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segunda-feira, 14 de julho de 2014

SOBRE A POESIA MEDIÚNICA



Por Leonardo Paixão (*)
                                        
            A poesia mediúnica tem perdido o seu valor no Movimento Espírita atual. Leem-se muitos romances e se ignora a poesia. Por que isso ocorre? Seria falta de sensibilidade dos espíritas da atual geração? Seria por que obras poéticas mediúnicas tiveram o seu momento? Nos negamos a admitir as duas hipóteses sugeridas, preferimos pensar que tal ocorrência se faz, principalmente, por uma falta de orientação adequada em relação à análise de textos espíritas sejam mediúnicos ou não.
            Tem-se dado muita atenção a escritores e, em especial a médiuns psicógrafos, como se estes fossem novos oráculos a orientar a vida dos que os procuram. Este é um errôneo entendimento, totalmente contrário à orientação de uma Doutrina que prima pela razão, pela análise e não por opiniões seja de encarnados ou desencarnados.
            Penso que devemos realizar o resgate da poesia mediúnica, pois, como já disseram espíritas estudiosos como Luciano dos Anjos e o agora projeciologista Waldo Vieira, a poesia mediúnica é uma evidência da imortalidade do ser, pois é muito difícil colocar no papel o estilo próprio de um poeta, quanto mais os de vários poetas como foi o caso de Chico Xavier, Waldo Vieira, Jorge Rizzini, América Delgado (pelo que sabemos esta médium tinha uma sintonia específica com Guerra Junqueiro, ver o livro Os Funerais da Santa Sé, ed. FEB), Júlio Cezar Grandi Ribeiro, Irthes Therezinha, Newton Boechat, Eurícledes Formiga, Dolores Bacelar, Carlos Antônio Baccelli, Raul Teixeira, como vemos, são poucos nomes aqui listados, onze nomes apenas e, isto, pelo fato seguinte exposto por Allan Kardec: “médiuns versejadores: obtém, mais facilmente do que outros comunicações em versos. Muito comuns para os maus versos; muito raros [grifo nosso] para os versos bons” (O Livro dos Médiuns, item 193, capítulo 16). Psicografar poesias é, portanto, uma especialidade, qualidade que não é dada a todos os médiuns, não se podendo exigir do médium o que ele não pode dar, do contrário será dar entrada à intromissão de espíritos mistificadores, caso o médium não seja firme em se limitar na sua especialidade.
            Escrevendo sobre a poesia mediúnica em apresentação ao livro “Castro Alves fala à Terra”, que reúne poesias deste poeta captadas por três médiuns: Chico Xavier, Waldo Vieira e Jorge Rizzini, esclarece o filósofo, poeta e jornalista José Herculano Pires:
           
            “Haverá sempre quem aponte defeitos, vacilações, momentos de frouxidão nesta ou naquela estrofe dos poemas que nos chegam do Além. Que importam as possíveis falhas de captação mediúnica, diante da força e da beleza de cada poema no seu conjunto? A concepção de cada um desses poemas só encontra, em nossa poética de ontem e de hoje, uma fonte possível: Castro Alves. E se eles não existissem, não tivessem sido captados mediunicamente e publicados, a poesia brasileira num sentido geral (mediúnica ou não) seria mais pobre em seu conteúdo humano”.

            Escrevendo para apresentar o livro “Antologia do Mais Além”, de Espíritos Diversos/psicografia de Jorge Rizzini diz:

            “A poesia mediúnica foi até hoje considerada como marginal.
A poesia e toda a literatura mediúnica. Os críticos têm receio de se pronunciar sobre ela e quando o fazem é de maneira irônica. Servem-se da ironia para se salvarem dos preconceitos vigentes, preservarem o prestígio profissional e manterem a sua posição no aquário. Assim podem servir a Deus e ao Diabo ao mesmo tempo. O aquário é o meio cultural em que se desenvolveram, com sua rotina, sua água parada e morna, nem fria nem quente, aquecida por meios artificiais. Ê uma delícia nadar nessa água sem maiores preocupações, no espaço limitado pelo grosso vidro da vasilha. Por que pensar nas coisas que poderiam existir além do vidro?

Mas a obra literária, como todas as coisas feitas por Deus ou pelo homem, vale por si mesma e não pelos canais da sua realização. Um poema é o que é. Pouco importa se foi feito por Homero ou por Zé Mindim numa sitioca da Sorocabana. Tem de ser aceito pelo que ele é, não pela sua origem. Uma comédia de Shakespeare é uma comédia, seja dele, de Bacon ou de quem for. Mas se for um pasticho? Ora, acaso o pasticho também não é arte? Pode alguém pastichar com valor sem conhecer a obra do pastichado e sem ter habilidade e aptidão literárias? Mas nada disso pesa na balança. O crítico tem a sua regra. E se a consciência lhe pesa, usa a ironia. Assim não deixa de abordar o assunto e pode dar uma colher de chá aos amigos espíritas. Ah, os espíritas já se acostumaram tanto a ser ironizados!

