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segunda-feira, 20 de abril de 2015

Aprendendo com Yvonne Pereira: Desenvolvimento Mediúnico Seguro


 Leonardo Marmo Moreira
Dona Yvonne do Amaral Pereira foi uma das maiores médiuns espíritas da história. Portadora de uma dedicação ímpar à causa doutrinária, Dona Yvonne constitui importantíssimo paradigma de idealismo espírita. Além de excepcional médium, Dona Yvonne foi e é uma referência doutrinária de relevo. De fato, além de seu trabalho mediúnico propriamente dito, ou seja, seu trabalho como médium psicógrafa (instrumento mediúnico de Espíritos como Doutor Bezerra de Menezes, Léon Denis, Charles, Léon Tolstói, Camilo Castelo Branco, entre outros), Dona Yvonne elaborou muitos artigos, de sua própria autoria, enquanto autora espírita encarnada, sobre temas doutrinários complexos, sobretudo com respeito à área mediúnica, nos quais sua ampla bagagem doutrinária e sua vasta experiência de médium educada e produtiva proporcionaram concretas diretrizes de segurança. Realmente, os textos de Dona Yvonne primam pela lógica, objetividade, didática, e fidelidade doutrinária como sói acontecer com portadores de mensagens verdadeiramente construtivas em termos de espiritualidade superior.
“Cânticos do Coração” é um livro pouco divulgado da mediunidade de Yvonne do Amaral Pereira e constitui uma compilação muito justificada e meritória, promovida pela Editora do Centro Espírita Léon Denis (CELD). “Cânticos do Coração” apresenta volumes 1 e 2, e o capítulo presentemente comentado trata-se justamente do último capítulo do segundo volume (os capítulos são artigos publicados pela autora no periódico “Obreiros do Bem”). Trata-se de uma publicação póstuma feita pela CELD, cuja primeira edição foi disponibilizada em 1994 (Yvonne desencarnou em 1984). O capítulo em questão (capítulo IX) denomina-se "Considerações sobre a Mediunidade".
As respostas de Yvonne são muito interessantes. Yvonne utiliza sempre de Kardec como sua principal referência e desenvolve a questão com base nas experiências mediúnicas dela pessoalmente e em sua bagagem como Espírita Militante, a qual foi adquirida por muitos anos de atuação no movimento espírita, ou seja, em tudo o que ela viu e aprendeu no movimento.
Os esclarecimentos de Dona Yvonne são motivados por perguntas sobre mediunidade e desenvolvimento mediúnico, as quais foram a ela encaminhadas. As questões foram dividididas em quatro tópicos. No presente texto, transcreveremos apenas as questões e respostas de Dona Yvonne Pereira aos dois primeiros questionamentos, para que o presente artigo não se torne excessivamente extenso. Após a segunda resposta de Dona Yvonne, também comentamos sobre alguns aspectos referentes ao desenvolvimento anímico, os quais foram reflexões obtidas a partir de uma outra excepcional obra da autora, “Devassando o Invisível”. Vejamos as questões e as respectivas respostas de Dona Yvonne assim como nossos breves comentários.
"O Sr. G. S. V., estudioso dos assuntos espíritas, mandou-nos as seguintes perguntas: 1 - Como ajudar o desenvolvimento prático da mediunidade? 2- Qual o método de desenvolvimento a médiuns comuns, sem forçá-los ou condicioná-los às manifestações? 3- Como devemos dirigir esta parte? 4- Qual a forma segura, sem forçar, que os predisponha a um desenvolvimento natural, sério, tranquilo?
Yvonne: "1- O melhor meio de desenvolver a mediunidade é não se preocupar com o seu desenvolvimento, mas preparar-se moral e mentalmente para poder assumir o compromisso de se tornar médium desenvolvido. Tal preparo, no entanto, não poderá ser rápido, e, muitas vezes, a faculdade se apresenta e se define durante o seu decurso. É o método mais seguro, natural, portanto. Se a mediunidade não se apresentar assim, espontaneamente, naturalmente, é sinal de que ainda não está bastante amadurecida para explodir. (grifos meus
