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sexta-feira, 23 de maio de 2014

As Colônias Espirituais e a Codificação

Paulo Neto

Tudo deve estar em harmonia, no mundo espiritual, como no mundo material; aos homens corpóreos, são necessários objetos materiais; aos Espíritos, cujo corpo é fluídico, são necessários objetos fluídicos, os objetos materiais não lhes serviriam, não mais do que os objetos fluídicos não serviriam aos homens corpóreos”. (KARDEC).
RESUMO: Estudo desenvolvido para confirmar a realidade das colônias espirituais mencionadas por André Luiz. Na Codificação, os mundos transitórios, destinado a Espíritos errantes, têm características – plano espiritual, planeta estéril – bem semelhantes às que se vê nas descrições das colônias. Lista dos que confirmam sua existência: a) Estudiosos: Léon Denis, Ernesto Bozzano, James Arthur Findlay, Sir Oliver Lodge, Arthur Conan Doyle, J. Herculano Pires, Cairbar Schutel, Raymund A. Moody, Bill e Judy Guggenheim e Richard Simonetti; b) Médiuns: Yvonne A. Pereira, Rev. G. Vale Owen, Emanuel Swedenborg, Andrew Jackson Davis, James Van Praagh; Heigorina Cunha e médiuns do Grupo Irmã Scheilla; c) Espíritos: João Lúcio (Wagner da Paixão), André Luiz (Chico Xavier), Eça de Queirós (Wanda Canutti), Admastor (Gilson Freire), Zílio (Nelson Moraes), Joanna de Ângelis (Divaldo Franco), Luís Felipe (Zé Araújo), Mons. Robert Hugh Benson (Anthony Borgia) e Lester Coltman (Lilian Walbrook).
Introdução
Quando ouvimos companheiros, estudiosos da Doutrina dos Espíritos, dizerem que as colônias espirituais mencionadas por André Luiz, via psicografia de Francisco Cândido Xavier (1910-2002), não existem ficamos a pensar se somos nós que estamos equivocados, ou são eles que estão certos?!
Isso nos preocupa sobremaneira visto ser nosso objetivo o de não fugir dos conceitos emanados das obras da Codificação Espírita; mais ainda: quando vamos às tribunas, nas casas espíritas, fazer estudos de temas evangélicos ou doutrinários, o que falamos nessas oportunidades, para muitas pessoas, é visto como se fosse tudo ponto doutrinário, já que nos veem como que falando em nome da Doutrina, como se tivéssemos dela uma procuração, e não como interpretando seus postulados.
Há uma orientação de Erasto que não podemos nos esquecer dela; caso contrário, repudiaremos qualquer nova ideia:
Na dúvida, abstém-te, diz um de vossos antigos provérbios; não admitais, pois, senão o que vos é de uma evidência certa. Desde que uma opinião nova surge, por pouco que ela vos pareça duvidosa, passai-a pelo crivo da razão e da lógica; o que a razão e o bom senso reprovam, rejeitai-o ousadamente; mais vale repelir dez verdades, do que admitir uma única mentira, uma única teoria falsa. Com efeito, sobre essa teoria, poderíeis edificar todo um sistema que desabaria ao primeiro sopro da verdade, como um monumento edificado sobre uma areia movediça; ao passo que, se rejeitais hoje certas verdades, porque elas não vos são demonstradas lógica e claramente, logo um fato brutal, ou uma demonstração irrefutável, virá vos afirmar a sua autenticidade. (KARDEC, 1993f, p. 242, grifo nosso).
Então, devemos ter mente aberta para o novo; porém, devemos analisá-lo, passando-o pelo crivo da lógica e da razão, para evitar que sejamos facilmente enganados por ideias estapafúrdias. É importante, também, abdicar da ojeriza gratuita que, às vezes, temos por coisas que julgamos fora da Codificação, pois pode estar lá e ainda não as vimos. Fazemos nossas estas palavras de Allan Kardec (1804-1869): “Apelo para todos os adversários de boa-fé e os adjuro a que digam se se deram ao trabalho de estudar o que criticam”. (KARDEC).
Há uma frase que aprendemos, no interior das Minas Gerais, que é bem verdade e que merece a reflexão de todos nós: “Não se deve jogar a água da bacia fora com a criança dentro”.
O mundo invisível
A iniciativa de estudar o tema surgiu quando estávamos lendo a obra Devassando o invisível, de Yvonne do Amaral Pereira (1900-1984), em que a autora, no Capítulo I, “Nada de novo…”, apresenta vários argumentos para defender a realidade das colônias espirituais, contrapondo-se, ao que se deduz do teor do texto, aos que, na sua época (a Introdução é datada de dez/1962), não as aceitam como realidade; não é, portanto, uma obra mediúnica; reflete, apenas, a opinião pessoal da médium, calcada nas suas experiências provindas do exercício de sua mediunidade, notadamente a de emancipação consciente de sua alma.
O que achamos fantástico é a menção que Yvonne faz de personalidades renomadas terem comungado com essa ideia; entre elas, e de um modo especial, cita nada menos que Léon Denis (1846-1927), que sabemos ter sido o continuador de Kardec, após o seu desencarne.
Yvonne A. Pereira tece várias considerações, quanto à possibilidade de existirem colônias no mundo espiritual; dentre elas destacamos:
Desde o advento da Doutrina Espírita, os nobres habitantes do mundo espiritual que se têm comunicado com os homens, através de grande variedade de médiuns, afirmam ser a Terra um pálido reflexo do Espaço. “O Livro dos Médiuns”, de Allan Kardec, no belo capítulo VIII – “Do Laboratório do Mundo Invisível” – é fecundo em explicações que oferecem base para estudos e conclusões muito profundas quanto à vertiginosa intensidade do plano invisível, a possibilidade de realizações, ali, por assim dizer, “materiais”, que as entidades desencarnadas sempre afirmaram e que nos últimos tempos vêm confirmando com insistência e pormenores dignos de atenção. E no precioso compêndio “A Gênese”, também de Allan Kardec, lemos o seguinte, no capítulo XIV, sob o título – Ação dos Espíritos sobre os fluidos – Criações fluídicas – Fotografias do pensamento:
Os fluidos espirituais, que constituem um dos estados do fluido cósmico universal, são, a bem dizer, a atmosfera dos seres espirituais; o elemento donde eles tiram os materiais sobre que operam; o meio onde ocorrem os fenômenos especiais, perceptíveis à visão e à audição do Espírito, mas que escapam aos sentidos carnais, impressionáveis somente à matéria tangível; o meio onde se forma a luz peculiar ao mundo espiritual, diferente, pela causa e pelos efeitos, da luz ordinária; finalmente, o veículo do pensamento, como o ar o é do som.
Os Espíritos atuam sobre os fluidos espirituais, não manipulando-os como os homens manipulam os gases, mas empregando o pensamento e a vontade. (O grifo é nosso.) Para os Espíritos, o pensamento e a vontade são o que é a mão para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem àqueles fluidos tal ou qual direção, os aglomeram, combinam ou dispersam, organizam com eles conjuntos que apresentam uma aparência, uma forma, uma coloração determinada; mudam-lhes as propriedades, como um químico muda a dos gases ou de outros corpos combinando-os segundo certas leis. É a grande oficina ou laboratório da vida espiritual”. (Parágrafos 13 e 14.)
E, no parágrafo 3, desse mesmo capítulo, encontraremos:
No estado de eterização, o fluido cósmico não é uniforme: sem deixar de ser etéreo, sofre modificações tão variadas em gênero e mais numerosas talvez do que no estado de matéria tangível. Essas modificações constituem fluidos distintos que, embora procedentes do mesmo princípio, são dotados de propriedades especiais e dão lugar aos fenômenos peculiares ao mundo invisível. Dentro da relatividade de tudo, esses fluidos têm para os Espíritos, que também são fluídicos, uma aparência tão material, quanto a dos objetos tangíveis para os encarnados, e são, para eles, o que são para nós as substâncias do mundo terrestre. Eles os elaboram e combinam para produzirem determinados efeitos, como fazem os homens com os seus materiais, ainda que por processos diferentes”.
Os próprios Espíritos ditos sofredores, até mesmo os criminosos, que se costumam apresentar em bem dirigidas sessões práticas, narram acontecimentos reais, positivos, que no Invisível se sucedem, um modo de viver e de agir, no Espaço, muito distanciado daquele estado vago, indefinível, inexpressivo, que muitos entendem seja o único verdadeiro, quando a Revelação propala, desde o início, um mundo de vida intensa, mundo real e de realidades, onde o trabalho se desdobra ao infinito e as realizações não conhecem ocasos. Nas entrelinhas de grandes e conceituadas obras doutrinárias, existem claras alusões a sociedades, ou “colônias”, organizadas no Além-Túmulo, onde avultam cidades, casas, palácios, jardins, etc., etc. […].
(PEREIRA, 1987, p. 10-12, grifo do original).
Esses argumentos são pertinentes e, s.m.j., condizem com o que se poderia esperar de um estudioso em defesa de seu ponto de vista, ou seja, basear-se nas obras da Codificação.
A surpresa maior veio na sequência, quando Yvonne cita Léon Denis:
Na erudita e encantadora obra “Depois da Morte”, do eminente colaborador de Allan Kardec, Léon Denis, o qual, como sabemos, além de primoroso escritor foi um grande inspirado pelos Espíritos de escol, à página 235 da 7ª edição (FEB), Cap. XXXV, a exposição dessa tese não somente é fecunda e expressiva, como também mesclada de grande beleza, como tudo o que passou por aquele cérebro e aquela pena. Diz Léon Denis, na citada obra:
O Espírito, pelo poder da sua vontade, opera sobre os fluidos do Espaço, combina-os e os dispõe a seu gosto, dá-lhes as cores e as formas que convêm ao seu fim. É por meio desses fluidos que se executam obras que desafiam toda comparação e toda análise. Construções aéreas, de cores brilhantes, de zimbórios resplandecentes: circos imensos onde se reúnem em conselho os delegados do Universo; templos de vastas proporções, donde se elevam acordes de uma harmonia divina; quadros variados, luminosos: reproduções de vidas humanas, vidas de fé e de sacrifício, apostolados dolorosos, dramas do Infinito (1). Como descrever magnificências que os próprios Espíritos se declaram impotentes para exprimir no vocabulário humano? É nessas moradas fluídicas que se ostentam as pompas das festas espirituais. Os Espíritos puros, ofuscantes de luz, se agrupam em famílias. Seu brilho e as cores variadas de seus invólucros permitem medir a sua elevação, determinar os seus atributos”. (Os grifos são nossos.).
E ainda outros trechos desse belo volume trazem informações a respeito do assunto, bastando que o leiamos com a devida atenção, bem assim vários capítulos de outra obra sua – “O Problema do Ser, do Destino e da Dor”.
Em outro magnífico livro do grande Denis – “No Invisível” –, à página 470, no cap. XXVI, da 3ª edição (FEB), há também este pequeno trecho, profundo complexo, sugestivo, descortinando afirmações grandiosas:
Dante Alighieri é médium incomparável. Sua “Divina Comédia” é uma peregrinação através dos mundos invisíveis. Ozanã, o principal autor católico que já analisou essa obra genial, reconhece que o seu plano é calcado nas grandes linhas da iniciação nos mistérios antigos, cujo princípio, como é sabido, era a comunhão com o oculto”. (Os grifos são nossos.)
Assim se expressa o grande inspirado Léon Denis, em suas obras, e, se mais não transcrevemos aqui, será por economia de espaço, que precisaremos atender. Do exposto, no entanto, deduziremos que a “Divina Comédia” não apresenta tão somente fantasias, como imaginaram os próprios eruditos, mas ocorrências reais do Além-Túmulo, que o poeta visionário mesclou de divagações, talvez propositadamente, numa época de incompreensões e preconceitos ainda mais intransigentes que os verificados em nossos dias (2).
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(1) São essas reproduções de vidas humanas que os Instrutores Espirituais dão a ver aos médiuns, no Espaço, durante o sono letárgico, ou desdobramento, e dos quais se originam os romances mediúnicos, sempre tão atraentes. Vide capítulo VI.
(2) Dante Alighieri – Ilustre poeta e pensador italiano, nascido em 1265 e falecido em 1321, autor do poema épico “Divina Comédia”, considerado “uma das mais altas concepções do espírito humano”. Esse poema contém as ideias e a filosofia da Idade Média e se divide em três pontos: o Inferno, o Purgatório e o Paraíso, e figura uma viagem do poeta ao Mundo Invisível. Pode-se acrescentar que essa obra imortal criou a poesia e a linguagem italianas.
(PEREIRA, 1987, p. 12-14, grifo do original).
Apresentar Léon Denis como defensor da causa foi algo como que um tiro certeiro no alvo, porquanto não há o que se falar de serem antidoutrinárias as colocações dele e, muito menos, que tenha dito um absurdo, produto de sua imaginação.
Mas Yvonne, ao apresentar argumentos filosóficos, baseada em Denis, não para por aí; com outro personagem, ela busca a vertente científica, ao trazer as considerações do sábio italiano Ernesto Bozzano (1862-1943):
Os preciosos volumes escritos pelo sábio psiquista italiano Ernesto Bozzano, produto de severa análise científica, são férteis em apontar esses mesmos locais do Invisível, revelados por Espíritos desencarnados de adiantamento moral-espiritual normal, cujas comunicações, psicografadas por vários médiuns desconhecidos uns dos outros, alguns até completamente alheios ao Espiritismo, foram examinadas e cientificamente analisadas por aquele ilustre autor. Ser-nos-á impossível transcrever, aqui, muitos trechos de Bozzano a respeito, visto que em suas obras encontramos fartas observações em torno da tese em apreço. Limitar-nos-emos a citar alguns trechos do interessante livro “A Crise da Morte”, onde substancioso noticiário encontraremos sobre o assunto, além de alguns “detalhes fundamentais” da sua análise sobre comunicações com Espíritos desencarnados. Assim é que, no “Décimo-quarto caso”, analisando uma das comunicações inseridas no mesmo volume, Bozzano observa que – a paisagem “astral” se compõe de duas séries de objetivações do pensamento, bem distinta uma da outra. A primeira é permanente e imutável, por ser a objetivação do pensamento e da vontade de entidades espirituais muito elevadas, prepostas ao governo das esferas espirituais inferiores; a outra é, ao contrário, transitória e muito mutável; seria a objetivação do pensamento e da vontade de cada entidade desencarnada, criadora do seu próprio meio imediato”. (3) (Os grifos são nossos.)
À página 153 da referida obra, nas “Conclusões” relativas ao último caso, leremos o seguinte, no “detalhe fundamental” nº 6:
Terem-se achado (os Espíritos recém-desencarnados) num meio espiritual radioso e maravilhoso (no caso de mortos moralmente normais), e num meio tenebroso e opressivo (no caso de mortos moralmente depravados)”.
No “detalhe” nº 7:
Terem reconhecido que o meio espiritual era um novo mundo objetivo, substancial, real, análogo ao meio terrestre espiritualizado”.
No “detalhe” nº 8:
Haverem aprendido que isso era devido ao fato de que, no mundo espiritual, o pensamento constitui uma força criadora, por meio da qual todo Espírito existente no mundo ‘astral’ pode reproduzir em torno de si o meio de suas recordações”.
No “detalhe” nº 12:
Terem aprendido que os Espíritos dos mortos gravitam fatalmente e automaticamente para a esfera espiritual que lhes convém, por virtude da lei de afinidades”. (Os grifos são nossos.)
E ponderamos nós: Se os Espíritos dos mortos fatalmente e automaticamente gravitam para a esfera espiritual que lhes convém, é que tais esferas existiam mesmo antes de eles para lá gravitarem, criadas, certamente, por outros Espíritos, com os quais passarão a colaborar, na medida das próprias forças. Com efeito. No “detalhe secundário” nº 4, do mesmo caso, Bozzano analisa:
Acham-se de acordo (as almas dos mortos) em afirmar que, embora os Espíritos tenham a faculdade de criar mais ou menos bem, pela força do pensamento, o que lhes seja necessário, todavia, quando se trata de obras complexas e importantes, a tarefa é confiada a grupos de Espíritos que nisso se especializaram”.
Dentre as comunicações analisadas por Bozzano, ressaltaremos as concedidas pelo Espírito do inesquecível artista cinematográfico Rodolfo Valentino, falecido em Agosto de 1926, à sua esposa Natacha Rambowa, nas sessões realizadas em Nice, na França, e consideradas cientificamente muito importantes, nas quais são citados pormenores desse mundo espiritual, e que muito edificam os estudiosos. Não nos furtaremos ao prazer de oferecer ao leitor um substancioso trecho das mesmas comunicações. Assim se expressa o Espírito do célebre “astro”, através da psicografia do médium norte-americano, Jorge Benjamim Wehner, dirigindo-se à sua esposa:
– “Aqui, tudo o que existe parece constituído em virtude das diferentes modalidades pelas quais se manifesta a força do pensamento. Afirmam-me que a substância sobre que se exerce a força do pensamento é, na realidade, mais sólida e mais durável do que as pedras e os metais no meio terrestre. Muitas dificuldades encontrais, naturalmente, para conceber semelhante coisa, que, parece, não se concilia com a ideia que se pode formar das modalidades em que deverá manifestar-se a força do pensamento. Eu, por minha parte, imaginava tratar-se de criações formadas de uma matéria vaporosa; elas, porém, são, ao contrário, mais sólidas e revestidas de cores mais vivas, do que o são os objetos sólidos e coloridos do meio terrestre… As habitações são construídas por Espíritos que se especializaram em modelar, pela força do pensamento, essa matéria espiritual. Eles as constroem sempre tais como as desejam os Espíritos, pois que tomam às subconsciências destes últimos os gabaritos mentais de seus desejos”. (Os grifos são nossos.)
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(3) Certa vez, durante um transporte em corpo astral, tivemos ocasião de visitar, no Espaço, conduzida pelo Espírito de nossa mãe, uma tia falecida havia três anos, Sra. Ernestina Ferraz, de quem fôramos muito amiga e de quem recebêramos, sempre, muitas provas de dedicação e ternura maternal, sobre a Terra. Recebeu-nos em “um meio imediato”, segundo as expressões de Bozzano, criado por ela própria, pois havia um salão de visitas idêntico ao de sua antiga residência terrena, com o velho piano de carvalho que fora seu (ou a sua reprodução fluídica), e que, presentemente, se encontra em nosso poder. Aberto, com a partitura no local devido, o piano fluídico era dedilhado por sua irmã caçula, Luísa, também já falecida, a qual ela própria educara, inclusive ensinando-lhe música. Tal a realidade da criação que, talvez perturbada com a situação frisante, exclamamos, algo vexada:
Oh, titia! O seu piano está necessitado de um reparo… está desafinado… mas prometo que o mandarei consertar…
E ela, prontamente:
Não te incomodes, minha filha, com este meu piano… Presentemente, o piano, devidamente conservado, é mantido como recordação da boa amiga que tanto nos serviu.
(PEREIRA, 1987, p. 14-17, grifo do original).
Bom; o apoio de Bozzano é importante, porquanto foi um dos cientistas que, lá nos primórdios da Codificação, estudou as manifestações dos Espíritos.
Pensa que a Yvonne parou?! Nada, pois ainda apresenta um novo personagem; trata-se do rev. George Vale Owen (1869-1931), religioso e médium inglês:
Um livro ainda mais antigo do que as obras de Bozzano - “A Vida Além do Véu” – obtido também mediunicamente pelo pastor protestante Rev. G. Vale Owen, tornou-se célebre no assunto, pois que o Espírito da genitora do próprio médium narra ao filho, em comunicações periódicas, as mesmas construções fluídicas do mundo espiritual, isto é, jardins, estradas pitorescas, habitações, cidades, etc. semelhante médium é, certamente, insuspeito, visto que, como protestante, seriam bem outras as ideias que alimentaria quanto à vida espiritual. Tais comunicações, em sua maioria, datam do ano de 1913. Convém deliciarmos, ainda, as nossas almas com alguns pequenos trechos de tão interessante livro:
– “Pode agora fazer-me o favor de descrever sua casa, paisagens, etc.?” – Pergunta o Rev. Vale Owen ao Espírito de sua mãe.
