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quarta-feira, 28 de março de 2012

SERÁ QUE FOI UM PUERIL DEVANEIO?...

 Em face da publicação do artigo o “Mundo do Faz de Conta”, leitores residentes na Europa enviaram-me mensagens inquietantes; vejamos: “Estou plenamente de acordo com tudo quanto afirma e acho até que ficou aquém, pois muito mais haveria para você dizer (...).” “O movimento Espírita europeu “adoeceu” já algum tempo. Diversos e distintos diagnósticos poderíamos fazer. Há competição entre os médiuns, ausência de conhecimento do Evangelho e o pior de todos: o nefasto ideário do “EU SOU O MAIOR” (síndrome de grandeza). Nos últimos 5 anos, instalou-se uma desordem, pois não sabemos diferenciar o JOIO do TRIGO. Recebemos aqui com frequencia espantosa alguns palestrantes que mais fazem turismo nas terras EUROPÉIAS do que difundir Espiritismo. O pior é que esses “oradores” vêm, usufruem da hospedagem e boa vontade e da simplicidade, mas abusam da ingenuidade de alguns confrades anfitriões.”
“Desculpe é um desabafo! Aqui temos o culto aos “deuses médiuns” aquele que é o maior. Vendem milhares de livros por aqui, e o que é mais trágico as obras da Codificação são substituídas pelos livros dos “deuses da oratória”, que objetivam muito mais a vendagem de livros da sua lavra. É um “salve-se quem puder”. Uma hora de palestra e 30 minutos de publicidade e vendagem de livros, CDS, DVDs, revistas. São os mascates estrangeiros que encontram aqui um paraíso de FÉRIAS (de graça) e vendas dos seus produtos.”
Fui dormir preocupado com tudo isso e tive mau sonho. Sonhei que estava imerso em um mundo estranho onde testemunhei fatos que anseio jamais aconteçam no mundo de vigília.
No cenário “onírico” identifiquei esforços para “unir” espíritas, entretanto algo distante de uma programação kardeciana sensata. As representações das trevas empregavam astúcias e encaminhavam seus emissários para cargos de direção dos órgãos federativos.
Os obsessores, como sempre, mostravam-se perspicazes, influentes, instrumentalizados e impetravam desinteligências no movimento doutrinário. Ao oposto de perseguirem articulista inexpressivo tal qual sou, que nenhuma influência exerce no movimento espírita, assestavam, óbvio! Suas armas contra as instituições coordenadoras do movimento doutrinário, e aí transformavam suas vítimas em prestigiosos “diretores”. Deste modo, seus representantes adquiriam mais poder de comando perante os espíritas ignorantes e cometiam irreparáveis estragos ao programa doutrinário.
Só para se ter uma pálida idéia, tais “diretores” ofereciam cartelas de bingo, a R$ 25,00; defendiam Ramatís, como espírito superior; afirmavam que tudo é parte de Deus, inclusive a matéria; Kardec era desconhecido, mas divulgavam pesquisas da ciência como hologramas, Stephen Hawking etc., menos, é claro, o próprio codificador.
Lamentavelmente, as obras espíritas arruinavam-se ao acolher a enxertia dos conceitos e práticas anômalos à singeleza que lhes vigoravam no alicerce. Percebi que adulavam líderes megalomaníacos, encharcados de arrogâncias, que se arvoravam como benfeitores da construção e difusão doutrinárias. No letargo do sonho, ainda consegui perceber que “somente os viajores irresponsáveis escolhiam perlustrar atalhos perigosos e desfiladeiros obscuros, espinheiros e charcos, no labirinto de aventuras marginais, ao longo da estrada justa.” (1)
O panorama dos sonhos estava totalmente contaminado de práticas doutrinárias irregulares e não havia nenhuma perspectiva de melhora; ao contrário, modelos estavam sendo consolidados e havia uma epidemia de expositores afetados surgindo em cada centro espírita, dispostos a copiar o comportamento do endeusado líder-chefe. Foi extenuante testemunhar as sempre passivas idolatrias a esse guia, cheio de autoridade moral, um condutor completamente intocável, cujas sentenças tornavam-se regra definitiva para os dirigentes incautos.
A proeminente e tenaz tática do chefe-famoso era a injunção de um legado espetaculoso de palestras ostentosas, motivo pelo qual os outros copistas permaneciam rasos de conteúdos, hipnotizados sob os grilhões da vaidade. Mas, graças a Deus!, Havia espíritas prevenidos que inquiriam após cada palestra espetacularizada: Falaram de quê? Abordaram que conteúdo?
O adorado líder tinha a empáfia de batizar com o título “PURITANOS” todos defensores da gratuidade dos eventos espíritas , ou seja dos que defendiam um Espiritismo para todos e ao alcance de todos. Tal líder ignorava que na sua ética, Paulo de Tarso não permitiu o mercantilismo do Cristianismo. Pregou o Evangelho gratuitamente (2) e justificou tal atitude: “Pregamos o Evangelho a vocês, trabalhando de dia e de noite, a fim de não sermos peso para ninguém”.(3)
Na contramão da advertência do Convertido de Damasco, os pretensos expositores, em seguida aos shows das palestras (cantadas, recitadas, declamadas, gritadas etc... etc... etc. ) , quais ambulantes de feira livre, punham à venda seus DVDs, CDs, livros etc., enfim, com toda a tralha para a comercialização, gastavam tempo precioso promovendo suas quinquilharias “doutrinárias”, muitas vezes em centros espíritas pobres, simples, escassos de recursos. Entretanto, curiosamente, os dirigentes de tais centrinhos sentiam-se orgulhosos porque trouxeram um nome “famoso” para a instituição que dirigem.
