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sexta-feira, 30 de março de 2012

CARTA ABERTA AOS PRESIDENTES DAS FEDERAÇÕES ESPÍRITAS, DAS SUBORGANIZAÇÕES, DOS MOVIMENTOS, DOS CENTROS E DE TUDO O MAIS QUE TENHA PRESIDÊNCIAS DENTRO

Margarida Azevedo
Portugal


“O elogio imerecido é escárnio mascarado.”
(Provérbio alemão)



Caros amigos

Espero que não fiquem escandalizados com a minha audácia em dirigir-me a tão ilustres personalidades do movimento espírita nestes termos, mas recuso-me terminantemente a tratar por V.ª Exª seja quem for dentro deste santo movimento. Trato-os por amigos, que é como me sinto bem.
Assim sendo, passo de imediato ao desabafo dos considerandos que me entristecem a alma.
Tenho verificado que os meus amigos primam essencialmente pelo brilhantismo da actividade discursiva, de que sublinho a retórica sem maiêutica, impregnada de ironia, em que não raro chamam estúpido ao auditório que, embevecido com as vossas poses, nem percebe que está a ser insultado. Perdidos nos rodeios e subterfúgios, nos floreados malabarísticos, as frases são usadas num encadeamento de fazer inveja ao mais audacioso dos políticos, que se ainda não vos conhece nem sabe o que perde. Aconselho vivamente que qualquer indivíduo que pretenda seguir uma carreira na política, com sucesso, acrescente-se, faça um estágio convosco pois terá uma carreira brilhante pela frente, e os meus amigos sempre poderão tirar mais algum proveitozinho, o que nos tempos que correm é precioso pois nunca se sabe o que a vida nos reserva. Já dizia a minha avózinha: “A vida é tão curta e tão ingrata. Olá se não é!”
Após as longas dissertações frívolas, e entrados no falso período de perguntas e respostas, ninguém recebe o tão almejado esclarecimento por várias razões que, num crescendo, enumero do seguinte modo, à laia de decálogo:
1. As perguntas são: mal formuladas; descontextualizadas; confusas;
2. O interrogante está mal intuído, logo perturbado;
3. O interrogante não esteve com atenção;
4. A pergunta não é espírita, não tem que ver com a Doutrina (não sei o que é isso);
5. A pergunta não faz sentido, é ridícula;
6. O orador ri da pergunta, a assembleia também, por imitação, pois ninguém sabe do que ri;
7. Quando responde, “dá o tiro ao lado”, não responde à pergunta;
8. O orador diz que a resposta é demasiado óbvia, e escusa-se a responder;
9. O orador omite que não percebeu a pergunta ou que, tão simplesmente, não sabe responder;
10. O orador reencaminha a resposta para outra pessoa da mesa.
Complementando o quadro, temos os locais tão requintados e tão explendidamente exuberantes que, na minha modesta sensibilidade, ajudam a construir o fascínio do ambiente de tanta luz. Outros, porém, dormem mal o discurso começa. São os portadores dos maus Espíritos, no vosso dizer e no daqueles que seguem as vossas pisadas. Eu diria antes que são os protegidos dos vossos discursos frios e calculistas, da vossa fascinação perigosa, da vossa vaidade ridícula.

