacidade de produzir mudanças em si e no ambiente.
Enfim, ESMETRA hoje talvez seja uma interpretação livre dos
ensinamentos do Cristo e, com o tempo, deixará de ser um somatório de
componentes que resulta no equilíbrio, transformando-se em habilidade natural
do espírito evoluído.
Escrito Por Sonia
B. Hoffmann
Outubro de 2014.
E-mail soniab27@terra.com.br
0 Comentários:
Postar um comentário
<< Home