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quinta-feira, 19 de junho de 2014

SOBRE MÉDIUNS E MEDIUNIDADE

 
                                                                   Leonardo Paixão (*)
 

A mediunidade é tema sempre frequente nos estudos do Espiritismo e isto por um motivo muito claro: o Espiritismo foi organizado a partir de comunicações mediúnicas analisadas por Allan Kardec que, então, percebendo no teor de comunicações sérias uma filosofia, organizou-as e as dispôs em livros (1).
Os médiuns devem ser interessados no estudo da faculdade mediúnica, pois, somente com uma orientação devida não se deixarão envolver não só por espíritos mistificadores e zombeteiros, mas também por sentimentos outros próprios da personalidade humana como vaidade, orgulho, personalismo, etc.
Ao estudarmos a mediunidade, compreendemos que se trata de uma faculdade natural e que o fato de se possuí-la não torna ninguém especial ou santo.
Infelizmente, muitos espíritas leem, estudam até, mas não compreendem tal coisa. Isto está patente quando vemos em eventos tais Seminários e Congressos, onde médiuns que também são oradores, neles comparecem, é uma ânsia de se aproximar deles, abraça-los, beijá-los, perguntar-lhes o que desejam (no sentido de se lhes saciar a sede ou a fome), compram-se os livros por estes médiuns psicografados e, não raro, ficam eles nas prateleiras sem a utilidade que devem ter: o de serem estudados. Esquece-se aqui da instrução de Allan Kardec que é a de tudo se examinar e, independente de qual médium tenha sido instrumento desta ou daquela mensagem, deste ou daquele livro, se algo provocar dúvida, que a informação dada seja posta como uma opinião do Espírito e não como uma verdade, um princípio da Doutrina. Na Introdução de O Evangelho segundo o Espiritismo, item II, no 6º parágrafo adverte Kardec:
 
"Sabe-se que os Espíritos, em virtude da diferença entre as suas capacidades, longe se acham de estar, individualmente considerados, na posse de toda a verdade; que nem a todos é dado penetrar certos mistérios; que o saber de cada um deles é proporcional à sua depuração; que os Espíritos vulgares mais não sabem do que muitos homens; que entre eles, como entre estes, há presunçosos e sofâmanos, que julgam saber o que ignoram; sistemáticos, que tomam por verdades as suas ideias; enfim, que só os Espíritos da categoria mais elevada, os que já estão completamente desmaterializados, se encontram despidos das ideias e preconceitos terrenos; mas, também é sabido que os Espíritos enganadores não escrupulizam em tomar nomes que lhes não pertencem, para impingirem suas utopias. Daí resulta que, com relação a tudo o que seja fora do âmbito do ensino exclusivamente moral, as revelações que cada um possa receber terão caráter individual, sem cunho de autenticidade; que devem ser consideradas opiniões pessoais de tal ou qual Espírito e que imprudente fora aceita-las e propagá-las levianamente como verdades absolutas".
 
Que temos visto ocorrer? Livros e mais livros saindo de editoras e os médiuns que os recebem não os colocando para a análise, mas os dando a público e os defendendo nas palestras que fazem. Há os que dizem ser tal ou qual comunicação deste ou daquele Espírito opiniões deles, mas quando surge alguém e lhes mostra a falta de lógica nesta ou naquela posição tomada pelo Espírito, o médium , ao invés de agir, dizendo que a questão, se for verdadeira, o futuro dirá, através de outras comunicações por outros médiuns e por outros Espíritos ou até, dependendo do que fala a comunicação, do progresso científico da Humanidade, prefere o médium acusar os que pensam diferente de sarcásticos juízes, estes estão na seguinte classificação de Allan Kardec em O Livro dos Médiuns, segunda Parte, capítulo XVI, item 196:
 
"Médiuns suscetíveis: variedade dos médiuns orgulhosos, suscetibilizam-se com as críticas de que sejam objeto suas comunicações; zangam-se com a menor contradição e, se mostram o que obtém, é para que seja admirado e não para que se lhes dê um parecer. Geralmente, tomam aversão às pessoas que os não aplaudem sem restrições e fogem das reuniões onde não possam impor-se e dominar.
" Deixai que se vão pavonear algures e procurar ouvidos mais complacentes, ou que se isolem; nada perdem as reuniões que da presença deles ficam privadas". - Erasto.
 
