UM ENSAIO SOBRE MATÉRIA E ENERGIA
No cap. 9 da obra “E a Vida Continua”, de André
Luiz, o irmão Cláudio diz: “Qualquer aprendiz de ciência elementar, no
Planeta, não desconhece que a chamada matéria densa não é senão a energia
radiante condensada. Em última análise, chegaremos a saber que a matéria
é luz coagulada, substância divina, que nos sugere a onipresença
de Deus.” [1] (Grifos em itálico originais). No cap. 1º. de “Evolução
em Dois Mundos”, André Luiz diz que: “... na essência, toda a matéria
é energia tornada visível e que toda a energia, originariamente, é força divina
de que nos apropriamos para interpor os nossos propósitos aos propósitos da
Criação, ...” [2].
É comum, no movimento espírita, ouvirmos a idéia de que matéria pode
ser transformada em energia e vice-versa. Nós mesmos, outrora, afirmamos isso
[3], mas um estudo mais rigoroso sobre como a Física interpreta os fenômenos
de desmaterialização, de aniquilamento de pares de partículas-antipartículas,
ou reações de fissão ou fusão nucleares revelam o equívoco desta idéia. O
objetivo desta matéria, portanto, é esclarecer como a Física entende matéria, energia e
tais fenômenos de transformação. Após, discutiremos como essas idéias se
relacionam com o que ensina o Espiritismo.
A palavra energia é tão antiga quanto Aristoteles, e
seu conceito moderno emergiu de estudos de Leibniz [4]. Nas palavras de um
dos maiores físicos do século passado, o conceito de energia pode ser
entendido como:
“Existe um fato, ou se desejar, uma lei que governa todos os fenômenos
naturais conhecidos até o presente. Não existe exceção a esta lei; ela é
exata até onde se sabe. Esta lei é chamada de conservação de energia; ela diz
que existe uma certa quantidade que chamaremos energia, que não se altera
perante as diversas alterações a que a natureza está sujeita. Esta é uma
idéia completamente abstrata porque ela é um princípio matemático que diz que
existe uma quantidade numérica que não se altera quando alguma coisa
acontece. A energia não é uma descrição de um mecanismo ou de algo concreto;
é apenas um fato estranho que calculamos um número, e quando terminamos de
observar a natureza realizando seus truques e calculamos o número de novo,
ele é o mesmo.” Richard Feynman [4] (tradução nossa).
A definição mais comum de matéria é a de
qualquer coisa que tenha massa e ocupe volume de espaço [5]. Segundo
a Física Moderna, a ocupação de espaço por parte da matéria
decorre do fato dos elétrons, que possuem uma propriedade magnética
intrínseca chamada spin de valor semi-inteiro igual a 1/2,
não poderem ocupar as mesmas regiões espaciais em torno do núcleo de um
átomo. Isso causa a sensação de repulsa entre dois objetos. Partículas que
possuem spin de valor semi-inteiro (1/2, 3/2, 5/2, etc.) são
chamadas de férmions, e os constituintes da matéria ordinária que
conhecemos, como os prótons, neutrons e elétrons, são férmions. A teoria
quântica demonstra que os férmions não podem ocupar os mesmos estados
quânticos num sistema, incluindo-se a posição no espaço, explicando, assim, a
concepção de que “dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar”.
Entretanto, na natureza existe, também, outro tipo de partículas
chamadas bósons. Elas tem a propriedade de possuir spin de
valor inteiro (0, 1, 2, etc.). Ao contrário dos férmions, e por mais incrível
que possa parecer, os bósons podem ocupar o mesmo estado quântico, incluindo
ocupar a mesma região do espaço. Por causa dessas propriedades, os bósons
são considerados pela Física como as partículas “que carregam a força”. Ofóton,
por exemplo, que é um “quantum” de radiação eletromagnética, é o bóson que
“carrega” a força eletromagnética. Vários fótons de diferentes radiações
eletromagnéticas podem ocupar o mesmo espaço, a prova disso é o fato de
termos num mesmo ambiente ondas de rádio, TV, celular, etc., sem que uma
interfira na outra.