São os que em nome do sofrimento, tão chantageado por vós e pelos vossos acólitos, ou iludidos com a suposta presença de Entidades oriundas dos mais iluminados confins do universo, na sua boa fé deslocam-se às vossas prelecções com o objectivo de sobre eles pingar uma gota d´água, alguma luzinha sobre a alma sedenta de luz e de paz. Mas não. O auditório ouve embevecido os vossos discursos quais histórias de encantar, realmente para adormecer, cheias de moralidade mas, espremidas não deitam sumo. Porém, eles ouvem-nas fascinados como que saídas da boca de um jesus cristo culpabilizador, intransigente, calculista, discriminador, que lhes põe o dedo nas chagas e que os faz pensar “Ai que maus que nós somos!” interrogando-se depois, aflitos: O que fazer!” Já ouvi quem respondesse: “Muito trabalhinho, meu amigo, muito trabalhinho.”, enquanto virava as costas à pessoa e subia as escadas do Centro, por acaso um dos mais antigos de Lisboa.
Ninguém vos ouve em nome de Jesus, o Cristo, o Filho do Deus vivo, o Cordeiro de Deus, o Justo, o Mártir por todos nós; o profeta do perdão incondicional, do amor sem fim, enfim o Amor. Não mencionam aquele que nasceu numa cabana, que pregou pelos campos, na sinagoga, em Jerusalem. Não, ninguém caminha para Deus com os vossos discursos, mas antes para a perdição, para aquele que, no deserto, disse a Jesus que “tudo o que vês será teu se me adorares”. Os vossos discursos não ensinam a renegar a idolatria, a fascinação, o desejo ávido de poder, os elogios fáceis e podres. Quando falam de simplicidade e de virtudes afins tudo isso não passa de meros utensílios de retórica para aludir o auditório que vos bajula.
Ademais, não consta que Jesus, os Apóstolos, os profetas do Antigo Israel, e todos os que a este mundo vieram com nobres missões de pôr alguma ordem e juízo no espírito mais comum dos seres pensantes, fossem alguma vez referenciados do modo como são os líderes espíritas.
No entanto, não pensem que estou a compará-los com tão ilustres seres. Não, nada disso. É que, nas minhas rudimentares observações, os meus amigos já conquistaram o vosso lugar na terra, não precisam das bençãos do céu (Bem-aventurados os que...).
Por isso, permitam-me que peça com o coração maior que a cabeça: Façam das vossas vidas tudo o que quiserem, pois ninguém tem nada com isso, mas rogo-vos humildemente que não enxameiem a Doutrina de Entidades trevosoas, não a entreguem ao devaneio; não façam dos Centros espíritas casas de leviandade; não amputem os seus membros, trabalhadores afincados e humildes de coração; não decapitem as cabeças pensantes, estudiosas, tementes de Deus e de Seus Emissários. Não mutilem a Doutrina, pois ela é Arte, é Sabedoria, é Justiça, é Amor.
Por favor, façam uma limpeza às vossas almas, como todos nós, aliás, fazemos a cada dia que passa. Arrependam-se. Um homem/mulher arrependido(a) é um filho perdido que retorna à casa do pai. Todos nós estamos em idêntico caminho, cruzamos os mesmos trilhos cheios de irregularidades. O arrependimento é a nossa força motriz.
Que Jesus chegue aos vossos corações e possam dizer,em jeito do evangelho lucano: “Eu pesquisei, eu encontrei. Por isso dedico a ti, Teofilo, este meu evangelho. Façamos um baquete à descoberta de Jesus. ”
Partilhemos o banquete do nosso arrependimento, festejemos a nossa regeneração, convivamos em festejos de luz, a nossa luz ainda que fraquinha, mas a luz dos amigos de Deus.
Meus amigos, afastem-se das trevas, queiram o que deve ser desejado, vivam em paz com as vossas consciências purificadas. Abandonem as cerimónias, as passadeiras vermelhas, as reuniões fúteis. Trabalhem, trabalhem sempre com muito amor e nada vos faltará, até o perdão incondicional daqueles de quem tanto mal têm dito, a quem tanto enganaram, de quem tanto abusaram da paciência.
Não sou defensora da reencarnação para pagar dívidas do passado esquecido, soa-me a pena de Talião e à invenção do movimento infinito, para nada. Defendo a reencarnação como escola do perdão e do arrependimento, da tomada de consciência. É que, pagar uma dívida não significa arrependimento, mas o arrependimento implica sempre a consciência de uma dívida que urge compreender. O pagamento não anula o passado; o arrependimento é Cristo redentor num coração enobrecido.
Estamos sempre a tempo. O amor é paciente. Deus é Pai, e nós aguardamos a fraternidade em plenitude. Aguardo cheia de esperança o abraço da paz entre todos os espíritas, num lado qualquer.
Um abraço fraterno


1 Comentários:

  • Receba meu abraço como forma carinhosa e de proteção tutelada as vossas palavras que esgrimam pela verdade sob a luz do Cordeiro de Deus.
    Afetos e Luz

    Niluza - Barcarena/PT
    ni_777@hotmail.com

    Por Blogger Niluza, às 31 de março de 2012 às 08:52  

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