E este responde:
– “É a Terra aperfeiçoada. Certo, o que chamais quarta dimensão, até certo ponto existe aqui, mas não podemos descrevê-la claramente. Nós temos montes, rios, belas florestas, e muitas casas; tudo foi preparado pelos que nos precederam. Trabalhamos, atualmente, por nossa vez, construindo e regulando tudo para os que, ainda durante algum tempo, têm que continuar a sua luta na Terra. Quando eles vierem, encontrarão tudo pronto e preparado para recebê-los”.
– “O tecido e a cor do nosso vestuário tomam a sua qualidade do estado espiritual e do caráter de quem o usa. (O grifo é nosso.) O nosso ambiente é parte de nós mesmos e a luz é um importante componente do nosso ambiente. Entretanto, é de poderosa aplicação, debaixo de certas condições, como poderemos ver naqueles salões”.
– “Não teriam de ser demolidas (as edificações), para aproveitar-se depois o material em nova construção. Seria ele aproveitado com o prédio em pé. O tempo não tem ação de espécie alguma sobre as nossas edificações. Elas não se desfazem nem se arruínam. Sua durabilidade depende apenas da vontade dos donos, e, enquanto eles quiserem, o edifício ficará de pé, podendo ser alterado ou modificado consoante seus desejos.
– “…porque estas esferas são espirituais e não materiais“. (Grifo nosso.)
E o livro todo assim prossegue, em revelações belas e simples, lógicas e edificantes, o que confirma o noticiário de muitos médiuns, que também chegam a verificar tais realidades do mundo invisível durante seus desdobramentos em espírito.
(PEREIRA, 1987, p. 17-18, grifo do original).
Portanto, com esses três autores citados, a médium Yvonne A. Pereira conseguiu nos convencer da realidade das colônias espirituais, ou construções diversas no mundo espiritual. Sim, ela com as provas apresentadas, venceu o nosso “achismo”.
A nosso ver, o que ela apresenta vem, judiciosamente, corroborar muitas coisas relacionadas ao tema citadas nas obras inspiradas pelo Espírito André Luiz, que, ultimamente, têm sido questionadas por vários companheiros, que, talvez, não tenham atentado pelo que Léon Denis, Ernesto Bozzano e George Vale Owen apresentam em suas respectivas obras, conforme exposto nos apontamentos de Yvonne.
Depois de apresentar alguns trechos da obra de Yvonne Pereira, iremos ver se na Codificação podemos encontrar “espaço” para defender essa ideia.
As colônias espirituais e a codificação
Alguns companheiros têm as obras de Kardec como se nelas a doutrina estivesse completa e acabada; porém, parece-nos, não ser bem esse o pensamento do Codificador:
Mas, dir-se-á, ao lado destes fatos [referindo-se às manifestações espíritas] tendes uma teoria, uma doutrina; quem vos diz que essa teoria não sofrerá variações; que a de hoje será a mesma em alguns anos?
Sem dúvida, ela pode sofrer modificações em seus detalhes, em consequência de novas observações. Mas estando o princípio doravante adquirido, não pode variar e ainda menos ser anulado; aí está o essencial. Desde Copérnico e Galileu, calculou-se melhor o movimento da Terra e dos astros, mas o fato do movimento permaneceu com o princípio. (KARDEC, 2000c, p. 40, grifo nosso).
[…] As lacunas que a teoria atual pode ainda encerrar se encherão do mesmo modo. O Espiritismo está longe de ter dito a última palavra, quanto às suas consequências, mas é inabalável em sua base, porque esta base se assenta sobre os fatos. (KARDEC, 2000c, p. 41, grifo nosso).
O Livro dos Espíritos não é um tratado completo do Espiritismo; não faz senão colocar-lhe as bases e os pontos fundamentais, que devem se desenvolver sucessivamente pelo estudo e pela observação. (KARDEC, 1993j, p. 223, grifo nosso).
Se bem que o Espiritismo não haja dito ainda a sua última palavra sobre todos os pontos, ele se aproxima de seu complemento, e o momento não está longe em que lhe será necessário dar uma base forte e durável, suscetível, no entanto, de receber todos os desenvolvimentos que as circunstâncias ulteriores comportarem, e dando toda segurança àqueles que se perguntam quem lhe tomará as rédeas depois de nós. (KARDEC, 1993j, p. 370, grifo nosso).
O programa da Doutrina não será, pois, invariável senão sobre os princípios passados ao estado de verdades constatadas; para os outros, ela não os admitirá, como sempre o fez, senão a título de hipóteses até a confirmação. Se lhe for demonstrado que ela está no erro sobre um ponto, ela se modificará sobre esse ponto. (KARDEC, 1993j, p. 377, grifo nosso).
Além disso, convém notar que em parte alguma o ensino espírita foi dado integralmente; ele diz respeito a tão grande número de observações, a assuntos tão diferentes, exigindo conhecimentos e aptidões mediúnicas especiais, que impossível era acharem-se reunidas num mesmo ponto todas as condições necessárias. […].
A revelação faz-se assim parcialmente em diversos lugares e por uma multidão de intermediários e é dessa maneira que prossegue ainda, pois que nem tudo foi revelado. (KARDEC, 2007e, p. 49, grifo nosso).
[…] Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificará nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará. (KARDEC, 2007e, p. 54, grifo nosso).
Existem mais considerações de Kardec, mas essas aqui citadas já são suficientes para se perceber que o Espiritismo não é uma Doutrina acabada e nem fechada; pode (e deve), sim, incorporar novos pontos que não foram definidos no início da Codificação e, se for o caso, modificar-se naquilo em que a Ciência provar que ele está errado.
Fora isso, ainda devemos considerar que o ensino dos Espíritos também é progressivo, conforme Kardec disse:
O Espiritismo, hoje, projeta luz sobre uma imensidade de pontos obscuros; não a lança, porém, inconsideradamente. Com admirável prudência se conduzem os Espíritos, ao darem suas instruções. Só gradual e sucessivamente consideraram as diversas partes já conhecidas da Doutrina, deixando as outras partes para serem reveladas à medida que se for tornando oportuno fazê-las sair da obscuridade. Se a houvessem apresentado completa desde o primeiro momento, somente a reduzido número de pessoas se teria ela mostrado acessível; houvera mesmo assustado as que não se achassem preparadas para recebê-la, do que resultaria ficar prejudicada a sua propagação. Se, pois, os Espíritos ainda não dizem tudo ostensivamente, não é porque haja na Doutrina mistérios em que só alguns privilegiados possam penetrar, nem porque eles coloquem a lâmpada debaixo do alqueire; é porque cada coisa tem de vir no momento oportuno. Eles dão a cada ideia tempo para amadurecer e propagar-se, antes que apresentem outra, e aos acontecimentos o de preparar a aceitação dessa outra. (KARDEC, 2007c, p. 370-371, grifo nosso).
É bom lembrar que Jesus disse “Tenho ainda muito a vos dizer, mas não podeis suportar agora” (Jo 16,12); ora, se o Mestre, com toda a sua capacidade de se fazer entender, sentiu que não conseguiria fazer com que seus discípulos o entendessem, é de se esperar que todos os Espíritos que estavam envolvidos na Codificação, sob a coordenação do Espírito de Verdade, também não iriam se fazer entender, face as suas imperfeições humanas.
Ademais, temos que separar o que é contrário a pontos doutrinários daquilo que não veio a fazer parte da Codificação, por não ter sido levado à consideração dos Espíritos ou por motivos da própria evolução do conhecimento humano, pois são duas situações completamente diferentes.
Parece-nos que alguns companheiros estão tomando da resposta à pergunta 87, para dizer que não há colônias, umbral, etc.; assim, vamos transcrevê-la com a respectiva pergunta:
87. Ocupam os Espíritos uma região determinada e circunscrita no espaço?
Estão por toda parte. Povoam infinitamente os espaços infinitos. Tendes muitos deles de contínuo a vosso lado, observando-vos e sobre vós atuando, sem o perceberdes, pois que os Espíritos são uma das potências da Natureza e os instrumentos de que Deus se serve para execução de Seus desígnios providenciais. Nem todos, porém, vão a toda parte, por isso que há regiões interditas aos menos adiantados”.
(KARDEC, 2007a, p. 102).
A afirmação de não haver região determinada e circunscrita no espaço nada tem a ver com a existência ou não das colônias espirituais, que, atualmente, tantos companheiros atacam; porém, ao que tudo indica, eles estão levando em consideração o conceito, então vigente à época, de “céu” e “inferno” localizados, ou seja, como locais circunscritos, como sendo um espaço físico delimitado. Fácil perceber isso pelo que os Espíritos disseram em resposta à pergunta 1012:
1012. Haverá no Universo lugares circunscritos para as penas e gozos dos Espíritos segundo seus merecimentos?
Já respondemos a esta pergunta. As penas e os gozos são inerentes ao grau de perfeição dos Espíritos. Cada um tira de si mesmo o princípio de sua felicidade ou de sua desgraça. E como eles estão por toda parte, nenhum lugar circunscrito ou fechado existe especialmente destinado a uma ou outra coisa. Quanto aos encarnados, esses são mais ou menos felizes ou desgraçados, conforme é mais ou menos adiantado o mundo em que habitam”.
De acordo, então, com o que vindes de dizer, o inferno e o paraíso não existem, tais como o homem os imagina?
São simples alegorias: por toda parte há Espíritos ditosos e inditosos. Entretanto, conforme também já dissemos, os Espíritos de uma mesma ordem se reúnem por simpatia; mas podem reunir-se onde queiram, quando são perfeitos”.
(KARDEC, 2007a, p. 530-531, grifo nosso).
Ao que comenta Kardec:
A localização absoluta das regiões das penas e das recompensas só na imaginação do homem existe. Provém da sua tendência a materializar e circunscrever as coisas, cuja essência infinita não lhe é possível compreender. (KARDEC, 2007a, p. 531, grifo nosso).
Vê-se, portanto, que o foco é a ideia de “céu” e “inferno” como locais de pena e gozo eternos; logo, não deve ser tomada a resposta da questão 87, aqui mencionada ao afirmarem “Já respondemos a esta pergunta”, como algo contrário às informações sobre as colônias espirituais, vindas de várias fontes, conforme procuraremos demonstrar neste estudo, a possibilidade da existência delas.
Entendemos que as colônias estão em completa semelhança com as características dos mundos transitórios, referidos nas questões 234 a 236 de O Livro dos Espíritos, que são apenas acampamentos temporários.
234. Há, de fato, como já foi dito, mundos que servem de estações ou pontos de repouso aos Espíritos errantes?
Sim, há mundos particularmente destinados aos seres errantes, mundos que lhes podem servir de habitação temporária, espécies de bivaques, de campos onde descansem de uma demasiada longa erraticidade, estado este sempre um tanto penoso. São, entre os outros mundos, posições intermédias, graduadas de acordo com a natureza dos Espíritos que a elas podem ter acesso e onde eles gozam de maior ou menor bem-estar”.
a) - Os Espíritos que habitam esses mundos podem deixá-los livremente?
Sim, os Espíritos que se encontram nesses mundos podem deixá-los, a fim de irem para onde devam ir. Figurai-os como bandos de aves que pousam numa ilha, para aí aguardarem que se lhes refaçam as forças, a fim de seguirem seu destino”.
235. Enquanto permanecem nos mundos transitórios, os Espíritos progridem?
Certamente. Os que vão a tais mundos levam o objetivo de se instruírem e de poderem mais facilmente obter permissão para passar a outros lugares melhores e chegar à perfeição que os eleitos atingem”.
236. Pela sua natureza especial, os mundos transitórios se conservam perpetuamente destinados aos Espíritos errantes?
Não, a condição deles é meramente temporária”.
a) – Esses mundos são ao mesmo tempo habitados por seres corpóreos?
Não; estéril é neles a superfície. Os que os habitam de nada precisam”.
b) – É permanente essa esterilidade e decorre da natureza especial que apresentam?
Não; são estéreis transitoriamente”.
c) – Os mundos dessa categoria carecem então de belezas naturais?
A Natureza reflete as belezas da imensidade, que não são menos admiráveis do que aquilo a que dais o nome de belezas naturais”.
d) – Sendo transitório o estado de semelhantes mundos, a Terra pertencerá algum dia ao número deles?
Já pertenceu”.
e) - Em que época?
Durante a sua formação”.
(KARDEC, 2007a, p. 180-182, grifo nosso).
Dentro do que foi dito, os mundos transitórios são planetas estéreis, onde Espíritos errantes vivem temporariamente, não há Espíritos encarnados neles. Entendemos que, sendo habitações temporárias, haverá neles construções, compatíveis com a matéria do plano espiritual, para as atividades que os Espíritos errantes possam se instruir, desenvolvendo-se intelectual e moralmente, e que elas, certamente, serão, para nós, fluídicas, embora, para os Espíritos errantes, sejam materiais.
Embora possa ser algo que todos nós sabemos, achamos ser necessário definir o que sejam Espíritos errantes, para se evitar maiores confusões. Excetuando-se os Espíritos puros, todos outros Espíritos que não estão encarnados e que aguardam a sua vez de reencarnar são designados de Espíritos errantes. (vide perguntas 223 a 233 de O Livro dos Espíritos). Então, fica claro que, nos mundos transitórios, não havendo Espíritos encarnados, os que lá se encontram estão na condição de Espíritos desencarnados, ou seja, Espíritos errantes. E sendo esses mundos estéreis, certamente, que, se houver alguma construção neles, há que ser de matéria etérea, ou em algum estado que nós, pelo que entendemos o que seja matéria, não a compreendemos, por falta de parâmetro.
Uma informação interessante, com a qual se pode ver que as coisas são mais complexas do que aparentam, é que
[…] O Sol não seria mundo habitado por seres corpóreos, mas simplesmente um lugar de reunião dos Espíritos superiores, os quais de lá irradiam seus pensamentos para os outros mundos, que eles dirigem por intermédio de Espíritos menos elevados, transmitindo-os a estes por meio do fluido universal. […]. (KARDEC, 2007a, p. 150, grifo nosso).
Tomaremos, agora, da obra O Céu e o Inferno para análise de alguns de seus trechos:
[…] Além disso, em vez de perdidos nas profundezas do Espaço, estão ao redor de nós; o mundo corporal e o mundo espiritual identificam-se em perpétuas relações, assistindo-se mutuamente. (p. 28).
Existem, portanto, dois mundos: o corporal, composto de Espíritos encarnados; e o espiritual, formado dos Espíritos desencarnados. Os seres do mundo corporal, devido mesmo à materialidade do seu envoltório, estão ligados à Terra ou a qualquer globo; o mundo espiritual ostenta-se por toda parte, em redor de nós como no Espaço, sem limite algum designado. Em razão mesmo da natureza fluídica do seu envoltório, os seres que o compõem, em lugar de se locomoverem penosamente sobre o solo, transpõem as distâncias com a rapidez do pensamento. A morte do corpo não é mais que a ruptura dos laços que os retinham cativos. (p. 32).
O mundo espiritual tem esplendores por toda parte, harmonias e sensações que os Espíritos inferiores, submetidos à influência da matéria, não entreveem sequer, e que somente são acessíveis aos Espíritos purificados. (p. 33).
O Espírito progride igualmente na erraticidade, adquirindo conhecimentos especiais que não poderia obter na Terra, e modificando as suas ideias. […]. (p. 36).
12. A felicidade dos Espíritos bem-aventurados não consiste na ociosidade contemplativa, que seria, como temos dito muitas vezes, uma eterna e fastidiosa inutilidade.
A vida espiritual em todos os seus graus é, ao contrário, uma constante atividade, mas atividade isenta de fadigas. (p. 37).
15. Todas as inteligências concorrem, pois, para a obra geral, qualquer que seja o grau atingido, e cada uma na medida das suas forças, seja no estado de encarnação ou no espiritual. Por toda parte a atividade, desde a base ao ápice da escala, instruindo-se, coadjuvando-se em mútuo apoio, dando-se as mãos para alcançarem o zênite. (p. 38).
25º – Espíritos há mergulhados em densa treva; outros se encontram em absoluto insulamento no Espaço, atormentados pela ignorância da própria posição, como da sorte que os aguarda. Os mais culpados padecem torturas muito mais pungentes por não lhes entreverem um termo.
Alguns são privados de ver os seres queridos, e todos, geralmente, passam com intensidade relativa pelos males, pelas dores e privações que a outrem ocasionaram. Esta situação perdura até que o desejo de reparação pelo arrependimento lhes traga a calma para entrever a possibilidade de, por eles mesmos, pôr um termo à sua situação.
26º – Para o orgulhoso relegado às classes inferiores, é suplício ver acima dele colocados, cheios de glória e bem-estar, os que na Terra desprezara. O hipócrita vê desvendados, penetrados e lidos por todo o mundo os seus mais secretos pensamentos, sem que os possa ocultar ou dissimular; o sátiro, na impotência de os saciar, tem na exaltação dos bestiais desejos o mais atroz tormento; vê o avaro o esbanjamento inevitável do seu tesouro, enquanto que o egoísta, desamparado de todos, sofre as consequências da sua atitude terrena; nem a sede nem a fome lhe serão mitigadas, nem amigas mãos se lhe estenderão às suas mãos súplices; e pois que em vida só de si cuidara, ninguém dele se compadecerá na morte. (p. 105-106).
(KARDEC, 2007d, passim, grifo nosso).
Acreditamos que tudo o que acima é falado pode, sim, servir de base para que a vida no mundo espiritual não seja apenas uma bela tela com “anjos tocando harpa”; é ativa e com reais possibilidades de aprendermos muitas coisas, quando nele estamos, no intervalo das reencarnações: “Por toda a parte, no mundo espiritual, atividade, em nenhum ponto a ociosidade inútil”. (KARDEC, 2007e, p. 251).
O que é mais importante na obra O Céu e o Inferno vem agora. Trata-se de uma mensagem assinada pela Condessa Paula, classificada por Kardec entre os Espíritos felizes. Depois de destacar as qualidades morais da Condessa, informando que ela havia falecido aos 36 anos de idade, no ano de 1851, que “um de seus parentes, evocou-a doze anos depois de falecida, e obteve, em resposta a diversas perguntas, a seguinte comunicação (2)”:
“Tendes razão, amigo, em pensar que sou feliz. Assim é, efetivamente, e mais ainda do que a linguagem pode exprimir, conquanto longe do seu último grau. Mas eu estive na Terra entre os felizes, pois não me lembro de haver aí experimentado um só desgosto real. Juventude, homenagens, saúde, fortuna, tudo o que entre vós outros constitui felicidade eu possuía! O que é, no entanto, essa felicidade comparada à que desfruto aqui? Esplêndidas festas terrenas em que se ostentam os mais ricos paramentos, o que são elas comparadas a estas assembleias de Espíritos resplendentes de brilho que as vossas vistas não suportariam, brilho que é o apanágio da sua pureza? Os vossos palácios de dourados salões, que são eles comparados a estas moradas aéreas, vastas regiões do Espaço matizadas de cores que obumbrariam o arco-íris? Os vossos passeios, a contados passos nos parques, a que se reduzem, comparados aos percursos da imensidade, mais céleres que o raio?
“Horizontes nebulosos e limitados, que são, comparados ao espetáculo de mundos a moverem-se no Universo infinito ao influxo do Altíssimo? E como são monótonos os vossos concertos mais harmoniosos em relação à suave melodia que faz vibrar os fluidos do éter e todas as fibras d'alma! E como são tristes e insípidas as vossas maiores alegrias comparadas à sensação inefável de felicidade que nos satura todo o ser como um eflúvio benéfico, sem mescla de inquietação, de apreensão, de sofrimento?! Aqui, tudo ressumbra amor, confiança, sinceridade: por toda parte corações amantes, amigos por toda parte!
“Nem invejosos, nem ciumentos! É este o mundo em que me encontro, meu amigo, e ao qual chegareis infalivelmente, se seguirdes o reto caminho da vida.
“A felicidade uniforme fatigaria, no entanto, e assim não acrediteis que a nossa seja extreme de peripécias: nem concerto perene, nem festa interminável, nem beatífica contemplação por toda a eternidade, porém o movimento, a atividade, a vida.
