O ANTI-CRISTO INVADIU O ESPIRITISMO
Margarida Azevedo
Portugal
Desde a aceitação cega e incondicional de tudo o que por aí se escreve, venha ou não por via psicográfica, esses falsos espíritas criaram uma espécie de elite mediúnica em que só determinados médiuns são credíveis, sejam eles palestrantes, psicógrafos ou passistas. Como vivemos na época dos ídolos, dos líderes e das imagens de marca, pretendem eles que o Espiritismo também tenha os seus. Ora, nem Fancisco Cândido Xavier nem Emmanuel são ou serão imagem de marca do Espiritsmo. E quem diz destas duas almas diz de quem quer que seja. A Doutrina nada tem a ver com tais vaidades.
Se tomarmos em consideração a personalidade dos iluminados que produzem tais slogans publicitários, verificamos que algumas características comuns: imposição dos seus ideais, agressividade para com aqueles que tentam desmascará-los nos seus intentos, chantagem doutrinal, como por exemplo, cínica alusão aos falsos profetas, aos lobos com pele de cordeiro, vitimizando-se dos maus pendores em consequência da maldade que, no seu pensar limitado, impera nos Centros.
Face a esta realidade, não tenho dúvidas em afirmar que o submovimento em causa saíu directamente das entranhas do anti-Cristo. O que quer isto dizer? Que se está a fazer o contrário do que Jesus ensinou, daquilo a que a Codificação exorta, donde resulta a falta de amor incondicional a Deus e ao próximo como a si mesmo. Trata-se de gente que perdeu o temor a Deus, que nada tem a ver com a Doutrina.
Mas as aberrações não ficam por aqui. Um dirigente de um centro espírita disse-me peremptoriamente: “Não precisamos da Bíblia para nada. São textos muito antigos, de quando a humanidade ainda estava muito atrasada. O Espiritismo dispensa-os pois o Espírito de Verdade diz-nos tudo o que precisamos de saber” , acrescentando ainda que, “quanto aos passes, quantos mais melhor” (assunto que ficará para outra ocasião). Esquecendo-se de que Jesus tinha a Bíblia hebraica como o seu texto sagrado, a que faz referência nas suas mesmas explanações (Mt 5:21-22;27-28;31-32;33-37;38-48.6:28-29.17:3-4; 11-13. 18. 19:4-8;22-29;31-32;36-40; 41-46. Mc 7:6-8;10.9:4;10;12-19;35-37. Lc 1:69; 16:19-31;17-32;20:28. Jo 1:17; 21; 7:10;22;42;8:57-58;10:22;34-35;12:14-15), referindo-a nos próprios Mandamentos, como em Mt 22:36-40:” Mestre, qual é o grande mandamento na lei? E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos depende toda a lei e os profetas.”; não lhe passando pela cabeça que os primeiros cristãos a tinham igualmente como as suas Escrituras e que o Evangelho Segundo o Espiritismo a cita também (Is 26:19. Job 14:10-14, cap. IV, “Ninguém pode ver o reino de Deus, se não nascer de novo”, p.69. Ex XX:12 Decálogo, cap. XIV, “Honra a teu pai e a tua mãe”, p.195), o dirigente ignorante, que certamente nunca leu uma linha da Bíblia, desconhece o quanto os seus escritos estão actuais. Além disso, não é possível perceber o Jesus histórico sem ter uma noção, ainda que rudimentar, do contexto em que este se situa, quer em termos religiosos, quer em termos sociais e políticos. Não é possível perceber minimamente o papel de Jesus sem o contextualizar nas Escrituras do Primeiro Testamento de que ele é um fervoroso comentador.
Além disso, porque o Espiritismo está completamente isolado das outras doutrinas, desconhece o referido dirigente, e com ele a esmagadora maioria dos espíritas, que os estudiosos das doutrinas não estudam apenas os textos em que elas se fundamentam. Todo e qualquer estudioso sério debruça-se atentamente sobre os textos das outras doutrinas, claro está, não para as combater mas para as compreender e saber situar-se perante elas..
Por outro lado, se vamos por uma questão de antiguidade, então o Evangelho Segundo o Espiritismo é obra a abater também, pois que afirma explicitamente que “O Espiritismo se encontra por toda a parte, na antiguidade, e em todas as épocas da humanidade.” (idem, p. 18); que Sócrates e Platão são os “precursores da Doutrina Cristã e do Espiritismo (idem, p.31).
