Leopoldo Cirne
Tornou-se espírita no Rio de Janeiro, em 1894, filiando-se à Federação Espírita Brasileira (FEB). Naquela instituição conheceu Bezerra de Menezes, tendo sido um dos que instaram a que o referido Bezerra assumisse a presidência da FEB. Com ele, integrava o grupo dos chamados "místicos", estudiosos da obra de Jean-Baptiste Roustaing.
Em 1897 Cirne compreendeu que a união do movimento espírita deveria estar acima de partidos. No ano seguinte (1898) tornou-se vice-presidente da FEB, vindo a assumir a presidência em 1900, com o falecimento de Bezerra de Menezes.
Em 1902 renovou os seus estatutos, instituindo o estudo das obras completas de Allan Kardec como referência básica daquela instituição, e tendo o cuidado de retirar daquele diploma a paridade que Roustaing tinha com Kardec nos estatutos anteriores. Embora Cirne fosse "roustaingista", acreditava que a divulgação desses conceitos na FEB era motivo de cisão no Movimento Espírita brasileiro. Esta atitude causou desagrado em alguns membros da FEB.
Em 1904 promoveu o I Congresso Espírita, em homenagem ao centenário do nascimento de Kardec, tendo contado com a participação de mais de 2000 pessoas.
A partir de 1909, iniciou a divulgação do Esperanto na FEB, associando a promoção dessa língua ao movimento espírita no país.
Ainda em sua gestão, iniciou-se a construção de uma sede própria para a FEB, inaugurada em 10 de dezembro de 1911.
O seu trabalho destacou-se não apenas como gestor da FEB mas, também como distinto expositor da Doutrina Espírita.
Cirne se esforçou para implantar a "Escola de Médiuns" na FEB. Esta visava a educação da mediunidade, através do estudo sistematizado de "O Livro dos Médiuns", uma vez que, até então, os médiuns em geral não possuíam conhecimentos doutrinários. Cirne procurava assim atender a mensagem que Kardec havia enviado em 1889 aos espíritas brasileiros, onde esse pedido era formulado. Foi, entretanto, incompreendido à época, uma vez que os médiuns da FEB não foram receptivos ao projecto da escola. Por esse motivo, e ainda diante da resistência do setor de "Assistência aos Necessitados" da casa, que não concordavam com as inovações propostas, Cirne perdeu a eleição para a presidência em 1913, retirando-se da instituição.
À época, o seu afastamento voluntário da FEB foi objeto de críticas entre os espíritas, uma vez que Cirne havia sido discípulo de Bezerra de Menezes e que apenas desejava implementar as orientações de Kardec ao movimento espírita brasileiro.
Os anos seguintes foram, entretanto, muito produtivos para Cirne: redigiu as "Memórias históricas do Espiritismo", obra de referência para o estudo do movimento espírita no país no século XIX. Redigiu ainda "Doutrina e Prática do Espiritismo", uma das referências básicas do estudo do espiritismo durante muitas décadas. Em 1935, veio a público o polêmico "Anticristo, Senhor do Mundo", obra em que Cirne, como um estudioso e crítico do movimento espírita no país, declara que "influências maléficas" se apossaram do Movimento Espírita. A sua análise é impiedosa, rigorosa e plenamente demonstrada por fatos. O subtítulo da obra - "O espiritismo em falência" -, revela que Cirne no final de sua vida, considerava o Movimento Espírita desviado de seus princípios originais. Essa visão apoiava-se na percepção das fragilidades da liderança da FEB, da escassez de bons médiuns no movimento, na fraca qualidade dos estudos nos centros espíritas, e na falta de implantação da Escola de Médiuns, passados 46 anos da recomendação de Kardec.
Quando, em 1926, foi feita uma tentativa de se estabelecer uma Constituinte Espírita para Unificação, como força contrária à FEB, Cirne, convidado de honra, não quis pertencer à Constituinte e chegou a publicar um lúcido artigo denunciando os propósitos daquela Constituinte. Mesmo não sendo mais membro da FEB e discordando muito de sua gestão, preferiu manter-se fiel aos princípios de Unificação. A Constituinte faliu em seu propósito.
Cirne faleceu em 1941. Menos de uma década após, a FEB ganhava outra dimensão no cenário espírita nacional: retomou o seu trabalho de unificação, implantou a Escola de Médiuns, assumiu a liderança do Movimento Espírita a nível nacional. Em grande parte, tal êxito foi realizado graças ao trabalho mediúnico de Francisco Cândido Xavier.
Conforme registado na obra "Instruções Psicofónicas", Cirne, comunicou-se através da mediunidade de Chico Xavier. Cirne é também um dos personagens da obra "Voltei", ao lado de Bezerra de Menezes, Inácio Bittencourt e Antônio Luís Sayão. Comunicou-se ainda pela mediunidade de Waldo Vieira, conforme registro na obra "Seareiros de Volta".
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