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segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Bola, Ebola. Missões e Omissões (*)


Luiz Carlos Formigta

Palavras chave: família, Febre hemorrágica,
Ebola, educação, valores, herança bendita.

Na hora de trabalhar com o micróbio, vamos trabalhar com o micróbio. Hora de trabalhar com a palavra, trabalhar com o aluno. Hora de trabalhar com a pessoa, trabalhar com valores.
Diante de micróbios patogênicos, os profissionais de saúde se orientam por princípios filosóficos e bioéticos, que integram os compromissos vocacionais assumidos, perante eles próprios e a sociedade, a quem devem servir.
Nestes anos de vida aprendemos muito. Na terceira idade, aquilo que se apresenta como de maior importância é a herança bendita, deixada por meu avô. Era um dos meus super-heróis e médium. Sobre mediunidade e psicopatologia leia uma tese de doutorado, apresentada ao Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina, da USP em 2004 (1).
  Como não existe vacina ou tratamento eficaz, meus heróis hoje são os profissionais de saúde, que enfrentam o vírus Ebola, da Febre Hemorrágica. Acidentes acontecem e você pode se contaminar até no laboratório. Em tempos de epidemia, aqueles com maior risco de infecção são os profissionais de saúde e pessoas que entraram em contato com o sangue, secreções ou outros fluidos corporais, de doentes e pacientes que morreram. Até agora, estima-se que já morreram mais de 60 profissionais de saúde.
Remota é a possibilidade do desembarque do vírus num dos nossos aeroportos preparados para a Copa. Porém, depois do passeio da Alemanha no Brasil, é melhor não descuidar.
Tendo chegado à Lagos, uma grande cidade da Nigéria, faz surgir o temor que o vírus se espalhe. Aqui a ordem é acompanhar casos de viajantes que desembarquem com febre ou diarreia. (2) Todo cuidado é pouco, pois estamos diante da maior epidemia de Ebola da história.
O Brasil, que já foi show de bola diante do HIV, agora está amargando a contaminação de jovens. (3, 3b) O que será que o Ministério da Saúde não fez ou fez de errado? Será que também  seremos “bons de Ebola”?
Políticos “da bola” temem “os alemães” na próxima Copa  e querem adequada intervenção federal. No futebol, não acredito que isso produza algum efeito benéfico. Mas, saúde é direito da pessoa e obrigação do Estado.
Quando a morte vem por decreto, o micróbio é competente agente secreto. E depois da morte? O vigarista vai ficar perguntando, fora do corpo, a alma é imortal? “Serei eu, por acaso, um espírito”? Vai se torturar, diante da oportunidade perdida e pela herança de si mesmo.
 Aprendi que a morte do corpo não mata a vida e que para merecer à paz de espírito é preciso dar mais atenção aos valores éticos. Isso se aprende na escola?
 O período infantil é o mais adequado ao aprendizado e à “internalização” de valores. A boa condição sócio-familiar é de ajuda fundamental, nesta hora. É nessa fase que aprendemos que é errado comer o dinheiro público, da merenda escolar.
Na hora de trabalhar a “palavra” os responsáveis pela educação podem ser corruptos ou omissos. Num mundo sem valores as crianças e os jovens são pouco valorizados e não podia ser diferente. Muitas vezes, na educação em saúde, pouco se valoriza o aspecto biográfico do doente. Nessa hora, tanto faz chamá-lo de “leproso” ou “aidético”.  Valores éticos não surgem nem como fumaça na fogueira de vaidades dos gestores egoístas.
Para a educação é fundamental a participação ativa de pais, que devem ser conscientizados de que a paternidade é, na verdade, uma missão. Se for possível, que pensem também assim os avós. Talvez por isso a educadora Anália Franco tenha dito que “a lágrima mais sentida é a do órfão desvalido”. (4)
E a formação dos educadores?