As ocupações, posto que isentas de fadiga, revestem-se de perspectivas e emoções variáveis e incessantes, pelos mil incidentes que se lhes filiam. Tem cada qual sua missão a cumprir, seus protegidos a velar, amigos terrenos a visitar, mecanismos na Natureza a dirigir, almas sofredoras a consolar; e é o vaivém, não de uma rua a outra, porém, de um a outro mundo; reunindo-nos, separando-nos para novamente nos juntarmos; e, reunidos em certo ponto, comunicamo-nos o trabalho realizado, felicitando-nos pelos êxitos obtidos; ajustamo-nos, mutuamente nos assistimos nos casos difíceis. Finalmente, asseguro-vos que ninguém tem tempo para enfadar-se, por um segundo que seja. Presentemente, a Terra é o magno assunto das nossas cogitações. Que movimento entre os Espíritos! Que numerosas falanges aí afluem, a fim de lhe auxiliarem o progresso e a evolução! Dir-se-ia uma nuvem de trabalhadores a destrinçarem uma floresta, sob as ordens de chefes experimentados; abatem uns os troncos seculares, arrancam-lhes as raízes profundas, desbastam outros o terreno; amanham estes a terra, semeando; edificam aqueles a nova cidade sobre as ruínas carunchosas de um velho mundo. Neste comenos reúnem-se os chefes em conferência e transmitem suas ordens por mensageiros, em todas as direções. A Terra deve regenerar-se, em dado tempo – pois importa que os desígnios da Providência se realizem, e, assim, tem cada qual o seu papel. Não me julgueis simples expectadora desta grande empresa, o que me envergonharia, uma vez que todos nela trabalham. Importante missão me é afeta, e grandemente me esforço por cumpri-la, o melhor possível. Não foi sem luta que alcancei a posição que ora ocupo na vida espiritual; e ficai certo de que a minha última existência, por mais meritória que porventura vos pareça, não era por si só e a tanto suficiente. Em várias existências passei por provas de trabalho e miséria que voluntariamente havia escolhido para fortalecer e depurar o meu Espírito; dessas provas tive a dita de triunfar, vindo a faltar, no entanto, uma, porventura de todas a mais perigosa: a da fortuna e bem-estar materiais, Nessa consistia o perigo. E antes de o tentar, eu quis sentir-me assaz forte para não sucumbir. Deus, tendo em vista as minhas boas intenções, concedeu-me a graça do seu auxílio. Muitos Espíritos há que, seduzidos por aparências, pressurosos escolhem essa prova, mas, fracos para afrontar-lhe os perigos, deixam que as seduções do mundo triunfem da sua inexperiência.
“Trabalhadores! estou nas vossas fileiras: eu, a dama nobre, ganhei como vós o pão com o suor do meu rosto; saturei-me de privações, sofri reveses e foi isso que me retemperou as forças da alma; do contrário eu teria falido na última prova, o que me teria deixado para trás, na minha carreira.
“Como eu, também vós tereis a vossa prova da riqueza, mas não vos apresseis em pedi-la muito cedo. E vós outros, ricos, tende sempre em mente que a verdadeira fortuna, a fortuna imorredoura, não existe na Terra; procurai antes saber o preço pelo qual podeis alcançar os benefícios do Todo-Poderoso.
Paula, na Terra Condessa de ***”
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(2) Desta comunicação, cujo original é em alemão, extraímos os tópicos que interessam ao assunto de que nos ocupamos, suprimindo os de natureza exclusivamente familiar.
(KARDEC, 2007d, p. 238-240, grifo nosso).
Fizemos questão de transcrever tudo, porquanto, além das “moradas aéreas”, a Condessa informa outras particularidades da vida espiritual. Aqui, então, podemos afirmar, com segurança, que na Codificação tem, sim, aquilo que alguns confrades querem combater como se não fosse doutrinário.
Mais algumas informações merecem ser transcritas de O Céu e Inferno, por terem algo de útil ao nosso estudo:
P. Que regiões habitais? Acaso algum planeta? – R. Tudo que não seja planeta, constitui o que chamais Espaço e é neste que permaneço. O homem não pode, contudo, calcular, fazer uma ideia, sequer, do número de gradações desta imensidade. Que infinidade de escalas nesta escada de Jacob que vai da Terra ao Céu, isto é, do aviltamento da encarnação em mundo inferior, como esse, até a depuração completa da alma! Ao lugar em que ora me encontro não chega senão depois de uma série enorme de provas, ou, por outra, de encarnações. (KARDEC, 2007d, p. 232, grifo nosso).
O Espírito identificado como “um médico russo”, entre os vários felizes que Kardec apresenta, afirma que reside num lugar no espaço, demonstrando também haver graduações no plano espiritual.
– P. E como Espírito, agora, tendes ainda ocupações?
– R. Acrediteis então que os Espíritos ficassem inativos? A inação, a inutilidade ser-nos-ia um suplício. A minha missão é guiar centros espíritas aos quais inspiro bons pensamentos, ao mesmo tempo que me esforço por neutralizar os sugeridos por maus Espíritos. (KARDEC, 2007d, p. 236, grifo nosso).
Dessa comunicação de Bernardin, podemos confirmar que os Espíritos de condições mais elevadas trabalha, e, no caso em questão, sua missão é ser protetor de Centros Espíritas.
Kardec comentando a situação de Claire, um espírito sofredor, diz:
Esses Espíritos, quando desencarnado, não podem prontamente adquirir a delicadeza dos sentimentos e, durante um tempo mais ou menos longo, ocuparão as camadas inferiores do mundo espiritual, tal como acontece na Terra: assim permanecerão enquanto rebeldes ao progresso, mas, como o tempo a experiência, as tribulações e misérias das sucessivas encarnações, chegará o momento de conceberem algo de melhor do que então possuíam; […]. (KARDEC, 2007d, p. 311, grifo nosso).
Ao mencionar as camadas inferiores do mundo espiritual, Kardec sanciona a existência de níveis vibracionais diferenciados ou, em outras palavras, esferas espirituais, que atraem para si os Espíritos que se assemelham às suas características ou vibrações. Para confirmar seu pensamento, Kardec indaga do Espírito S. Luís:
Que devemos entender por trevas em que se acham mergulhadas certas almas sofredoras? Serão as referidas tantas vezes na Escritura? Obtendo como resposta: Sim, efetivamente, as designadas por Jesus e pelos profetas em referência ao castigo dos maus. […]. (KARDEC, 2007d, p. 311, grifo nosso).
Evocado, novamente, o Espírito Claire, vejamos o que ela disse:
Eis-me aqui. Também eu posso responder à pergunta relativa às trevas, pois vaguei e sofri por muito tempo nesses limbos onde tudo é soluço e misérias. Sim, existem as trevas visíveis de que fala a Escritura, e os desgraçados que deixam a vida, ignorantes ou culpados, depois das provações terrenas são impelidos a fria região, inconscientes de si mesmos e do seu destino. Acreditando na perenidade dessa situação, a sua linguagem é ainda a da vida que os seduziu, e admiram-se e espantam-se da profunda solidão: trevas são, pois, esses lugares povoados e ao mesmo tempo desertos, espaços em que erram obscuros Espíritos lastimosos, sem consolo, sem afeições, sem socorro de espécie alguma. […] As trevas para o Espírito são: a ignorância, o vácuo, o horror ao desconhecido… Não posso continuar…
Claire.
(KARDEC, 2007d, p. 313-314, grifo nosso).
Aqui se confirma o que foi dito antes em relação às camadas inferiores do mundo espiritual, que, em nada diferem daquilo que, na literatura André Luiz, se convencionou chamar de Umbral.
Vejamos o diálogo com um Espírito que cometeu suicídio:
– Vedes o vosso amante, com o qual vos suicidastes? – R. Nada vejo, nem mesmo os Espíritos que comigo erram neste mundo. Que noite! Que noite! E que véu espesso me circunda a fronte!
[…].
Acreditais na perenidade dessa situação? – R. Oh! Sempre! Sempre! Ouço às vezes risos infernais, vozes horrendas que bradam: sempre assim! (KARDEC, 2007d, p. 329, grifo nosso).
A pobre coitada dessa alma além de viver nas trevas, ainda ouvia vozes dizendo que permaneceria para sempre nessa condição.
Outro Espírito de suicida clamou ouvir vozes, trata-se de Félicien, que, a certa altura de sua comunicação, reclama:
[…] orai, principalmente, para que me veja livre desses hórridos companheiros que aqui estão junto de mim, obsediando-me com gritos, sorrisos e infernais motejos. Eles me chamam de covarde, e com razão, porque é covardia renunciar à vida. […]. (KARDEC, 2007d, p. 344, grifo nosso).
Os relatos que temos nas obras de André Luiz também nos dão conta de situações bem semelhantes, inclusive, acontecida com o próprio autor espiritual, que confessa que ouvia vozes a dizer-lhe: “Suicida! Suicida! Criminoso infame!” (XAVIER, 1995, p. 21).
Na Revista Espírita 1865, encontramos uma comunicação assinada pelo espírito Mesmer, da qual transcrevemos este pequeno trecho:
O mundo dos invisíveis é como o vosso; em lugar de ser material e grosseiro, é fluídico, etéreo, da natureza do perispírito, que é o verdadeiro corpo do Espírito, haurido nesses meios moleculares, como o vosso se forma de coisas mais palpáveis, tangíveis, materiais.
O mundo dos Espíritos não é o reflexo do vosso; é o vosso que é uma grosseira e muito imperfeita imagem do reino de além-túmulo. (KARDEC, 2000c, p. 160, grifo nosso).
Trazemos algo que Kardec disse que, julgamos, confirma tudo isso: “Consideramos, pois, o mundo dos Espíritos como o duplo do mundo corpóreo, como uma fração da Humanidade […].” (KARDEC, 1993i, p. 110, 1993i, grifo nosso).
Em O Livro dos Espíritos, na resposta à pergunta “Os Espíritos das diferentes ordens se acham misturados uns com os outros?” (nº 278), lemos:
Sim e não. Quer dizer: eles se veem, mas se distinguem uns dos outros. Evitam-se ou se aproximam, conforme a simpatia ou a antipatia que reciprocamente uns inspiram aos outros, tal qual sucede entre vós. Constituem um mundo do qual o vosso é pálido reflexo. Os da mesma categoria se reúnem por uma espécie de afinidade e formam grupos ou famílias, unidos pelos laços da simpatia e pelos fins a que visam: os bons, pelo desejo de fazerem o bem; os maus, pelo de fazerem o mal, pela vergonha de suas faltas e pela necessidade de se acharem entre os que se lhes assemelham. (KARDEC, 2007a, p. 205, grifo nosso).
Explicando, Kardec compara:
Tal uma grande cidade onde os homens de todas as classes e de todas as condições se veem e encontram, sem se confundirem; onde as sociedades se formam pela analogia dos gostos; onde a virtude e o vício se acotovelam, sem trocarem palavra. (KARDEC, 2007a, p. 205).
Ora, se, como dito, o nosso mundo é um pálido reflexo do mundo espiritual, onde os Espíritos se reúnem por afinidade, formando grupos ou famílias, não é todo improvável; aliás, para nós, é até lógico, constituírem locais ou mesmo cidades para isso.
No artigo “Confissão de Voltaire”, publicado na Revista Espírita 1859, Kardec justifica a sua publicação, dizendo, entre outras coisas, que “comunicação que aqui inserimos com tanto maior bom grado porque ela apresenta um lado eminentemente instrutivo do ponto de vista espírita” (KARDEC, 1993e, p. 234), dela transcrevemos apenas dois parágrafos, porque têm a ver com o nosso tema:
Foi, eu o digo, zombador e desconfiado que abordei o mundo espírita. Primeiro fui conduzido para longe das habitações dos Espíritos, e percorri o espaço imenso. Em seguida, me foi permitido lançar os olhos sobre as construções maravilhosas das moradas espíritas e, com efeito, elas me pareceram surpreendentes; fui impelido, aqui e ali, por uma força irresistível; tive que ver, e ver até que minha alma transbordasse pelos esplendores, e derrotada diante do poder que controlava tais maravilhas. Enfim, quis me esconder e me agachar no oco das rochas, mas não pude.
Foi nesse momento que meu coração começou a sentir uma necessidade de expandir; uma associação qualquer tornou-se urgente, porque eu queimava para dizer o quanto fora induzido ao erro, não por outros, mas pelos meus próprios sonhos. Não me restava mais a ilusão quanto à minha importância pessoal, porque eu não sentia senão muito o quanto era pouca coisa nesse grande mundo dos Espíritos. Estava, enfim, de tal modo caído de desgosto e de humilhação, que me foi permitido juntar-me a alguns dos habitantes. Foi dali que pude contemplar a posição que me fizera na Terra, e o que disso resultou, para mim no mundo espírita. Eu vos deixo o acreditar se essa apreciação foi-me risonha. (KARDEC, 1993e, p. 237-238, grifo nosso).
Segue-se em nota alguns comentários de Kardec, destacamos este:
Nunca talvez um quadro mais grandioso e mais impressionante foi dado do mundo espírita, e da influência das ideias terrestres sobre as ideias de além-tumulo. […] (KARDEC, 1993e, 238, grifo nosso).
Ora, não resta dúvida de que Kardec não estranhou a existência de habitações e construções no mundo espiritual, aliás, pelas considerações que fez, estava de pleno acordo com essas informações do Espírito Voltaire.
Há ainda, na Revista Espírita 1859, um artigo sob o título de “Música de além-túmulo”, onde consta que, na reunião da Sociedade Espírita de Paris, realizada a 08 de abril, os espíritos dos compositores Mozart e Chopin foram evocados. Da parte em que relata o diálogo com Chopin, transcrevemos:
20. Estais bem errante? – R. Sim; quer dizer que não pertenço a nenhum planeta exclusivamente.
21. E vossos executantes, estão também errantes? – Errantes como eu.
22. (A Mozart) Teríeis a bondade de nos explicar o que Chopin acaba de dizer? – R. Concebo vosso espanto; todavia, dissemo-vos que há mundos particularmente atribuídos aos seres errantes, mundos nos quais podem habitar temporariamente; espécies de acampamentos, de campos para repousar seus espíritos fatigados por uma longa erraticidade, estado sempre um pouco penoso. (KARDEC, 1993e, p. 125, grifo nosso).
Tendo em vista essa referência a mundos intermediários ou transitórios, destinados aos Espíritos errantes, ou seja, os que se encontram na dimensão espiritual aguardando nova encarnação, Kardec, visando aprofundar a questão, resolve, numa outra oportunidade, fora da Sociedade, questionar ao Espírito Santo Agostinho sobre eles, de cujas considerações podemos resumir (KARDEC, 1993e, p. 126):
ocupam posições intermediárias entre os outros mundos;
neles os Espíritos têm o objetivo de se instruírem;
têm posição transitória e são destinados a Espíritos errantes;
não são habitados por seres corpóreos;
têm superfície estéril, condição temporária;
durante a sua formação a Terra foi um desses mundos.
Kardec, ao final, faz a seguinte consideração:
Essa comunicação confirma, uma vez mais, essa grande verdade que nada é inútil na Natureza; cada coisa tem seu objetivo, sua destinação; nada está no vazio, tudo está habitado, a vida está por toda parte. (KARDEC, 1993e, p. 126-127, grifo nosso).
Sim, caro leitor, a impressão que teve de já ter visto isso antes é correta, pois, tudo aqui dito, foi parar em O Livro dos Espíritos, nas questões 234 a 236, que mencionamos um pouco atrás.
Ora, se no Universo há planetas em formação que servem de abrigo a Espíritos errantes, por que não poderia haver, ao redor dos planetas, várias comunidades (colônias espirituais) para abrigo dos Espíritos vinculados a esse planeta, entre uma encarnação e outra, como as nossas atuais estações espaciais?
Sobre o “ao redor dos planetas” é bom lembrar que existem toda uma população de Espíritos desencarnados ainda vinculados a cada um deles. Vejamos, na Revista Espírita 1865, essa fala de Kardec:
Se bem que os Espíritos estejam por toda a parte, os mundos são os lares onde se reúnem de preferência, em razão da analogia que existe entre eles e aqueles que os habitam. Ao redor dos mundos avançados são muitos os Espíritos superiores; ao redor dos mundos atrasados pululam os Espíritos inferiores. A Terra é ainda um destes últimos. Cada globo tem, pois, de alguma sorte, a sua população própria em Espíritos encarnados e desencarnados, que se alimenta, em maior parte, pela encarnação e desencarnação dos mesmos Espíritos. Essa população é mais estável nos mundos inferiores, onde os Espíritos são mais apegados à matéria, e mais flutuante nos mundos superiores. (KARDEC, 2000c, p. 72, grifo nosso).
Esperamos que não entendam que essa vida dos Espíritos vinculados à Terra consiste apenas em ficar aguardando “numa fila” sua nova oportunidade de encarnar:
Os Espíritos, que formam a população invisível do nosso globo, onde eles já viveram e onde continuam a imiscuir-se na nossa vida, estão naturalmente identificados com os nossos hábitos, cuja lembrança conservam na erraticidade. […]. (KARDEC, 2007e, p. 417, grifo nosso).
Ainda na Revista Espírita 1865, no parágrafo anterior ao acima citado, encontramos:
[…] Os Espíritos felizes, atraídos uns para os outros pela semelhança das ideias, dos gostos, dos sentimentos, formam vastos grupos ou famílias homogêneas, no seio das quais cada individualidade irradia suas próprias qualidades, e se penetra dos eflúvios serenos e benfazejos que emanam do conjunto, cujos membros ora se dispersam para ocuparem-se de suas missões, ora se reúnem num ponto qualquer do espaço para darem conta do resultado de seus trabalhos, ora se reúnem ao redor de um Espírito de uma ordem mais elevada, para receberem seus conselhos e suas instruções. (KARDEC, 2000c, p. 72, grifo nosso).
Sobre a questão de se reunirem, vejamos o que está na Revista Espírita 1859:
Considerando-se o número infinito de mundos que povoam o Universo e o número incalculável de seres que os habitam, conceber-se-á que os Espíritos têm com que se ocuparem; mas essas ocupações não lhes são penosas; cumprem-nas com alegria, voluntariamente e não por constrangimento, e sua felicidade está em triunfarem naquilo que empreendem; ninguém sonha com uma ociosidade eterna que seria um verdadeiro suplício. Quando as circunstâncias o exigem, reúnem-se em conselho, deliberam sobre o caminho a seguir, segundo os acontecimentos, dão ordens aos Espíritos que lhes são subordinados, e, em seguida, vão para onde o dever os chama. Essas assembleias são mais ou menos gerais ou particulares, segundo a importância do assunto; nenhum lugar especial e circunscrito está destinado a essas reuniões: o espaço é o domínio dos Espíritos; todavia, de preferência, dirigem-se aos globos onde estão os seus objetivos. Os Espíritos encarnados que aí estão em missão, nelas tomam parte segundo sua elevação; enquanto seus corpos repousam, vão haurir conselhos entre os outros Espíritos, frequentemente, receber ordens sobre a conduta que devem ter como homens. Em seu despertar, não têm, é verdade, uma lembrança precisa do que se passou, mas têm a intuição, que os faz agirem como por sua própria iniciativa. (KARDEC, 1993e, p. 91, grifo nosso).
Se de “preferência, dirigem-se aos globos onde estão os seus objetivos”, não vemos razão alguma para não terem criado as colônias espirituais ao redor dos planetas, para que a assistência que prestam a seus habitantes seja realizada de maneira mais eficiente.
Percebemos que, em parte, a resistência em acreditar em construções no plano espiritual, está no fato em que se faz analogia, ainda que inconsciente, com as terrenas, esquecendo-se de que a matéria do plano espiritual não é a mesma que temos na Terra. É preciso recorrermos à obra O Livro dos Espíritos:
22. Define-se geralmente a matéria como sendo – o que tem extensão, o que é capaz de nos impressionar os sentidos, o que é impenetrável. São exatas estas definições?
