Jorge Hessen
http://aluznamente.com.br
Uma em cada oito pessoas no planeta
continua sem alimentos suficientes para comer. (1) Embora grande parte da
população mundial passe fome, o problema nem é a falta de comida. “Um terço da
produção de alimentos no planeta é desperdiçado entre a colheita e a mesa do
consumidor. No Brasil, quarto maior produtor mundial de alimentos, 50% do
estoque se perde na cadeia de distribuição.” (2) Dados da Organização das
Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), comprovam que um terço da produção total, em nível mundial,
é dilapidado por negligência de manuseio. Pelo menos 10% se perdem nas
plantações. Do restante, 50% são perdidos na distribuição, no transporte e no
abastecimento. E do que sobra, 40% se perdem na cadeia do consumo, como nas
feiras livres, no setor hoteleiro, nos restaurantes e fornecedores de comida a
eventos.
Se fosse possível recuperar um quarto
do desperdício da população mais abastada, daria para alimentar 20 milhões de
pessoas miseráveis a cada dia. O desperdício é uma tragédia. Um estudo
realizado há dez anos descobriu que os americanos descartam 27% da comida
disponível para o consumo. São números assombrosos! Os países industrializados
apresentam o maior desperdício, porque têm o hábito de inutilizar comida em bom
estado, às vezes só porque não tem boa “aparência comercial”, como ocorre nos
Estados Unidos e na Europa. Lamentavelmente a legislação de vários países não
permite doações (para instituições filantrópicas) da sobra da qualificação de
alimento, ainda que em perfeitas condições de consumo. (3)
Como se não bastassem os
“desperdícios”, há pesquisas que projetam drástico quadro de fome generalizada,
por “escassez” de comida, para daqui a 3 décadas, quando o planeta atingirá o
número 9,2 bilhões de habitantes. Atualmente, tem ganhado um novo fôlego no
ambiente interacadêmico a escola dos neomalthusianos. (4) Havia cerca de 1,5
bilhão de habitantes na época de Kardec, e estima-se que atingiremos pelo menos
11 bilhões daqui a meio século. Muitos creem que a matriz da questão é a explosão
demográfica em face de um meio ambiente bastante degradado. Todos os absurdos
das teorias sociais decorrem da ignorância humana relativa à necessidade de sua
cristianização. Nunca tivemos tanta capacidade de proporcionar bem estar, casa,
educação e alimento a todos, embora tenhamos que conviver com bilhões de
desabrigados, famintos e, principalmente, carentes de educação.
Deus nos deu inteligência, raciocínio
e razão, justamente para enfrentar os inúmeros desafios sociais. Vivemos em um
momento de transição em que talvez não sejam encontradas as soluções ideais
para o problema da fome e, quiçá, para outros igualmente cruciais, mas temos
uma luta árdua para encontrar melhores caminhos para esse flagelo. A ciência,
que fertilizou a terra, controlou pestes e reinventou sementes, haverá de se
relacionar mais uma vez com a natureza para obter novos resultados para a
humanidade do futuro. Terá que nos tirar do atoleiro da possível escassez de
alimentos, inclusive por desperdício. Até porque, Deus se manifesta ao homem
através do próprio homem e "Deus provê para que haja equilíbrio entre a
população crescente e os meios de subsistência". (5)
É triste a constatação, porém, de que
hoje, a cada cinco segundos, (isso mesmo! cinco segundos) morre uma criança na
Terra em decorrência de problemas provocados pela carência de calorias e
proteínas mínimas para sobrevivência. É dramático que a humanidade, em meio a
progressos estupendos, como a capacidade de escavar o solo de outro planeta em
busca de vida, seja ainda assombrada pelo fantasma da fome. Em 2015 a população
mundial terá cerca de 600 milhões de bocas a mais para se alimentar. A pobreza,
a miséria, a guerra, a ignorância, como outras calamidades coletivas, são
enfermidades do organismo social, devido à situação de prova da quase
generalidade dos seus membros. "Cessada a causa patogênica com a
iluminação espiritual de todos em Jesus Cristo, a moléstia coletiva estará
eliminada dos ambientes humanos". (6)
“A Fome já castiga mais de 1 bilhão”
(7), informou o Correio Braziliense há 5 anos. A ONU sinaliza que a falta de
alimentos atingiu nível inédito. No tétrico cenário terrestre, há uma estúpida
realidade de falta de comida, principalmente, em sete países, onde vivem 65%
dos famintos: Índia, China, República Democrática do Congo, Bangladesh,
Indonésia, Paquistão e Etiópia. Uma tragédia que já alcança 1 bilhão e duzentos
milhões de pessoas em todo o planeta, e ganha contornos ainda mais nefastos
quando a ajuda alimentar atinge seu mais baixo nível, em duas décadas (muitos
países ricos têm cortado o financiamento à assistência alimentar). O alerta foi
dado pela norte-americana Josette Sheeran, diretora executiva do Programa
Mundial de Alimentação da Organização das Nações Unidas (PMA).
