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sexta-feira, 10 de julho de 2015

Juventude espírita: antecedentes históricos e primeiros tempos (*)

Antonio Cesar Perri de Carvalho


As iniciativas pioneiras do movimento jovem, que conquistou expressão e abrangência nacional.


De tempos imemoriais há registros de ações e admoestações vinculadas à etapa juvenil assinalados por filósofos, historiadores e evangelistas. 1

Entre os apóstolos diretos e indiretos do Cristo havia jovens, como João, o evangelista, como também relacionados com Paulo de Tarso. Um dos personagens que deu nome ao romance Paulo e Estêvão, este último foi o primeiro mártir do Cristianismo com aproximadamente com anos e atuava como expositor da Boa Nova. Em Portugal, o culto a “Santo” Estêvão encontra-se associado à festa dos rapazes nas aldeias de Trás-os-Montes, como uma “padroeiro”. João Marcos e Timóteo atuaram junto a Paulo, em momentos diferentes. Marcos veio a ser um dos evangelistas e o “apóstolo da gentilidade” dedicou duas de suas epístolas são dirigidas a Timóteo.

Na história da igreja, há vários jovens com atuação histórica, como Joana D’Arc e Luiz Gonzaga. Este último “santo” viveu apenas 23 anos e é considerado “padroeiro da juventude e dos estudantes”. Seu nome denomina muitas escolas católicas e o centro espírita fundado por Chico Xavier, em Pedro Leopoldo. Nos albores do “novo espiritualismo”, um médium começa a atuar com 18 anos, Andrew Jackson Davis, nos Estados Unidos, e descreve uma colônia espiritual -“Summerland” – com jovens.

No início da elaboração das obras da Codificação, Allan Kardec contou com médiuns jovens como Ruth Celine Japhet e as irmãs Caroline e Julie Baudin. Contemporâneos e seguidores de Kardec tiveram papel destacado desde a juventude: Camille Flammarion, Gabriel Delanne e Léon Denis. Nas primeiras décadas do Movimento Espírita brasileiro houve histórica atuação de jovens como o vice-presidente e presidente da FEB Leopoldo Cirne, Eurípedes Barsanulfo e Francisco Cândido Xavier.

Na mesma época em que o médium de Pedro Leopoldo, com 22 anos de idade, tinha sua obra Parnaso de Além Túmulo lançada pela FEB, surgiam as primeiras mocidades espíritas, em geral autônomas: 1930 – Mocidade Espírita de Bebedouro (SP); 1932 – União da Juventude Espírita do C. E. Maria de Nazaré, Santana, São Paulo (SP); 1932 – Sociedade de Moças “Pioneiras Sociais” – Presidente Soares (MG); 1933 – Mocidade Espírita de Araçatuba (SP); 1934 – Associação dos Moços Espíritas de Santos (SP); 1936 – Juventude Espírita Amaral Ornellas, Rio de Janeiro (RJ); 1936 – Mocidade Espírita de Nova Iguaçu (RJ); 1937 – União das Mocidades Espíritas de São Paulo (UMESP), São Paulo (SP); 1937 – Mocidade Espírita Bezerra de Menezes, de Três Rios (RJ); 1940 – União da Mocidade Espírita de Uberaba (MG).2,3,4,5

Em nossa terra natal – Araçatuba (SP) – na passagem dos anos 1930/40, Ivan de Albuquerque viveu uma parte de sua juventude e manteve amizade com familiares nossos. Lá fundou um núcleo juvenil no Centro Espírita “Cairbar Schutel”.

Na década de 1940 surge o profícuo trabalho de Leopoldo Machado com a chama “Cruzada do Espiritismo de Vivos”, tendo como propostas: abertura dos Centros Espíritas para a sociedade; criação de Mocidades Espíritas e de Escolas de Moral Cristã. Nesse período foram criados: a União das Juventudes Espíritas do Distrito Federal (31/8/1947), formada por 11 Mocidades Espíritas do Rio de Janeiro; a Mocidade Espírita Cairbar Schutel, de Matão- SP (16/09/1947); o Conselho Consultivo de Mocidades Espíritas do Brasil (24/7/1948). Este último relacionado com o 1º. Congresso de Mocidades Espíritas do Brasil (17 a 25/7/1948) efetivado na cidade do Rio de Janeiro, liderado pelo incansável líder Leopoldo Machado.

O ano de 1948 registra importantes fatos: surgiu a Concentração de Mocidades Espíritas do Brasil Central e Estado de São Paulo – COMBESP, reunindo jovens de Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e depois o Distrito Federal (Brasília). Este certame foi um celeiro de formação de expositores e lideranças.2,3 Entre outubro e novembro, o Congresso Brasileiro de Unificação, em São Paulo, contando com adesão de lideranças adultas e jovens de Estados do Sul e do Sudeste do país. Os dois últimos eventos alimentaram propostas que geraram o “Pacto Áureo”, assinado com a FEB, em 1949, quando foi criado o Conselho Federativo Nacional da FEB.3 Logo depois houve o Ato de Unificação das Mocidades Espíritas do Brasil (13/11/1949). Em decorrência, esta data foi comemorada durante muitos anos como o “dia do moço espírita”, e, a criação do Departamento de Juventude da FEB (2/12/1949). Em janeiro de 1950 nasceu o jornal Brasil Espírita, de responsabilidade desse Departamento da FEB.