Do vosso ponto de vista, elas o são, porque não falais senão do que conheceis. Mas a matéria existe em estados que ignorais. Pode ser, por exemplo, tão etérea e sutil que nenhuma impressão vos cause aos sentidos. Contudo, é sempre matéria. Para vós, porém, não o seria.”
(KARDEC, 2007a, p. 73, grifo nosso).
Portanto, não podemos conceber as construções do plano espiritual como as que temos aqui na Terra.
Na Revista Espírita 1866, Kardec argumenta:
No nosso mundo tudo é matéria tangível; no mundo invisível tudo é, podendo-se assim se exprimir, matéria intangível; quer dizer, intangível para nós que não percebemos senão por órgãos materiais, mas tangível para os seres desse mundo que percebem pelos seus sentidos espirituais. Tudo é fluídico nesse mundo, homens e coisas, e as coisas ali são tão reais, relativamente, quanto as coisas materiais o são para nós. […]. (KARDEC, 1993i, p. 244).
Interessante é Kardec ter também se referido a “coisas” no mundo espiritual, pois se lá só existisse seres espirituais – nada mais além deles –, isso não faria sentido algum.
Em A Gênese, Capítulo XIV, “Os fluidos”, a matéria do mundo espiritual é denominada de fluidos espirituais:
Não é rigorosamente exata a qualificação de fluidos espirituais, pois que, em definitivo, eles são sempre matéria mais ou menos quintessenciada. De realmente espiritual, só a alma ou princípio inteligente. Dá-se-lhes essa denominação por comparação apenas e, sobretudo, pela afinidade que eles guardam com os Espíritos. Pode dizer-se que são a matéria do mundo espiritual, razão por que são chamados fluidos espirituais. (KARDEC, 2007e, p. 316, grifo nosso).
Um pouco mais à frente, descrevendo como os Espíritos manipulam os fluidos espirituais, esclarece-nos:
13. – Os fluidos espirituais, que constituem um dos estados do fluido cósmico universal, são, a bem-dizer, a atmosfera dos seres espirituais; o elemento donde eles tiram os materiais sobre que operam; o meio onde ocorrem os fenômenos especiais, perceptíveis à visão e à audição do Espírito, mas que escapam aos sentidos carnais, impressionáveis somente à matéria tangível; o meio onde se forma a luz peculiar ao mundo espiritual, diferente, pela causa e pelos efeitos da luz ordinária; finalmente, o veículo do pensamento, como o ar o é do som.
14. – Os Espíritos atuam sobre os fluidos espirituais, não manipulando-os como os homens manipulam os gases, mas empregando o pensamento e a vontade. Para os Espíritos, o pensamento e a vontade são o que é a mão para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem àqueles fluidos tal ou qual direção, os aglomeram, combinam ou dispersam, organizam com eles conjuntos que apresentam uma aparência, uma forma, uma coloração determinadas; mudam-lhes as propriedades, como um químico muda a dos gases ou de outros corpos, combinando-os segundo certas leis. É a grande oficina ou laboratório da vida espiritual. (KARDEC, 2007e, p. 322, grifo nosso).
Agindo com o pensamento e a vontade os Espíritos podem criar as construções de que precisam no plano espiritual. Aliás, eles, quando se manifestam, podem ser chamados de “almas penadas”, nunca “almas peladas”, porquanto a vestimenta, com que sempre se apresentam, é da mesma matéria constitutiva do mundo em que se encontram, ainda que alguns façam isso de forma inconsciente.
A própria questão de outros mundos habitados já é, para muitos de nós, algo ilusório, que vale a pena transcrever os dois parágrafos que iniciam o artigo “As habitações do planeta Júpiter” assinado pelo médium Victorien Sardou (1831-1908), sobre o qual Kardec teceu comentários elogiosos:
Um grande motivo de espanto para certas pessoas, convencidas aliás da existência dos Espíritos (não vou aqui me ocupar das outras), é que tenham, como nós, suas habitações e suas cidades. Não me pouparam as críticas: “Casas de Espíritos em Júpiter!… Que gracejo”… – Gracejo, se assim se o deseja; nada tenho com isso. Se o leitor não encontra aqui, na verossimilhança de explicações, uma prova suficiente de sua verdade; se não está surpreso, como nós, quanto ao perfeito acordo dessas revelações espíritas com os dados mais positivos da ciência astronômica; se não vê, numa palavra, senão uma hábil mistificação nos detalhes que seguem e nos desenhos que os acompanham, convido-o a se explicar com os Espíritos, dos quais não sou senão um instrumento e o eco fiel. Que ele evoque Palissy ou Mozart ou um outro habitante dessa morada bem-aventurada, que o interrogue, que controle minhas afirmações pelas suas, enfim, que discuta com ele: porque, por mim, não faço senão apresentar aqui o que me foi dado, senão repetir o que me foi dito; e para esse papel absolutamente passivo, creio-me ao abrigo tanto da censura como também do elogio.
[…] Como nós, e melhor do que nós, os habitantes de Júpiter têm seus lares comuns e suas famílias, grupos harmônicos de Espíritos simpáticos, unidos no triunfo depois de sê-lo na luta: daí as habitações tão espaçosas, as quais se pode aplicar, com justiça, o nome de palácios. Ainda como nós, esses Espíritos têm suas festas, suas cerimônias, suas reuniões públicas: daí certos edifícios especialmente destinados a esses usos. É preciso prever, enfim, encontrar nessas regiões superiores toda uma Humanidade ativa e laboriosa, como a nossa, submetida como nós às suas leis, às suas necessidades, aos seus deveres; mas com essa diferença de que o progresso, rebelde aos nossos esforços, torna-se uma conquista fácil para os Espíritos desligados, como eles o são, de nossos vícios terrestres. (KARDEC, 2001a, p. 223).
Embora a situação aqui seja de planeta habitado, vê-se que o material das suas construções não corresponde em nada ao que trabalhamos aqui na Terra. Ademais, até os dias de hoje a Ciência ainda não referendou a vida em Júpiter, o que nos leva a concluir que a dimensão que os seres de lá habitam não é a mesma que a nossa.
Estudiosos como outras fontes
Primeiramente, destacaremos quatro personagens, os quais colocaremos em ordem de publicação de suas respectivas obras:
1º) 1916 – Raymond: uma prova da existência da alma
Sir Oliver Lodge (1851-1940), cientista inglês, pesquisou os fenômenos mediúnicos, tendo, inclusive, a oportunidade de comunicar com seu filho Raymond; daí o título da obra, de cujas informações extraímos:
L.L. – Lembra-se duma sessão em casa, quando me disse que tinha muita coisa a transmitir?
F. – Sim. O que ele queria era dizer sobre o lugar em que se encontra. Mas não pôde soletrar; muito trabalhoso. E sentiu-se abatido no começo. Você não se sente tão real como a gente daqui, e as paredes agora, para ele, aparecem transparentes. A grande coisa que o fez reconciliar-se com o novo ambiente foi que tudo parece sólido e substancial. A primeira ideia que teve depois de despertar (diz ele) foi de “estar passando”. Um segundo ou dois com tudo em sombras, tudo vaporoso e vago. É como sentiu.
A primeira pessoa que o procurou cá foi o vovô. E depois outras; sobre algumas apenas ouvira falar. Todas pareceram-lhe tão sólidas que dificilmente podia admitir tivessem passado.
Eu vivo numa morada (diz ele) construída de tijolos – e há árvores e flores, e o chão é sólido. Se a gente ajoelhar-se na lama, aparentemente suja a roupa. O que ainda não compreendo é que a noite não siga o dia, como no plano terrestre. Parece algumas vezes ficar escuro, quando ele quer que seja escuro, mas o tempo entre a luz e as trevas não é sempre o mesmo. Não sei se está achando isto maçante. (p. 114).
Feda – […].
Ele diz que agora não tem necessidade de comer. Mas vê pessoas que a têm; diz que a essas é dado alguma coisa com as aparências dos alimentos terrestres. As criaturas daqui procuram prover-se de tudo que é preciso. Um camarada chegou outro dia e quis um charuto. Julgou que eles jamais poderiam fornecer-lhe isso. Mas há aqui laboratórios que manufaturam todo tipo de coisas. Não como fazem na terra, com a matéria sólida, mas com essências, éteres, gases. Não é o mesmo que no plano terrestre, mas fizeram algo que parecia charuto. Ele (Raymond) não experimentou nenhum, porque não pensa nisso, o senhor sabe. Mas o camarada lançou-se ao charuto. Ao começar a fumá-lo, fartou-se logo; teve quatro, e agora não olha nem para um. Parece que não tiram mais nenhum gosto disso, e gradualmente vão largando.
Logo que chegam querem coisas. Alguns querem carne; outros bebidas fortes; pedem whisky com soda. Não pense que estou exagerando, quando digo que aqui podem manufaturar estas coisas. Ele ouviu falar de bêbados que por meses e anos querem beber, mas não viu nenhum. Os que tenho visto, diz ele, não querem mais beber – como aconteceu com sua roupa, que nas novas condições em que está ele, dispensa. (p. 120-121).
(LODGE, 2012, passim, grifo nosso).
Um pouco mais à frente, Oliver Lodge, faz a seguinte observação, relacionada com essa última transcrição:
Sei que alguns dos relatos podem parecer absurdos. Especialmente os que falam da situação no “outro lado” – asserções que não são nem evidenciais, nem verificáveis, e que por isso somos tentados a suprimir ou a fazer que não surjam. Em outra parte deste livro dou minhas razões para proceder de modo contrário, anotando-as como surgem. […]. (LODGE, 2012, p. 124, grifo nosso).
Transcreveremos essas razões, mas continuando as descrições de Raymond:
Feda – Diz ele: É um lugar tão sólido que ainda não venci os obstáculos. Admiravelmente real.
Ele falou a seu pai de um rio; o mar ainda não viu. Encontrou água, mas não sabe se encontrará o mar. Está cada dia fazendo novas descobertas. Muita coisa é nova, mas não para os que já de algum tempo aqui vivem.
Ele entrou numa biblioteca com seu avô – o vovô William – e também com alguém de nome Richard, e diz que os livros são os mesmos que vocês leem.
Agora, uma coisa extraordinária: Há lá obras que ainda não foram publicadas no plano terrestre. Foi informado – apenas informado, não sabe por si – de que esses livros aparecerão um dia, livros como os que já apareceram; e que a matéria desses livros será impressa no cérebro de algum homem que ficará como o autor. (p. 127).
Lady Lodge – Ha aí ruas, então?
Feda – Sim. Raymond gostou de ver ruas e casas.
Em certo tempo pensei que podiam ser criações do nosso pensamento. Todos gravitam para um lugar que lhes é adequado. Mãe, não há juiz nem tribunal – só gravitação.
Tenho visto chegar rapazes cheios de más ideias e vícios. Vão para um lugar em que eu não quero ir – mas não é exatamente o inferno. Mais parecido a um reformatório. Lugar onde lhes é dado ensejo de melhoria; quando almejais algo melhor, tendes oportunidade de o conseguir. Eles gravitam juntos, mas ficam tão enfastiados… Aprendei a ajudar-vos a vós mesmos e imediatamente sereis ajudados. Muito igual ao vosso mundo aí; só que não há deslealdade nem injustiça; uma lei comum age para todos e para cada um. (p. 139).
(LODGE, 2012, passim, grifo nosso).
E, finalizando, trazemos as considerações de Lodge mencionadas um pouco atrás:
Objeções contra a substância das comunicações
No concernente à substância das comunicações recebidas do “outro lado”, a dificuldade maior é a explicação da semelhança entre as condições do “além” e das da terra; e surge a pergunta: Como é isso possível? Minha resposta é simples: provavelmente, por causa da identidade do observador. Não dogmatizo, mas raciocino que no quantum a personalidade humana permanece a mesma, o seu poder de interpretação será o mesmo que costumava ser aqui. Em consequência, se interpretamos de certa maneira o nosso mundo material, dessa mesma maneira interpretaremos um mundo etéreo – sempre através de sentidos que apenas diferirão em detalhes.
O mundo externo, como o percebemos, está na dependência dos nossos poderes de percepção e interpretação. Do mesmo modo um quadro, ou qualquer obra de arte. A coisa em si – seja qual for a significação disto – talvez jamais a conheçamos. Admito que a proposição constitui uma dificuldade, mas a evidência do ponto vem se firmando desde Swedenborg: o “outro mundo” será sempre representado como extraordinariamente semelhante ao nosso; e embora isto leve ao ceticismo, admito que corresponde a alguma realidade. Esse outro mundo parece consistir na contraparte etérea deste. Ou melhor: só há um mundo, do qual vemos o aspecto material e eles veem o aspecto imaterial. A razão disto estará na similaridade, ou identidade, do observador. Um sistema nervoso interpreta, ou apresenta ao espírito cada estímulo proveniente do exterior do modo específico ao qual está acostumado, qualquer que seja a natureza real desse estímulo. Uma pancada nos olhos, ou a pressão sobre a retina, é interpretada como luz; a irritação do nervo auditivo é interpretada como som. Quer dizer que só dum modo mais ou menos costumário é que podemos interpretar as coisas.
Entremos em detalhes. A acusação de admitirmos o fumar e o beber, como em voga, entre os habitantes do outro mundo, parece-nos profundamente injustificada e falsa. Uma citação destacada do contexto frequentemente leva a erronias. O que meu livro revela, implica de maneira clara que eles, no além, não ocupam o seu tempo com isso; nem que isso seja coisa natural no ambiente. Basta o bom senso para a interpretação do caso. Se existem lá comunidades, claro que não serão fixas, ou estacionárias, constantemente estarão recebendo elementos novos. Meu filho é representado como dizendo que quando elementos novos chegam e ainda se acham em estado de tonteira, dificilmente reconhecem onde se encontram; e que pedem toda a sorte de coisas – ainda muito influenciados pelos desejos da terra. Ora, ou muito me engano ou isto é uma lição ortodoxa: os desejos das pessoas sensuais podem persistir e tornar-se parte da sua punição. Sobre o assunto alguém me mandou uma citação do Diário Espiritual, de Swedenborg, vol. 1, parágrafo 333:
As almas dos mortos levam do corpo a sua natureza, e por isso continuam a julgar-se no corpo. Manifestam desejos e apetites, como o de comer e outros; de modo que estas coisas pertencentes ao corpo ficam impressas na alma. Assim as almas retêm a natureza que levam do mundo; e só com a marcha do tempo a perdem.”
(LODGE, 2012, p. 188-190, grifo nosso).
O “L.L” e “F”, respectivamente, significam Lionel Lodge, irmão de Raymond e Feda, controle da médium, através da qual Raymond passava as suas mensagens e informações ao pai.
2º) 1926 – História do Espiritismo
Arthur Conan Doyle (1859-1930), foi um escritor e médico britânico, nascido na Escócia, criador do detetive Sherlock Holmes, cujos romances policiais o fizeram mundialmente conhecido.
O sueco Emanuel Swedenborg (1688-1772), sua visão do mundo espiritual:
Verificou que o outro mundo, para onde vamos após a morte, consiste de várias esferas, representando outros tantos graus de luminosidade e de felicidade; cada um de nós irá para aquela a que se adapta a nossa condição espiritual. Somos julgados automaticamente, por uma lei espiritual das similitudes; o resultado é determinado pelo resultado global de nossa vida, de modo que a absolvição ou o arrependimento no leito de morte têm pouco proveito. Nessas esferas verificou que o cenário e as condições deste mundo eram reproduzidas fielmente, do mesmo modo que a estrutura da sociedade. Viu casas onde viviam famílias, templos onde praticavam o culto, auditórios onde se reuniam para fins sociais, palácios onde deviam morar os chefes. (DOYLE, 1990, p. 38, grifo nosso).
Andrew Jackson Davis (1826-1910), natural de Nova Iorque, EUA:
[…] Viu uma vida semelhante à da Terra, uma vida que pode ser chamada semimaterial, com prazeres e objetivos adequados à nossa natureza, que de modo algum se havia transformado pela morte. Viu estudo para os estudiosos, tarefas geniais para os enérgicos, arte para os artistas, beleza para os amantes da Natureza, repouso para os cansados. Viu fases graduadas da vida espiritual, através das quais lentamente se sobe para o sublime e para o celestial. […]. (DOYLE, 1990, p. 68, grifo nosso).
Do Capítulo 25, intitulado “O Depois da morte visto pelos espíritas”, transcrevemos este trecho da fala de Doyle:
As condições de vida no além normal — e seria um reflexo da justiça e da misericórdia da Inteligência Central se o além normal não fosse também o feliz além — são descritos como extraordinariamente felizes. O ar, as vistas, as casas, o ambiente, as ocupações, tudo tem sido descrito com tantos detalhes e geralmente com o comentário de que as palavras não são capazes de lhes pintar a gloriosa realidade. Pode ser que haja algo de parábola e de analogia nessas descrições, mas o autor se inclina a lhes dar inteiro valor e acredita que a “Summerland”, como Davis a chamou, é tão real e objetiva aos seus habitantes quanto o nosso mundo para nós. Fácil é levantar uma objeção: “Por que, então, não a vemos?” Mas devemos imaginar que uma vida etérica se exprime em termos etéricos e que, exatamente como nós, com cinco sentidos materiais, nos afinamos com o mundo material, eles com seus corpos etéricos, se afinam com as vistas e os sons do mundo etérico. Aliás o vocábulo “éter” só é usado por conveniência, para exprimir algo muito mais sutil que a nossa atmosfera. Absolutamente não temos prova de que o éter dos físicos seja também o meio no mundo espiritual. Pode haver outras em comparação com o ar.
O céu espiritual, pois, pareceria uma sublimada e etérica reprodução da Terra e da vida terrena, em condições melhores e mais elevadas. “Embaixo — como em cima, dizia Paracelso, e fez soar a nota fundamental do universo, quando o proclamou. […]”. (DOYLE, 1990, p. 476-477, grifo nosso).
Antes de passar para o próximo caso, vejamos o que José Herculano Pires (1914-1979), na obra O Espírito e o Tempo, diz sobre Swedenborg:
O que faz Swedenborg um precursor doutrinário do Espiritismo é a sua posição em face do mundo espiritual, que ele considera de maneira quase positiva. Após a morte, os homens vão para esse mundo, e não são julgados por tribunais, mas por uma lei que determina as condições em que passarão a viver, em planos superiores ou inferiores, nas diferentes “esferas” da espiritualidade. Anjos e demônios nada mais eram, para ele, do que seres humanos desencarnados, em diferentes fases de evolução. Suas descrições do mundo espiritual assemelham-se bastante às que encontramos nas comunicações dadas a Kardec ou recebidas atualmente pelos nossos médiuns. O Inferno não era lugar de castigo eterno, mas plano inferior, de que os espíritos podiam subir para os mais elevados, purificando-se. A Terra, um mundo de depuração espiritual. (PIRES, 2003, p. 105, grifo nosso).
Nesse capítulo 25, percebe-se que Doyle fazia suas pesquisas tendo, inclusive, realizado reuniões mediúnicas:
No grupo doméstico do autor, o Espírito íntimo falou de sua vida no além, respondendo à pergunta: “Que faz você?”
– “Ocupo-me de música, de criança, amando e cuidando de uma porção de outras coisas. Mais muito mais do que na velha Terra. Nada aborrece a gente aqui. E isto torna tudo mais feliz e mais completo.”
– “Fale acerca da morada.”
É bonita nunca vi uma casa na Terra que se comparasse com ela. Tantas flores! – Um mundo de cores em todas as direções; e tem perfumes tão maravilhosos, cada qual diferente, mas tão agradáveis!”
– “Vê outras casas?”
– “Não; se o fizesse estragaria a paz. A gente só as vezes procura a natureza. Cada casa é um oásis, se assim posso dizer. Além, há cenários maravilhosos e outras casas cheias de gente querida, suave, brilhante, risonha, alegre, pelo simples fato de viver em tão maravilhoso ambiente. Sim, é belo. Nenhuma mente terrena pode conceber a luz e a maravilha disso tudo. As cores são muito mais delicadas e, de um modo geral, a vida doméstica é muito mais radiosa.”