A teoria da Física que, nos dias de hoje, estuda as propriedades de
todos os tipos de partículas é chamadaModelo Padrão[5]. Segundo o
Modelo Padrão, a matéria dita ordinária (isto é, a matéria
que conhecemos) é composta por partículas elementares, isto é,
partículas que não possuem estrutura interna e, por isso, são chamadas de
elementares. Por exemplo, os prótons não são partículas elementares pois são
formados por trêsquarks. Estes, por sua vez, não seriam formados por
outras partículas sendo, portanto, elementares. Os chamados léptons,
a cuja classe pertence o elétron, também são partículas elementares. O Modelo
Padrão foi desenvolvido em 1970 e tem grande aceitação entre os físicos. Sua
única limitação, atualmente, é não descrever ainda a força de interação
gravitacional devido às massas das partículas. Acredita-se, que a descoberta
do chamado bóson de Higgs possa esclarecer esse ponto dentro do contexto
desta teoria[5].
Segundo o Modelo Padrão e, portanto, de acordo com o conhecimento da
Física atual, a matéria ordinária é tudo que é formado de
férmions elementares, isto é, de quarks e léptons que
possuem spin de valor semi-inteiro. Como os elétrons são
léptons e os prótons e neutrons são formados por quarks, todos os átomos
conhecidos que formam a matéria que conhecemos são formados de quarks e
léptons, e portanto, de férmions.
Mas, e os fótons e outros bósons que a Física de Partículas já
descobriu? Não seriam matéria? O que seriam? O Modelo Padrão simplesmente não
as chama de matéria, mas apenas de bósons. São, de fato, partículas reais,
que fazem parte da natureza física que conhecemos, mas apenas não são
consideradas matéria ordinária. Poder-se-ia inventar um nome para elas, mas
comumente os físicos as chamam de “partículas mediadoras”, pois elas são
responsáveis por carregar e transmitir a mensagem da força entre os férmions.
Dentro do sentido que empregamos a palavra matéria no Espiritismo, os bósons
podem ser considerados como “matéria”, porém com propriedades distintas dos
objetos materiais que conhecemos.
Cabe aqui uma questão oportuna. O que seria a chamada antimatéria ?
Antimatéria é matéria formada por antipartículas dos férmions. O que são
“antipartículas”? Antipartículas são as mesmas partículas com uma única
diferença: possuem carga elétrica de sinal inverso ao da respectiva
partícula. Por exemplo, um antielétron, também chamado de pósitron,
é um elétron com carga elétrica positiva. Um antipróton é um próton negativo.
Portanto, em essência, antimatéria é o mesmo que matéria, isto é, tem todas
as mesmas propriedades da matéria, pode formar corpos idênticos aos que
conhecemos e estão sujeitos às mesmas leis da matéria. Sabe-se que quando uma
partícula e uma antipartícula se tornam muito próximas, elas sofrem uma
reação chamada deaniquilação. Nesta reação, as partículas são
ditas desmaterializadas e dois fótons são produzidos. A
reação inversa também é possível. Antigamente se acreditava que os fluidos
espirituais fossem formados de antimatéria. Com base no que foi exposto
acima, podemos perceber o equívoco dessa idéia, como já demonstrado pelo
amigo Ademir Xavier [6].
Outra pergunta importante: o que é a luz? A luz não é algo real, que
vemos e sentimos de diversas formas? A luz é, de fato, algo real. Ela é
radiação eletromagnética de determinada frequência. A radiação
eletromagnética, por sua vez, é uma oscilação sincronizada dos campos
elétrico e magnético que se propagam no vácuo, isto é, no espaço vazio. A
luz, como todo sistema físico, possui comportamento regido pela
conhecida dualidade onda-partícula da Mecânica Quântica que
diz que dependendo da forma como observamos ou preparamos um experimento com
a luz, o comportamento do sistema será do tipo ondulatório ou do tipo
corpuscular. O fóton, que como dissemos é a menor unidade de radiação
eletromagnética, é observado em fenômenos onde o aspecto corpuscular da luz ocorre.
E é isso o que a Física diz, que a luz é uma radiação eletromagnética que em
determinadas condições, se comporta como se fosse formada por um feixe de
partículas chamadas de fótons. A Física não chama a luz ou os fótons de
matéria pois a luz não ocupa espaço nem possue massa. Além disso, os fótons
são bósons e a matéria ordinária é considerada pela Física como sendo formada
de férmions. Dentro da consideração que fizemos anteriormente do conceito de
matéria no Espiritismo, a luz pode ser também considerada como “matéria”.