Nos imagos oníricos, portanto, lidava-se com os egos de dirigentes e palestrantes, e pouquíssimas exceções estavam sintonizados com os Benfeitores. Infelizmente os oradores modestos, despretensiosos, sinceros, importantíssimos para o engrandecimento do Espiritismo eram desprezados. Quase todos os pregadores encontravam-se instilados pelas presunções, pelas ribaltas e holofotes da glória, sobretudo pelos aplausos inférteis. Sem nenhum pudor os mais famosos exigiam reverências e bajulações desenfreadas.
Não era assegurada a simplicidade e a pureza dos princípios espíritas nos núcleos e associações doutrinários, por isso suas atividades não atingiam a meta da libertação espiritual dos frequentadores. Estes contemporizavam com todo tipo de profissionalismo religioso e nem se atreviam a arguir porque, se interrogassem o líder-venerado, estariam questionando os que o apoiam, sabiam que perderiam amigos e, por isso, silenciavam. Ou ainda porque lhes interessava algum lucro divulgando os “produtos” do líder-mor, seja lucro financeiro ou mesmo o que vem da pura vaidade, da notoriedade, pois quem adentrasse o meio espírita, se não citasse o líder-chefe, se não divulgasse os eventos de que ele fazia parte, se não apoiasse quem o apoiava, transformar-se-ia em proscrito, deixado de lado por todos os idólatras.
Presenciei um palestrante implorando junto ao público uma colaboraçãozinha de recursos financeiros a fim de "ajudá-lo" nos projetos “assistenciais”, visando adquirir microfones, tripés de luz, computadores e quejandos. Tal palestrante fazia um showzinho particular com direito a jogos de imagens e músicas, para “agradar” a todos, passando a idéia de apurado bom gosto, mas na realidade estava querendo “encher linguiça” (como se diz na gíria popular), com várias cantorias e apresentações.
Lá não se tinha o alcance moral para entender que zelo pela pureza e simplicidade doutrinária não é intolerância, fanatismo e nem rigorismo de espécie alguma, porquanto, agir de outro modo é o mesmo que “devolver um mapa luminoso ao labirinto das sombras, após séculos de esforço e sacrifício para obtê-lo, como se também, a pretexto de fraternidade, fôssemos obrigados a desertar do lar para residir nas penitenciárias; a deixar o caminho certo para seguir pelo cipoal; a largar o prato saudável para ingerir a refeição deteriorada e desprezar a água potável por líquidos de salubridade suspeita.” (4)
Havia uma neurastenia generalizada em torno das temáticas: “terra em transição”, “final dos tempos”, cujos enredos catastrofistas atrofiavam mentes fanatizadas. Alguns neuróticos esquadrinhavam respaldo (acreditem!) no célebre clichê: “Chico Xavier me contou” para corroborar as afirmações ( supostamente“reveladas” pelo médium de Uberaba nos colóquios íntimos), sobre bizarras profecias espalhafatosas, com datações e outras pérolas sobre o trági(cômico) amanhã da Humanidade.
De manhãzinha, ao despertar do sono, identifiquei que a experiência onírica evidenciava muitas práticas indesejáveis que é urgente se evitem na Terra. E se tais práticas ocorrerem, alguém precisa denunciar, para não ser apenado por omissão. “Todos os espíritas que, de coração, vigiam para que a Doutrina não seja comprometida, devem, sem hesitação, denunciá-las [práticas estranhas], tanto mais porque, se algumas delas são produtos da boa-fé, outras constituem trabalho dos próprios inimigos do Espiritismo, que visam desacreditá-lo e poder motivar acusações contra ele. Eis porque é necessário que saibamos distinguir aquilo que a Doutrina Espírita aceita daquilo que ela repudia”. (5)
Somos daqueles que preferem a análise construtiva para quaisquer tarefas doutrinárias, e não cultivamos paternalismo ou mimos impróprios, não aveludamos consciências junto a irmãos de nosso convívio, “em vista de reconhecermos que nenhum bem se fará sem trabalho disciplinado; entretanto, não podemos esquecer que muitos companheiros se marginalizam nos compromissos por não conseguirem suportar o malho da injúria, o frio da desconsideração e do abandono, a supressão de meios justos para o exercício das funções a que foram chamados e as lutas enormes, decorrentes das armadilhas de sombra, de que muitos não conseguem escapar, hipnotizados pelos empreiteiros da obsessão. (6)

Jorge Hessen
http://jorgehessen.net


Referência:

(1) Xavier , Francisco Cândido e Vieira Waldo. Opinião Espírita, ditados pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz, São Paulo, Editora: Boa Nova - 1ª edição agosto/2009, Item 25 - PRÁTICAS ESTRANHAS
(2) 1Cor 9,18
(3) 4 1Ts 2,9
(4) idem
(5) (Allan Kardec, Viagem Espírita em 1862. Instruções Particulares. VI.)
(6) Xavier, Francisco Cândido. Companheiros, ditado pelo Espírito Emmanuel, São Paulo: IDE 1977, cap. MÉDIUNS NA TERRA

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