Semelhantemente, os roustainguistas fazem “vista grossa” e até defendem diversas apologias católicas presentes na obra de J.B. Roustaing, como, por exemplo, a defesa do papado, como o legítimo representante de Cristo na Terra.
Interessantemente, alguns defensores da obra de Ubaldi não se constrangem em ironizar, criticar e atacar até mesmo Allan Kardec, passando por espíritas ilustres como Herculano Pires, entre outros, a fim de pressupostamente elevar a obra de Ubaldi. A mesma reflexão é pertinente aos adeptos de Roustaing, que chegam a diminuir Kardec para forçar um reconhecimento doutrinário para Roustaing. Cabe a pergunta: esses defensores de ambas as obras seriam, de fato, espíritas?
Muitos ubaldistas são igualmente roustainguistas, o que é bastante sugestivo e sintomático, pois são duas obras anti-doutrinárias. Entretanto, Ubaldi defendeu de forma contundente que o corpo de Jesus é de carne, igualzinho ao nosso corpo. Na sua obra “Cristo”, ele afirma categoricamente isso em várias ocasiões, principalmente nos capítulos IV, intitulado “A Nova Figura do Cristo”, e VI, denominado “Necessidade Mitológica”. No referido capítulo IV (“A Nova Figura do Cristo”), por exemplo, Ubaldi afirma: “Assim, Cristo se avizinha de nós muito mais. Ele viveu a nossa mesma realidade biológica e soube superá-la; já experimentou as nossas fadigas... Não foi a sua uma mera representação simbólica”. Interessantemente, muitos roustainguistas consideram Ubaldi o continuador da obra de Roustaing. Portanto, o suposto continuador combate sistematicamente uma das idéias básicas do seu precursor, que é o suposto “corpo fluídico” de Jesus!
E a contundente discordância não acaba aí! No capítulo V da obra “Cristo” (“O choque entre Sistema e Anti-Sistema”) Ubaldi afirma: “Uma tentativa de salvar Cristo do Martírio não vem do Pai que até chega ao ponto de o abandonar no momento do martírio quando estava na cruz”. Incrível! Ubaldi acha que Jesus foi realmente abandonado por Deus no momento da cruz. O filósofo italiano repete o mesmo erro de Roustaing e tantos outros de dar ao texto bíblico o caráter de infalibilidade, o que qualquer neófito em Espiritismo sabe que é catastrófico para quem busca a Verdade. Vide o capítulo “Moral Estranha” de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” do Codificador do Espiritismo, Allan Kardec.
Para Ubaldi, Jesus era um Espírito falido, decaído, vivenciando uma experiência expiatória para retornar ao Sistema, isto é, o “Reino dos Céus” na linguagem ubaldista. Vejamos um dos comentários de Pietro Ubaldi nesse mesmo capítulo V da obra “Cristo” (“O choque entre Sistema e Anti-Sistema”): “Talvez a culpa que Cristo tinha de pagar, consistisse no fato de ter exercido um grande poder nessa outra humanidade, mas em sentido egoísta, de tal modo a ter de repelir, com terror, qualquer soberania de tipo AS (anti-sistema) para usar todas as suas forças em sentido altruísta. Assim se explicam as humilhações a que ele foi submetido quando de Sua paixão...”. Impressionante a visão que Ubaldi tem de Jesus! Para Ubaldi, Jesus era um ser egoísta que precisava ser humilhado a fim de expiar seu apego ao poder! Curiosamente, os roustainguistas acreditam que Jesus evoluiu sem precisar da reencarnação (outra aberração doutrinária!). Ora, para uns (os ubaldistas) Jesus estava expiando graves “pecados” com um corpo igualzinho ao nosso; para outros (os roustainguistas), ele nunca encarnou, tamanha a sua evolução, daí o seu “corpo fluídico” (mais uma aberração!). Logo, Ubaldi não corrobora Roustaing e ambos não estão em coerência com Kardec. Entretanto, fazendo uma colcha de retalhos, em tamanha confusão doutrinária, supostos espíritas militantes tentam “acorrentar” Allan Kardec a essas duas visões obsidiadas e obsidiantes.