Outro resumo do Grupo Doméstico do autor, talvez seja permitido, de vez que as mensagens foram misturadas com muitas provas que inspiram a mais completa confiança naqueles que estão ligados aos fatos:
“Pelo amor de Deus sacuda essa gente, esses cabeçudos que não querem pensar. O mundo necessita desse conhecimento. Se ao menos eu tivesse tido tal conhecimento na Terra! ele teria alterado a minha vida — o Sol teria brilhado sobre o meu caminho sombrio, se eu tivesse conhecido o que está à minha frente.
“Nada é chocante aqui. Não há atravessadores. Estou interessado em muitas coisas, a maioria delas humanas, o desenvolvimento do progresso humano e, acima de tudo, a regeneração do plano terreno. Sou um dos que trabalham pela causa braço a braço convosco.
“Nada temais. A luz será tanto maior quanto maior a escuridão que tiverdes atravessado. Voltarei muito breve, se Deus quiser. Nada poderá opor-se. Nem as forças das trevas prevalecerão um minuto contra a Sua luz. Todo o trabalho em massa será varrido. Apoiai-vos ainda mais em nós, porque a nossa capacidade de ajuda é muito grande.”
— “Onde estais?”
— “É tão difícil explicar-vos as condições aqui. Estou onde mais desejava estar, isto é, com os meus entes queridos, onde posso estar em íntimo contacto com todos no plano terreno.”
— “Tendes alimento?”
— “Não no vosso sentido, mas muito mais fino. Tão amáveis essências e tão maravilhosos frutos, além de outras coisas que não tendes na Terra!
“Muita coisa vos espera com as quais ficareis surpreendidos — tudo belo e elevado e tão suave e luminoso. A vida foi uma preparação para esta esfera. Sem aquele treinamento não teria sido capaz de entrar neste mundo glorioso de maravilhas. É na Terra que aprendemos as lições e neste mundo está a nossa maior recompensa o nosso verdadeiro e real lar e a vida — o Sol depois da chuva.”
(DOYLE, 1990, p. 479-481, grifo nosso).
Confirma-se, como se vê, as informações da existência de casas, alimentação, trabalho, etc. Doyle, demonstra ter pesquisado muito a vida no além:
O assunto é tão enorme que apenas pode ser tocado em termos gerais num só capítulo. O leitor é remetido para a maravilhosa literatura que se desenvolveu, dificilmente conhecida pelo mundo, em torno do assunto. Livros como o “Raymond”, de Oliver Lodge; “A Vida Além do Véu”, de Vale Owen; “A Testemunha”, de Mrs. Platts; “O Caso de Lester Coltman”, de Mrs. Walbrook e muitos outros dão uma clara e sólida ideia dessa vida do Além.
Lendo essas numerosas descrições da vida depois da morte, a gente naturalmente pergunta até onde podem ser acreditadas. É confortador verificar quanto são concordes, o que constitui um argumento em favor da verdade. Poderiam contestar que tal concordância se deve ao fato de derivarem, todas, conscientemente ou não, de uma fonte comum. Mas é uma suposição inconsistente. Muitas delas vêm de gente que absolutamente não podia conhecer os pontos de vista dos outros, mas ainda concordam, até nos mínimos detalhes. […]. (DOYLE, 1990, p. 481, grifo nosso).
3º) 1931 – No limiar do etéreo, ou, Sobrevivência à morte cientificamente explicada.
James Arthur Findlay (1883-1964), foi presidente da Psychic News, uma revista britânica, líder espírita, e era conhecido como orador, conferencista, e pesquisador. Durante cinco anos ele fez um estudo especial dos fenômenos de voz direta por meio de John C. Sloan. (www.answers.com/topic/j-arthur-findlay). Esse autor é mencionado por Yvonne. A Pereira.
Nesse outro estado de consciência, os seres se encontram em ambientes mais ou menos idênticos aos que aqui nos achamos. Crescem árvores e desabrocham flores, não sujeitas, porém, à morte, conforme a entendemos na Terra. Os vegetais não deperecem; desmaterializam-se e desaparecem das vistas. Os ambientes do mundo etéreo são, em grande parte, condicionados pelos pensamentos dos seus habitantes, de forma que, por exemplo, suas casas e modo de viver são, em larga escala, obra deles. Isto, esclarecem-me, não quer dizer que o próximo plano da vida seja puramente efeito de projeções mentais, porquanto os que lá vivem experimentam sensações, quais as experimentamos. Podem perceber, tocar e cheirar as flores, apanhá-las e, por onde quer que andem, encontram amigos e com eles conversam. Todos os que estão em um plano, disseram-me, podem ver e tocar as coisas que nesse plano existam. Esta a resposta que invariavelmente recebi, sempre que tentei saber se o outro plano é objetivo ou subjetivo.
Há muitos planos; mas, em cada um deles, só os que ali se acham experimentam as mesmas sensações. Verifiquei por mim próprio que os Espíritos que me falavam a ninguém mais podiam ver, embora se achassem todos na mesma sala. […] Não é um mundo de sonho o deles; é um mundo de objetiva realidade, vivamente real. Todas as coisas, a música, a arte, os trabalhos construtivos se praticam num grau de elevação, que não nos é possível apreender.
Reina grande atividade. Cada um tem o seu labor a executar. Servir aos outros e amar são os padrões éticos que lá prevalecem, num grau muito mais elevado do que aqui. É universal a linguagem, de sorte que todos se entendem uns aos outros. Em geral, vivem juntos os de cada nacionalidade terrena e falam a língua de que aqui usaram; há, porém, uma linguagem comum a todos. Insistiam muito os meus informantes num ponto: em que, entre eles, é rígida a disciplina, obedecendo todos aos que exercem autoridade. Cada um se acha submetido a Espíritos mais elevados, cujas determinações e instruções têm que ser atentamente obedecidas. É um Estado bem ordenado e governado.
Não há noite como a concebemos e a luz que os banha não lhes promana do nosso Sol. Se quiserem repousar, podem atenuar a luz, sem que jamais se produza a escuridão, como a experimentamos. Perguntados como se nutrem, disseram-me que comem e bebem exatamente como nós e têm do comer e do beber as mesmas sensações que nós, se bem a comida e bebida sejam diferentes daquilo que por esses nomes designamos. Gozam de muito maior liberdade de movimentos, visto que se deslocam de um lugar para outro com uma rapidez que nos escapa à compreensão. (FINDLAY, 2002, p. 128-130, grifo nosso).
E, provavelmente, dirigindo-se aos incrédulos, arrematou Findlay: “Unicamente os ignorantes afirmam que só é real o que sentimos, que nada existe fora dessa ordem de sensações”. (FINDLAY, 2002, P. 131).
Em uma sessão realizada a 4 de dezembro de 1923, Findlay dialogando com o Espírito manifestante, faz-lhe várias perguntas, das quais destacamos estas três, que tocam mais diretamente o nosso estudo:
P. – Comeis e saboreais o vosso alimento?
R. – Comemos e bebemos, sim; porém, não como entendeis o beber e o comer. Para nós, é uma condição mental. Saboreamos mentalmente o que comemos, não corporalmente, como vós.
P. – Assemelha-se à nossa a vossa vegetação?
R. – De certo modo, mas é muito mais linda.
P. – Como são as vossas casas?
R. – São quais as queremos. As vossas aí são primeiro concebidas em mente, depois do que se junta a matéria física para construí-las de acordo com o que imaginastes. Aqui, temos o poder de moldar, a substância etérea, conforme pensamos. Assim, também as nossas casas são produtos das nossas mentes. Pensamos e construímos. É uma questão de vibração do pensamento e, enquanto, mantivermos essas vibrações, conservaremos o objeto que, durante todo esse tempo, é objetivo para os nossos sentidos. (FINDLAY, 2002, 137,140-141, grifo nosso).
Essas explicações são bem oportunas e podem nos servir para entendermos melhor como são as coisas no Mundo Espiritual.
4º) 1932 – A Vida em outro mundo
Cairbar de Souza Schutel (1868-1938), “em 1904, toma contato com o Espiritismo, e, a partir daí, foram 34 anos como espírita convicto, onde, ao mesmo tempo em que se dedicava à divulgação do Espiritismo, exercitava a prática da caridade” (Orelhas da obra). Transcreveremos algumas coisas de sua obra, porquanto são relevantes para o nosso estudo.
No Capítulo “No outro lado da morte”, Schutel inicia dizendo:
Da importante revista inglesa Beyond colhemos a seguinte mensagem espírita, que é do nosso dever adicionar a esta obra, pois se acha de plena conformidade com o que sabemos sobre a vida no outro mundo. (SCHUTEL, 2011, p. 61, grifo nosso).
Dessas citações, transcreveremos o seguinte trecho:
Algumas pessoas se comprazem em fazer casas dessas coisas encantadoras. Temos maravilhosos edifícios, salas para conferências e assim por diante, que são admiráveis de serem vistos, como nas visões que o Evangelista João descreve nas Revelações, com paredes de pedras preciosas, portões de pérolas e ruas de ouro.
Esses lugares maravilhosos são muito interessantes para serem visitados, como, na Terra, se vai ver belos e notáveis palácios; naturalmente, os daqui são muito mais belos para conferências, reuniões e música do que qualquer edifício por mim visto na Terra. Para mim, porém, as belezas naturais das árvores, montanhas, flores e rios, que são todos tão perfeitos, dão mesmo um encanto e eu sempre gosto de procurar esses lugares gloriosos da Natureza, quando me sinto inclinado a ficar pesaroso, como algumas vezes acontece. O admirável e agradável efeito da luz através das árvores, ou brilhando sobre as ondas prateadas de gloriosos mares, ou brincando nos rios, como nunca tive a dita de ver na Terra, é tudo tão maravilhoso! Os rios são gloriosos, tão perfeitamente puros e incorruptos, que dentro deles, podemos andar, sentar na água e senti-la cobrir-nos e dela sairmos refrescados e revigorados; e, ainda mais, a água, evaporando-se em contato com o brilho solar, não deixa sensação nenhuma desagradável.
Tudo isso é tão delicioso que só afago um desejo: a vossa participação em tudo que desperta o prazer de viver intensamente a vida celeste”. (SCHUTEL, 2011, p. 63-64, grifo nosso).
Agora, veremos a opinião do próprio Schutel:
Por isso, o Mundo Espiritual é provido de meios que fornecem à vida do além-túmulo as condições indispensáveis para a transição. Por exemplo, dizem as entidades do Espaço que lá existem hospitais onde são tratados aqueles que passam por longa enfermidade, e os quais, por condições de atraso, não percebem o Mundo dos Espíritos em sua realidade. Aí são curados, e, depois, instruídos sobre a nova situação, até que se adaptem ao meio em que se acham.
[…].
Assim também sucede com a alimentação. Aos entes muito materializados, que chegam ao Mundo Espiritual sem compreenderem a transformação porque passaram, e têm ainda sensação de fome e sede, lhes são ministrados alimentos em instalações especiais, até que, adaptados ao meio em que iniciaram a nova vida, compreendam que não têm mais necessidades desses alimentos, que julgavam precisos para sua manutenção. Naturalmente, os alimentos assemelham-se muito aos que lhes eram usuais na Terra, mas são feitos de matéria peculiar ao Mundo dos Espíritos e de acordo com o corpo fluídico, ou seja, o organismo perispiritual de cada um. (SCHUTEL, 2011, p. 66-67).
Acrescentaremos ainda o que, imediatamente a seguir, Schutel ressalta sobre isso:
Não podíamos deixar de narrar todas essas particularidades do Mundo Espiritual, que não deixam de ser lógicas, de acordo com a lei da evolução, que não admite bruscas transições e que proporciona, sempre, períodos intermediários para suavizar as mudanças que ocasionam grande abalo, e maior perturbação ainda ocasionariam, se fossem excluídos os meios precisos para essas transições.
Isso tudo demonstra que o Mundo Espiritual não é uma concepção abstrata, uma miragem, um vácuo inconcebível, sem sanção da inteligência, mas, sim, um meio concreto, onde se encontram as condições indispensáveis para as adaptações e o progresso do Espírito.
Já havíamos recebido essas revelações há muitos anos; contudo, tínhamos conservado as mesmas como lição de caráter puramente familiar, e sujeita, portanto, à observação: é sabido que as revelações da Verdade têm caráter coletivo; se, de fato, a nossa procedesse dessa fonte, outros também recebê-la-iam em todo o mundo. Se isso acontecesse, julgaríamos essas revelações transcendentais realmente dignas de atenção e até de experimentações novas, como outros médiuns, para sua melhor confirmação.
Com efeito, em diversas obras inglesas, norte-americanas e francesas, vemos, hoje, a reprodução detalhada dessas mensagens! O Plano espiritual desenterra o oculto e concorre para que conheçamos o futuro que nos espera, assim como nos dá a conhecer, desde já, em que consiste a outra vida e quais os meios facultados, nessas regiões, aos entes que nos são caros, para a aquisição de uma felicidade duradoura e de um progresso para a Luz e a Verdade. (SCHUTEL, 2011, p. 67-68, grifo nosso).
Essas falas de Schutel são claras demais, que não será necessário nenhum comentário, a não ser ressaltar que, aquilo que lhe foi revelado e que guardou em segredo, foi confirmado por outras fontes, razão pela qual ele resolveu divulgar.
Vejamos, agora, dois estudiosos mais recentes.
1º) Em J. Herculano Pires, na obra O Espírito e o Tempo, deparamos com estas explicações sobre o plano espiritual:
[…] Como esse processo se passa entre mundos de dimensões materiais diferentes, Rhine concordou em chamá-los de extrafísicos, o que na verdade não está certo, pois o plano espiritual também possui densidade física e a própria Física foi obrigada a reconhecer essa realidade em nossos dias. […]. (PIRES, 2003, p. 194, grifo nosso).
[…] O espírito liberto passa a viver no plano espiritual, que se constitui de matéria em estado rarefeito. Esse mundo semimaterial tem várias hipóstases, sendo que a mais inferior só existe com o plano material, interpenetrado com ele. Por isso os espíritos convivem conosco no mesmo espaço cósmico ocupado pelo planeta. Assim, os espíritos influem sobre nós e nós sobre eles. Não podemos percebê-los pelos sentidos físicos, mas podemos vê-los e ouvi-los pelo espírito, embora tenhamos a impressão de percebê-los pelos sentidos. […]. (PIRES, 2003, p. 209, grifo nosso).
A surpresa maior foi que encontramos, justamente, em Herculano Pires a confirmação das colônias espirituais, já que muitos companheiros que o tomam como ícone maior de coerência doutrinária, não as aceitam. Vejamos a comprovação em sua obra O mistério do bem e do mal, da qual transcrevemos o capítulo 26:
Descrições da vida espiritual nas zonas inferiores do espaço
Regiões em que os espíritos continuam apegados às formas da vida material – “Ação e Reação”, de André Luiz, uma contribuição dos espíritos para as comemorações do centenário.
O primeiro centenário do Espiritismo teve, também as suas comemorações no outro lado da vida. Não foi apenas em nosso plano material, neste reverso da vida em que nos arrastamos, apegados à densidade da matéria grosseira, que o grande acontecimento despertou entusiasmos. Embora o advento do Espiritismo nos pareça um fato específico do nosso mundo, pois a doutrina veio para orientar os homens encarnados, a verdade é que esse fato se refere também aos planos espirituais. E o que é mais importante: esse fato tem tanta significação para nós, quanto para os Espíritos.
Todos os que militam no movimento espírita sabem que os Espíritos participam ativamente dos trabalhos doutrinários. Nada mais natural, portanto, do que a sua intensiva participação nas comemorações do centenário. Uma prova concreta dessa participação acaba de ser dada pela publicação de mais um livro psicografado por Francisco Cândido Xavier, livro que traz no prefácio de Emmanuel, as seguintes frases: “Um século de trabalho, de renovação e de luz. Para contribuir nas homenagens ao memorável acontecimento, grafou, André Luiz, as páginas deste livro”.
Como se vê, “Ação e Reação”, novo livro de André Luiz, que a Federação Espírita Brasileira acaba de publicar, é uma contribuição espiritual para as comemorações do centenário. E que excelente contribuição! O título é suficiente para indicar o conteúdo. André Luiz faz uma ampla exposição do problema de ação e reação, através de exemplos colhidos diretamente nas zonas sombrias em que vivem os espíritos sofredores.
Os livros de André Luiz, que já constituem volumosa coleção, valem por um verdadeiro trabalho de ilustração dos princípios espíritas, por meio de relatos de episódios vividos nos planos espirituais. Em Nosso Lar, primeiro volume da série, temos a descrição pormenorizada de uma cidade espiritual, destinada à preparação das criaturas para a espiritualidade superior. Em Os Mensageiros, a descrição dantesca das zonas de sofrimento, regiões purgatoriais ou infernais – como queiram –, em que se arrastam as almas dos que não souberam compreender as oportunidades da encarnação terrena. Mensageiros são os Espíritos superiores, que descem às zonas sombrias ou à própria face da terra para trazerem socorro às criaturas entregues ao desespero, à angústia, ao remorso e a todas as formas de sofrimento espiritual.
Em “Ação e Reação” os fatos se passam, também, numa zona espiritual densamente carregada de influências materiais. Em meio a uma região aparentemente abandonada, em que as “almas brutas e bravas”, a que se refere Dante, rugem, choram, esbravejam e gemem, perdidas nas sombras e resgatadas pela ventania de suas próprias iniquidades, ergue-se um conjunto arquitetônico que oferece asilo, conforto e cura aos que se puseram em condições de ser socorridos, ou seja, aos Espíritos que começaram a se arrepender de seus erros.
O estabelecimento – diz André Luiz – situado nas regiões inferiores, era bem uma espécie de Mosteiro São Bernardo, em zona castigada por natureza hostil, com a diferença de que a neve, quase constante em torno do célebre convento encravado nos desfiladeiros, entre a Suíça e a Itália, era ali substituída pela sombra espessa, que, naquela hora, se adensava ao redor da instituição, como se tocada por ventania incessante.”
Para os que não conhecem os princípios da Doutrina Espírita e não estão familiarizados com descrições das zonas espirituais mais próximas da crosta terrestre, tudo isso pode parecer ilusório, imaginário, pouco provável. Mas os que sabem que os Espíritos não são mais do que homens desencarnados e que, como os homens terrenos, vivem a sua vida, executam os seus trabalhos e realizam as suas construções, compreendem bem as descrições de André Luiz.
Há quem não admita a existência de coisas tão concretas no plano espiritual. André Luiz se refere, porém, às zonas inferiores, aquelas em que os Espíritos, ainda demasiado apegados às formas da vida material, não conseguiram “libertar-se em espírito”. É edificante ver, em “Ação e Reação”, como os Espíritos Superiores trabalham nessas regiões, prestando sua assistência caridosa aos irmãos que se transviaram nas sendas egoístas da vida terrena. (PIRES, 1992, p. 72-74, grifo nosso).
O que vemos aqui é que Herculano Pires, além de sancionar as obras de André Luiz, as tinha em alta consideração. São justamente as obras que têm informações importantes sobre a vida dos Espíritos no plano espiritual, e que alguns confrades querem desprezar. Inclusive, a obra Ação e Reação, motivo de seu artigo, fala do Umbral, não aceito por esses confrades:
Sabíamos que a morte do corpo denso era sempre o primeiro passo para a colheita da vida e, por isso, não ignorávamos que o ambiente era dos mais favoráveis à nossa investigação construtiva, porque o imenso Umbral, à saída do campo terrestre, vive repleto de homens e mulheres que vararam a grande fronteira, em plena conexão com a experiência carnal. (XAVIER, 1987a, p. 58, grifo nosso).
[…] O que, porém, existe, de fato, é o imenso Umbral, situado entre a Terra e o Céu, dolorosa região de sombras, erguida e cultivada pela mente humana, em geral rebelde e ociosa, desvairada e enfermiça. […]. (XAVIER, 1987a, p. 256, grifo nosso).
Acreditamos que a posição de Herculano Pires, como sendo o “melhor metro que mediu Kardec”, deve ser levada em consideração para se aceitar ou não as informações de André Luiz, que vieram complementar as encontradas nas obras da Codificação.
