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quarta-feira, 2 de julho de 2014

JA EXPERIMENTOU

Margarida Azevedo
Mem Martins, Sintra,
Portugal

O deleite na visita a um doente, que por acaso até nem conhece, que o recebe com um sorriso estupefacto?

A surpresa na pesquisa do lado bom, ainda que por vezes recôndito, de um (a) homem/mulher que considera vicioso (a)?

O sorriso por oferecer uma flor a quem da vida só recebe amargura?

A tranquilidade em deixar para trás mágoas e dissabores?

O olhar penetrante de alguém arrependido de um acto menos aceitável, porque você o justificou, percebendo que ele tem um historial qualquer, mais ou menos bom? 

Sentir o reconhecimento por ofertar a sua companhia a quem vive só?

Ou então viver um momento sem espalhar os seus pontos de vista sobre o outro, como se dele tudo soubesse?

Pôr em causa a sua opinião sobre qualquer coisa, alguém, uma ocorrência que aos seus olhos tem um aspecto “deprimente”?

Interrogar-se a propósito da forma como está na sua religião, igreja ou doutrina?

Saber se está a cumprir com os requisitos que espera de si, como por exemplo, se a sua acção não difere do seu pensamento, se a sua aparência não difere do seu íntimo?

Pensar que se morresse agora mesmo, que tipo de mundo o esperaria?

Reflectir como é a sua relação com Deus, com o outro e com a vida?

Colocar as grandes questões: Em que medida sou um bom exemplo para a humanidade? Que tipo de humanidade represento? Qual o meu contributo para essa mesma humanidade? O mundo ficou mais rico com a minha presença? A espiritualidade ficou mais esclarecida? 

Não é porque vai a todos os encontros, todos os simpósios, congressos; não é porque ora a horas sempre certas, é pontual, disciplinado, que tem a luz aos seus pés. Tudo isso faz falta, mas, no contexto geral, é mero enfeite na sua vivência, na sua natureza. Mera formalidade.

O verdadeiro problema insere-se no vasto mundo da intencionalidade, o fito com que se move, o móbil que o faz rodopiar de um lado para o outro. Pode ter toda a disciplina do mundo, ser referenciado como um exemplo a seguir, tal como os santos dos altares, ou os que são criados pelo inconsciente colectivo, mas o seu íntimo pode estar a milhas, anos-luz dos seus rótulos sociais, da sua religião, igreja ou doutrina.

É assim que se constroem os farrapos humanos, os super-homens, os infalíveis. Presos nos altares da fama, na ribalta dos púlpitos, na feitura de grandes prodígios, enganam até os escolhidos.

Todos(as) somos portadores de humanidade, todos(as) a representamos. Preze a Deus que o façamos com dignidade.

Não é preciso dizer Deus. Não diga nada.

Dê o exemplo. Precisamos de exemplos.

Mostre-me o que é Deus para si. Preciso urgentemente que me mostre a sua representação de Deus.

É que eu ainda estou cá muito em baixo. Preciso que partilhe comigo a sua luz.


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