Em resumo, Ubaldi demonstra um completo desconhecimento doutrinário (envolvendo, sobretudo, a “Lei do Progresso” e a “Lei de Justiça, Amor e Caridade”) elaborando uma visão completamente distorcida de Jesus e da Evolução. Vale lembrar Emmanuel na obra “A caminho da Luz”, na qual o benfeitor espiritual afirma que somente em duas ocasiões os maiores Espíritos do sistema solar se reuniram: quando o sistema foi criado e quando Jesus nasceu na Terra. Portanto, resta-nos questionar: em que doutrina devemos acreditar?! É uma questão de livre-arbítrio, mas também de bom senso, pois alguns posicionamentos doutrinários naturalmente excluem outros conceitos contrários. É lamentável que supostos espíritas defendam doutrinariamente as obras de Ubaldi e Roustaing, chegando a colocá-los (pasmem!) ao nível de Allan Kardec.
As discordâncias supracitadas constituem exemplos contundentes de duas obras que não se corroboram mutuamente, ilustrando um caso de mútua exclusão conceitual (Roustaing e Ubaldi). Além disso, não é preciso ressaltar que ambas são igualmente discordantes da obra da Codificação Espírita, mas, em um esforço comparativo, podemos continuar nossa análise para tornar mais evidentes as conclusões. Considerando a necessidade da “concordância universal do ensino dos espíritos”, abrangendo a análise das obras de Ubaldi e Roustaing, somos obrigados a inferir que no mínimo uma dessas obras já estaria, de cara, descartada. É bom lembrar que para muitos ubaldistas, a entidade denominada “Sua Voz” seria o próprio Jesus! Ora, Jesus deveria saber que corpo ele mesmo utilizou! A menos que “Sua Voz” não seja Jesus, e nem mesmo um Espírito evoluído. De qualquer maneira, pelo menos um dos dois (Ubaldi e/ou Roustaing) está completamente equivocado. Portanto, Ubaldi é anti-Roustaing e Roustaing é anti-Ubaldi! Além de serem, ambos, anti-Kardec!
Essa chocante realidade para os indivíduos que são adeptos das duas obras e consideram que Ubaldi é a continuação de Roustaing só demonstra um único fato: É que muitos dos supostos ubaldistas e roustainguistas não se deram ao trabalho de ler, nem mesmo de forma superficial, as obras que afirmam seguir, ou seja, não conhecem os tópicos básicos das doutrinas que defendem! De fato, conheço ubaldistas fanáticos que defendem acintosamente o corpo fluídico de Jesus, por não saberem que Ubaldi é contra essa proposta!
O que acontece é que Ubaldi tinha uma mediunidade mínima e escreveu à sua maneira, como um filósofo espiritualista, livre-pensador e de forte influência católica que, realmente, era a realidade do escritor italiano. O fato de ter se tornado reencarnacionista e adepto da idéia da comunicabilidade dos espíritos não o tornou necessariamente espírita e coerente com qualquer linha de pensamento prévio. Assim, quando ele começa a escrever a sua obra defendendo a “Queda Espiritual”, os roustainguistas empolgam-se porque, forçando uma correlação, estariam fomentando uma suposta corroboração conceitual. Acontece que “Cristo” foi a última obra escrita por Ubaldi (e considerada por ele mesmo, uma das suas principais obras), e os roustainguistas já vinham defendendo Ubaldi a muito tempo como um autor que corroborava e continuava o trabalho de Roustaing. Esqueceram, no entanto, de avisar Ubaldi disso, pois o autor italiano continuou com as suas reflexões de forma independente.
Nesse contexto, o que fazer? Alguns roustainguistas passaram a afirmar que aceitavam os 23 primeiros livros de Ubaldi e rejeitaram o último (“Cristo”), considerado por Ubaldi e por muitos ubaldistas uma de suas principais obras! Afirmavam que Ubaldi, supostamente a reencarnação do Apóstolo Pedro, “havia negado novamente Jesus”. Quanta fantasia!
Os outros roustainguistas que aceitaram todos os livros de Ubaldi, inclusive “Cristo”, passaram a utilizar de um ainda maior “malabarismo doutrinário” para “amarrar” ambos, Roustaing e Ubaldi, e, o que é pior, Kardec, nessa grande colcha de retalhos espiritualista, mas não espírita.
1 Comentários:
Caro Leonardo,
Parabéns por suas explanações acerca dos falsos profetas que se locupletam com os conceitos sublimes da doutrina espírita, mas que apenas dela reverberam um emaranhado difuso de pseudo-princípios que supõem alicerçar suas ilações, eivadas do mais explícito sofisma. A verdade quanto mais se aproxima da simplicidade e humildade, sejam em conceitos ou demonstrações, mais se auto-afirma e se estabelece como único caminho a ser seguido. Na dúvida: sigamos Kardec!
Grande abraço,
Ian
(ianandre7@hotmail.com)
Por Ian, às 28 de novembro de 2018 às 04:22
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