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sábado, 26 de setembro de 2015

Suicídio e Resiliência (*)


Luiz Carlos Formiga
O suicídio é problema de saúde relevante e uma das principais causas de morte, que se pode prevenir (1). Diante da tese da reencarnação, perguntamos como se refletirá no espírito uma lesão cerebral causada pelo suicídio? Por que pessoas que passam por situações difíceis de suportar não pensam nele, enquanto outras se matam depois de aborrecimentos ligeiros?

A grande diferença é que as pessoas resistentes conseguiram encontrar algum sentido no sofrimento e usam sua inteligência para o bem de todos.

Tivemos um amigo que ficou órfão cedo. Jovem foi contaminado pelo M. leprae, o que lhe rendeu sofrimentos, mas viveu muitos anos (2).

Sentimos saudades de sua voz declamando no Centro Espírita: “Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e o Cristo te esclarecerá”(3).

O Espírito na sua “delação premiada” demonstrava a herança acumulada. Ela seria considerada pelos geneticistas do plano espiritual para que tivesse a melhor provação corporal, de acordo com as suas necessidades espirituais. Assim nasceu Amazonas Hércules. Com fé e confiança no futuro, encontrando sentido no sofrimento, programou 91 anos.

Agora no corpo e diante da dureza da prova poderia ter pensado em suicídio. Mas resolveu trabalhar na seara do Cristo ajudando a mitigar outros sofrimentos. Nessa tarefa redentora, seria incansável e sempre arranjaria auxílio para as famílias carentes.

Por que este homem foi um Hércules diante da palavra leproso?

Ao receber o diagnóstico da enfermidade que carrega o estigma da lepra alguns pacientes mal informados se desesperam.

Amazonas adoeceu antes da existência dos quimioterápicos e antibióticos. Portando a forma mais grave da hanseníase apresentou sequelas perceptíveis no vídeo (6). Foram 91 anos!

Muitos retornam e no corpo a vida não prospera. Necessitam dele, mesmo em curto tempo, para tratar lesões periespirituais. Geralmente, deixaram a vida na Terra pela porta do suicídio naquelas quedas de grandes alturas.

No futuro, a Ciência Biomédica saberá das lesões que o próprio indivíduo causou ao cérebro material-espiritual, dando origem à anencefalia (4).

Algumas lesões do corpo sutil somente são corrigidas com reencarnações saneadoras. Rendamos homenagens a essas mães que conseguem aceitar este tipo de gestação.

Existe convicção de que o espírito será capaz de escolher as provações que experimentará na Terra, entre os espíritas que são profissionais de saúde. Evidentemente, desde que se mostre na posição evolutiva moral de resolver quanto ao próprio destino. “A criatura elege, automaticamente, para si mesma, grande parte das doenças que se lhe incorporam às preocupações” (5). Cada caso é um caso.

Como explicar aquelas crianças que nascem fora de série, como aquela que executou uma sonata ao piano com quatro anos e compôs uma ópera, aos oito? 

Amazonas Hércules tornou-se órfão de pai, antes do nascimento, e de mãe, antes de um ano. Como o tratamento elimina o contágio, tinha contato pessoal com as crianças. Veja-o ensinando o valor das mães (6). Tinha mãos imperfeitas, mas agora abençoadas, “porque adquiriu a noção justa da confiança em Deus

“O discípulo alcança a luz do conhecimento a fim de aplica-la ao próprio caminho”. Jesus “concedeu-lhe um traço do Céu para que ele o desenvolvesse e o estendesse através da terra em que pisava”.

Aquele “leproso”, sem preconceito, compreendeu que “dar-se a Cristo é trabalhar pelo estabelecimento de seu reino. Sendo forte no conhecimento, não procurou repouso na indiferença ante os impositivos sagrados da luz acesa, pela infinita bondade do Cristo, em seu mundo íntimo.”

Em “O Poeta do Amor” colhemos relato de Gilberto Lepenisck (7) sobre o dia anterior à sua desencarnação:

- Está vendo, meu irmão, o crepúsculo da tarde dando lugar à noite?

- Sim, estou, respondeu Gilberto.

- Ele nos envolve com os seus encantos.

- É verdade.

- Assim adormecemos e viajamos todas as noites.

O diálogo continuou por mais algum tempo e ele dormiu...

No dia seguinte, o telefone tocou. Era Jaqueline dizendo-me que ele havia desencarnado. Abril de 2004, aos 91 anos.