O homem cibernético perambula pelas
estradas da vida sobre os espólios de suas agonias esfaceladas. Sonha com os
planetas, as estrelas, as galáxias, porém nega impassível um naco de pão ou um
prato de comida ao esfomeado que lhe bate à porta ou que lhe exora cuidado
fraternal nos calçadões frenéticos das metrópoles. O homem tecnológico prega a
paz e fabrica os canhões homicidas;
pretende solucionar os problemas sociais e intensifica a construção das cadeias
e prostíbulos. "Esse progresso é o da razão sem a fé, onde os homens se
perdem em luta inglória e sem-fim". (8)
Na hora atual da humanidade
terrestre, em que todas as conquistas da civilização se subvertem nos
extremismos, o Espiritismo é o grande iniciador da questão social, por
significar o Evangelho redivivo que as religiões literalistas tentam inumar nos
interesses econômicos e na convenção exterior de seus prosélitos. Talvez
estejamos vivendo agora na Terra um crepúsculo, ao qual sucederá profunda
noite; e ao século compete a missão do desfecho desses acontecimentos
espantosos. Revendo os quadros da História do mundo, sentimos um frio cortante
neste crepúsculo doloroso da civilização ocidental. Lembremos a misericórdia do
Pai e façamos as nossas preces. “A noite não tarda e, no bojo de suas sombras
compactas, não nos esqueçamos de Jesus, cuja misericórdia infinita, como
sempre, será a claridade imortal da alvorada futura, feita de paz, de
fraternidade e de redenção.” (9)
“Então, perguntar-lhe-ão os justos:
Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te
demos de beber? - Quando foi que te vimos sem teto e te hospedamos; ou despido
e te vestimos? - E quando foi que te soubemos doente ou preso e fomos
visitar-te? - O Senhor lhes responderá: Em verdade vos digo, todas as vezes que
isso fizestes a um destes mais pequeninos dos meus irmãos, foi a mim que o
fizestes.”(10)
Referências bibliográficas:
(4)
Em 1803, Thomaz
Robert Malthus (1766-1834), economista inglês e ao mesmo tempo religioso ligado
à Igreja Anglicana, formulou célebre teoria econômica, baseada em observações
colhidas na Noruega, Suécia, Finlândia, norte da Rússia, França, Suíça e na
própria Inglaterra, pela qual preconizava abertamente o controle do aumento da
população.
(5)
Kardec, Allan. O
Livro dos Espíritos, RJ: ed. FEB , 2001, questão 687
(6)
Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, Ditada pelo Espírito Emmanuel, RJ: Ed
FEB, 2001, per. 55,92,121,
(7)
Publicado no
Jornal Correio Braziliense edição de 17 de setembro de 2009
(8)
Xavier, Francisco
Cândido. O Consolador, Ditada pelo Espírito Emmanuel, RJ: Ed FEB, 2001, per.
199
(9)
Xavier, Francisco
Cândido A Caminho da Luz– ditado pelo espírito Emmanuel, 22ª edição História da
Civilização à Luz do Espiritismo (Psicografado no período de 17 de agosto a 21
de setembro de 1938) RJ: Ed FEB 2001
(10)
Mateus, 25:37-40.
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