Como se isso não bastasse, a Ciência descobriu a existência de outros
tipos de matéria que não são formadas nem por férmions nem por bósons. As
chamadas matéria e energia escuras são exemplos de matéria
cujas propriedades escapam ao que expomos até aqui. Antes, porém, que nos
sintamos tentados a associar essasmatérias diferentes ao conceito
de fluido universal (FU) ou fluidos espirituais, é preciso lembrar que as
propriedades de ambas ainda não satisfazem àquilo que se espera do FU, conforme
estudos já publicados na revista FidelidadESPÍRITA [7].
De modo análogo, independente do que a Física venha a descobrir como sendo a
constituição íntima dessas matérias diferentes, dentro do
conceito de matéria do Espiritismo, elas podem ser consideradas como
“matéria”.
Antes de analisarmos a questão sobre a possibilidade de podermos
transformar matéria em energia, vamos ver o que a Física entende por massa.
Massa é normalmente entendida como sendo a medida da inércia, isto é, da
dificuldade de alterar-se a dinâmica de um objeto. Einstein, com sua famosa
equação, E=mc2, demonstra a relação entre a
energia E e a massa m de um objeto,
onde c é a velocidade da luz. Porém, de que energia e
de que massa a teoria de Einstein está falando? Entender
isso é extremamente importante para descobrirmos se energia pode se
transformar em matéria e, posteriormente, analisarmos se podemos chamar os
fluidos espirituais de energias. Os artigos das referências 8 e 9
apresentam uma discussão história muito rica sobre o assunto. Vamos aqui
apresentar apenas as conclusões desse estudo.
Einstein demonstrou que se um corpo de massa m perder
ou ganhar energia no valor E, a sua massa total diminui ou
aumenta na proporção m=E/c2. Daí a
equação E=mc2. Assim, Einstein mostra que
existe uma correlação direta entre a energia, dita de repouso de
um corpo e a medida de sua inércia, de sua massa de repouso.
Notem que usamos o adjetivo “repouso”, pois existe uma confusão entre os físicos
a respeito da possibilidade da massa de um corpo poder aumentar em função da
sua velocidade. O prof. Valadares mostra [8,9] que essa é uma interpretação
errada da Teoria da Relatividade de Einstein e que, na verdade, não importa
quão veloz é uma partícula, sua massa é sempre a mesma. Por exemplo, um
próton se deslocando a velocidades muito altas, próximas da velocidade da
luz, terá massa idêntica a de um próton em repouso. Einstein demonstrou que
no processo de conservação da energia total de um sistema, cada partícula
possui uma energia intrínseca chamada “energia de repouso”, dada pela
equação E=mc2. Uma consequência dessa teoria é
que a massa de um corpo não é necessariamente igual à soma das massas
das partículas que o compõem(grifamos para enfatizar). Em um dado
processo, o que se conservam, segundo a Física, é o chamado momento(ou quantidade
de movimento) e a energia total do sistema. A massa total só se conserva
se a definimos de modo diferente do usual, o que deixamos para o leitor mais
interessado verificar nos artigos das referências 8 e 9.
Diante do que foi exposto acima, pode energia se transformar em
matéria, ou vice-versa? Para responder isso, considere como exemplo uma
reação de desmaterialização ou aniquilamento ocorrida com um sistema formado
por um elétron e um pósitron, isolados do resto do universo, como sugere o
prof. Valadares [8]. Nesse processo, o momento e a energia total se
conservam. Em outras palavras, antes da desmaterialização, o par
elétron-pósitron possui determinado valor para a energia, momento e massa
totais. Após a desmaterialização, dois fótons são produzidos e a energia,
momento e massa totais permanecem com o mesmo valor, cada. Que a energia e o
momento se conservam, isso entendemos perfeitamente. Mas como a massa total
se conserva, se o elétron e o pósitron foram destruídos e no lugar dois
fótons, que possuem massa de repouso nula, surgiram? É aí que precisamos
prestar maior atenção para entender como a Física interpreta o fenômeno de
reação de desmaterialização e verificar se houve ou não transformação de
matéria em energia.