Mas isto no que se refere apenas a questões doutrinárias. Se entrarmos no campo da mediunidade, o Espiritismo vai ainda mais longe pois ao encontrar-se em todas as épocas da Humanidade, ele está presente “...nos escritos, nas crenças e nos monumentos, e é por isso que, se ele abre novos horizontes para o futuro, lança também uma viva luz sobre os mistérios do passado.” (idem, p.18). Isto significa que a mediunidade faz parte da História Universal, e que é impossível percebê-la a partir somente da Codificação, a menos que na mesma leva se deitem para o lixo os livros de História Universal. Com ela se aprende que a qualidade mediúnica nada tem a ver com as épocas, mas tão somente com o modo como é exercida. E aqui, a avaliar pelo que se está a fazer dentro do Espiritismo, não tenho dúvidas de que os pretensos sábios têm muito a aprender com os antigos modos de a exercer. Só para citar um exemplo, a consulta dos oráculos na Grécia antiga é infinitamente mais rica que a não assumida pseudo-consulta aos Espíritos feita em psicografias, na maioria falsas, que nos chegam em livros caríssimos com os quais os Centros fazem um brutal negócio e cujo resultado é isso mesmo, espalhar a mentira, introduzir no movimento espírita a desunião, o desentendimento e separar o que em nome de Jesus devia estar unido.
Por outro lado, a afirmação de que a Bíblia não serve para nada significa entrar em conflito com as organizações religiosas que a têm como o seu texto sagrado. Sendo o Espiritismo uma doutrina aberta e respeitadora de todas as ideologias religiosas, esses que fazem tais afirmações dão uma imagem falsa do movimento espírita, além de manifestarem uma profunda falta de respeito pelos parceiros religiosos das outras confissões.
Entregues à avidez de protagonismo, dito em português suave, subdividiram o movimento em tantos grupos quantos os interesses de quem pretende denegrir uma doutrina respeitável.
Assim, temos as associações de tudo e mais alguma coisa, dirigidas por magníficos, por extraordinários, por grandes tribunos, por excelentes cuja presidência foi conquistada à custa de horas perdidas em reuniões onde toda a gente “botava faladura”, e onde todos queriam chegar ao nobre cargo. Mas como a porta é estreita, claro está que só os mais, os super bons atingiram o tão almejado podium.
Temos assim os excelentíssimos senhores e as excelentíssimas senhoras presidentes, que escrevem muitos livros ditados por Entidades famosas, que não dão vazão a tantas solicitações, que correm seco e beco a ensinar como dirigir, mandar, modernizar, desenvolver tudo e mais alguma coisa dentro do movimento; que criam normas e máximas que todos devem cumprir, sob pena de estar tudo em muito mau astral. São eles que fazem as limpezas morais dentro do Espiritismo, que se encarregam da nobre missão, e tão nobre que ela é, de expulsar tudo o que está podre, excumungando gente séria. São “venerados e adorados, os protegidos” dos Espíritos superiores, cujas comunicações são incontestavelmente escritura sagrada. Têm sempre a última palavra, nada têm a aprender, são correctíssimos, pois a sua nobilíssima missão confere-lhes uma aura protectora de tal modo forte que não há nada negativo que entre com eles.
Promovem encontros de trabalho em locais caros de ambiente hollywoodesco, onde se paga bem, pois não brincam em serviço; maldizem de quem se lhes opõe, vendo em tudo e todos um inimigo em potência, uma vez que pode fazer vacilar a sua permanência no cargo ou denunciar a sua inutilidade.
Esses falsos espíritas não acreditam no Espiritismo nem o compreendem. São forças ao serviço do Mal. Não tenho dúvidas de que se muitos os vissem nas suas auras, bem como àqueles a que dão crédito, fugiam a sete pés. São desconfiados e vaidosos, usam uma linguagem confusa e pouco ou nada sabem da Doutrina. O que pensam saber é para ser usado contra os irmãos que abnegadamente trabalham com dedicação na Casa espírita. São manipuladores, perigosos, mentirosos e facilmente levantam falso testemunho de quem quer que seja. Não olham a meios para atingir os fins. Alguns falam com voz mansa, muito terna; são os mais disciplinados nos Centros porque fanáticos na intransigência. Têm resposta pronta para todas as perguntas, resolvem todos os problemas porque, no seu pensar mesquinho, tudo é por demais ridículo. Possuem uma lógica insana e justificam os problemas de forma fria, calculista e culpabilizadora, terminando os seus discursos com, mais ou menos repticiamente, alusões ao fim do mundo, no intuito de assustar o auditório tentando fazer da Doutrina um movimento apocalíptico.
