Por Leonardo Paixão (*)
O Animismo é o grande fantasma dos
médiuns, é ele o responsável pelas dúvidas que acarreta para estes, porém,
quando bem compreendido, o médium entende que é um fenômeno natural, o grande
problema na verdade é que os médiuns creem que, quando no trabalho mediúnico,
têm que ficar totalmente passivos e em nada auxiliam o trabalho dos Espíritos.
O médium bem orientado, estudioso da
Doutrina Espírita, sabe muito bem que os Espíritos usam dos conhecimentos que o
médium possui para se expressarem, portanto, é razoável dizer que em todo
fenômeno mediúnico há uma expressão anímica, mesmo nos casos de mediunidade
mecânica, dita inconsciente.
O fenômeno anímico é tema de estudos
do Espiritismo, célebres personalidades como Alexandre Aksakof e Ernesto
Bozzano escreveram obras onde analisam tal fenômeno, são elas: Animismo
e Espiritismo e Animismo ou Espiritismo?,
respectivamente.
Aksakof classificou os fenômenos da
seguinte forma:
1º Personismo.
2ºAnimismo.
3º Mediunismo (1).
Allan Kardec, nobre Codificador do
Espiritismo, não esteve alheio a tal fenômeno, na 2ª Parte de O Livro dos
Médiuns, capítulo XIX – Do Papel dos Médiuns nas comunicações espíritas, Kardec
faz 23 perguntas sobre os vários aspectos do animismo e coloca uma extensa
dissertação de Erasto e Timóteo (Espíritos) sobre tal questão da qual vamos
transcrever algumas partes:
“Qualquer que seja a natureza dos
médiuns escreventes, quer mecânicos ou semimecânicos, quer simplesmente
intuitivos, não variam essencialmente os nossos processos de comunicação com
eles. De fato, nos comunicamos com os Espíritos encarnados dos médiuns, da
mesma forma que com os Espíritos propriamente ditos, tão-só pela irradiação do
nosso pensamento.
Os nossos pensamentos não precisam
da vestidura da palavra para serem compreendidos pelos Espíritos e todos os
Espíritos percebem os pensamentos que lhes desejamos transmitir, sendo
suficiente que lhes dirijamos esses pensamentos e isto em razão de suas
faculdades intelectuais. Quer dizer que tal pensamento tais ou quais Espíritos
o podem compreender, em virtude do adiantamento deles, ao passo que, para tais
outros, por não despertarem nenhuma lembrança, nenhum conhecimento que lhes
dormitem no fundo do coração, ou do cérebro, esses mesmos pensamentos não lhes
são perceptíveis (...).
Assim, quando encontramos em um
médium o cérebro povoado de conhecimentos adquiridos na sua vida atual e o seu
Espírito rico de conhecimentos latentes, obtidos em vidas anteriores, de
natureza a nos facilitarem as comunicações, dele de preferência nos servimos,
porque com ele o fenômeno da comunicação se nos torna muito mais fácil do que
com um médium de inteligência limitada e de escassos conhecimentos
anteriormente adquiridos. Vamos fazer-nos compreensíveis por meio de algumas
explicações claras e precisas.
(...)
É por estas razões que de
preferência nos dirigimos, para a divulgação do espiritismo e para o
desenvolvimento das faculdades mediúnicas escreventes, às classes cultas e
instruídas, embora seja nessas classes que se encontram os indivíduos mais
incrédulos, mais rebeldes e mais imorais. É que, assim como deixamos hoje, aos
Espíritos galhofeiros e pouco adiantados, o exercício das comunicações
tangíveis, assim também os homens pouco sérios preferem o espetáculo dos
fenômenos que lhes afetam os olhos ou os ouvidos, aos fenômenos puramente
espirituais, puramente psicológicos.
(...)