O exposto aqui corrobora, em tudo, o que se pode encontrar nas narrativas de André Luiz, embora isso não signifique que aceitamos tudo quanto vem dele, pois sempre há que se basear na lógica e no bom senso, conforme nos recomendou Kardec.
2º) Richard Simonetti (1935- ), escritor espírita, cuja opinião é, para nós, importante, uma vez que o consideramos portador de um conhecimento doutrinário invejável e, principalmente, por ser uma pessoa sensata. Na Revista Internacional de Espiritismo, na coluna Pinga-Fogo, Simonetti escreve o artigo “André Luiz – refutações”, no qual responde a várias questões; dentre elas destacamos:
1. Há quem situe fantasiosa a obra de André Luiz, alegando que ele situa o mundo espiritual igual ao plano físico.
Seria interessante destacar a questão 27 de O Livro dos Espíritos, em que o mentor espiritual informa que há dois elementos constitutivos do Universo: Espírito e matéria. O Espírito é denominação coletiva dos seres pensantes. Consequentemente tudo o mais é matéria.
3. Sendo o Espírito uma luz que irradia, conforme está na questão 88 de O Livro dos Espíritos, não deveria ser de outra natureza o universo além-túmulo?
Antes de qualquer consideração sobre esse assunto é preciso lembrar a existência do perispírito, veículo de manifestação do Espírito no plano em que atua o seu elo com o corpo, na reencarnação. Considerando que ele também é feito de matéria, igualmente quintessenciada, sua existência justifica o conteúdo da obra de André Luiz.
4. Justifica por quê?
Se o perispírito é feito de matéria, é óbvio que ocupa lugar no espaço, deve viver num mundo de dimensões, onde não vejo porque inexistirem paisagens, objetos, cidades, casas, edifícios e tudo o mais que guarde semelhança com a Terra. Aliás, é lugar-comum dizer-se que o plano físico é uma cópia do plano espiritual. Enquanto a televisão engatinhava na Terra, na década de 40 do século passado, André Luiz já falava desses aparelhos no livro Nosso Lar, com um detalhe: comunicaram-se os Espíritos via TV, algo que somente nas últimas décadas se popularizou em nosso plano.
5. Atendendo ao controle universal das manifestações, não seriam, em princípio, motivo de dúvida aquelas revelações por um único médium? Um não, dois, já que o médium Waldo Vieira colaborou na psicografia de alguns livros de André Luiz. Por outro lado, antes de Chico Xavier, muitos médiuns reportavam-se ao assunto. A monumental obra Memórias de um Suicida, que descreve um mundo espiritual semelhante ao plano físico, foi psicografada por Yvonne Pereira a partir da década de 20, muito antes do livro Nosso Lar, de 1943. Na atualidade, em qualquer Centro Espírita bem orientado, com médiuns disciplinados, temos relatos semelhantes compondo um imenso controle universal das manifestações.
8. Há alguma referência de Kardec às cidades espirituais?
É preciso considerar que o trabalho de Kardec foi de síntese. Não obstante, há na Revista Espírita de agosto de 1858, interessantes comentários de Victorien Sardou, escritor, teatrólogo, membro da Academia Francesa de Letras. Era médium pictógrafo e fez desenhos notáveis sobre habitações de outros mundos, como Júpiter, reportando-se à vida espiritual, já que nos planetas de nosso sistema solar não há vida biológica. Kardec destacou a condição intelectual de Sardou, sem refutar suas explicações, o que significa que não as considerou fantasiosas. (SIMONETTI, 2014, p. 223).
Simonetti, ao escrever esse artigo, certamente, o fez por perceber que o tema causa polêmica acirrada, em nosso meio, razão pela qual resolveu contribuir com seus conhecimentos.
Para que não mais existam dúvidas sobre o assunto em foco, recomendamos todas as obras aqui mencionadas e o livro Colônias Espirituais, mesmo sem ter transcrito nada dele aqui, no qual a autora, Lúcia Maria Farias Loureiro de Souza (1944- ) ou, simplesmente, Lúcia Loureiro, apresenta uma profunda pesquisa sobre esse instigante assunto.
Médiuns do Grupo Irmã Scheilla (SP)
Temos em mãos o livro Alvorada Nova, produzido por uma equipe de oito médiuns do Grupo Irmã Scheilla, sob a coordenação de Abel Glaser (?- ), que, a certa altura dessa obra, diz: “Esta, como dissemos, não é uma obra psicografada integralmente. É fruto do trabalho conjunto de encarnados e desencarnados (GLASER, 2000, p. 22), razão pela qual estamos colocando num tópico à parte, justamente, pela singularidade dessa sua origem.
Na “Apresentação” o médium Divaldo Pereira Franco (1927- ), afirma sobre o conteúdo da obra:
[…] Estou edificado, renovado com as lições ministradas pelo nosso amado Cairbar Schutel e demais MENSAGEIROS da Colônia “Alvorada Nova”.
Os nossos Amigos Espirituais já haviam escrito por meu intermédio a respeito desse Lar ampliado, o que nos levou a denominar uma das nossas Escolas de 1º Grau com essa desinência. Isso dá-me muita alegria e agradeço ao Alto a sua concessão de amor. (GLASER, 2000, p. 13, grifo nosso).
A Colônia Espiritual “Alvorada Nova” tem como coordenador o Espírito Cairbar Schutel que, segundo o que consta dessa obra, participou ativamente das informações repassadas do grupo. Todo o livro trata da “[..] descrição, o funcionamento, a história, a doutrina, a administração, a finalidade e as características da Cidade Espiritual” (GLASER, 2000, p. 188); portanto, como não temos como transcrevê-lo no todo, recomendamos a você, caro leitor; apenas transcreveremos algumas coisas que vão corroborar o que aqui citamos de outras fontes.
[…] ao final de 1986, vários médiuns do Grupo Irmã Scheilla, do Lar Escola Cairbar Schutel, começaram a receber mensagens de Cairbar a respeito de uma cidade espiritual, sendo que ao mesmo tempo a vidência dos medianeiros teve acesso a imagens desta colônia. […]. (p. 17).
Por consenso as reuniões tiveram início em 4 de março de 1987. […]. (p. 17).
[…] Muitas psicografias e desenhos mediúnicos foram elaborados. […]. (p. 19).
Todas as linhas foram idealizadas por Cairbar Schutel, em inúmeras mensagens descritas ou psicografadas pelos médiuns e organizadas por mim. […]. (p. 20).
[…] temos hoje importante projeto a discutir: vamos colocar em pauta as novas técnicas de alimentação na colônia e novos processos para fomentar a produção de frutos. Discutiremos ainda projetos apresentados pelo Setor de Medicina para a implantação de novo soro, especialmente extraído do mel vegetal, no trabalho com os doentes internados na Casa de Repouso. A pauta incluirá também, por fim, os pedidos e requerimentos de vários habitantes desta colônia. […]. (p. 56-57).
Essa reunião se realiza na sala própria do último andar do Prédio Central, a qual é volteada por luz proveniente da colônia que vaza os cristais das paredes e adentra a cúpula. (p. 57).
Encerrando a pauta, passam a tratar das reivindicações dos habitantes da colônia, voltadas para os mais diversos assuntos, tais como transportes, instalação de aparelhos de telefonia, autorização de visitas a Espíritos em estágio em outros pontos da colônia ou fora dela, entre outros. […]. (p. 59).
Alvorada Nova é exemplo dessa assertiva. Para melhor conhecê-la, comecemos por falar que se trata de uma comunidade com cerca de duzentos mil habitantes, localizadas em região umbralina, na quarta camada ao redor da crosta terrestre, no mesmo grau de inclinação da cidade de Santos – Estado de São Paulo, desenvolvendo-se diuturnamente sob a orientação da Superioridade Divina. (p. 59-60).
Inicialmente, vê-se o Prédio Central, localizado no centro do grande círculo, onde se instala a “Coordenadoria Central” liderada por Cairbar Schutel. (p. 65).
[…] por um acesso lateral, pode-se chegar a um bosque com belas árvores, flores e um lago cristalino. […]. (p. 65).
Alvorada Nova é circundada por um muro protetor sobre o qual existem nove torres, sendo que duas delas ladeiam o portão de entrada. […]. (p. 66).
Do lado de fora de Alvorada Nova pode-se vislumbrar uma plataforma onde se espera o trem que seguirá ao Posto de Socorro em região umbralina. A paisagem ao redor é semelhante à da Crosta.
Na composição percebe-se que é um transportador magnético, flutuante sobre trilhos especiais. (p. 73).
A Cidade Espiritual possui dois Postos de Socorro, […].
Nos Postos desenvolve-se um trabalho sério, intenso e árduo, que consiste na recepção, distribuição, reciclagem e encaminhamento de entidades sofredoras e obsessoras resgatadas. […]. (p. 75).
[…] Ainda nesse prédio [Prédio Central] estão a biblioteca, a sala de reuniões das Coordenadorias e os aposentos de Cairbar. (p. 112).
[…] Cuida para que a alimentação da Colônia seja sempre suficiente para atender às necessidades de cada se que lá habita, desenvolvendo um trabalho de divisão de alimentos por todas as áreas de concentração de Espíritos, desde o hospital até a Casa da Criança, com programa alimentício próprio para cada setor. […]. (p. 123).
Por todas as dependências de Alvorada Nova existem muitas flores e muito verde, tendo em vista que os Espíritos que aí vivem, não sendo apegados à massa material, vibram muito com a magnífica criação de Deus, dela podendo desfrutar a todo o instante, sem prejudicá-la. […]. (p. 150).
O muro que protege Alvorada Nova tem quinze metros de altura, é maciço e emite uma potente vibração magnética de proteção. […]. (p. 156).
[…] é onde os moradores de Alvorada Nova costumam desfrutar as mais agradáveis sensações de bem-estar. Em seu topo encontra-se um enorme lago de águas fluídicas e calmantes. […].
As águas do lago caem por várias cachoeiras, formando cortinas transparentes que perpassam o verde lateral dessa superfície. […]. (p. 158).
Dispõe ela de inúmeras moradas para seus habitantes, entre várias alamedas, todas arborizadas, constituindo os Setores Habitacionais, em número de quatro. As casas são simples mas confortáveis, com muita natureza ao redor e higienização plena.
Cada habitante com créditos suficientes pode desfrutar de uma moradia para si e sua família. Alvorada Nova tem o sistema de créditos chamado “U.A.” (Unidade de Amor). Essa denominação sugerida pelo próprio Cairbar, que achou por bem fundir num só significado amor e trabalho, foi ratificada por todos os habitantes da colônia […]. (p. 168-169).
[…] Alvorada Nova não é a única colônia espiritual existente em torno da Terra. Sob a égide de Jesus, o trabalho é amplo e conjunto entre os dois planos, desenvolvendo-se para o progresso da Humanidade. Um número incalculável de colônias espirituais e postos de socorro existem, e continuam sendo criados, circundando este planeta; todas as obras do bem existentes no plano material trabalham em conjunto com elas. (p. 188-189).
GLASER, 2000, passim, grifo nosso).
A correlação entre as obras de autoria de André Luiz e o que está descrito no livro Alvorada Nova, de onde extraímos o acima foi transcrito, é algo indiscutível.
Autores espirituais que as mencionam
Podemos acrescentar que essa informação sobre a existência das colônias espirituais é encontrada em outros autores espirituais como, por exemplo:
a) João Lúcio na psicografia da obra Em Novos Horizontes, por Wagner Gomes da Paixão (1962- );
b) Eça de Queirós, em Getúlio Vargas em dois mundos, pela pena de Wanda Albertina Canutti (1932-2004);
c) Adamastor, em Ícaro redimido: a vida de Santos Dumont no Plano Espiritual, pelo médium Gilson Teixeira Freire (1953- );
d) Zílio, em Um roqueiro no além, psicografado por Nelson Moraes (1940- );
e) Joanna de Ângelis, em No limiar do infinito, via Divaldo P. Franco. Nesta última obra, temos o capítulo 12 intitulado “A vida espírita ou espiritual”, do qual transcrevemos o seguinte trecho:
Sendo a vida na Terra, suas edificações e paisagens um símile mais condensado e algo mais grosseiro do que existe no mundo espírita ou espiritual, facilmente se compreenderá que o progresso na região das causas transcende em beleza as realizações, superando em emoções e efeitos tudo quanto a imaginação pode conceber.
Desde os sítios mais grotescos e sombrios, onde se fixam os núcleos de depuração compulsória para os que dilapidam, irresponsáveis, os preciosos dons da existência, até aos altos círculos de felicidade nas vibrações circunvizinhas da Terra, há uma infinita variedade de vilas e cidades, círculos espirituais e postos de socorro onde vivem os que se vinculam ao planeta generoso, que nos serve de berço e escola de progresso nos intervalos de uma para outra reencarnação. Plasmados pelas mentes que as moldam no fluido universal, são populosos centros de vida em que o amor estua, verdadeiros céus […].
Não se tratam de lugares hipotéticos, ou de centros onde campeia a ociosidade em aposentadoria demorada, ou de paisagens fantasistas para o repouso da inutilidade.
Há atividades febricitantes em que o culto ao trabalho fomenta o progresso das mentes e aprimora os sentimentos.
De forma alguma são mundos quiméricos, imateriais, sobrenaturais, mas searas de ação objetiva, organizações promovidas pelo espírito humano, distantes ainda dos mundos da divina benção.
[…].
Perfeitamente lógica a ocorrência da multiplicidade das Cidades e Colônias Espirituais no mundo das causas.
[…].
Metrópoles trabalhadas em substância sutil, plástica e de fácil moldagem às mentes ditosas, constituem os painéis de incomparável dita onde reinam a paz, a ventura plena e a felicidade sem jaça.
Há incontáveis instituições beneficentes e socorristas no além-túmulo, que se afervoram no auxílio aos que transitam na Terra e partem do corpo após a desencarnação, […].
Legiões de abnegados e caridosos mensageiros do Senhor recolhem em Institutos de recuperação e aperfeiçoamento os desencarnados em dor, […].
Educandários e hospitais de retificação, à semelhança dos que existem na Terra, melhor organizados e mais aprimorados, se abrem convidativos, como santuários de recolhimento e correção para a elevação dos caídos […].
Conforme existem na Terra conglomerados e organizações humanas para albergar a imensa legião de criaturas, no plano espiritual sucedem-se, múltiplos, acolhedores como ninhos de ventura […].
Ninguém se surpreenda, portanto, que a vida espiritual seja refletida nas comunidades terrenas, que são cópias imperfeitas das sociedades vigentes nos círculos superiores do Orbe e nos planetas onde a vida estua sem sombra, sem dor, sem morte, sem adeus… (FRANCO, 2000, p. 97-102, grifo nosso).
f) Luís Felipe, em Cidades Espirituais, pelo médium José Fernando Araújo, ou simplesmente, Zé Araújo (1964- ), de Blumenau, SC. A peculiaridade é que o Zé Araújo é médium mecânico (ARAÚJO, 2014, p. 10), cujo trabalho de “Cartas do Além”, em sessões de psicografia públicas, consolando parentes e amigos dos que já “partiram”, a quem tivemos a honra de conhecer pessoalmente. Essa obra foi publicada em abril de 2014, ou seja, bem recente, da qual transcrevemos os seguintes trechos:
Aqui na Colônia Nova Esperança a força que imprime as cores e as edificações são formadas a partir dos anseios e da forma como cada habitante vibra e consegue alcançar dentro dos mundos particulares e seu estado de “crença”. (p. 17).
A Colônia Nova Esperança em seus primórdios era apenas colônia correcional, onde haviam espíritos um tanto endurecidos e ainda presos no orgulho de casta e no apego aos bens materiais.
Em uma época distante aqui existia um hospital que hospedava por longo tempo espíritos que, em grande apego às suas enfermidades, ficavam alimentando uma longa vitimização, e eram tratados para se recuperarem. […]. (p. 19).
[…] Sim, essas paragens que foram nominadas como “umbrais” ou regiões inferiores, são apenas os estados conscienciais e de forte influência nos pequenos mundos plasmados e identificados por estes tantos irmãos terrenos que se atraem num mesmo diapasão de anseios e crenças. Essas crenças geralmente são alimentadas de maneira tão forte que passam a fazer parte integral da mente desencarnada. (p. 23).
A conversa no aero bonde chegava ao fim, Sila se expressava com uma clareza e vivacidade que me mantinha conectado aos seus esclarecimentos. Nosso aero bonde chegara à estação central, onde tínhamos que descer e ir de encontro ao prédio muito bem instalado bem no centro da colônia, dividindo os setores Norte – Sul – Leste e Oeste. (p. 61).
Para um breve esclarecimento do que aprendemos aqui. As cidades e as colônias e comunidades aqui concentradas, fazem parte dos tantos mundos transitórios que recebem, por afinidade e outros muitos fatores, os que deixam o corpo físico em condições necessárias pra habitar o “Complexo Morada Nova”.
[…].
Nas cidades com uma atmosfera mais baixa há grande semelhança com a Terra. Muitas casas, jardins, bosques, montanhas, rios cristalinos e até animais. Porém a matéria que constitui tudo isso não é a mesma matéria do plano físico. Trata-se de uma matéria espiritual mais sutil e constituída pela forma pensamento e vibratória de seus ocupantes.
Nas “cidades baixas” – assim são chamadas as que ficam bem próximo às faixas vibratórias da Terra – podemos dizer que é uma cópia muito perfeita do plano físico. Nelas a grande diferença é que a matéria que forma as cidades baixas é elaborada por substâncias e material astral. (p. 71).
Fui me recuperando, e todos os dias tomava um caldo fluídico e sessões energizantes, que aos poucos foram nos reconfortando e fortalecendo nossas energias. (p. 73).
(ARAÚJO, 2014, passim, grifo nosso).
Quando falamos dos Mundos Transitórios dissemos que eles tinham uma semelhança com as colônias, pois é isso que o Espírito Luís Felipe corrobora, com o dito acima, que fazemos questão de ressaltar:
[…] As cidades e as colônias e comunidades aqui concentradas, fazem parte dos tantos mundos transitórios que recebem, por afinidade e outros muitos fatores, os que deixam o corpo físico […]. (ARAÚJO, 2014, p. 71, grifo nosso).
g) Monsenhor Robert Hugh Benson (1871-1914), padre católico, que reportou ao médium inglês Anthony Borgia (1896-1989), a vida no plano espiritual, como se vê na obra A vida nos mundos invisíveis, da qual transcrevemos alguns trechos, suficientes para se ter uma ideia do que ele recebeu de informações sobre a vida no plano espiritual:
[…] Grande foi minha surpresa ao notar que vestia as roupas habituais, exatamente as mesmas que usava quando me movimentava livremente pela casa em boa saúde. […]. (p. 15).
Tão logo me vi em minha nova condição, e tão rapidamente como tudo sucedeu, percebi a meu lado um sacerdote ex-colega, cujo passamento se dera alguns anos antes. […] Expressou seu grande prazer em rever-me, e de minha parte previ a junção de muitos fios que se haviam rompido com a sua morte. (p. 16).
[…] Então o meu amigo propôs que saíssemos, desde que ali nada mais havia a fazer, e que ele me conduziria a um aprazível lugar preparado especialmente para mim. Fez referência a um lugar, mas apressou-se em acrescentar que na realidade eu ia para a minha própria casa, onde me sentiria imediatamente no lar. […]. (p. 17).
[…] Descortinei então o velho lar em que vivi na terra; o meu velho lar… mas com uma diferença: fora melhorado de uma forma que ninguém teria podido fazer em sua reprodução terrestre. Como logo me pareceu, a casa estava antes rejuvenescida, do que restaurada, mas foram os jardins à sua volta que mais me atraíam a atenção. (p. 18).
[…] Antes de me responder, sugeriu que, como tinha eu chegado recentemente às regiões espirituais, era aconselhável descansar primeiro ou, pelo menos, não me fatigar muito com observações. […]. (p. 20).