Com raras exceções, por sinal muito corajosas, nossos críticos e literatos torcem o nariz ilustre diante da poesia mediúnica. Monumentos poéticos como o Parnaso de Além Túmulo, a Antologia dos Imortais, Poetas Redivivos, Sonetos de Vida e Luz, O Espírito de Cornélio Pires são atirados ao lixo, fora do aquário, nos arrabaldes da cidade das letras, para uso e gozo da ralé. O argumento justificativo é sempre o mesmo: trata-se de pasticho ou de fabulações inconscientes da escrita-automática.

Mas hoje as coisas mudaram. Os aquários estão sendo quebrados. A ciência materialona de há meio século descobriu novas dimensões da realidade, rompeu para sempre a rotina cultural. A tese espírita dos universos interpenetrados comprovou-se em laboratório. A teoria do corpo espiritual, que é o corpo da ressurreição e portando da sobrevivência, foi confirmada pelos materialistas soviéticos na descoberta do corpo bioplástico. Os problemas da morte e da reencarnação, bem como os da comunicação mental, não só entre os vivos, mas também entre vivos e mortos, foram incorporados pela investigação científica. A possibilidade da transmissão de obras literárias por via paranormal, que vale dizer pela mediunidade, é admitida mundialmente pelos cientistas atualizados. Chegou o momento em que o problema da literatura mediúnica não deve mais assustar os críticos mas atrair a sua atenção”.


Um das frequentes objeções que fazem os céticos sobre a poesia mediúnica é de que “os poetas desencarnados se repetem e se parodiam a todo o momento”. Eis a resposta dada a tal questionamento:

“Provavelmente o estimado irmão se refere ao fato dos poetas desencarnados escreverem textos que se ligam de alguma forma (contexto, título, rima ou métrica) a textos seus enquanto encarnados; esquece porém (como poderemos ler em "parnaso de além túmulo") que a maioria, para não dizer todos, estes textos vem tentando modificar a "visão" antiquada e errônea que os poetas tinham do mundo enquanto encarnados e que, após o desencarne - conhecendo as verdades espirituais - tiveram seus "olhos abertos" e retornaram para "corrigir" os erros ideológicos que tenham divulgado”. (Do site: http://www.bomespirito.com/2011/07/acordar-cansado-perguntas-dos-amigos.html#axzz37OqNV6IB – Acesso em 14/07/2014).

Acrescentaremos a esta resposta que a observação feita pelo cético é muito superficial, pois poetas como Castro Alves e Guerra Junqueiro, por exemplo, não se prenderam apenas a dizer palavras melosas de caridade e amor como ridicularizam os descrentes. Podemos encontrar no poema “A um padre (Versos a um agressor do Espiritismo)”, do livro “Parnaso de Além Túmulo”, por Espíritos Diversos/Chico Xavier, a ironia e o estilo combativo de Junqueiro, o que também vamos encontrar através do médium Jorge Rizzini no soneto “Quevedo” que consta no livro “Antologia do Mais Além”, de Espíritos Diversos. É possível encontrar nas duas obras poemas vários de Castro Alves, além de outros poetas a falarem de questões sociais e não só as “melosas palavras” de caridade e amor.  Outros médiuns como os que citamos no início deste texto poderão também ser consultados com frutos, desde que não se tenha ideia preconcebida, o que acanha a capacidade de observação. O que, no entanto, se faz comum a todos os poetas é o reverenciar a Imortalidade, pois se eles retornam do Além o seu objetivo primordial é fazer com que o homem se conscientize de que é Imortal.

Depreende-se que, se há estilos diversos, realmente há psicografia, apesar das explicações de céticos para o fenômeno, a questão é que é um fato e, como disse Clóvis Tavares “Discutam-se teorias, mas os fatos são indiscutíveis” (Do livro “Luz na Escola”, ed. Vinha de Luz, 2010).


(*) - Leonardo Paixão é Orador espírita (que tem viajado por alguns Estados brasileiros, quando possível, na divulgação da Doutrina Espírita), articulista, poeta, tem críticas literárias publicadas no site orientacaoespirita.org e um artigo publicado em Reformador em Agosto de 2010, A Revelação - uma perspectiva histórica e tem escrito alguns artigos no jornal eletrônico O Rebate. Participa com um grupo de amigos de ideal do GE Semeadores da Paz em Campos dos Goytacazes, RJ, onde exerce direção de estudos e trabalhos na área mediúnica, atuando como médium psicofônico na desobsessão e como psicógrafo de mensagens esclarecedoras, poesias e cartas consoladoras.

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