Sem dúvida, podemos falar de
matemáticas, servindo-nos de um médium a quem estas sejam absolutamente
estranhas; porém, quase sempre, o Espírito desse médium, possui, em estado
latente, conhecimento do assunto, isto é, conhecimento peculiar ao ser fluídico
e não ao ser encarnado, por ser o seu corpo atual um instrumento rebelde, ou
contrário, a esse conhecimento. O mesmo se dá com a Astronomia, com a Poesia,
com a Medicina, com as diversas línguas, assim como com todos os outros
conhecimentos peculiares à espécie humana.
Finalmente, ainda temos como meio
penoso de elaboração, para ser usado com médiuns completamente estranhos ao
assunto de que se trate, o da reunião das letras e das palavras, uma a uma,
como em tipografia”.
Allan Kardec em nota à referida
dissertação, termina com este salutar aviso; “Se os que reclamam esses
fenômenos, como meio de se convencerem, estudassem previamente a teoria, haviam
de saber em que condições excepcionais eles se produzem”.
O espírito Odilon Fernandes, através
do médium Carlos Antônio Baccelli, deixa claro que mediunidade é parceria consciente do médium com os
Espíritos (vide Mediunidade e Doutrina
com prefácio de Emmanuel por Chico Xavier). Quanto a esta parceria de que nos falam os Espíritos, Léon Denis adverte na 1ª
Parte, cap. VII, do livro No Invisível:
“Para comunicar conosco deverá o
Espírito amortecer a intensidade de suas vibrações, ao mesmo tempo que ativará
as nossas. Nisso pode o homem voluntariamente auxiliar; o ponto a atingir
constitui para ele o estado de mediunidade.
Sabemos
que a mediunidade, no maior número de suas aplicações, é a propriedade que têm
alguns dentre nós de se exteriorizar em graus diversos, de se desprender do
envoltório carnal e imprimir mais amplitude a suas vibrações psíquicas. Por seu
lado, o Espírito libertado pela mente se impregna de matéria sutil e atenua
suas radiações próprias, a fim de entrar em uníssono com o médium”.
Sobre
essa exteriorização psíquica, o Espírito Odilon Fernandes, através de nossas
mãos escreveu:
TRANSE
O transe mediúnico caracteriza-se
por uma exteriorização do ser psíquico, e daí, a sua maior ou menor profundidade,
porém, pode-se dizer que não só a exteriorização é responsável pelo transe como
também é muito necessária à interiorização do medianeiro. A sondagem íntima
proporciona ao médium a avaliação de sua capacidade para tal ou qual
comunicado, como poderá o médium que não se moraliza receber longos ditados
sobre filosofia moral e Ética, se não faz nenhum esforço por se melhorar?
Alguns médiuns imperfeitos e viciosos recebem de vez em quando ditados morais,
mas não lhes dando atenção e não buscando fazer-se melhor, os espíritos sérios
os deixam à mercê da sintonia que buscam.
Desejar um transe profundo não é
suficiente para que tal se dê, entretanto, precisamos analisar melhor a
expressão “transe mediúnico”. O médium deve se esforçar por viver em um
contínuo transe, expliquemo-nos: o transe mediúnico, como acima dissemos, é
caracterizado não só pela exteriorização do ser psíquico, mas também por uma
interiorização, que é o famoso “Conhece-te a ti mesmo”. O “estado de transe”
que os médiuns devem buscar, não é a chamada inconsciência mediúnica, sim a
constante sintonia com os trabalhadores do Cristo. De nada adiantará a
capacidade de maior exteriorização do ser psíquico, enquanto a interiorização
não for parte da vida do medianeiro. Paulo de Tarso levou três anos no deserto
em seu trabalho de reforma íntima e tornou-se médium do Cristo que, quando
entre nós, era o Perfeito Médium de Deus.
Estejamos conscientes de nossas
lutas e da necessidade delas para o nosso crescimento e tal como Paulo, do
deserto de nossos corações florescerá a bela rosa por nos tornarmos também um
“vaso escolhido” de Deus.
Odilon
(Página recebida espontaneamente no dia
04/12/2009 pelo médium Leonardo Paixão).