“Pode-se, entretanto, experimentar, sentando-se o médium à mesa dos trabalhos, e deixando-o à vontade. O direto da mesa, por sua vez, não deve insistir, pressionando ou constrangendo o pretendente a que dê passividade, porquanto esse método excita a mente do médium, que acaba dando passividade a si próprio, com o que teremos a sugestão, e não a comunicação mediúnica autêntica.
Kardec aconselha essa experiência até seis meses*, e a observação tem provado que, se há, realmente, alguma faculdade para desenvolver, em muito menos tempo o caso será resolvido, principalmente se o médium estiver preparardo através do estudo e da prática do bem (grifos meus - *Vale frisar que Yvonne faz, indiretamente, menção ao famoso item 204 de “O Livro dos Médiuns”, pois comenta sobre o limite de 6 meses para testes psicográficos preconizado por Kardec).
Se o pretendente nada sentir nesse período deve, a rigor, retirar-se da mesa. O contrário será forçar o dom, com a superveniência de animismo, de auto-sugestão ou da sugestão do próprio dirigente dos trabalhos sobre a mente do paciente. Verifica-se daí uma especie de hipnose qeu poderá até mesmo prejudicar para sempre quando ela realmente se apresentar. E é o que mais existe hoje em dia nos centros espíritas onde Allan Kardec é substituído por ideias pessoais e modismos de outras escolas espíritas, muito infiltrados na escola kardequiana (grifos meus).
“A mediunidade é faculdade transcendente, sublime, que não pode suportar métodos inadequados à sua natureza por assim dizer celeste". Yvonne do Amaral Pereira
Portanto, a resposta de Dona Yvonne ao primeiro item corrobora a explicação/orientação de Chico Xavier de que “o telefone toca de lá para cá”. De fato, Emmanuel comenta em “Caminho, Verdade e Vida” que na maioria das vezes em que forçamos nossas aptidões psíquicas e o seu desenvolvimento para que nos tornemos os chamados “médiuns de ação” (médiuns ostensivos com tarefa específica na área mediúnica dentro da Casa Espírita), os resultados tendem a ser negativos. Essa negatividade em termos de resultados pode ser interpretada tanto em termos de diminuição do equilíbrio mental e emocional do próprio candidato à mediunidade, como no que se refere à geração de obras de conteúdo duvidoso ou claramente negativo, doutrinária, moral e espiritualmente.
Temos que entender que estamos submetidos a um planejamento reencarnatório, com tarefas gerais e específicas. Este planejamento é preparado de forma minuciosa pelos mentores espirituais, levando em considerando nossas necessidades espirituais prementes, compromissos do passado e potencialidades para o presente e para o futuro. É óbvio que o planejamento não é absoluto e, dependendo de nosso livre-arbítrio e consequente desempenho espiritual, pode vir a ser revisado durante a própria reencarnação. Entretanto, tais mudanças não são tão corriqueiras assim, pois muitos fatores devem ser considerados. As nossas tarefas reencarnatórias normalmente visam a uma mais intensa e segura evolução, com um menor risco de quedas morais. Ademais, nem sempre aquilo que desejamos consiste no melhor para nós. Isso é tão usual, que, nós mesmos, quando desdobrados parcialmente pelo sono físico, podemos ter uma opinião diferente a respeito do que realmente desejamos (em relação às nossas aspirações quando estamos no período da vigília no corpo material), em função das ilusões que a matéria (no caso, o corpo físico) gera no Espírito imortal (vide Questão 416 de “O Livro dos Espíritos).
Yvonne: "2- As sessões práticas de desenvolvimento não são aconselháveis. A observação tem demonstrado que elas são, em grande maioria, fábricas de animismo e obsessão, de sugestão e descontrole nervoso, justamente porque obrigam os participantes a um esforço penoso ao desenvolvimento. Daí a escassez de médiuns seguros da sua faculdade (grifos meus).