Duras palavras de Erasto, mas não menos verdadeiras.
Claro que encontramos médiuns que se portam dignamente, não se dando valor acima do real e conscientes de que não estão isentos de serem enganados, por isso, levam as comunicações que recebem a companheiros mais experientes, não se aborrecendo com as críticas que se façam às suas produções mediúnicas. Uma qualidade de médiuns que parece estar a faltar é a de "médiuns modestos: os que nenhum reclamo fazem das comunicações que recebem, por mais belas que sejam. Consideram-se estranhos a elas e não se  julgam ao abrigo das mistificações. Longe de evitarem as opiniões desinteressadas, solicitam-nas" (O Livro dos Médiuns, item 196), daí se chegará à qualidade de "médium seguro".
Estudar a Doutrina Espírita em suas bases, manter uma conduta digna, orar com fervor diariamente, não se gloriar com as comunicações que recebe seja qual for o nome que as assine. Os Espíritos Sebastião Lasneau e  Eurícledes Formiga aconselham aos médiuns nestes sonetos:
 
MÉDIUM COM JESUS
 
Mediunidade é o dom que nos delega
O Criador para o nosso progresso,
Pois cada psiquismo se encontra imerso
Na torrente mental que tudo agrega.
 
Mediunidade é base do altruísmo
E do socorro àquele que estorcega;
Da escuridão a consciência despega
Com paciência, longe do imediatismo.
 
Bendito é quem, pela mediunidade,
Valoriza o bem e a fraternidade,
E se renova, alcançando mais luz,
 
Por ter tornado o estudo continuado
O caminho seguro e alcandorado
Para ser um bom médium com Jesus.
 
Sebastião Lasneau
(Mensagem psicografada por José Raul Teixeira, em 06/10/201, durante a Reunião Ordinária do Conselho Federativo Nacional da FEB, em Brasília, DF e publicada em Reformador em janeiro de 2011).
 
MEDIUNIDADE GLORIOSAFaculdade natural na espécie humana
É a mediunidade, dom divino
Sem distinção, do servo ao menino
Pois uma só é a fonte donde promana...

Exercer a faculdade que irmana
Todos os seres em passo uníssono
É louvar ao Senhor com afável hino
Que do coração fiel emana...

Faça bom uso da mediunidade
Estudando e trabalhando na caridade
Sempre com atitude digna, honrosa.

Assim agindo, com probidade
Alcançarás interior felicidade
Elevando-te à mediunidade gloriosa...

Eurícledes Formiga
(Soneto recebido em reunião íntima do Culto Newton Boechat no dia 29/05/2014 pelo médium Leonardo Paixão).
 
Médiuns! Esforcem-se para com Jesus alçarem a mediunidade à mediunidade gloriosa!
 
Nota: (1) - As obras de Allan Kardec são:
1- O Livro dos Espíritos;
2 - Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas;
3 - O que é o Espiritismo;
4 - O Livro dos Médiuns;
5 - O Espiritismo em sua mais simples Expressão;
6 - Viagem Espírita em 1862;
7 - O Evangelho segundo o Espiritismo;
8 - O Céu e o Inferno;
9 - A Gênese;
10 - Obras Póstumas;
11 - Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas;
12 - Revista Espírita - Ano 1858;
13 - Revista Espírita - Ano 1859;
14 - Revista Espírita - Ano 1860;
15 - Revista Espírita - Ano 1861;
16 - Revista Espírita - Ano 1862;
17 - Revista Espírita  - Ano 1863;
18 - Revista Espírita - Ano 1864;
19 - Revista Espírita - Ano 1865;
20 - Revista Espírita - Ano 1866;
21 - Revista Espírita - Ano 1867;
22 - Revista Espírita - Ano 1868;
23 - Revista Espírita - Ano 1869;
24 - A Obsessão;
 
Colocamos aqui a relação das obras de Kardec, pois concordamos com o que diz o espírito Deolindo Amorim:
 
“(...) Alguns confrades, referindo-se a um pentateuco kardequiano, constituído pelo O livro dos espíritosO livro dos médiunsO evangelho segundo o EspiritismoO Céu e o Inferno e A Gênese, dão-lhe tal conotação que ficam a um passo da sacralização dos textos, olvidando não só a natureza da doutrina espírita, mas também a importância de outros textos de Kardec como todo o material recolhido na Revista Espírita (AMORIM, Deolindo (espírito). Convite à Reflexão [psicografia e notas de] Élzio Ferreira de Souza. São Paulo, SP: Lachâtre, 2008. p. 52 – nota 1).
 
(*) Leonardo Paixão é Orador espírita (que tem viajado por alguns Estados brasileiros, quando possível, na divulgação da Doutrina Espírita), articulista, poeta, tem críticas literárias publicadas no site orientacaoespirita.org e um artigo publicado em Reformador em Agosto de 2010, A Revelação - uma perspectiva histórica e tem escrito alguns artigos no jornal eletrônico O Rebate. Participa com um grupo de amigos de ideal do GE Semeadores da Paz em Campos dos Goytacazes, RJ, onde exerce direção de estudos e trabalhos na área mediúnica, atuando como médium psicofônico na desobsessão e como psicógrafo de mensagens esclarecedoras, poesias e cartas consoladoras.

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