Não tive a mesma sorte de Gilberto, a quem agradeço poder mentalmente contemplar este “crepúsculo da tarde dando lugar à noite”.

Amazonas Hércules era um forte e “adquiriu a noção justa da confiança em Deus e não se furtou a luta aguardando o céu” (8).

Espírito liberto nos fala pela psicografia (**). Vejamos o inicio de sua carta:

“Todos os dias, ao acordar, pela fresta da janela, contemplava a natureza como sendo a presença de Deus a me desejar bom-dia.

Os verdes e as flores pareciam gargalhadas de cores para felicitar meus dias. Procurava, então, expressar, em forma de sorriso, a minha alegria por ter Jesus como guia. Por isso, indicava-O para todos os que batiam em minha porta à procura de remédios. Para as dores físicas dava remédios, para as dores morais dava o Evangelho, o mais lindo poema de amor que Deus ofertou aos Seus filhos, afastando-os da dor.”

Ainda posso ouvi-lo, lembrando Paulo (Efésios, 5:14):

“Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e o Cristo te esclarecerá.” 

“Grande número de adventícios ou não aos círculos do Cristianismo acusa fortes dificuldades na compreensão e aplicação dos ensinamentos de Jesus. Alguns encontram obscuridades nos textos, outros perseveram nas questiúnculas literárias. Inquietam-se, protestam e rejeitam o pão divino pelo envoltório humano de que necessitou para preservar-se na Terra. São vítimas de paralisia das faculdades” (9).

Amazonas tinha problemas de locomoção. A muleta e a cadeira de rodas eram soluções. No entanto, onde ia fazer palestras, na ausência de elevador chegava ao salão muitas vezes carregado. A hanseníase sem tratamento pode levar à cegueira, mas ele não tinha essa herança.

Por que Deus permite o nascimento de crianças cegas e surdas? Por que permite que, ainda na infância, cheguem a esta condição (10).

Por que Hellen não pensou em suicídio? De onde vem essa força estranha que os faz permanecer vivos, lutar pela vida e perseguir sonhos?

Apesar de tudo, Hellen escrevia em inglês, francês, e fez conferências pelo mundo. Seus livros são admiráveis. Em "Minha Vida de Mulher" fala da religiosidade: "ninguém pode saber melhor do que eu o que são as amarguras dos defeitos físicos. Não é verdade que eu nunca esteja triste, mas há muito resolvi não me queixar. Eis para que serve a religião: inspirar-nos à luta até ao fim, de ânimo forte e sorriso nos lábios". "Mas, uma ambição eu tenho: a de não me deixar abater. Para tanto conto com a bênção do trabalho, o conforto da amizade e a fé inabalável nos altos desígnios de Deus".

Uma pergunta não poderia faltar. Como conciliar “Carma” e Misericórdia?

Francisco Cândido Xavier, que era deficiente visual, respondeu: "Quando temos dívida na retaguarda, mas continuamos trabalhando a serviço do próximo, a Misericórdia Divina manda adiar a execução da sentença de resgate, até que os méritos do devedor possam ser computados em seu benefício".


Leitura adicional.







5. Doenças Escolhidas. Livro Religião dos Espíritos.


6. Dia das mães.



8. Livro Pão Nosso. Lição 46. Vós, Entretanto 


9. Livro Pão Nosso, lição 68. Necessário Acordar


10. Borboletas na Janela.


(*) Professora, Fátima Araújo de Carvalho: "a resiliência é caracterizada por um conjunto de atitudes adotadas pelo ser humano para resistir aos embates da vida. O ser resiliente não foge das opressões e consegue neutralizar seus efeitos, sem que necessariamente as mesmas sejam afastadas ou diminuídas". Recebemos da professora, de São José dos Campos texto de Heloisa Helvécia - "Resiliência em Alta", oriundo da Folha de São Paulo, onde destaca o termo deslocado da Física: "este conceito nomeia a propriedade de alguns materiais de acumular energia, quando exigidos e estressados, a voltar ao seu estado original sem qualquer deformação". Universidade da Alma. Para Sobreviver.  




(**) Psicografada por Fábio Caetano da Silva, em 30/10/2005, em Jacarepaguá, Rio de Janeiro-RJ.
“Caravaneiros do Amor” foi o nome da primeira caravana espírita do Centro Espírita Filhos de Deus, localizado na Colônia de Hansenianos de Curupaití, em Jacarepaguá.Rj.

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