Encerrando
estes apontamentos não poderíamos deixar de lembrar advertência de D. Yvonne do
Amaral Pereira em relação ao que podemos chamar animismo vicioso:
“Nos
casos do chamado animismo (automatismo. mental), será conveniente que [o
suposto médium] se afaste das sessões práticas e se dedique a estágios em setores
diferentes, onde poderá ser aproveitável.
A Seara
Divina é extensa e fecunda e em qualquer situação serviremos ao Bem e à
Verdade, se realmente houver o desejo de servir, e não somente no campo
mediúnico. Muitos supostos médiuns, emaranhados nos complexos do animismo, uma
vez afastados ou corrigidos das pretensões mediúnicas, têm conseguido
equilibrar-se em outros setores, então realmente servindo à Doutrina Espírita e
ao próximo. O automatismo mental, ou seja, o animismo, é a obsessão da própria
mente e poderá ocasionar consequências desagradáveis para quem a cultiva.
Lembremo-nos
de que o grande Paulo de Tarso, um dos maiores médiuns que o Cristianismo
produziu, antes de se tornar o esteio do Cristianismo nascente recolheu-se ao
deserto a fim de fazer a sua iniciação, num espaço de três longos anos. E o
mesmo fizeram os demais médiuns do passado, isto é, os profetas e os grandes
iniciados.
Tenhamos,
portanto, idênticas atitudes se nos desejarmos transformar em obreiros seguros
e fiéis da Doutrina dos Espíritos, capazes de vencer os terríveis complexos
geradores da obsessão”
Do
livro Recordações da Mediunidade,
cap. 10 – O Complexo Obsessão.
Nota:
(1) - (1) - Vejamos a conceituação de
cada um desses fenômenos:
- As
manifestações do inconsciente, Aksakof definiu como PERSONISMO e disse que era
a manifestação onde havia o predomínio da adoção de um nome ou caráter de uma
personalidade diferente daquela que habitualmente o sensitivo adotava e
apresentava. Assim, é uma manifestação que se passa na intimidade do sensitivo
e, portanto, essa manifestação foi classificada como intramediúnica. Dessa
forma sugestões arquivadas, processos psicológicos das partes internas da
personalidade, lembranças de outras vidas, os arquétipos fazem parte do
Personismo. Portanto, todos os fatos do inconsciente que são trazidos ao
consciente são manifestações dessa categoria.
- Ainda
manifestações do inconsciente que vão além dos limites corporais e por isso
denominadas de extramediúnicas, fazem parte da categoria chamada de ANIMISMO
(de anima ou alma). Nessa categoria
Aksakof colocou fenômenos como a transmissão de pensamentos ou telepatia, a
movimentação de objetos sem contato ou telecinesia, as projeções de duplos ou
telefania e a bicorporeidade ou teleplastia. Atualmente, os fenômenos do
Personismo e do Animismo em uma só classificação, pois são da alma humana do
Espírito encarnado, e assim fica apenas o Animismo, devido à semântica da
própria palavra.
- O
último fenômeno classificado foi o MEDIUNISMO, que era manifestação produzida
pelos desencarnados agindo sobre o psiquismo de um encarnado.
(*) - Leonardo Paixão é Orador espírita (que
tem viajado por alguns Estados brasileiros, quando possível, na divulgação da
Doutrina Espírita), articulista, poeta, tem críticas literárias publicadas no
site orientacaoespirita.org e um artigo publicado em Reformador em Agosto de
2010, A Revelação - uma perspectiva histórica e tem escrito alguns artigos no
jornal eletrônico O Rebate. Participa com um grupo de amigos de ideal do GE
Semeadores da Paz em Campos dos Goytacazes, RJ, onde exerce direção de estudos
e trabalhos na área mediúnica, atuando como médium psicofônico na desobsessão e
como psicógrafo de mensagens esclarecedoras, poesias e cartas consoladoras.
Blogs:
gesemeadoresdapaz.blogspot.com.br
formiga-paixao.blogspot.com.br
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