Médiuns há que ficam um, dois, cinco, dez anos desenvolvendo as próprias faculdades sem nada conseguirem de autêntico e útil, perdendo, assim, um tempo precioso, que poderia ser empregado em outro setor. Mas o certo é que, se em alguns poucos meses eles não tiverem faculdades desenvolvidas, não convém que insistam, ou porque não possuam a faculdade, ou porque foi prejudicada por fatores que convém sejam observados e estudados...Ao demais, o desenvolvimento completo de uma faculdade mediúnica leva tempo a se completar, e requer paciência e dedicação, muito amor e muito estudo, renovação moral e mental progressivas e, às vezes, muitas lágrimas e sofrimentos.
"É bom não esquecer que a finalidade da mediunidade é o intercâmbio entre o ser humano e as entidades espirituais, dependendo, portanto, de nós mesmos a sua glória ou o seu fracasso. O desenvolvimento espontâneo, pois, é um dos segredos da boa mediunidade.
“Há pessoas que parecem demonstrar sintomas de faculdade a desenvolver, mas são excessivamente nervosas, impressionáveis. Se experimentam, nada conseguem de plausível. A essas será prudente, antes de qualquer experiência, um adequado tratamento médico, assim como passes feitos duas vezes por semana, pelo menos, com uma assistência de dois a três médiuns passistas, leituras evangélicas, frequência às reuniões de estudo e meditação, mas não a presença em sessões práticas.
“Na maoria dos casos, essas pessoas são mais doentes psíquicas, necessitados de um tratamento físico-psíquico, do que verdadeiros médiuns a desenvolver, pois uma das condições para a mediunidade é a boa saúde do médium. São pessoas traumatizadas, cuja mente invigilante ou doente forja o que apresenta, tira de si mesma as comunicações que dá, e podem ser até histéricas. Quando se restabelecerem, poderão experimentar, mas é provável que jamais sejam aparelhos mediúnicos fiéis. Durante o tratamento, a fim de não perderem tempo, poderão ser aproveitadas em trabalhos de caridade ao próximo aliados ao Evangelho (concentração junto ao passista), conforme o grau de responsabilidade já adquirida, pois tudo isso é responsabilidade, é compromisso com a Lei de Deus.
“A seara é grande, e há serviço para todos. A mediunidade é amor, é sacrifício, é renúncia, é humildade, é cruz pesada, e não é apenas no seu setor que podemos servir a Deus e ao próximo" Yvonne A. Pereira
É impressionante constatar a contundência que Dona Yvonne usa logo no início de sua resposta ao segundo item, afirmando que “... a observação tem demonstrado que elas (as sessões práticas de desenvolvimento) são, em grande maioria, fábricas de animismo e obsessão, de sugestão e descontrole nervoso...”. Portanto, poderíamos lembrar-nos de algumas palestras de José Raul Teixeira, tais como “O Centro Espírita e a Dinâmica do Amor”, nas quais o expositor de Niterói-RJ explica: “O Centro Espírita é a Casa que nos tira da Loucura! Portanto, chega de loucura! Se o candidato à mediunidade não puder assistir a nenhuma outra reunião (que seja exclusivamente de estudo doutrinário), além da reunião mediúnica, para que mediunidade? E, por conseguinte, para que reunião mediúnica?!”
Divaldo Franco também explica na palestra “Encontro com Dirigentes”, a qual aconteceu em Fevereiro de 1992 no Grupo Espírita Meimei, que era comum confrades reclamarem que frequentavam o Centro Espírita Caminho da Redenção (Salvador-BA) sem conseguirem desenvolver a mediunidade (“Eu frequento há 10 anos e ainda não desenvolvi a mediunidade!”). Divaldo narra na palestra que sua resposta era: “Se você frequenta há 10 anos e ainda não desenvolveu a mediunidade é porque não a tem! Não é porque todo mundo tem a percepção que tenha que ser médium atuante (médium ostensivo), conforme Allan Kardec (“O Livro dos Médiuns”)”.