O argumento chave para entender o que acontece é: “se a energia total
se conservou, isto é, se ela permaneceu a mesma, então nem se ganhou nem se
perdeu energia”. Portanto, se tivesse ocorrido a transformação de matéria em
energia, teríamos um aumento na energia total do sistema isolado. Como isso
não ocorre no fenômeno de desmaterialização, não houve conversão nem de
matéria, nem de coisa alguma em energia! Apesar de sutil, é um erro
dizer que matéria pode ser transformada em energia, e vice-versa. O que de
fato houve foi uma transformação de duas partículas, o elétron e o pósitron,
em outro tipo de partícula: fótons. Em outras palavras, objetos reais e
concretos como o elétron e o pósitron, de acordo com a Física, só podem se
transformar em outros objetos reais e concretos, como os fótons. Objetos
reais não podem se transformar em entes abstratos como a energia. Como lemos
na explicação de Feynman, energia é um conceito puramente abstrato. Energia,
por sua vez, pode ser transformada em outros tipos de energia ou transferida
de um sistema físico a outro, mas energia não pode ser transformada em
matéria. Nesse cálculo desse “número” a que chamamos energia, a fórmula E=mc2 precisa
ser levado em conta para que a lei de conservação da energia seja verificada
no fenômeno de aniquilamento de par de partícula-antipartícula.
O mesmo raciocínio é válido com relação à massa, porém com a
observação de que a soma das massas de um sistema não necessita ser igual à
massa total do sistema, como mencionado anteriormente. Esse é o caso dos
fótons que são criados na reação de desmaterialização. Cada fóton,
separadamente, possui massa de repouso nula, mas o sistema formado por dois
fótons possui massa total igual à massa de dois elétrons. A explicação formal
para isso se encontra nos artigos das referências 8 e 9 e não extenderemos
aqui por razões de espaço.
Retornemos às frases contidas nas duas obras de André Luiz citadas no
primeiro parágrafo deste artigo, numerando-as: 1) “matéria densa não é senão
a energia radiante condensada”, 2) “matéria é luz coagulada”; e
3) “na essência, toda a matéria é energia tornada visível”. Essas frases tem
relação com os conceitos de matéria, massa e energia de repouso de uma partícula,
bem como com a interpretação de processos de aniquilamento ou
desmaterialização.
Sendo rigorosos com relação à Física, nenhuma das três frases acima
está rigorosamente correta. As frases 1) e 3) estão em conflito com o que a
Física, hoje, diz pelas razões explicadas nos parágrafos anteriores. A frase
2) parece correta em vista do fenômeno de aniquilamento de um par
partícula-antipartícula, onde partículas com massa de repouso não nula se
transformam em fótons, que são quanta de luz. Apesar da frase 2) ser a que
melhor se aproxima do entendimento atual dos físicos, não é correto deduzir
que a “matéria é luz coagulada”. O fato da matéria poder se transformar em
fótons não significa que as partículas sejam fótons “coagulados” ou
“condensados” antes do fenômeno de transformação. A matéria, de acordo com o
Modelo Padrão da Física de Partículas, é todo sistema físico formado por
partículas elementares. Essas partículas são elementares porque não possuem
estrutura interna, o que equivale a dizer que elas não são internamente
fótons, “luz coagulada”, ou qualquer outra coisa. Elas já são os tijolos
básicos da matéria. Elas possuem características individuais próprias como
massa, carga elétrica, energia de repouso e outras propriedades físicas
fixas. No caso da relação entre massa e energia (que é a que sugere que
matéria pode ser transformada em energia, e vice-versa), o que podemos dizer,
nas palavras do próprio Einstein, é que “A massa de um corpo é uma medida do
seu conteúdo energético”[8]. Uma partícula, então, contém energia na medida
proporcional à sua quantidade de massa, mas ela, a partícula, em si não é
energia.
Por outro lado, em vista da sutileza da interpretação atual da Física
dos conceitos de matéria, massa, energia e dos fenômenos como o de
aniquilamento, e sabendo que na época em que as frases 1), 2) e 3) foram
publicadas pela primeira vez, os físicos não tinham a compreensão de agora (o
Modelo Padrão foi desenvolvido em 1970, enquanto as obras de André Luiz foram
escritas e primeiramente publicadas nas décadas de 40 e 50), precisamos
reconhecer que essas frases estavam corretas no contexto do conhecimento
científico da época, exprimindo a idéia do fenômeno de desmaterialização ou
de aniquilamento de um par partícula-antipartícula, mas acima de tudo
enfatizando que a Ciência já reconhecia que a matéria não é algo rígido, duro
e perpétuo como nossos cinco sentidos poderiam sugerir. Se a forma dessas
frases não está correta perante o que ensina a Física de hoje, a mensagem que
seus autores pretenderam transmitir de que a matéria não é algo absolutamente
rígido é atual e confirmada por essa mesma ciência. Além disso, é preciso ter
em mente, como aliás nos lembra André Luiz no prefácio da obra Mecanismos
da Mediunidade [10], que a Ciência do futuro substituirá a
atual, e que é cedo para considerar que as teorias atuais da Física sejam a
palavra final sobre o que é a matéria.
