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sábado, 18 de outubro de 2014

CURSOS, UMA PRAGA SEM FIM À VISTA


Mem Martins, Sintra, 
Portugal
            De há uns anos a esta parte, o Espiritismo tem vindo a ser invadido por uma epidemia de cursos. Há-os para médiuns, para dirigir grupos, para falar em público, para evangelizar… Tudo baseado na respeitável base do muito amor e carinho, sem olvidar o muito fraternal.
            Porém, e é o que temos constactado, esses cursos só têm validade dentro dos Centros onde são leccionados, salvo raríssimas excepções, tão raras que as não conhecemos, mas como não é possível ter informação sobre tudo, pomos a hipótese remota de alguma existir algures.
            Isto prova que este é mais um dos aspectos em que os Centros não têm qualquer articulação entre si. Se é certo que devem ter a sua autonomia, o que não significa isolamento, não é menos verdade que devem partilhar experiências e conhecimentos.
            Ensinar não é propriamente uma brincadeira. Trata-se de uma actividade direccionada ao âmago da pessoa. Um trabalhador pode ter dezenas de anos na Doutrina, mas não ter capacidade para ensinar, nem mesmo conhecimentos. Além disso, uma coisa é saber para si, outra é saber transmitir o que sabe.
O que estamos a verificar, lamentavelmente, é o repentino entupimento dos Centros com cursos de tudo e mais alguma coisa, na sua maioria baseados em psicografias cheias de erros. Esta onda, que rejeita as bases científicas como nunca se viu, tem como alvo abater todos os que não vão em conversa de pseudo-professores, que respeitam a Doutrina e apelam a sessões mais kardecistas.
Ao abandonarem as obras da codificação, porque não têm conhecimentos para as adaptarem aos tempos que correm, os Centros viraram-se para os cursos baseados noutras obras que qualificam de espíritas, só porque são psicografias, sujeitando a Codificação ás mesmas, tornando-as obras de referência. Rejeitando os escritos de estudiosos reconhecidos que, no seu conjunto, se debruçaram sobre os grandes temas bíblicos, como Cairbar Schutel, ética e espiritualidades, como Pietro Ubaldi ou Léon Denis etc., transmitem os que lhes parece sob o pretexto charlatão de que a Doutrina se vale a si mesma, tem pés para andar sozinha. Nada mais aberrante.
Desconhecem, esses falsos professores, que não existem doutrinas isoladas, que há contágios sociológicos, ideais políticos comuns; que o ser humano é, por natureza, o mais imitador de todos os animais, já o dizia Aristóteles e, portanto, o seu aprendizado só é possível com o outro, isto é, na partilha de ideias.
            Quem dá esses cursos? Qualquer trabalhador? Não seria correcto, pois nem todos estarão à altura de tão íngreme tarefa. Quem é aluno? Qualquer pessoa? De forma alguma, pois tem que haver uma base doutrinária, um esclarecimento mínimo.          Vejamos: uma pessoa que irrompe pelo Centro num Sábado à tarde, cheia de problemas ou não, não pode, de forma alguma, ingressar num grupo de estudos. Seria o mesmo que um doente ter que ingressar num curso de Medicina para ser tratado. Essa pessoa tem que assistir aos trabalhos de evangelização durante o tempo que lhe for necessário a fim de se inteirar do que é o Espiritismo. Ademais, há que ter em consideração que os próprios trabalhadores da Casa não estão totalmente imunes a contágios, não possuem um escudo invisível, a toda a prova, que os torne isentos de caírem em desaire. Quanto mais e melhor preparado estiver o futuro aluno, melhor e mais fácil será o trabalho dentro dos cursos.
            Por outro lado, as sessões de evangelização já são, por si só, lições grandiosas, quando razoavelmente feitas, é claro. Mas este é outro problema que, sequencialmente, arrasta consigo todos os outros. Ao faltar o estudo doutrinário, como anteriormente referimos, as sessões de evangelização empobrecem.
            Há muitos anos atrás, as sessões eram autênticos bálsamos espiritualizantes, passes de limpeza psico-magnética, palavras reconfortantes. O discurso era tão eloquente, na sua simplicidade e na sua veracidade doutrinária, era tão coração e razão, que os Guias dos trabalhos conseguiam utilizar os médiuns, nos subsequentes trabalhos de desobsessão, realizando o que podemos chamar de milagres. O maior apelo era ao da nossa modificação intrínseca, pois ninguém ensina ninguém a ser médium, nem lhe põe a verdade no coração se não estiver receptivo. O Espiritismo não é uma colagem, mas uma luta constante contra as nossas próprias fraquezas, dúvidas, pensamentos deturpados.
            Eram outros tempos, os dos grandes tribunos que, sem saudosismos fúteis e sem desqualificar quem nestes tempos bem trabalha, temos de referenciar. A eles devemos um reconhecido “Obrigado!”.        
Assim, neste efeito bola de neve, desconhecendo as bases da Doutrina, recorrem aos autores do seu agrado duvidoso, transmitindo a sua ignorância doutorada, espalhando-a, sem qualquer respeito nem dignidade. Cursos de modificação interior ainda não vimos, nem de anti-maledicência, nem de fraternidade, nem de propósitos ecuménicos.
O resultado é o que se vê. Pegam em meia dúzia de conceitos, utilizam-nos a seu bel-prazer, e arrogam-se pomposamente em professores. Instalou-se a ignorância, quando o Espiritismo tem a nobre missão de a combater, e, assim, é de mau astral quem diz o que por ora foi dito.

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