Há de se enfatizar que o desenvolvimento mediúnico também pressupõe um desenvolvimento anímico prévio, isto é, um desenvolvimento pessoal integral anterior à busca pelos “testes mediúnicos”, conforme Yvonne esclarece na resposta à questão número 1. Este desenvolvimento anímico, como etapa anterior a maiores projetos de caráter mediúnico, envolveria tanto um maior desenvolvimento moral, com especial destaque para uma maior ação na caridade, menor predisposição ao melindre (mágoas e ressentimentos), maior inteligência emocional (sobretudo no que se refere à irritação por motivos irrelevantes) e também um maior crescimento cultural (abrangendo maiores noções de espiritualidade de uma forma geral, e especificamente um maior aprofundamento doutrinário; maior qualidade linguística, para que os Espíritos comunicadores tenham mais “ferramentas” para uma expressão com maior precisão; e uma maior cultura geral, a qual também será recurso utilizado para que os Amigos Espirituais possam elaborar construções mais ricas, e mais fieis ao “texto original” desses próprios Espíritos, o qual, muitas vezes, já estaria previamente pronto no mundo espiritual, antes da comunicação mediúnica propriamente dita).

Sobre essa questão a respeito de desenvolvimento anímico prévio como condição para uma “filtração mediúnica” de maior qualidade por parte do médium, vale citar novamente outra notável obra de Dona Yvonne do Amaral Pereira, que é "Devassando o Invisível". No capítulo terceiro da referida obra, intitulado "Frederico Chopin, na Espiritualidade", o grande compositor Chopin teria pedido para Yvonne estudar um pouco de teoria musical, pois ele só sabia, na opinião dele, Chopin, expressar-se por música. Dessa forma, se Yvonne tivesse rudimentos anímicos de conhecimento musical, Chopin poderia trazer "músicas à luz da oração" para Yvonne ("música mediúnicas"), mas Yvonne não tinha o referido conhecimento, nem tempo, dinheiro e/ou disponibiilidade para criar esses pré-requisitos. Além disso, ela sabia que sua contribuição doutrinária através dos textos propriamente ditos era mais importante.

Vale mencionar uma curiosidade registrada nesse supracitado livro. No final desse referido capítulo terceiro de "Devasando o Invisível", Yvonne comenta o seguinte: "Ainda na mesma oportunidade, afirmou o instrutor espiritual Charles que Frederico Chopin seria a reencarnação do poeta romano Ovídio (Públio Ovídio Naso, poeta latino, fácil e brilhante, amigo de Vergílio e de Horácio (43 a. J.C.) nota de rodapé do livro), que viveu cerca de quarenta anos antes do Cristo, falecido no ano 16 da nossa era, e do pintor italiano Rafael Sanzio (pintor, escultor e arquiteto italiano, 1483-1520. O seu gênio reunia todas as qualidades: perfeição do desenho, vivacidade dos movimentos, harmonia das linhas, delicadeza do colorido. Deixou grande número de obras-primas. É considerado o "poeta da Pintura", como Ovídio foi considerado o "músico da Poesia" e como Chopin é considerado o "poeta da Música" - nota de rodapé do livro).


Podemos supor que seja através das partituras mais elementares ou de uma forma mais simples (uma codificação musical mais elementar, tais como as cifras musicais simplificadas comumente utilizadas em publicações de músicas populares para violão), Chopin poderia, com muita dificuldade, trazer as músicas para Yvonne, mas a influência anímica dela limitaria a qualidade musical de Chopin, a ponto dele não poder utilizar seu famoso nome (pois os críticos não identificariam o "grande Chopin" e achariam que todos os espíritas são ignorantes se ele mantivesse seu nome famoso! Dessa forma, o que poderia se tornar importante evidência da imortalidade da alma e da mediunidade acabaria sendo utilizado para desmoralizar o fenômeno mediúnico, e, por consequência a própria imortalidade da alma por parte dos céticos e dos materialistas), a não ser que ele apenas utlizasse de um pseudônimo, só que, nessa última opção, a relevância do trabalho seria substancialmente diminuída, em termos de comprovação da sobrevivência da alma à morte do corpo físico.

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