Leonardo Marmo Moreira
Continuando o nosso
estudo baseado no último capítulo de “Cânticos do Coração – volume II”
(Capítulo IX – “Considerações sobre a Mediunidade”) de Yvonne do Amaral
Pereira, vale lembrar o comentário do admirável escritor espírita Hermínio C.
Miranda. Diz Hermínio a respeito dessa publicação:
“Escritos de Yvonne Pereira serão sempre
bem-vindos. Por isso, saudamos esta
coletânea que, inspiradamente, os companheiros do “Léon Denis” foram buscar nas
esquecidas páginas de “Obreiros do Bem”. É uma alegria esta visita da querida e
devotada trabalhadora, com a qual poderemos conviver um pouco mais, através dos
seus textos repletos de ensinamentos colhidos em décadas de estudo e
prática da abençoada Doutrina dos
Espíritos. Ela tem o que dizer e o diz com autoridade, competência e
sobriedade.” Hermínio C. Miranda
De fato, Dona Yvonne escreve com objetividade,
coerência doutrinária, além de apresentar uma opinião chancelada por vasta
experiência mediúnica, de médium bem sucedida em suas tarefas, o que pode ser
ilustrado simplesmente citando uma extraordinária trilogia (entre várias!) de
sua lavra medianímica: “Memórias de Um Suicida”; “Devassando o Invisível” e
“Recordações da Mediunidade”.
Dando
prosseguimento à análise começada no artigo anterior, vale recordar as questões
que foram direcionadas à Dona Yvonne:
"O Sr. G. S.
V., estudioso dos assuntos espíritas, mandou-nos as seguintes perguntas: 1 -
Como ajudar o desenvolvimento prático da mediunidade? 2- Qual o método de
desenvolvimento a médiuns comuns, sem forçá-los ou condicioná-los às
manifestações? 3- Como devemos dirigir esta parte? 4- Qual a forma segura, sem
forçar, que os predisponha a um desenvolvimento natural, sério, tranquilo?
No trabalho anterior, nós transcrevemos e
comentamos as respostas de Dona Yvonne às duas primeiras questões. Vejamos o
que nossa nobre médium e espírita militante expõe a respeito das questões 3 e
4:
Yvonne: “ 3- O meio
mais prudente para dirigir esta parte é o seguinte, prática esta estabelecida
nos núcleos espíritas mais esclarecidos e criteriosos:
a)
Sessões teóricas para os candidatos ao
desenvolvimento. Estudo indispensável de “O Livro dos Médiuns” de Allan Kardec,
e de outras obras que auxiliem o esforço para a sintonização das próprias
vibrações com as forças do alto.
b)
Se os candidatos forem portadores de boa
moral, boa saúde e desejo de servir a Deus e ao próximo, se já frequentam
sessões de estudo, aproveitando das instruções recebidas, do critério da
Doutrina e da responsabilidade assumida, poderão aplicar passes, no próprio centro ou fora dele,
acompanhados de irmãos mais experimentados, ao iniciarem o mister. Esse é o
trabalho da fé e da coragem, desburocratizado, e nada devemos temer, pois
estaremos assistidos ocultamente pelos mensageiros do Cristo (grifos meus).
Será erro, porém, supor que, para aplicar passes,
necessitamos receber Espíritos e sermos médiuns desenvolvidos. Esse método é
falso, infiltrações infelizes de outras correntes
de ideias na lúcida Doutrina dos Espíritos, codificada por Allan Kardec (grifos meus).
Aplicando passes criteriosamente, no sublime trabalho da
Caridade, com fervor, responsabilidade e amor, o pretendente será, por certo,
assistido pelos mensageiros do bem e, se possuir outras faculdades,
desenvolvê-las-á suavemente, naturalmente, seguramente, em faixas espirituais
protetoras e iluminadas, sem
necessidade de passar por aqueles terríveis períodos obsessivos provocados
pelas sessões de desenvolvimento, forçando a explosão da faculdade que pode não
existir. Esses são os casos normais (grifos
meus).
c)
Além dos trabalhos de passes, o candidato
poderá assistir a reuniões práticas ditas “de caridade“ (não para
desobsessões), fora da mesa, numa “segunda corrente”. Que o presidente não se
incomode com ele. O dia em que ele, médium, sentir qualquer anormalidade,
sente-se à mesa e, com certeza, o caso estará resolvido.