[…] A paisagem era banhada por um belíssimo resplendor celestial, e eu podia notar inúmeras casas de vários tipos, pitorescamente localizadas, como a minha, entre árvores e jardins. Acomodamo-nos na relva macia, e eu me estirei, como se deitasse num finíssimo leito. Meu guia perguntou-me se estava cansado. Eu não tinha a sensação comum do cansado terreno, mas sentia ainda algo como a necessidade de repouso do corpo. Disse-me que essa necessidade era proveniente da minha última doença, e que, se quisesse, podia passar por um profundo sono. […]. (p. 20).
[…] À nossa frente estendia-se um campo interminável. Noutra direção via-se o que parecia ser uma cidade de imponentes edifícios. […]. (p. 28).
Via-se à distância uma igreja aparentemente construída nas linhas usuais; decidimos seguir naquela direção, observando outras coisas da paisagem. Fomos por um caminho que acompanhava em certos pontos um riacho, cuja água cristalina brilhava à luz do sol celestial. […]. (p. 28).
[…] Notei então que aquele pequeno curso de água ia se alargando, até adquirir as dimensões de um lago de proporções regulares. […]. (p. 31).
[…] Rute descobriu um imponente edifício, em terras bem arborizadas, que também despertou minha curiosidade. Apelamos para o nosso guia, e Edwin nos contou que era um lar para repouso, destinado àqueles que chegassem ao espírito depois de longa enfermidade ou que haviam tido violento passamento. […] Construído ao estilo clássico, tinha dois ou três andares, e era completamente aberto por todos os lados. […]. (p. 37).
Ao nos aproximarmos da cidade, foi possível avaliar a sua enorme extensão. Nem preciso dizer que era totalmente diversa de tudo que jamais víramos. Consistia de grande número de majestosos edifícios, rodeados de magníficos jardins e árvores, onde brilhavam, aqui e acolá, espelhos de água, límpida como cristal, refletindo, além das cores já conhecidas na terra, outras mil tonalidades jamais vistas. (p. 45).
Comparados com as estruturas terrenas, os edifícios não eram muito altos, mas apenas extremamente amplos. É impossível descrever de que materiais se compunham, por serem essencialmente espirituais. […]. (p. 46).
[…] Muitas almas caridosas tinham entrado naqueles reinos para tentar efetuar uma salvação das sombras. Algumas tinham sido bem-sucedidas, outras não. […]. (p. 78).
Assim como os reinos superiores tinha criado todas aquelas belezas, os moradores destes planos inferiores tinham edificado as condições atrozes da sua vida espiritual. Não havia luz, nem calor, nem vegetação, nem beleza. […]. (p. 79).
[…] Nossos meios de locomoção pessoal são feitos através de pensamentos, e podemos aplicar esses mesmos métodos ao que o mundo chama de objetos inanimados. […]. (p. 87).
Desviei-me um pouco do que me propunha contar-lhes, mas é imperativo dar ênfase a certos aspectos da minha narrativa, porque muitas almas na terra ficam chocadas ao saber que o mundo espiritual é um mundo sólido e substancial, com pessoas reais e vivas. […]. (p. 102).
[…] Estes magníficos edifícios apresentam todos os sinais de eternidade. Os materiais de que são construídos são imperecíveis. As superfícies de pedra são tão limpas e frescas como o dia em que foram erguidas. Nada há para as poluir, nenhuma atmosfera carregada de fumaça para corroê-las, nem ventos e chuvas para desgastar as obras de decoração externa. Os materiais de que são feitos pertencem ao mundo espiritual e portanto têm uma beleza que não é terrena. (p. 105).
Deve-se lembrar que o ato de construir no mundo espiritual é essencialmente uma operação de pensamentos. […]. (p. 109).
O mundo espiritual está dividido em esferas ou reinos. […]. (p. 117).
As esferas do mundo do espírito estão colocadas numa série de zonas formando um número de círculos concêntricos à volta da terra. […]. (p. 117).
Os reinos inferiores da escuridão estão situadas perto da terra, e penetram na sua parte mais baixa. […]. (p. 117).
Cada esfera é completamente invisível a todos os habitantes das suas inferiores, e isso pelo menos é que forma os nossos limites. […]. (p. 120).
(BORGIA, 1991, passim, grifo nosso).
As descrições nessa obra têm uma similitude muito forte com tudo que encontramos sobre o mundo espiritual nas obras de André Luiz, que, se não fosse indicada a autoria, certamente seriam confundidas com alguma deste.
h) Lester Coltman, oficial que morreu em 1917, na Batalha de Cambrai, 1ª Guerra mundial, corresponde com sua tia Lilian Walbrook (?-), médium mecânica. Suas mensagens iniciaram no final do ano de 1922. Esse caso é citado por Doyle, do qual Schutel extraiu para seu livro A Vida no outro mundo, de onde transcrevemos:
Acho perfeitamente explicável e natural o interesse dos seres terrenos em averiguar a forma de que são constituídos os lugares e os estabelecimentos em que vivemos e trabalhamos; mas, não é fácil fazer uma descrição, na linguagem terrena. A minha existência servirá de exemplo para a dedução de outros modos de vida, segundo o temperamento e a inteligência de cada um.
Meu trabalho continua aqui como se iniciou na Terra, ou seja, no terreno científico.
“Para progredir em meus estudos, visito frequentemente um laboratório, onde encontro facilidades tão completas como extraordinárias para a realização de experiências.
Tenho casa própria, verdadeiramente bela, com uma grande biblioteca, na qual existe toda a classe de livros de consulta: históricos, científicos, de Medicina, e de todos os gêneros da Literatura. Para nós, estes livros são tão interessantes como para vós, os da Terra.
Tenho uma sala de música com toda a sorte de instrumentos.
Tenho quadros de rara beleza e móveis de gosto apurado.
“Atualmente vivo só, mas recebo com frequência a visita de amigos; também os visito em suas casas, e, se alguma vez me sucede sobrevir ligeira tristeza, vou, então, visitar aqueles a quem mais eu quis na Terra.
Das minhas janelas admiro uma paisagem extraordinariamente bela, que se estende ao longe em suaves ondulações, e, próximo à minha, existe uma casa comunal onde vivem em feliz harmonia vários dos Espíritos que trabalham no laboratório.
“O meu ajudante principal é um chinês antigo, muito competente em análises químicas. É, como se disséssemos, o chefe da casa. E uma alma admirável, goza de grandes simpatias e é dotado de profunda filosofia.
“E muito difícil vos falar do trabalho no mundo dos Espíritos. Cada um tem sua missão, segundo suas possibilidades.
“Quando um Espírito chega diretamente da Terra, ou de qualquer outro mundo material, tem de aprender tudo o que não aprendeu na existência precedente, com o fim de se aproximar da perfeição.
“Se ele fez sofrer seus semelhantes sofrerá. Se tem grande talento, o aperfeiçoará aqui, pois, se vós aí tendes boa música ou outra qualquer classe de arte ou ciência, as daqui ainda são muito melhores.
“A Música é uma das mais poderosas forças do nosso mundo para se alcançar a perfeição do Espírito.
Há aqui magníficas escolas para instrução dos Espíritos de crianças. Nelas permanecem até aprenderem tudo o que se refere à Terra e aos demais mundos, bem assim a todos os reinos que se acham sob o cetro de Deus.
“Aqueles que aqui receberam instrução como Espíritos de crianças, quando chegam a ir para o vosso mundo, ostentam o mais refinado e belo dos caracteres.
“Os que passaram sua existência material em trabalhos físicos, têm de aprender tudo, enquanto aqui permanecem. O trabalho é uma coisa maravilhosa, e os que se tornam discípulos de Espíritos, aprendem consideravelmente. Os Espíritos literatos se convertem em grandes oradores e falam e ensinam com palavras eloquentes.
Aqui também há livros, mas de gênero diferente dos vossos.
“O que estudou leis na Terra entrará na escola dos Espíritos para se aperfeiçoar na Justiça.
“O soldado que professe culto à verdade e à honra, guiará os Espíritos de qualquer de nossas esferas em suas lutas pela fé em Deus”.
(SCHUTEL, 2011, p. 102-104, grifo nosso).
Gostaríamos de ressaltar que dessa lista há, pelo menos, dois médiuns mecânicos, tipo de mediunidade que mereceu o seguinte comentário de Kardec: “É preciosa esta faculdade, por não permitir dúvida alguma sobre a independência do pensamento daquele que escreve”. (KARDEC, 2007b, p. 230).                
Cumpre-nos esclarecer que, apesar de alguns dos médiuns citados terem psicografado vários outros autores espirituais, somente tomamos um autor espiritual por médium, para evitar possíveis questionamentos, especialmente, de pessoas que podem querer atribuir tudo ao médium e não aos Espíritos que por ele se manifestaram.
A prática mediúnica de médiuns as confirmam
Yvonne A. Pereira deve ser a primeira a mencionarmos, porquanto ela, na sua atividade mediúnica, foi levada ao plano espiritual, tendo, portanto, uma visão que nós outros, sem a faculdade de emancipação da alma, comumente denominada de desdobramento, não conseguimos perceber. Podemos compará-la ao primeiro “peixinho vermelho” dos personagens que aqui mencionamos. De sua obra Memórias de um suicida, transcrevemos este trecho no qual menciona o Espírito Camilo Cândido Botelho:
[…] Daí em diante, ora em sessões normalmente organizadas, ora em reuniões íntimas, levadas a efeito em domicílios particulares, ou no silêncio do meu aposento, altas horas da noite, dava-me apontamentos, noticiário periódico, escrito ou verbal, ensaios literários, verdadeira reportagem relativa a casos de suicídio e suas tristes consequências no Além-Túmulo, na época verdadeiramente atordoadores para mim. Porém, muito mais frequentemente, arrebatava-me, ele e outros amigos e protetores espirituais, do cárcere corpóreo, a fim de, por essa forma cômoda e eficiente, ampliar ditados e experiências. Então, meu Espírito alçava ao convívio do mundo invisível e as mensagens já não eram escritas, mas narradas, mostradas, exibidas à minha faculdade mediúnica para que, ao despertar, maior facilidade eu encontrasse para compreender aquele que, por mercê inestimável do Céu, me pudesse auxiliar a descrevê-las, pois eu não era escritora para fazer por mim mesma! Estas páginas, portanto, rigorosamente, não foram psicografadas, pois eu via e ouvia nitidamente as cenas aqui descritas, observava as personagens, os locais, com clareza e certeza absolutas, como se os visitasse e a tudo estivesse presente e não como se apenas obtivesse notícias através de simples narrativas. […]. (PEREIRA, 1987b, p. 9, grifo nosso).
Heigorina Cunha (1923-2013), é outra médium em que o mundo espiritual lhe descortinou as vistas, conforme seu relato:
[…] no dia 2 de março de 1979, quando vivi a mais fascinante experiência de minha vida. Vi-me saindo do corpo, conduzida por um Espírito que não pude identificar, seguindo para uma cidade espiritual que depois soube tratar-se da cidade “Nosso Lar”, da qual André Luiz, no livro que leva o mesmo nome traça-lhe um perfil magnífico e esclarecedor.
Via a cidade com alguns detalhes, guardando, ao despertar, toda a recordação da experiência daquela noite maravilhosa, quando o Espírito que me acompanhava convidou-me a regressar à Terra.
Não podia perder a visão de tão belo acontecimento e, assim, resolvi desenhar, retratando o que me foi possível conhecer naquela rápida visita. (CUNHA, 1989, p. 25-26, grifo nosso).
Aquilo tudo que ela viu está registrado na sua obra Cidade no Além. Certamente, aqui temos mais um “peixinho vermelho”. Daqui a pouco, caro leitor, você entenderá porque estamos fazendo essa relação.
Encontramos na obra Espíritos entre nós, do médium norte-americano James Van Praagh (1958- ), escritor e produtor de televisão, trechos que vêm confirmar tudo quanto estamos vendo em outros autores. Vejamos alguns trechos do capítulo 5, intitulado “O Mundo dos Espíritos”:
Já me perguntaram inúmeras vezes: “Onde fica o mundo dos espíritos?” Infelizmente, não há uma resposta simples para essa questão. Para compreender onde fica o mundo espiritual, devemos mudar nosso modo de pensar. O mundo espiritual não é um local geográfico, não é algo que possa ser encontrado em um mapa. O mundo espiritual é, na verdade, um estado de ser energético.
O Universo é feito de ondas eletromagnéticas. Nós talvez não estejamos fisicamente conscientes dessas energias, mas sabemos que elas existem porque vemos imagens na televisão, ouvimos vozes no celular e ingerimos alimentos preparados no forno de micro-ondas. Essas ondas são precisamente sintonizadas em uma determinada frequência para que possam funcionar da maneira adequada.
Assim como as ondas eletromagnéticas do universo físico, o mundo espiritual é formado por milhares, talvez milhões de dimensões energéticas, e cada uma tem sua própria vibração. Essas vibrações se sobrepõem umas às outras, e assim, penetram no nosso mundo físico. Assim como a internet, as dimensões espirituais podem interagir com pessoas do mundo inteiro sem que ninguém tenha que sair da privacidade de seu lar. Talvez não tenhamos consciência da multiplicidade de vibrações que nos cercam, mas elas existem mesmo assim. Infelizmente, a maior parte das pessoas não tem capacidade de entrar em sintonia com essas vibrações sem passar por algum tipo de treinamento.
As dimensões espirituais são semelhantes à mensagem que existe na Bíblia, em João 14:3: “Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito.” Acredito que essas “moradas” a que o evangelista se refere são as várias dimensões espirituais. Como médium, tenho a capacidade de penetrar nessas dimensões, aumentando minhas vibrações para atingir frequências mais altas. Assim, posso ser um canal entre o plano mais baixo do mundo físico e as vibrações mais rápidas do mundo espiritual invisível. Todos nós podemos ser canais se nos esforçarmos para isso. Uma das maneiras mais rápidas de aumentar essas vibrações é por meio da meditação.
Dimensões espirituais
Há muitos anos, tive a honra de conhecer Mark Macy, cientista e pesquisador muito dedicado que, assim como eu, estava interessado em apresentar provas detalhadas de que existe vida após a morte. Até hoje grande parte de seu trabalho não foi analisada com a devida atenção. Macy estava na vanguarda das investigações sobre os diversos meios pelos quais um espírito pode se comunicar com os vivos. Ele estava envolvido com a World Instrumental Trans-Communication (Transcomunicação Instrumental Mundial), uma organização de pesquisadores que utilizava diversas tecnologias, como rádio, televisão e computadores, para fomentar mensagens e comunicação com o mundo espiritual. Estudei o trabalho de Macy por muitos anos e acredito que grande parte das informações que ele coletou se parece muito com as descrições espirituais que recebi através de meu próprio trabalho psíquico.
[…].
Quando abandonamos nosso corpo físico no momento da morte, entramos em uma dimensão de sintonia muito fina. Como já disse no capítulo anterior, a experiência de entrar no mundo espiritual é diferente de pessoa para pessoa, dependendo do sistema de crenças de cada uma, do nível de conhecimento e do grau de evolução espiritual. À medida que passamos pelos planos astrais inferiores e nos movemos para as dimensões superiores, as experiências se tornam ainda mais rarefeitas. Pensamentos e sentimentos têm sua intensidade amplificada. Espíritos viajam através de várias dimensões até atingirem aquelas que coincidem com seu nível de compreensão.
[…] No entanto, nas dimensões espirituais, gravitamos em direção a uma mentalidade semelhante à nossa e à de outros que têm os mesmos pontos de vista e se encontram no mesmo nível de evolução. O lugar onde vamos parar depois da morte é criado por nós mesmos, por meio de nossos pensamentos, palavras e atos e pela maneira como vivemos na Terra. Se seguimos o caminho de uma determinada religião, por exemplo, ficamos junto com outros que compartilham a mesma crença.
[…].
O plano astral inferior
Quando uma pessoa se desfaz de seu corpo físico no momento da morte, o fio de prata que antes ligava o corpo etéreo ao físico é rompido. O que resta é uma exata réplica do corpo físico, porém mais leve e vibrante.
A primeira dimensão além do reino físico é o plano astral inferior, que vibra muito próximo ao domínio terreno e se localiza entre a Terra e as esferas mais elevadas. É o primeiro com que os espíritos se deparam e onde geralmente ficam pouco tempo. Muitos espíritos já comunicaram que esse nível é cinzento, e pouco iluminado.
No plano astral inferior, tudo o que se pensa é visto e ouvido com muita clareza. Os espíritos não podem esconder seus próprios pensamentos como os humanos fazem. Na verdade, o plano astral inferior é tão intenso sob o ponto de vista mental que amplifica todos os pensamentos e emoções. Com frequência eu me refiro a esse plano como nossa lata de lixo mental e emocional. Quando os espíritos decidem permanecer no plano astral inferior, eles se transformam em criações coletivas de determinados aspectos dos humanos que estão ligados de modo obsessivo a emoções não resolvidas e frequentemente negativas, como raiva, depressão, desespero, solidão, culpa, vício, crueldade e ódio. O plano astral inferior é deprimente porque os espíritos parecem se alimentar da negatividade associada a essa criação coletiva. É como se os espíritos estivessem presos a uma mentalidade muito arraigada. Devido ao fato de os pensamentos permanecerem conosco em nossa jornada, nossos pontos de vista também ficam. Crenças, gostos, desgostos e julgamentos continuam como eram antes. Não há milagres ou revelações totais quando morremos.
[…] Além de o plano astral inferior ser formado por nossos próprios pensamentos e emoções negativas coletivas, nós também o alimentamos continuamente com nossa negatividade. Isso inclui formas de lazer negativas. Filmes violentos, programas de televisão e música que exageram os medos e comportamentos cruéis das pessoas podem parecer excitantes, mas só servem para exacerbar o comportamento mais primitivo da nossa sociedade. Os criadores dessas imagens negativas podem estar sob a influência de espíritos do plano astral mais baixo. Tudo é energia, e energias negativas, como medo, raiva e ódio, ficam registradas no plano astral inferior. Como em um círculo vicioso, essas formas de pensamento retornam como assombrações durante anos e anos, reforçando o medo e o ódio.
[…].
As dimensões astrais mais elevadas
Do mesmo modo que há uma progressão natural da vida na Terra, também existe uma progressão natural da vida após a morte. À medida que um espírito expande sua consciência e se desenvolve, ele passa de um plano existencial para outro. Nessa progressão, vai se tornando menos interessado nas questões terrenas e menos preocupado com elas.
Muitos espíritos ingressam na luz das dimensões espirituais mais elevadas e chegam a um lugar que costumo chamar de Terra do Verão. Essa dimensão é quase tão real quanto a Terra. É um mundo de edifícios e casas incríveis, com cores incompreensíveis para mentes terrenas. Muitos espíritos nesses reinos relatam que as casas em que moram parecem exatamente iguais às casas da Terra, exceto pelo fato de serem absolutamente perfeitas. Eles frequentemente relatam que cada casa é localizada em um terreno absolutamente proporcional ao tamanho da casa. Em outras palavras, não existe crescimento urbano exagerado. Quando pensamos na nossa casa perfeita na Terra, inconscientemente criamos o lar que corresponde a ela no nível astral mais elevado. Assistentes espirituais no plano mais alto da dimensão astral ajudam a dar formas a essas residências por meio da combinação dos nossos pensamentos com os poderes mentais deles. Quando chegamos ao céu, nosso novo lar já nos espera, em sintonia perfeita com nossa individualidade.
Além dessas casas, as dimensões mais elevadas também incluem prédios maiores, como salas de concerto, museus e bibliotecas. Nossos sonhos e desejos podem se tornar realidade no plano astral. As maiores obras da humanidade são criadas primeiramente no plano astral mais elevado. Muitos cientistas espirituais trabalham juntos nesse domínio, concentrando suas energias para que novas ideias sejam filtradas até atingir as mentes humanas.
A dimensão astral mais elevada também é um lugar de inspiração divina, pois está livre de desejos terrenos e de conflitos. Os espíritos dessas dimensões se reúnem por amor, para expandir seus horizontes mentais e espirituais. É um estado de ser em que mentes brilhantes concebem incríveis criações artísticas. Qualquer coisa capaz de fazer o coração se alegrar está localizada aqui.
