.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Difusão do Espiritismo na atualidade (*)

 Antonio Cesar Perri de Carvalho

Muito se fala e se escreve sobre a difusão do Espiritismo e, muitas vezes, focalizando-se na área da Comunicação Social, como se esta fosse sinônimo apenas de difusão ou de divulgação. Não se pode depositar expectativas apenas na difusão pela mídia, em palestras e eventos públicos.

A nosso ver, o assunto deve ser considerado como “interdisciplinar” e envolve todos os “nichos” das instituições espíritas. Há a questão de base dentro das instituições espíritas e junto à comunidade onde estão inseridas.

Durante a reunião ordinária do Conselho Federativo Nacional da FEB do ano de 2014, a convite do presidente, Jorge Elarrat apresentou um estudo, como profissional da área, sobre as estatísticas do IBGE relacionados com religiões – com base no Censo de 2010. Ao comparar os dados entre as principais religiões, mostrou que o Espiritismo e as religiões orientais são as que menos cresceram nas faixas etárias até 29 anos. Sobre o Espiritismo, em geral, concluiu: “é a terceira religião no país com 2% de declarações; cresceu 55% em uma década; cresce em todas as regiões sendo mais presente no Sudeste (3,1%); exige atuação nas Regiões Norte (0,5%) e Nordeste (0,8%); possui maior presença nas faixas sociais A e B e de maior escolaridade; exige plano de divulgação para populações de menor renda; apresenta vale profundo na participação etária juvenil; exige revisão do modelo de atuação do movimento jovem; movimento está envelhecendo.”(1)

Jorge Elarrat (2) analisa que o segmento dos jovens espíritas cresceu numa taxa menor que a média dos espíritas e que os gráficos indicam uma redução relativa nessa faixa etária porque os adultos quase dobraram. Para ele está claro que a juventude espírita cresceu menos que a média dos espíritas.

Em nossa ótica, os dados do IBGE citados devem ser considerados em conjunto e procurando-se dar foco nas realidades dos centros espíritas. O “Plano de Trabalho para o Movimento Espírita Brasileiro (2013-2017)”, discutido e aprovado pelo CFN da FEB, oferece recomendações para se tratar conjuntamente as vertentes: público-alvo; preparação de trabalhadores; inserção na sociedade.(3)

Nos últimos anos vivenciamos algumas experiências com tal objetivo, como o projeto de interiorização e de incentivo à simplicidade, quando visitamos em parceria com Entidades Federativas Estaduais, centros do interior dos Estados (4,5,6), e, os seminários integrados sobre “Acolhimento, Consolação, Esclarecimento e Orientação”.(7) Há necessidade de se levar contribuições e apoio aos centros espíritas para se melhorar e dinamizar os processos de acolhimento e integração dos neófitos e interessados em Espiritismo. O Movimento Espírita como um todo precisa conhecer e se adequar às realidades das regiões, cidades e bairros, com o objetivo de favorecer que a mensagem e a ação espíritas cheguem efetivamente junto às várias faixas sociais da população. 

As relações interpessoais e sociais são extremamente importantes para tal finalidade e é chegada a hora de se rever e se adequar alguns processos e métodos que vêm sendo adotados no Movimento Espírita em geral, como um certo formalismo, programações muito padronizadas e uma espécie de escolarização. Na prática isso pode ser observado pelo excesso de exigências de requisitos para se inscrever em cursos, postergação de ações práticas e de integração nas atividades dos centros. Nossas observações, com base no conhecimento do Movimento Espírito de todo o país, é que há dificuldades na base para o atendimento das crianças e jovens – das várias faixas sociais – que chegam aos centros espíritas, falta de adequação das linguagens e melhor definição dos focos prioritários na localidade para a seleção de temas, desde as palestras públicas até nos cursos e grupos e nas atividades em geral, e, um certo “engessamento” da mediunidade. Essas são algumas das razões para explicar os dados gerais não alvissareiros do Censo de 2010. Para a juventude já há uma proposta inicial que são as “Diretrizes para as ações do jovem espírita do Brasil”. (8)

Simultaneamente, por iniciativa do presidente da FEB e mantendo relação com o tema, foi realizada uma série de quatro seminários intitulados “Educação & Atividades Espíritas” na FEB em 2014 e no início de 2015, contando-se com espíritas que têm atuação profissional nas áreas do ensino fundamental, ensino superior, ensino para adultos, família e em atividades assistenciais. A etapa final foi coordenada pela profa. Sheila da Costa Oliveira, efetivando uma síntese dos seminários anteriores e um estudo em grupo. Concluiu-se que há necessidade de algumas mudanças que possam levar a transformações, como: “evitamento de processos típicos de escolarização” e condições para se: “criar espaços interativos e dialógicos nos encontros de aprendizagem (mais conversa, menos exposição; os participantes têm muito com que contribuir); organizar espaços de aprendizagem atrativos e diversificados (jardins, excursões, visitas culturais e assistenciais); promover mais momentos informais de confraternização; conhecer o perfil do grupo e considerá-lo na escolha de abordagens didático-pedagógicas, as quais devem ser criativas e diversas; desenvolver acolhimento e zelo nas relações interpessoais; abordar o conhecimento doutrinário como apoio à transformação moral e social e não como um fim em si mesmo; considerar os saberes anteriores e atuais dos participantes no desenvolvimento do conteúdo; desenvolver acolhimento e zelo nas relações interpessoais; abordar o conhecimento doutrinário como apoio à transformação moral e social e não como um fim em si mesmo; considerar os saberes anteriores e atuais dos participantes no desenvolvimento do conteúdo; trabalhar com problemas e não somente com temas”. (9)

(*) Transcrito do: "Correio Fraterno do ABC" (N º 4 6 3 - M a i/J u n 2 0 1 5)

Referências:


2) Elarrat, Jorge. Informação pessoal. E-mail de 27/4/2015.

3) Plano de Trabalho para o Movimento Espírita Brasileiro (2013-17). Reformador. Ano 131, no. 2.207. Fevereiro de 2013. Suplemento; http://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2012/11/Plano-de-Trabalho.pdf4 (acesso em 30/4/2015).


5) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Acolhimento dos simples. Reformador. Ano 129, no. 2.183. Fevereiro de 2011. p.60-62.

6) Carvalho, Antonio Cesar Perri. A simplicidade de Francisco de Assis. Reformador. Ano 129, no. 2.183. Fevereiro de 2011. p.112-3.

7) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Ações de acolhimento, consolo, esclarecimento e orientação. Reformador. Ano 130, no. 2.203. Outubro de 2012. p. 376-7.


0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home