Deverá também estudar a Doutrina Espírita e o Evangelho,
diariamente, evitando, porém, o fanatismo pelas obras
mediúnicas e meditando criteriosamente
sobre as clássicas, observando a
pesquisa moderna,; orar, suplicar, oferecer seu trabalho a Jesus,
aprendendo com ele a ser bom e humilde de coração e a renunciar, embora o
preparo para as renúncias necessárias à
boa marcha dos trabalhos seja lento, progressivo; e fazer caridade, também sem
fanatismo, antes equilibrada e útil. É
uma renovação moral que se impõe para se conseguir a boa mediunidade (grifos
meus).
O médium, outrossim, não deve nem pode pensar nos próprios deveres
apenas ao se sentar à mesa, mas a cada
hora que viver, pois é uma antena sempre desperta, que receberá tudo, e que
poderá prejudicar-se e ao seu trabalho
mediúnico por muitas formas diferentes,
se se descurar das próprias responsabilidades.
Para os
casos de obsessão ou atuações fortes em médiuns não desenvolvidos não convirá
desenvolvê-los nessa ocasião. Nesse estado anormal, o médium torna-se um
enfermo que necessita tratamento antes de mais nada. O mais prudente será
passar a entidade para outro médium, conversar com ela a fim de esclarecê-la, e
tratar cautelosamente do médium, inclusive esclarecendo-o também.
Doutrinar a entidade servindo-se do médium
assim atormentado é prejudicá-lo ainda mais, pois ele poderá não possuir o
critério necessário a tal empreendimento, nem aguentar a responsabilidade do
compromisso; desenvolver sua faculdade
nessa ocasião é abrir-lhe a possibilidade para novas obsessões. O trabalho
de caridade, qualquer que seja, será recurso salvador (Yvonne A. Pereira).
É
impressionante a clareza, a didática e a objetividade do texto de Dona Yvonne.
Interessantíssimo, a sua recomendação para que os “candidatos à mediunidade”
possam considerar a possibildade do trabalho dos passes, como preparação
mediúnica, pois, de fato, tal prática, pode ajudar no chamado “apercebimento
fluídico”, seja ele, positivo ou negativo. Também é interessante a recomendação
de Dona Yvonne para que as práticas dos passes, sobretudo para esses iniciantes
seja feita em grupo, principalmente quando for fora da Casa Espírita. Dona
Yvonne também enfatiza que o passe espírita dispensa totalmente a chamada
“incorporção mediúnica”. Além disso, a notável médium espírita enfatiza que tal
preparação dos candidatos à mediunidade, antes da frequência ao desenvolvimento
mediúnico propriamente dito, é mais segura espiritualmente para o médium, pois
ocorre “...sem necessidade de passar por aqueles terríveis períodos obsessivos
provocados pelas sessões de desenvolvimento, forçando a explosão da faculdade
que pode não existir”.
Subsequentemente,
Dona Yvonne recomenda que quando os candidatos à mediunidade e/ou reunião
mediúnica, não necessariamente ostensivos, tiverem condições e passarem a
frequentar a reunião mediúnica, não fiquem necessariamente em volta da mesa. E
ela reforça que o médium “...Deverá também estudar a Doutrina Espírita e
o Evangelho, diariamente, evitando,
porém, o fanatismo pelas obras mediúnicas e meditando criteriosamente sobre as clássicas, observando a pesquisa moderna...”. Cabe a pergunta: Estamos
estudando a Doutrina e o Evangelho diariamente?! Estamos estudando, além de
obras mediúnicas (e vale lembrar que a Dona Yvonne era médium de ação e
produzia obras mediúnicas de grande valor, tais como “Memórias de Um
Suicida”!), as ditas “obras clássicas”, tais como os livros de Léon Denis e
Gabriel Delanne?! Estamos “observando a pesquisa moderna”?! São reflexões que
todos os dirigentes, doutrinadores, médiuns e espíritas militantes deveriam
fazer....
Continuando, vejamos a resposta que nossa
admirável missionária espírita fornece ao item 4:
Yvonne: “
4- A psicografia é muito subdividida. Há
médiuns psicógrafos de vários tipos [ver “O Livro dos Médiuns”, Cap. XVI,
item 193]. Não se pode, portanto, pedir
ao psicógrafo aquilo que ele não poderá dar, pois ás vezes, nosso pedido
poderá não corresponder à sua especialidade, e novamente advir a intromissão do chamado animismo.