 “Eucalíptus não se transformarão em jequitibás, a menos que em cada eucalíptus haja um jequitibá adormecido. O que está em jogo não é uma técnica, um currículo, uma graduação ou pós-graduação.  Poetas, profetas e educadores não podem ser administrados.  Não sei como preparar o educador. Talvez que isso não seja nem necessário e nem possível... É necessário acordá-lo.” (5)
Ao trabalhar com a pessoa, espírito em nova encarnação, não podemos ignorar os valores éticos, mesmo que ela esteja apenas sendo representada no laboratório por um tubo de ensaio. (6)
O vírus Ebola assusta, mas se você aprendeu que Deus existe, é justo e bom, mesmo que permita o nascimento de crianças cegas, deixará para seus amores, como herança, a “esperança no futuro”. O melhor período para a educação do espírito encarnado é o infantil.
A inteligência espiritual deverá ser estimulada. No livro “Obras Póstumas” (7) há uma síntese que é “semente de esperança”. Se o espírito recém encarnado chegar à idade adulta sabendo que “o princípio inteligente independe da matéria e a alma individual preexiste e sobrevive ao corpo”, teremos realizado um bom trabalho. Outros raciocínios o levarão a concluir que “o ponto de partida ou de origem é o mesmo para todas as almas, sem exceção e que todas as almas, são criadas simples e ignorantes e sujeitas a progresso indefinido.”
“As almas ou Espíritos progridem mais ou menos rapidamente, mediante o uso do livre-arbítrio, pelo trabalho e pela boa vontade. A vida espiritual é a vida normal.”
“O Espírito progride no estado corporal e no estado espiritual. O estado corpóreo é necessário ao Espírito, até que haja galgado certo grau de perfeição.”
 Conclui Kardec que “sendo insuficiente uma só existência corporal para que adquira todas as perfeições, retoma um corpo tantas vezes quantas lhe forem necessárias e de cada vez encarna com o progresso que haja realizado em suas existências precedentes e na vida espiritual.”
 “O estado ditoso ou inditoso dos Espíritos é inerente ao adiantamento moral deles; a punição que sofrem é consequência do seu endurecimento no mal, de sorte que, com o perseverarem no mal, eles se punem a si mesmos; mas, a porta do arrependimento nunca se lhes fecha e eles podem, desde que o queiram, volver ao caminho do bem e efetuar, com o tempo, todos os progressos.”
“As crianças que morrem em tenra idade podem ser Espíritos mais ou menos adiantados, porquanto já tiveram outras existências em que ou praticaram o bem ou cometeram ações más.”
 “A alma dos cretinos e dos idiotas é da mesma natureza que a de qualquer outro encarnado; possuem, muitas vezes, grande inteligência; sofrem pela deficiência dos meios de que dispõem para entrar em relação com os seus companheiros de existência, como os mudos sofrem por não poderem falar. É que abusaram da inteligência em existências pretéritas e aceitaram voluntariamente a situação de impotência para usar dela, a fim de expiarem o mal que praticaram.”
O legado de Kardec, seus pensamentos bem compreendidos e analisados, se transforma no tesouro espiritual, que ninguém pode roubar.
Essa é a verdadeira herança bendita!

(*) Advertência do autor sobre os links abaixo.
 A maioria deve ser consultado, pois o texto é um pobre telegrama.

Referencias

1.  Fenomenologia das experiências mediúnicas, perfil e psicopatologia de médiuns   espíritas - Alexander Moreira de Almeida - Tese de Doutorado apresentada ao   Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. 2004.
2.  Arriscam a vida para salvar outras vidas.
3. Fatalidade
3b. “Do Invólucro Perdido ao DNA Estrangeiro”
4. Livro em benefício do LAR ANÁLIA FRANCO RJ
Foi lançado  Agenor Diogo da Silva, Lar Anália Franco RJ - Uma História Centenária. O livro, em benefício da manutenção do Lar, é de autoria do Presidente do Conselho Superior, Adyr da Silva. Destaca a atuação de Anália Franco; de seu esposo Francisco Antonio Bastos; de Agenor Diogo da Silva e, ainda, a importância do Lar Anália Franco na educação infantil.
5. Rubem Alves. O preparo do Educador
6. Ética na Medicina Laboratorial
7. Allan Kardec. Obras Póstumas


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