E, finalmente: espíritos localizados nas dimensões mais elevadas podem visitar outros localizados nas dimensões inferiores, mas estes não podem subir até as dimensões mais elevadas enquanto suas almas não estiverem prontas. Espíritos altamente evoluídos têm consciência do que acontece no nível físico e com frequência visitam a família e os amigos na Terra, para ajudá-los ou protegê-los. (PRAAGH, 2009, p. 61-71, grifo nosso).
Não devemos desprezar as experiências dos médiuns, especialmente, quando elas corroboram o que encontramos em outros e como resultado de pesquisas. E aqui, aquela frase que dissemos no início se aplica muito bem: “Não se deve jogar fora a água da bacia com a criança dentro”.
Nas EQMs surgem referências às construções no mundo espiritual
Finalizando o nosso conjunto de provas, traremos duas pesquisas relacionadas às EQMs (Experiência de Quase Morte), que confirmam essas descrições do mundo espiritual:
1ª) Dr. Raymond A. Moody Jr. (1944- ), médico psiquiatra e pesquisador consagrado das EQMs (Experiência de Quase Morte), com sua obra Reflexões sobre a vida depois da vida, na qual consta o item “Cidades de Luz”, dentro do Capítulo “Novos Elementos”, de onde transcrevemos:
Declarei em Vida depois da vida não ter encontrado um único caso em que fosse descrito um “céu” – pelo menos sob a forma de alguma apresentação tradicional de tal lugar. Entretanto, desde então tenho conversado com inúmeros indivíduos que falam, com notável consistência, de terem visto relances de outros campos de existência que bem poderiam ser chamados de “celestiais”. Julgo interessante a ocorrência, em diversos desses relatos, de uma mesma expressão: “uma cidade de luz”. Neste, e em vários outros aspectos, as imagens com as quais são descritas as cenas parecem lembrar trechos da Bíblia. (MOODY JR, 1987, p. 27-28, grifo nosso).
Por oportuno, citaremos um trecho de um dos depoimentos relatados na obra, em que uma mulher descreve sua experiência:
À distância… pude avistar uma cidade. Prédios… prédios separados uns dos outros. Eram polidos, brilhantes. As pessoas eram felizes ali. Água límpida, que refletia a luz, repuxos… creio que o melhor meio de descrever seria dizer 'uma cidade de luz'… Esplendorosa. Tudo brilhava, uma maravilha… Mas se eu entrasse nela, creio que jamais teria voltado… Disseram-me que, se eu entrasse ali, não poderia regressar… que a opção era exclusivamente minha.” (MOODY JR, 1987, p. 30, grifo nosso).
Acreditamos que as “Cidades de Luz” que estão aparecendo nas pesquisas do Dr. Moody Jr. são uma confirmação irrefutável de tudo quanto foi dito aqui nesse estudo.
2ª) Bill (?- ) e Judy Guggenheim (?-) autores da obra Um alô do Céu: um vasto campo de pesquisa – comunicação pós-morte – confirma a vida e o amor são eternos, onde relatam o resultado de suas pesquisas com 2000 pessoas, entre homens, mulheres e crianças.
Algumas pessoas que tiveram uma experiência de quase-morte demorada ou que exploraram o Além durante algumas experiências fora do corpo relatam que este é composto por um número ilimitado de graduações sutis de nível. Aparentemente, se estende dos reinos mais altos, brilhantes e celestiais, repletos de amor e luz, passando pelos níveis médio, mais cinzentos ou escuros, até os mundos inferiores, praticamente desprovidos de luz, amor ou calor emocional.
Esses reinos podem ser entendidos como níveis de consciência ou níveis de amor, ou seja, o “cenário” exterior correspondente à consciência espiritual ou à habilidade de amar por parte dos habitantes locais. Aqueles que amam realmente a Deus e buscam servir ao próximo, habitam os níveis mais altos e claros, repletos de beleza indescritível, enquanto os outros que são egoístas e autocentrados se condenam, ao menos temporariamente, às regiões baixas e escuras.
[…].
Como é o paraíso? De acordo com alguns relatos de EQMs e de outras fontes, faltam palavras adequadas para descrever a beleza, a alegria, o amor, a harmonia, a luz e o elevado sentimento de vida no reino paradisíaco. As comunidades incluem cidades magníficas e belos campos. As flores, as plantas e as árvores têm cores e uma vibração além de quaisquer outras existentes na Terra. Por todos os lados, água faiscante e refrescante, cantar de pássaros, música cativante e borboletas voando por todo o lado. Até mesmo os animais de estimação, a quem amamos, estarão esperando por nós.
Embora os recém-chegados possam descansar tanto quanto quiserem após a transição, o local fervilha de atividades objetivas. Existem edifícios majestosos de arquitetura graciosa, escolas de aprendizagem, bibliotecas, alojamentos para cura, centros espirituais de toda espécie e muito mais. Os habitantes valorizam muito o conhecimento e são incentivados a estudar temas de própria escolha, que englobam virtualmente todos os assuntos, mas os favoritos são: artes, músicas, natureza, ciências, medicina e todo tipo de estudos espirituais, os quais, por sua vez, devem ser passados adiante, por meio de inspiração, aos que ainda habitam no planeta.
As almas evoluem espiritualmente, aspiram avançar até níveis mais altos de consciência. Lá, como aqui, o crescimento espiritual é alcançado com maior rapidez por meio do serviço ao próximo. Os residentes, sob a experiente orientação de professores e mestres muito evoluídos, escolhem sua própria forma de servir e recebem extenso treinamento. Muitos escolhem, por compaixão, ajudar os moradores dos reinos menos elevados, incluindo os mais baixos e mais escuros.
Ninguém, não importa a crueldade ou maldade do crime aqui cometido, jamais é esquecido ou desamparado. No instante em que alguém sente remorso sincero por ter prejudicado outrem ou demonstra um mínimo de consciência espiritual, assistência imediata e encorajamento são dispensados para ajudar aquele espírito a se mover adiante e a começar a árdua ascensão aos níveis superiores da vida após a morte. Entretanto, este alguém deve estar disposto a aceitar plena responsabilidade pessoal por toda a mágoa, toda a dor e sofrimento que ele ou ela possa ter causado, o que, aparentemente, é um processo extremamente doloroso do ponto de vista emocional, mental ou espiritual. (GUGGENHEIM, 2008, p. 318-320, grifo nosso).
É impressionante a semelhança do que encontramos nas obras de André Luiz e que, também, são confirmadas por outras fontes, como as que aqui estamos apresentando.
Estes pesquisadores – Moody e Bill & Judy, estão, na verdade, consolidando cientificamente tudo, ou quase tudo, que hoje já sabemos do mundo espiritual, mesmo que isso não agrade a muitos confrades.
Conclusão
Lembramo-nos que Charles Richet, na obra A grande esperança, cita esta frase de Lavoisier: “Não há pedras que caem do céu, porque no céu não existem pedras”. (RICHET, 1999, p. 78). Será que, muitos de nós espíritas, não estamos agindo como Lavoisier?
De nossa parte, ficamos totalmente convencidos da realidade das colônias espirituais, porquanto não podemos desprezar tudo quanto foi aqui levantado.
Na verdade, além do que encontramos nas obras da Codificação, bastava, para nós, a opinião de dois ícones da Doutrina, que são Léon Denis e Ernesto Bozzano, que representam, nessa pesquisa, a base filosófica e científica para aceitarmos a realidade delas.
Entretanto, como surgem questionamentos, às vezes até justos, ampliamos nossa pesquisa, visando dar ao leitor a oportunidade de conhecer um pouco mais do assunto, que, certamente, não pode ser levado à conta de fruto imaginativo do autor espiritual André Luiz, visto a existência de construções na dimensão espiritual estar presente em obras de vários outros médiuns, espalhados mundo afora, inclusive algumas delas anteriores às de André Luiz. Portanto, a nosso ver, cumpre-se muito bem o CUEE, se não levarmos em conta de que há, sim, menção de construções no plano espiritual em obras da Codificação espírita. Veja-se esta lista:
Personagens
Localidade residência/trabalho (1)
Estudiosos
Léon Denis
Tous – França
Ernesto Bozzano
Gênova – Itália
James Arthur Findlay,
Glasgow – Escócia
Sir Oliver Lodge
Londres – Inglaterra
Arthur Conan Doyle
Crowborough – Inglaterra
J. Herculano Pires
São Paulo, SP – Brasil
Cairbar Schutel
Matão, SP – Brasil
Raymund A. Moody
Las Vegas, Nevada – EUA
Bill e Judy Guggenheim
Long Island, New York, New Jersy, - EUA
Richard Simonetti
Bauru, SP – Brasil
Médiuns
Yvonne A. Pereira
Rio de Janeiro, RJ – Brasil
Rev. G. Vale Owen
Birmingham – Inglaterra
Emanuel Swedenborg
Estocolmo – Suécia
Andrew Jackson Davis
Boston – EUA
Heigorina Cunha
Sacramento, MG – Brasil
James Van Praagh
Los Angeles - EUA
Psicografias
Wagner da Paixão
Belo Horizonte, MG – Brasil
Chico Xavier
Pedro Leopoldo, MG – Brasil (2)
Wanda Canutti
Araraquara, SP – Brasil
Gilson Freire
Belo Horizonte, MG – Brasil
Nelson Moraes
São Paulo, SP – Brasil
Divaldo Franco
Feira de Santana, BA – Brasil
José Araújo
Blumenau, SC – Brasil
Anthony Borgia
Londres – Inglaterra
Lilian Walbrook
Londres – Inglaterra
Abel Glaser (3)
São Paulo, SP – Brasil
(1) Dentro do que pudemos levantar, pode ser que as cidades não sejam exatamente as mencionadas, os países, estes, sim, podem ser considerados.
(2) A cidade em que foram psicografadas as principais obras de André Luiz.
(3) Coordenou grupo de oito médiuns, que receberam mensagens do Espírito Cairbar Schutel.
Como se vê, temos vários médiuns, pesquisadores/estudiosos e médiuns psicógrafos de várias cidades e países, entre eles alguns médiuns mecânicos; se tudo isso não atender ao CUEE, que nos sejam apresentados argumentos convincentes, contrários à existência das colônias espirituais.
Concordamos plenamente com o professor universitário John Dominic Crossan (1934- ), que disse, no seu estudo para descobrir o Jesus histórico: “Um material encontrado em, pelo menos, duas fontes independentes do primeiro estrato não pode ter sido inventado por nenhuma delas”. (CROSSAN, 1994, p. 32).
Não temos a pretensão de convencer os céticos, que mais parecem bibliólatras que se a informação não estive literal no texto bíblico, recusam-na por mais lógica e racional que seja.
Lembramo-nos aqui da historinha do peixinho vermelho, constante do livro Libertação, contada por Emmanuel, que não tem como não a transcrever para finalizar esse estudo:
A lenda egípcia do peixinho vermelho
      No centro de formoso jardim, havia grande lago, adornado de ladrilhos azul-turquesa.
      Alimentado por diminuto canal de pedra, escoava suas águas, do outro lado, através de grade muito estreita.
      Nesse reduto acolhedor, vivia toda uma comunidade de peixes, a se refestelarem, nédios e satisfeitos, em complicadas locas, frescas e sombrias. Elegeram um dos concidadãos de barbatanas para os encargos de rei, e ali viviam, plenamente despreocupados, entre a gula e a preguiça.
      Junto deles, porém, havia um peixinho vermelho, menosprezado de todos.
      Não conseguia pescar a mais leve larva, nem refugiar-se nos nichos barrentos.
Os outros, vorazes e gordalhudos, arrebatavam para si todas as formas larvárias e ocupavam, displicentes, todos os lugares consagrados ao descanso.
      O peixinho vermelho que nadasse e sofresse. Por isso mesmo era visto, em correia constante, perseguido pela canícula ou atormentado de fome.
      Não encontrando pouso no vastíssimo domicílio, o pobrezinho não dispunha de tempo para muito lazer e começou a estudar com bastante interesse.
      Fez o inventário de todos os ladrilhos que enfeitavam as bordas do poço, arrolou todos os buracos nele existentes e sabia, com precisão, onde se reuniria maior massa de lama por ocasião dos aguaceiros.
Depois de muito tempo, à custa de longas perquirições, encontrou a grade do escoadouro.
A frente da imprevista oportunidade de aventura benéfica, refletiu consigo:
- “Não será melhor pesquisar a vida e conhecer outros rumos?”
Optou pela mudança.
Apesar de macérrimo pela abstenção completa de qualquer conforto, perdeu várias escamas, com grande sofrimento, a fim de atravessar a passagem estreitíssima.
Pronunciando votos renovadores, avançou, otimista, pelo rego d’água, encantado com as novas paisagens, ricas de flores e sol que o defrontavam, e seguiu, embriagado de esperança...
Em breve, alcançou grande rio e fez inúmeros conhecimentos.
Encontrou peixes de muitas famílias diferentes, que com ele simpatizaram, instruindo-o quanto aos percalços da marcha e descortinando-lhe mais fácil roteiro.
Embevecido, contemplou nas margens homens e animais, embarcações e pontes, palácios e veículos, cabanas e arvoredo.
Habituado com o pouco, vivia com extrema simplicidade, jamais perdendo a leveza e a agilidade naturais.
Conseguiu, desse modo, atingir o oceano, ébrio de novidade e sedento de estudo.
De início, porém, fascinado pela paixão de observar, aproximou-se de uma baleia para quem toda a água do lago em que vivera não seria mais que diminuta ração; impressionado com o espetáculo, abeirou-se dela mais que devia e foi tragado com os elementos que lhe constituíam a primeira refeição diária.
Em apuros, o peixinho aflito orou ao Deus dos Peixes, rogando proteção no bojo do monstro e, não obstante as trevas em que pedia salvamento, sua prece foi ouvida, porque o valente cetáceo começou a soluçar e vomitou, restituindo-o às correntes marinhas.
O pequeno viajante, agradecido e feliz, procurou companhias simpáticas e aprendeu a evitar os perigos e tentações.
Plenamente transformado em suas concepções do mundo, passou a reparar as infinitas riquezas da vida. Encontrou plantas luminosas, animais estranhos, estrelas móveis e flores diferentes no seio das águas. Sobretudo, descobriu a existência de muitos peixinhos, estudiosos e delgados tanto quanto ele, junto dos quais se sentia maravilhosamente feliz.
Vivia, agora, sorridente e calmo, no Palácio de Coral que elegera, com centenas de amigos, para residência ditosa, quando, ao se referir ao seu começo laborioso, veio a saber que somente no mar as criaturas aquáticas dispunham de mais sólida garantia, de vez que, quando o estio se fizesse mais arrasador, as águas de outra altitude continuaria a correr para o oceano.
O peixinho pensou, pensou… e sentindo imensa compaixão daqueles com quem convivera na infância, deliberou consagrar-se à obra do progresso e salvação deles.
Não seria justo regressar e anunciar-lhes a verdade? Não seria nobre ampará-los, prestando-lhes a tempo valiosas informações?
Não hesitou.
Fortalecido pela generosidade de irmãos benfeitores que com ele viviam no Palácio de Coral, empreendeu comprida viagem de volta.
Tornou ao rio, do rio dirigiu-se aos regatos e dos regatos se encaminhou para os canaizinhos que o conduziram ao primitivo lar.
Esbelto e satisfeito como sempre, pela vida de estudo e serviço a que se devotava, varou a grade e procurou, ansiosamente, os velhos companheiros.
Estimulado pela proeza de amor que efetuava, supôs que o seu regresso causasse surpresa e entusiasmo gerais. Certo, a coletividade inteira lhe celebraria o feito, mas depressa verificou que ninguém se mexia.
Todos os peixes continuavam pesados e ociosos, repimpados nos mesmos ninhos lodacentos, protegidos por flores de lótus, de onde saíam apenas para disputar larvas, moscas ou minhocas desprezíveis.
Gritou que voltara a casa, mas não houve quem lhe prestasse atenção, porquanto ninguém ali, havia dado pela ausência dele.
Ridicularizado, procurou, então, o rei de guelras enormes e comunicou-lhe a reveladora aventura.
O soberano, algo entorpecido pela mania de grandeza, reuniu o povo e permitiu que o mensageiro se explicasse.
O benfeitor desprezado, valendo-se do ensejo, esclareceu, com ênfase, que havia outro mundo líquido, glorioso e sem fim. Aquele poço era uma insignificância que podia desaparecer, de momento para outro. Além do escoadouro próximo desdobravam-se outra vida e outra experiência. Lá fora, corriam regatos ornados de flores, rios caudalosos repletos de seres diferentes e, por fim, o mar, onde a vida aparece cada vez mais rica e mais surpreendente. Descreveu o serviço de tainhas e salmões, de trutas esqualos. Deu notícias de peixe-lua, do peixe-coelho e do galo-do-mar. Contou que vira o céu repleto de astros sublimes e que descobrira árvores gigantescas, barcos imensos, cidades praieiras, monstros temíveis, jardins submersos, estrelas do oceano e ofereceu-se para conduzi-los ao Palácio de Coral, onde viveriam todos, prósperos e tranquilos. Finalmente os informou de que semelhante felicidade, porém, tinha igualmente um preço. Deveriam todos emagrecer, convenientemente, abstendo-se de devorar tanta larva e tanto verme nas locas escuras e aprendendo a trabalhar e estudar tanto quanto era necessário à venturosa jornada.
Assim que terminou, gargalhadas estridentes coroaram-lhe a preleção.
Ninguém acreditou nele.
Alguns oradores tomaram a palavra e afirmaram, solenes, que o peixinho vermelho delirava, que outra vida além do poço era francamente impossível, que aquela história de riachos, rios e oceanos era mera fantasia de cérebro demente e alguns chegaram a declarar que falavam em nome do Deus dos Peixes, que trazia os olhos voltados para eles unicamente.
O soberano da comunidade, para melhor ironizar o peixinho, dirigiu-se em companhia dele até a grade de escoamento e, tentando, de longe, a travessia, exclamou, borbulhante:
– “Não vês que não me cabe aqui nem uma só de minhas barbatanas? Grande tolo! Vai-te daqui! Não nos perturbes o bem-estar… Nosso lago é o centro do Universo… Ninguém possui vida igual à nossa!…”
Expulso a golpes de sarcasmo, o peixinho realizou a viagem de retorno e instalou-se, em definitivo, no Palácio de Coral, aguardando o tempo.
Depois de alguns anos, apareceu pavorosa e devastadora seca.
As águas desceram de nível. E o poço onde viviam os peixes pachorrentos e vaidosos esvaziou-se, compelindo a comunidade inteira a perecer, atolada na lama… (XAVIER, 1987b, p.7-11).
Comparamos os médiuns – Yvonne, Heigorina, e muitos outros – que percebem nitidamente a realidade do mundo espiritual ao personagem peixinho vermelho dessa história, pois, mesmo eles tendo relatado o que viram, ninguém acredita neles.
Infelizmente, é algo que se aplica bem a um grupo de céticos que encontramos no Movimento Espírita.

Paulo da Silva Neto Sobrinho
Mar/2014.
(versão 13 – mai/2014).


Referências bibliográficas
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Revista Internacional de Espiritismo – RIE. Matão, SP: O Clarim, mai/2014.

Dados biográficos Findlay: http://www.answers.com/topic/j-arthur-findlay



2 Comentários:

  • Grato amigo por ajudar a divulgar o texto. Muita paz!

    Por Blogger Paulo Neto, às 1 de junho de 2014 às 04:17  

  • Meus amigos,
    Seria mui interessante lerem a Bíblia pois dela emana toda a verdade. Orem a Jesus e peçam que ele entre em seus corações e serão salvos, não apenas dos erros doutrinários do espiritismo, mas também, adquiram poder sobre esses espíritos demoníacos que assediam os senhores. Sem Cristo, sem salvação. Sem Cristo, nenhuma paz. Ele disse que é o caminho é a verdade e a vida. Cuidado,pois podem morrer hoje é partirem para o inferno.
    Espero que abandonem esse terrível engano que seguem e arrependendo-se se voltem àquele que realmente salva.
    Fiquem na paz,
    Benedito

    Por Blogger religioescomparadas, às 22 de setembro de 2015 às 00:56  

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