Em 1956, surgiu o primeiro evento regional do Estado de São Paulo, a “Concentração de Mocidades Espíritas da Noroeste do Estado de São Paulo” (COMENOESP), e logo depois das regiões Nordeste, Leste e Capital do mesmo Estado. Sob os auspícios dos Conselhos Regionais da região do Triângulo Mineiro surgiu em 1964 a COMETRIM – Confraternização de Mocidades Espíritas do Triângulo Mineiro.6 Depois, por sugestão de Chico Xavier passou incluir também os adultos e inclui mais um “M” na sigla: “[...] acreditamos que as reuniões e confraternizações de Mocidades Espíritas – que a nosso ver deveriam ser também acompanhadas de reuniões e confraternizações de adultos espíritas, é trabalho de muito valor...”7. Pouco antes, o CFN da FEB, em eventos regionais iniciava a discussão sobre temas do Movimento Espírita. Em 1962, o Simpósio Centro-Sulino, realizado em Curitiba, aprovou deliberações significativas para as Mocidades Espíritas.8,9 Com base neste documento recomendou-se a suspensão da COMBESP, encerrada na mesma cidade onde surgiu: Barretos (SP), em 1966, estimulando-se a promoção de eventos estaduais, pelas Entidades Federativas Estaduais. Outra recomendação é que as Mocidades e Juventudes Espíritas se transformassem ou fossem criadas como departamentos de centros espíritas. Durante muito tempo poucos conclaves foram concretizados neste novo modelo, como a Confraternização de Mocidades e Juventudes Espíritas do Estado de São Paulo, iniciada em 19673 e mantida até nossos dias. Os eventos estaduais surgiram após as recomendações do 1º. Simpósio Centro Sulino, promovido pelo CFN da FEB, no ano de 1962, e houve a cessação das COMBESPs. Assim surgiu, por exemplo, a 1ª. Confraternização de Mocidades e Juventudes Espíritas do Estado de São Paulo (1967).

O entusiasmo juvenil gerou a formação de grupos, inicialmente autônomos e depois como departamentos de instituições espíritas. O movimento jovem conquistou expressão, com abrangência nacional. Daí a razão da efetivação da 1ª. Confraternização de Mocidades e Juventudes Espíritas do Brasil – COMJEB, realizada em Marília (SP), em 1965, contando com o apoio da FEB10.

Ainda no final dos anos 1960, o Departamento de Mocidades da USE-SP promoveu Cursos Intensivos para a Preparação de Dirigentes de Mocidades Espíritas, liderado por equipes principalmente das cidades de Lins e de Bauru.11

Como partícipe das ações jovens no Estado de São Paulo, nos anos 1960, vivemos momentos importantes e históricos relacionados com a juventude espírita do Estado de São Paulo e do país, e, fundamos a Mocidade Espírita Irma Ragazzi Martins, em Araçatuba, em 1964. Entre as lideranças que conhecemos na época, está Altivo Ferreira que atuou na juventude na passagem dos anos 1930/40 e durante a década de 1940, e que nos enriqueceu com algumas informações.5

Referências:
1) Perri de Carvalho, Antonio Cesar. Jovens no movimento espírita. Reformador. Ano 131, No.2.214, setembro de 2013, p. 326-328.
2) Perri de Carvalho, Antonio Cesar. Abordagem sobre a juventude. In: Autores diversos, Rumos para uma nova sociedade. São Paulo: Ed. USE. 1996. p.145-155. 
3) Idem, Espiritismo e modernidade. São Paulo: Ed. USE. 1996. p.65-66.
4) Oliva Filho, Apolo. As realizações juvenis espíritas, Anuário Espírita 1967, Araras: IDE. p. 95-97.
5) Ferreira, Altivo. Registro de informações pessoais ao articulista, 2013.
6) Cometrim: uma experiência no campo da unificação. Anuário Espírita 1966. Araras: IDE. p. 148-151.
7) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Entrevistas. Araras: IDE, 1972. p.112-114.
8) 1º Simpósio Espírita Centro-Sulino. Unificação. Órgão da USE. Abril de 1963. p. 5-6.
9) Conselho Federativo Nacional. Reformador. Ano 80. No.9. Setembro de 1962. p.202.
10 ) I COMJEB – Acontecimento espírita do ano. Anuário Espírita 1967, Araras: IDE. p.172-175.
11) II Curso Intensivo para a Preparação de Dirigentes de Mocidades Espíritas  Anuário Espírita 1970, Araras: IDE. p.231.
Obs.: O autor solicita de quem os possuir, informações sobre dados dos anos 1930/1950.
(*) Publicada na Revista Internacional de Espiritismo, edição de julho de 2015, p.310-312.

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