Jorge Hessen
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O alcoolismo, embora um dos mais graves problemas sociais, tem sido tema reiteradamente utilizado nas piadas de inquietos comediantes. Lamentavelmente se faz muita “gracinha” com assunto extremamente sério. Diversas piadas sobre dipsomaníacos são anunciadas em jornais, rádios, TV e Internet. Muitas alcunhas burlescas e de mau gosto foram bolados, tais como pinguço, manguaça, chapado, cachaceiro, pudim-de-cana , bebum e papudim , entre outros.
Os tratamentos para o alcoolismo são bastante variados porque existem múltiplas perspectivas para essa condição. Aqueles que possuem um alcoolismo que se aproxima de uma condição médica ou doença são recomendados a se tratar de modos diferentes dos que se aproximam desta condição como uma escolha social. Mormente a terapia é complexa, multiprofissional e de longa duração dependendo da persistência do paciente e sua rede social de apoio para o processo de cura. (1)
Por efeito das inusitadíssimas terapêuticas dos bêbedos das ruas de Amsterdã , capital da Holanda, alguns alcoólatras [moradores de rua] (2) estão recolhendo lixo das ruas para receberem latas de cerveja como pagamento pelo serviço. É isso mesmo! O salário dos garis alcoolistas é convertido em muitas latas de cerveja! Segundo os coordenadores, o objetivo do plano é proporcionar “melhor qualidade de vida” aos alcoólatras, estimulando-lhes a contribuir para a sociedade. (3)
Os idealizadores do singular esquema encaram o alcoolismo como uma "realidade imutável" e resolveram enfrentá-lo com o único artifício que pode “acariciar” os beneficiados pelo projeto, ou seja, beber cerveja. Sob a tese da impossibilidade de afastar um alcoólatra da bebida, oferecem-lhes cervejinhas diárias, à guisa de salário, embora convictos de que os garis-alcoólatras não se tornam pessoas melhores, todavia a cidade fica limpa. Na jornada de trabalho os garis-alcoólatras chegam ao serviço às 9h e catam lixo até às 15h, fazem pausas para tomar inofensivas “cervejinhas”, fumar e almoçar. Tudo de “graça” (infelizmente ignoram o altíssimo preço que estão pagando).
O álcool é a droga “lícita” mais consumida no mundo contemporâneo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Imaginem se a ideia holandesa vira moda no Brasil. Seria trágico, afinal de contas o nosso país suplanta a média mundial de consumo de alcoólicos. Os dados são da OMS publicado em 2012. Segundo a Organização, não apenas a bebida pode gerar dependência, mas também pode levar ao desenvolvimento de outras 200 (duzentas) doenças. Entre os 194 países avaliados, a Organização Mundial da Saúde chegou a conclusão de que o consumo médio mundial para pessoas acima de 15 anos é de 6,2 litros por ano. No caso do Brasil, os dados apontam que o consumo médio é de 8,7 litros por pessoa por ano.
O alcoolismo é um problema crônico e não preserva nenhuma pessoa. As vítimas desta infernal moléstia podem ser celebridades ou anônimos. Alguns famosos conseguiram combater a doença com o tratamento, e hoje estão recuperados. Porém, outros não lograram êxito e acabaram com a carreira e a reputação. Tornaram verdadeiros farrapos humanos. A bebida arruína e despedaçou a vida de jogadores de futebol como Garrincha e Sócrates; de cantores como Maysa Monjardim, Whitney Houston, Amy Winehouse, Britney Spears, Raul Seixas , Ozzy Osbourne, atores como Macaulay Culkin, Lindsay Lohan, Keanu Reeves, Mel Gibson; Escritores como Nelson Rodrigues, Alexandre Dumas; Mario Quintana, Edgar Allan Poe.
São inúmeras e graves as doenças provocadas pelo álcool. Das 200 (duzentas) doenças, normalmente é o fígado o primeiro órgão a lamentar-se, porém outros podem ser igualmente afetados, com maior ou menor gravidade. Vejamos: fígado gordo, hepatite, fibrose hepática, cirrose, gastrite, pancreatite, anemia, trombose, atrofia cerebral.