Este grupo está a ganhar adeptos de dia para dia, força e solidez na tentativa de deitar por terra o Espiritismo. Mas, como quem por Deus anda por Deus acaba, não tenho a menor dúvida de que o outro lado, aqueles que lutam pelo bem, que pretendem seguir e dar exemplo de um Jesus verdadeiramente tolerante, criador de uma doutrina baseada no amor entre todos os seres da Criação, integralista e pluralista, vencerá pelo seu silêncio, pelo muito trabalho em prol do próximo e da verdade, da fraternidade e da paz entre todos os povos.
Quem não entender que Jesus veio dar o exemplo de um amor incondicional, muito para lá das doutrinas, e que transcende esta mesma existência, donde a sua morte foi um acto de amor sublime, e a sua reaparição três dias depois a maior esperança e certeza de uma vida que não se esgota na morte; quem não entender que não somos nada neste emaranhado complexo que é o universo que nos rodeia; quem não entender que não passamos de meros aprendizes e que só com o outro somos seres éticos, quem não perceber que a caridade só salva quando feita com amor e quando exercida com um intuito libertador para aquele que a recebe; quem não entender que o outro não é um meio mas um fim, que ele não pode ser usado como chave-mestra dos males que lhe são alheios; quem não perceber que o outro não é sabão para limpar a alma de ninguém; quem ainda teimar em continuar a usar a Doutrina como um processo de comunicação com os Espíritos privilegiado face às outras doutrinas, quem não entender isso é uma força das trevas, um ser perigoso, um agente ao serviço do Mal.
Não se pense que os há apenas dentro do Espiritismo. O modus operandi dessas Entidades encarnadas é idêntico em todas as doutrinas, o que está a levar à crise de vocações, de valores, de objectivos verdadeiramente santificantes. O que estou a dizer do Espiritismo digo-o para todas as correntes religiosas. As Entidades negativas e os respectivos comparsas encarnados agem em todas as frentes. Os religiosos convictos sabem perfeitamente que o mundo precisa do pluralismo religioso para conduzir a Humanidade a bom porto; que ninguém caminha sózinho e as doutrinas, enquanto meios, caminhos, hipóteses também não. O fanatismo e o fundamentalismo estão a criar a insegurança, a pôr em causa os princípios de fraternidade, coexistência pacífica e harmoniosa entre as doutrinas. Os espíritas têm que perceber que o Espiritismo não é o futuro da Humanidade, como não o é qualquer outra doutrina à face da terra. Como será o futuro religioso e a espiritualidade ninguém o sabe. Os movimentos existentes são todos caminhos para Deus em idênticas condições. É o bem que cada um faz que o ergue às mais altas falanges, e não o facto de pertencer a esta ou àquela doutrina. A nossa diferença nos caminhos que seguimos é uma questão de sensibilidade, não de evolução, como se diz à boca cheia dentro do Espiritismo. Se os seres das trevas agem de forma idêntica em todos os grupos, o mesmo acontece com os que estão ao serviço do Bem pois que Deus está em toda a parte. Se todos estamos neste mundo é porque estamos sensivelmente ao mesmo nível. Não há superiores nem inferiores.
Assim sendo, permita-me, amigo Leitor, que diga o seguinte:
O Espiritismo é uma doutrina de paz e esperança. Não é uma doutrina apocalítica e como tal não pretende angariar adeptos à custa do medo do fim do mundo. O Espiritismo combate o medo, fortalecendo cada um na sua fé. Como? Primeiro, ao defender que a vida não começou nem acaba neste mundo terreno em que vivemos; segundo, que somos portadores de vivência, experiências acomuladas, saberes que fomos conquistando ao longo de tempo imemorial; terceiro, que vale a pena lutar por nos tornarmos melhores. Em que se baseia o Espiritismo para promover tais princípios? Em primeiro lugar nas máximas de Jesus, donde Kardec foi um dos seus leitores, acolitado por Entidades que vieram dar, à altura, os esclarecimentos às questões que se colocavam na época (séc. XIX) tendo-se prolongado algumas até aos nossos dias.
Esta doutrina é um movimento no mais amplo sentido do termo. Está aberta a toda a gente, não discrimina ninguém, uma vez que o Centro espírita é uma casa de oração, de recolhimento e de bem-fazer.
Quanto aos que trabalham ao serviço das trevas, a oração benevolente encarrega-se de esclarecer aquele que ora, em todos os grupos religiosos. A aura protectora da oração e do bem fazer baseia-se no desmascarar de quem trabalha ao serviço das negatividades. Por isso, é de oração que o mundo precisa.
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