Vamos, agora, analisar o que a Doutrina Espírita ensina sobre a
matéria. É oportuno reproduzirmos a questão 22 de O Livro dos
Espíritos [11]:
22. Define-se geralmente a matéria como aquilo que tem extensão, que
pode impressionar os nossos sentidos, que é impenetrável. Essas definições
são exatas?
“Do vosso ponto de vista são exatas, porque não falais senão do que
conheceis. Mas a matéria existe em estados que vos são desconhecidos. Pode
ser, por exemplo, tão etérea e sutil que nenhuma impressão vos cause aos
sentidos. Contudo, é sempre matéria, embora para vós não o seja.”
Essa resposta dos Espíritos tem um valor muito grande. Ela adianta em
mais de meio século o que a Ciência viria a descobrir sobre a natureza da
matéria. De fato, matéria existe em estados que eram desconhecidos da
humanidade à época de Kardec. Não somente a descoberta dos bósons, mas mesmo
entre os férmions existem partículas bastante sutis. Por exemplo, a partícula
chamada neutrino, que é um lépton elementar, é tão leve que se
acreditava não possuir massa, e é tão sutil que trilhões deles são capazes de
atravessar o planeta Terra inteiro como se não existisse nada. Trilhões de
neutrinos atravessam nosso corpo sem causar a menor sensação. Embora não
percebamos a sua existência, concordamos com os Espíritos: o neutrino é
sempre matéria.
Na questão 29, os Espíritos dizem que a ponderabilidade é um atributo
da matéria que conhecemos, mas “não da matéria considerada como fluido
universal”. Eles dizem também que “A matéria etérea e sutil que forma esse
fluido é imponderável para vós, mas nem por isso deixa de ser o princípio da
vossa matéria pesada”. Neste momento, o Espiritismo apresenta uma informação
que é nova para a Ciência. Os Espíritos afirmam que o FU é o princípio
elementar da matéria que conhecemos. Essa afirmativa contradiz o Modelo
Padrão que diz que as partículas elementares não são formadas de outra coisa.
Isso nos sugere algumas questões. Seriam as partículas elementares o FU? Ou
estaria a Física comprovando erros no Espiritismo? Em nosso ponto de vista,
não podemos responder a essas questões pois as teorias da Física, como o
Modelo Padrão, possuem limitações e sofrerão novos desenvolvimentos que podem
culminar com novas teorias. Um exemplo é a busca experimental por uma
partícula que seria a causa da massa de todas as outras, o bóson de Higgs.
Além disso, outras teorias como a de supercordas propõem que cada partícula
elementar é um tipo de corda que oscila em determinada frequência.
Não é um procedimento científico a simples comparação entre o Modelo
Padrão e o Espiritismo, para então concluir que as partículas elementares são
o FU. Seria preciso trabalhar na demonstração de que tudo o que o Espiritismo
diz do FU é satisfeito pelas partículas elementares. Por exemplo, dizem os
Espíritos (questão 27) que sem o FU, a matéria estaria num perpétuo estado de
divisão. Como encaixar isso com as teorias da Física de Partícula? Apenas um
trabalho de pesquisa rigoroso pode vir a responder isso.
Por outro lado, a tese espírita do FU ser o princípio elementar de
toda a matéria não é desmentida pelos fenômenos de transformação da matéria
como o de aniquilamento de pares partícula-antipartícula. O fato de um tipo
de matéria poder se transformar em outro sugere a existência de uma matéria
prima universal que seja a base de toda a matéria incluindo, também, aquilo
que chamamos de matérias diferentes quais sejam os bósons, a
matéria e energia escuras. Somente estudos mais profundos feitos com o rigor
científico poderão fornecer maiores certezas, como já comentado em artigo
anterior na FidelidadESPÍRITA [12].