O álcool também aumenta o risco de cancro do cólon, que é a terceira causa principal de morte por cancro. Mesmo quando não mata, desfigura e afeta a qualidade de vida. Os tratamentos incluem a remoção de parte do cólon e o uso, temporário ou permanente, de uma bolsa de plástico para recolher os dejetos intestinais (fezes). O que se vê nos hospitais, durante a autópsia do cadáver de um alcoólatra crônico, é algo horripilante. O panorama interno do cadáver pode ser comparado ao de uma cidade completamente destruída por um bombardeio atômico.
Há dois mil anos, Paulo escreveu para os cristãos de Efésio: “e não vos embriagueis com vinho, no qual há devassidão, mas enchei-vos do Espírito.”(4) Como podemos entender o vício? Cremos ser toda dependência química ou psíquica geradora de solicitudes insustentáveis, capazes de levar o dependente a repetir, incessantemente, a ação que sacia, temporariamente, essa “aflição.” (5) Geralmente, decorre de uma ação repetitiva, que nem sempre proporciona prazer imediato, mas, que, ao longo do tempo, torna-se objeto de necessidade exacerbada, inconveniente e prejudicial ao indivíduo.
Para o dependente do álcool, a deterioração física, mental e social é evidente. Basta observar a figura ictérica, inchada, sem controle dos esfíncteres, perambulando pelas ruas, vítima de tremores, de delírios e alucinações, capaz de beber desodorante, álcool etílico, combustível, perfume e, até, urina [porque sabe que, através dela, parte do álcool ingerido será eliminada].
Desde 2003, os Cientistas já afirmavam ter descoberto um gene importante para a explicação dos inúmeros efeitos do álcool no cérebro, e esperavam poder produzir “um medicamento que desligasse alguns dos efeitos de prazer ligados à ingestão do álcool, e talvez tentar combater o alcoolismo com remédio.”(6) Uma droga alucinógena, popular na década de 60, pode ajudar cientistas a encontrar um tratamento para o alcoolismo. A hipótese é de um grupo de pesquisadores da Universidade da Califórnia. “De acordo com os cientistas, pesquisas feitas com ratos, utilizando ibogaína, mostraram que a substância foi capaz de bloquear o desejo de consumir álcool, por meio do estímulo a uma proteína cerebral.” (7)
Estudos feitos, recentemente, sobre o uso do topiramato em voluntários alcoólatras, revelaram que essa droga, comumente usada no tratamento da epilepsia, melhora a saúde geral e reduz o desejo de beber – “embora seus efeitos colaterais preocupem o especialista britânico em psiquiatria do vício, Jonathan Chick, do Royal Edinburgh Hospital, afirmam que os resultados são positivos, especialmente os dados que mostram melhoria na saúde.” (8)
O evangelista Lucas preocupado com o vício da bebida escreveu: "Ele [João Batista] será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte."(9) (grifei) Na hostes espíritas há incautos "líderes" que costumam justificar suas tragadinhas na vil taça com infundados argumentos, como: “todo mundo bebe”; “uns pouco goles não fazem mal”; “só bebo em ocasiões sociais”; (...) “beber moderadamente é até bom para a saúde." Não recomendamos tais tapeações!
Seria plausível a cura de um alcoólatra? Allan Kardec indagou à Espiritualidade se o homem poderia, pelos seus próprios esforços, vencer suas inclinações más [assento aqui os viciados]. Os Espíritos, de maneira objetiva, responderam afirmativamente, explicando que o que falta nos homens [sobretudo nos viciados] é a força de vontade. (10)
Em suma: exoremos ao Senhor da VIDA para que tenha misericórdia dos escravos do álcool.
Notas
e Referências bibliográficas:
(2) O Programa não é indicado para alcoólatras que ainda
moram em casa e têm emprego
(4) Efésios, 5:18.
(5) Do ponto de vista médico, o alcoolismo
é uma doença crônica, com aspectos comportamentais e socioeconômicos,
caracterizada pelo consumo compulsivo de álcool, na qual o usuário se torna
progressivamente tolerante à intoxicação produzida pela droga e desenvolve
sinais e sintomas de abstinência, quando a mesma é retirada.
(9) Lucas 1:15 e 7:33
(10) Kardec , Allan. O Livro dos Espíritos,
questão 909, Rio de Janeiro: Ed FEB 198
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