Frequentemente, entre médiuns escreventes, poderá haver o
impulso vibratório do braço, mas ele, o médium, não temo que escrever porque
não possui faculdade literária. Nesse caso, Kardec aconselha a fazer perguntas ao seu Guia Espiritual, sempre
respeitosas e doutrinárias, de forma, porém, a provocar respostas amplas, e me
nome de Deus Todo Poderoso.
Se o médium não possui dons literários será
em vão tentar, pois somente obterá produções medíocres. A literatura
autêntica na psicografia é dom especial, que não se poderá provocar. Em idênticas condições a poesia: nem todos
os médiuns literários produzirão poesia, pois este dom é outra especialidade na
psicografia [ver “O Livro dos Médiuns”, Cap. XVI, item 193].
O modo mais seguro, portanto, natural, sem forçar a
explosão da faculdade, é o que aí fica exposto, resultado de longas observações em torno do caso, dos conselhos dos
Bons Espíritos e das recomendações dos grandes mestres da Doutrina Espírita.
Convém não esquecer que a mediunidade é um
dom de Deus, com o qual não devemos abusar. Devemos, sim, tratá-lo
com amor e respeito, cultivá-lo com método, humildade e habilidade, à base do Evangelho, dele fazer instrumento
da Caridade e da Fé.
Útil lembrar que a um médium não será apenas recomendado
que produza belas páginas de literatura, mas, também, e acima de tudo, que
console corações sofredores, enxugue lágrimas de aflição, socorra os infelizes,
fornecendo-lhes Amor e Esperança, pois para isso possui ele as credenciais de
intermediário entre a Terra e o Céu (Yvonne A. Pereira)”.
Mais
uma vez ficamos impressionados com a “aula” que Dona Yvonne do Amaral Pereira
fornece-nos com simplicidade e objetividade, tipicamente kardequianas, uma vez
que, sendo o “Codificador” admirável professor, sua obra destaca-se,
concomitantemente, pela didática e profundidade conceitual.
Yvonne
Pereira comenta sobre os “vários tipos” de médiuns
psicógrafos, implicando que cada um tem características próprias, as quais não
podem ser negligenciadas por dirigentes e confrades, quando criamos
expectativas sobre o que os mesmos podem produzir mediunicamente. Yvonne chega
a dizer que essa “pressão excessiva” dos companheiros consiste em fator gerador
do fenômeno anímico.
Yvonne
também enfatiza que não basta “ser médium” para ser um bom psicógrafo: “Se o
médium não possui dons literários será em vão tentar, pois somente obterá
produções medíocres”. Se aceitarmos esse interessante e muito razoável
comentário (do ponto e vista doutrinário), temos que admitir que Chico Xavier,
Yvonne e Divaldo podem não ter tido oportunidade de desfrutarem de muitos anos
de escolaridade nessa última encarnação, mas, nem na juventude, foram
“indivíduos ignorantes”, como já vimos alguns indivíduos apregoarem.
Dona
Yvonne também reforça que a “mediunidade de psicografia poeta”, digamos assim,
também é uma especialidade muito peculiar e difícil de ser obtida. Diz a médium: “Em
idênticas condições a poesia: nem todos os médiuns literários produzirão
poesia, pois este dom é outra especialidade na psicografia”.
Além de sempre frisar sua referência
principal, que é nosso mestre lionês Allan Kardec; Dona Yvonne, comenta que sua
discussão sobre o respectivo assunto era o “..resultado de longas observações em torno do
caso, dos conselhos dos Bons Espíritos e das recomendações dos grandes mestres
da Doutrina Espírita”.
Para concluir, nossa admirável confreira
afirma: “Convém não esquecer que a mediunidade é um dom de Deus, com o qual não
devemos abusar”. E ainda acrescenta: “Devemos, sim, tratá-lo com
amor e respeito, cultivá-lo com método, humildade e habilidade, à base do Evangelho, dele fazer instrumento
da Caridade e da Fé”.
Fica evidente que Dona Yvonne tem muito a
nos ensinar sobre mediunidade e sobre Doutrina Espírita de uma forma geral.
Encerrando esse pequenino estudo, de nossa
parte, gostaríamos de convidar os confrades a lerem e estudarem mais o
doutrinário, esclarecedor, relevante e atual trabalho que chegou até nós
através do esforço de uma de nossas maiores médiuns espíritas, Dona Yvonne do
Amaral Pereira.
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