Seria correto falar que os fluidos espirituais são energias? É correto
dizer que no passe recebemos “energias espirituais”? Por tudo o que vimos até
aqui, se o FU é a base tanto dos fluidos espirituais quanto da matéria, então
o FU deve ser identificado com a matéria e não com energia. Logo, não se pode
dizer que os fluidos são energia. Teriam os fluidos energia, assim como
matéria carrega energia? Acreditamos que sim, e que nos processos e fenômenos
envolvendo fluidos espirituais, leis análogas às de conservação de energia
devem existir e reger tais processos. Assim como Einstein demonstrou uma
relação entre a propriedade massa e energia de repouso de um
objeto, talvez exista uma relação análoga entre alguma propriedade física dos
fluidos espirituais (algo relativo à sua massa) e a energia intrínseca dos
mesmos. Mas não podemos ir além disso. Devemos aguardar que os pesquisadores
da Física e do Espiritismo trabalhem para nos trazer respostas. Não é um
procedimento científico chamar os fluidos de energia sem pesquisarmos
profundamente o que são os fluidos, como quantificar a energia contida neles,
e como quantificar os fenômenos fluídicos.
Para finalizar, observemos que os Espíritos dizem na questão 22a que a
“matéria é o laço que prende o espírito; é o instrumento de que este se serve
e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação.” Essa definição de matéria é
muito importante por duas razões. Primeiro porque afirma a interação entre o
espírito e a matéria. Segundo, porque apresenta uma razão filosófica da existência
da matéria: o de servir de instrumento de evolução espiritual para o
espírito.
Referências
[1] Francisco Cândido Xavier, E a Vida Continua...,
pelo Espírito de André Luiz, FEB, 18ª edição, Rio de Janeiro, 1991.
[2] Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, Evolução em
Dois Mundos, pelo Espírito de André Luiz, FEB, 11ª edição, Rio de
Janeiro, 1989.
[3] Curso Ciência & Espiritismo, “Aula 7: Física e Espiritismo II:
energia e matéria. Referências científicas na pesquisa espírita”, Boletim
do GEAE Número 489, (2005).
[5] M. A. Moreira, “O Modelo Padrão da Física de Partículas”, Revista
Brasileira de Ensino de Física 31, 1306 (2009).
[6] Ademir L. Xavier Jr., “Algumas Considerações Oportunas
sobre a Relação Espiritismo - Ciência”, Reformador,
Agosto, p.244 (1995).
[7] A. F. Da Fonseca, “Matéria e Energia Escura: não são o Fluido
Universal”, Revista FidelidadESPÍRITA Dezembro, p.
18, (2003).
[8] J. A. Valadares, “O Conceito de Massa. I. Introdução
Histórica”, Revista Brasileira de Ensino de Física 15,
110 (1993).
[9] J. A. Valadares, “O Conceito de Massa. II. Análise do
Conceito”, Revista Brasileira de Ensino de Física 15,
118 (1993).
[10] Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, Mecanismos da
Mediunidade, pelo Espírito de André Luiz, FEB, 11ª edição, Rio de
Janeiro, 1990.
[11] A. Kardec, O Livro dos Espíritos, FEB, 1ª
edição Comemorativa do Sesquicentenário, Rio de Janeiro, 2006.
[12] A. F. Da Fonseca, “O Fluido Universal e as teorias
cosmológicas”, Revista FidelidadESPÍRITA Novembro, p.
16, (2003).
[13] Os artigos das referências 5, 7 e 8 podem ser baixados
gratuitamente a partir do sítio da revista: www.sbfisica.org.br/rbef
Este artigo foi publicado em duas
partes na revista FidelidadESPÍRITA 91 (Abril), p. 6
(2010); e 92 (Maio), p. 20 (2010)
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1 Comentários:
"Além disso, é preciso ter em mente, como aliás nos lembra André Luiz no prefácio da obra Mecanismos da Mediunidade [10], que a Ciência do futuro substituirá a atual, e que é cedo para considerar que as teorias atuais da Física sejam a palavra final sobre o que é a matéria".
PARABÉNS AO AUTOR DO TEXTO POR ESTE SEU ENCERRAMENTO, POIS QUE, DE FATO, AS TEORIAS MODERNAS DOS NOSSOS CIENTISTAS, CONQUANTO VALOROSAS, HÃO QUE SOFRER RADICAIS MUDANÇAS NOS SÉCULOS VINDOUROS DA CIÊNCIA TERRENA COM O CONHECIMENTO DO ESPÍRITO QUE, SEGUNDO O ESPIRITISMO, COMO DOUTRINA DOS NOSSOS SUPERIORES: "TUDO SE ENCADEIA NA NATUREZA, DESDE O ÁTOMO PRIMITIVO AO ARCANJO, POIS QUE ELE MESMO COMEÇOU POR SER ÁTOMO".
Fernando Rosemberg Patrocinio
fernandorpatrocinio.blogspot.com.br
Por Filosofia do Infinito, às 9 de julho de 2015 às 17:01
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